A sala não era muito iluminada, concluiu logo de imediato quando abriu seus olhos. O violeta de sua íris brilhava tímido naquele semi-breu, mesmo assim se aventurou a andar. Aos poucos percebeu que vestia apenas uma camisa branca com um cheiro amadeirado que não lhe pertencia. "Agradável", pensou ela. Suspirou. O chão parecia um tabuleiro de xadrez, ela não avistava as paredes... Nem a pequena fonte da luz que parecia seguí-la. 

Não se sentia capaz de falar, embora nem de longe fosse este seu desejo. Apenas andava com tranquilidade. Então parou. Não tinha motivo, apenas quis parar, e o fez. Suspirou profundamente e olhou para cima. Negro profundo, vasto, infinito. Sentiu alto. Um toque quente e macio em sua mão esquerda. 

Virou a cabeça sentindo os longos e lisos cabelos castanhos deslizarem para o outro lado de suas costas. Brilhando com seus olhos estava agora outro par. Dourado, tranquilo. Envolto por um misto de melancolia com felicidade, o olhar irritantemente confuso já conhecido por ela.

– Gil...?

Murmurou docemente. A pouca luz permitia que ele a visse e percebesse que a camisa que vestia pertencia a ele, já que o mesmo tinha o tórax desnudo. Alice entreabriu os lábios com seus olhos semiabertos voltados aos dele, mas nada disse. A mão morna dele segurou docemente a dela, e sua outra mão a puxou pela cintura.

"Ele é tão alto..." veio a sua mente. O garoto a ergueu um pouco mantendo seu corpo junto ao dele, acomodando-a docemente em seus braços. Respiraram de modo que um sentiu o expirar do outro, quando em fim seus lábios se uniram. Morno, lento, doce... Esse era o sabor. Ela se sentiu assustadoramente bem naquele momento, abrindo então os olhos e vendo um teto arroxeado logo sobre seu corpo. Envolveu a si própria com os braços e murmurou.

– Gilbert... 

– Hum? Que foi?

Os olhos dela se abriram rapidamente enquanto ela mirou o garoto que estava em pé logo ao lado da porta ajeitando o chapéu e a refletido ainda deitada nos seus olhos dourados. Alice ficou vermelha, completa e totalmente vermelha numa velocidade assustadora e com os pés se empurrou pra trás, puxando o travesseiro e o abraçando, com ele cobrindo o rosto.

– O que foi? – Disse ele tranquilamente, embora estivesse claro que não fizesse ideia do motivo dela estar assim.

– SAI, SAI, SAI! – Gritou Alice jogando o travesseiro com tanta força que ele bateu na parede confuso, até que ela levantou e o empurrou pra fora do quarto.

Bateu a porta com força e ficou de costas para mesma, escorregando até o chão com a mão contra a testa, arfando como se houvesse corrido uma maratona. 

– O que... O que foi aquilo?