-Hannah, acorde.

Abri os olhos. Despertei com a voz de Suzie. Eu olhei para cima, e vi o teto se movendo. Estávamos na van, provavelmente voltando daquela tragédia. Não sentia mais dores no corpo, Suzie me curara de meus ferimentos superficiais. Ao meu lado, eu vi Jake. Ele estava com uma expressão calma em seu rosto, como se tivesse morrido dormindo. Não suprimi as lágrimas, todo o meu esforço para salvá-lo não valeu em nada. Tentei curá-lo de novo, mas eu sabia que não funcionaria, pois os nossos poderes não ressuscitam os mortos.

Foi então que eu vi que ele estava respirando. E eu vi que seu ferimento, aos poucos, começavam a se fechar. Eu sorri, com grande alegria. Parecia que Jake iria viver.

A van passou por um buraco e eu pulei. Um garoto que eu nunca havia visto estava dirigindo. Havia menos da metade das pessoas que foram lutar. No banco da frente, Sam, Annie e Suzie conversavam, pelo menos agora eles estavam unidos, depois de tanto tempo. Vivian morrera, e eu pensei que provavelmente eu seria a nova líder. Eu acho que eu iria sentir falta do sarcasmo dela.

Eu rezava para que Jake acordasse. Eu descobrira a verdade, Jake nunca matara minha família, porém ele sempre fora violento, e era um espião. Ele me torturou e tentou me matar. Bem, eu o feri mortalmente, mas foi porque ele estava me atacando, e eu não queria morrer pelas mãos dele. Mesmo com todas essas razões que eu possuía para odía-lo, eu voltei a amar aquele garoto pelo qual eu me apaixonara.

De repente, eu vi os olhos de Jake se abrirem. Ele parecia meio atordoado.

-Hannah? - sua voz estava fraca – Não me diga que nós dois morremos.

Eu sorri.

-Não, querido, nós estamos vivos. Eu consegui te salvar... - eu estava emocionada.

-Hannah, você me perdoa por tudo que eu fiz? - eu assenti, e ele sorriu, mas não era aquele sorriso pervertido e malicioso que Jake usava todo o tempo, era um sorriso meigo, fofo, alegre. -Você está mais linda do que nunca. - ele fez uma pausa. - Fico feliz que alguém curou os terríveis ferimentos que eu lhe causei.

-Ora, Jake, não foi tanto assim. - falei, acariciando seu cabelo. - O importante é que estamos juntos agora.

Ele me encarou pensativo. Jake sentou-se, ao meu lado, e me abraçou. Ficamos um tempo assim.

-Sam, me perdoe por tudo que eu e Hawkes fizemos com você.

Sam o olhou, desajeitado, e respondeu:

-Sem problemas, cara. Eu entendo.

Jake olhou para a van vazia, e falou, em voz baixa:

-Morreram tantos? - eu fiz que sim com a cabeça. - Onde está Vivian?

-Parece que, na sua loucura, você a matou. - eu disse.

Ele não estava conformado. Jake e os Hyssaks haviam matado muitos de nós.

-Sabe, Jake, nós iremos reconstruir nosso grupo. - eu comecei. - Vamos ser os líderes, e iremos tentar construir um lugar com paz, até o fim do mundo, que já está próximo.

E o fim do mundo estava próximo mesmo. Toda semana uma cidade era destruída, e os Hyssaks sempre iam lá aproveitar-se dos feridos. Nosso grupo só salvava os do nosso país, mas existiam outros grupos, que trabalhavam com seus países natais; haviam grupos do nosso tipo na Alemanha, Espanha, Chile, Brasil, Inglaterra... Não havíamos descoberto ainda quem estava por trás da destruição do nosso planeta, e as teorias eram muito diferentes: uns acreditavam que eram os alienígenas, outros diziam que era o governo americano, e outros diziam que era a justiça divina contra o homem. A verdade? Quando eu descobrir, o mundo saberá.

Passou-se um ano. Suzie e Sam fizeram voto de silêncio à Jake, e ninguém nunca ficou sabendo que ele fora um espião uma vez, pois se os membros do nosso grupo descobrissem isso, seria uma confusão, que acabaria com Jake expulso.

Nosso grupo cresceu desde então. Eu segui muitos conceitos de Vivian, menos um: quando nós íamos para as missões, eu dizia a todos para salvarem os que pudessem, principalmente os que não conseguiam andar, pois os que conseguissem poderiam nos seguir. Com isso, raramente invadíamos uma fortaleza de Hyssaks.

Suzie se tornara uma ótima guerreira. Annie e Sam ainda estão um pouco piores que ela, mas eles são muito bons.

Jake e eu nos casamos. Agora, eu já tinha 17 anos. Nunca descobri nada sobre o destino dos meus pais. E continuava a sentir como se eu ainda não tivesse lembrado de tudo. Sentia que faltava recordar de algo importante, um pedaço da minha alma. Quem sabe um dia eu descubro o que é.

Jake me falou que adoraria ter um filho. Eu acho inapropriado, pois estamos no meio de uma guerra. E acho que não estou preparada para ser mãe.

Por mais que eu não possua o grande desejo de ser mãe, se acontecer, não vou ficar triste.

Faz umas semanas que eu venho achando que estou grávida. Não falei nada a Jake, para não criar falsas esperanças. Mas eu sinto que estou grávida. E grávida de gêmeos. Talvez seja a minha imaginação. Só o tempo dirá a verdade.

Jake não está mais violento. Ele é muito carinhoso comigo, e será um ótimo pai para os nossos filhos.

Tudo bem, eu estou omitindo um pequeno fato.

Semana passada, eu estava em uma missão, e Jake simplesmente desapareceu. Eu saí para procurá-lo. Foi então que eu o encontrei.

Não acreditei no que eu vi. Jake estava torturando um Hyssak, enquanto matava outro. E ele sorria enquanto fazia isso. Sorria daquele modo malicioso que eu já conhecia. Olhei para o chão: aos pés de Jake, havia pelo menos uns vinte Hyssaks mortos. Mortos, mutilados e destruídos. Estaria Jake voltando a ser o que ele era?

FIM