Romances Sem Romance - Frédéric escrita por Constance


Capítulo 3
Parte III - Laura




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-Deve ser algum tipo de... consequência ao trauma. – falava com o meu tom de voz mais sensato. Laura, pelo o que pude perceber pelo simples tom de sua voz, era demasiadamente sensível, e confesso que eu mesmo não gostaria de assumir a cegueira com grandes dramas.

            Podia sentir o seu olhar, olhar de pena, inclinado a mim, de certa forma esta sensação fez-me sentir algo comparado a compaixão pela pobre moça, em meio a tantas almas neste mundo, ela estava ali, o que me moveu a um interesse que não sentia pelas outras pessoas. Isto parece óbvio, é um sentimento exclusivo a alguém prestativo em um momento perturbador – apesar da minha feição controlada –, sim completamente perturbador, mas de qualquer forma Laura foi colocada em um pedestal, do qual somente eu tenho conhecimento. Seja pela minha posição como escritor ou até mesmo se tratando de algum problema temperamental, mas as pessoas do mundo inteiro não parecem representar para mim fonte de nenhum interesse. Costumava apaixonar-me pela observação, de situações, reações, interações, personalidades e tudo o quanto pudesse aproximar das descrições de meus personagens, mas o que notei é que o mundo é demasiadamente monótono para esperar tal coisa dele, as pessoas, presas por recalques ou pela simples moralidade não se mostram capazes sequer de deixarem-se ser si próprias. Os desejos, pensamentos, ideias e até mesmo a própria personalidade, ocultos, tudo por uma sociedade bem constituída e civilizada. A criatividade está na mente criativa. O interesse por um livro ou a ideia expressa só é capaz de atrair o leitor pela forma como a história se desenvolve, fantástica, improvável. Um leitor não teria interesse por uma obra literária se julgasse que esta se familiarizasse com a sua própria rotina. Procurar inspiração em outras pessoas é inútil se tratando das obras que escrevo, muitíssimo criativas e interessantes e não digo isso por ego, apenas para caracterizar o contrário com relação a sociedade, e, desta forma, as pessoas a qual me refiro. Quanto à interação, não pode trazer nada se não expectativas, sendo estas um poço escuro e muito fundo, não se pode ver o que está ao seu fim, apenas imaginar, esperar, e, no entanto sua profundidade é tanta que inibe qualquer tentativa de tentar alcançar o seu fim. Mas, voltando a Laura, garota sensível e distinta, meu interesse por ela ultrapassava os limites da mera curiosidade, o que despertou em mim certo espanto.

            -Não se preocupe, ficarei com você até que possa se adaptar.

            E eu continuava a sentir seu olhar perfurando-me de forma melancólica.

            -Laura... – minha voz saia involuntariamente com ares de desespero – creio não ser capaz de me adaptar...

            -Então terei que ficar contigo para sempre.

            Ao ouvir suas palavras, achei necessário realizar uma nota mental sobre Laura, pequena e sensível Laura, de natureza extrema e representativa. Tão sensível quanto posso descrevê-la, apenas notar, por ser tão atenciosa e doce.

            -Laura, do que está falando? Não me conhece. Não pode entregar seu destino a um estranho.

            -Estranho? Do que está falando Fréderic?

            -Laura, não nos conhecemos...

            -Provavelmente por não poder ver-me... de qualquer forma, pensei que reconhecer-me-ia pela voz, ou pelo nome.

            -Do que está falando, Laura?

            Após um suspiro nervoso sua voz tomou um ar choroso e então ela respondeu:

            -Fréderic, sou sua prima.

            -Sinto muito, Laura... não tive muita interação com o mundo ultimamente.

            -Desde que perdeu sua casa, não?

            -Como sabe?

            -Fréderic, quando ainda tinhas contato com o mundo, ou se devo dizer especificamente, com as pessoas que nele habita, eu tinha com você todas as relações que se deve haver entre parentes. Compreendo perfeitamente que não se lembre de mim, não tínhamos contato direto... mas mamãe costumava falar-me de você, como se fala a irmã da mãe do garoto.

            -Agora compreendo.

            -De qualquer forma... – sua voz se distanciou, ela havia levantado da cadeira em que estava sentada ao meu lado – Não se preocupe Fréderic, somos os únicos que restaram de toda a nossa família. Cuidarei de você.

            Naquele momento, eu gostaria de ter dito algo, qualquer coisa, não me importaria se soasse rude, afetuoso demais, impróprio... só gostaria de ter dito, mas minha voz, pareceu extinguir-se. Seria isso falta de interação com o mundo ou comoção por alguém como Laura? Ao que tudo indica, ela estava ali o tempo todo e antes de tornar-me cego não a vi. 


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Notas finais do capítulo

E agora? Alguém viu na Laura aquelas italianinhas?



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