Cheguei em casa com a sacola dos ingredientes do chocolate da Dong Yul.

Fui direto para a cozinha mas consegui ouvir a TV ligada, mantive o silêncio para poder ouvir e adivinhar o que estava passando no canal e logo reconheci aquelas vozes. Com o chocolate em pó numa mão e o leite na outra, corri para a sala.

Vi eles fazendo uma entrevista, todos sorrindo e animados. Onew, apesar de ser o líder, era o que menos falava, junto com Minho. Key e Jonghyun se expressavam melhor e Taemin normalmente concordava com eles e adicionava alguns comentários.

Eles estavam promovendo algum show que eu desconhecia. Apenas continuei prestando atenção, até que alguém me chamou. Dong Yul estava sentada no sofá com o controle na mão. Abaixou o volume da TV.

– Acabou de chegar? - perguntou, abrindo espaço para eu me sentar.

– Sim. Comecei a fazer seu chocolate agora. - dei uma última olhada para a tela e voltei para a cozinha.

Terminando a bebida, voltei para a sala e me sentei ao lado da garota. Ela tomou um gole, elogiou e voltou sua atenção ao programa, mas sempre que aparecia algum membro do grupo SHINee, ela parecia fazer uma careta.

– Você não gosta deles? - perguntei. - Do SHINee.

Ela pensou, tomou mais um gole no chocolate e respirou fundo.

– Não é que eu não goste. É só que eu não gosto de garotosfracos.

– Fracos? - repeti, sem entender.

– É, tipo.. - tomou outro gole do chocolate. - Eles parecem muito femininos e frágeis, sabe? Como esse de cabelo longo. - apontou para o Taemin. - Sei que o empresário dele que pediu para o cabelo dele ficar assim, mas ele podia ao menos agir com mais testosterona.

Olhei para a tela e o garoto riu, cobrindo o sorriso com a mão.

– Ó! Viu? Ele até ri como garota. - ela fez beiço.

– Não acho que ele seja assim.. - pensei seriamente antes de responder. - Acho que ele apenas seja um pouco tímido. Ele é- me corrigi. - Ele parece ser um garoto super gentil e divertido, só que talvez um pouco tímido.

Dong Yul me encarou, enquanto virava sua caneca. Eu conseguia apenas ver seus olhos e não gostava do que via.

– Você ao menos já ouviu alguma música deles? São muito boas! - coloquei minhas pernas em cima do sofá e as abracei.

– Conheço poucas. Só as mais famosas. Replay, Ring Ding Dong. - ela contava nos dedos, mas logo parou. - Só lembro dessas.

– Aigoo. - me levantei do sofá e fui para o quarto.

Abri o notebook, peguei meu mp4 e passei todas as músicas de SHINee que tinha. Voltei para a sala e Dong Yul não estava lá. Entrei na cozinha e a encontrei lavando a caneca e limpando o bigode de chocolate.

– Aqui. - ergui meu mp4. - Te emprestarei amanhã. Escute todas as músicas, ok?

Ela me olhou desconfiada. Peguei sua mão, coloquei o objeto e a fechei.

– Confia em mim. - sorri. - São muito boas.

Dong Yul corou. Ela puxou minha peruca e fez careta. Senti meu cabelo cair pelas minhas costas.

– Não faz esse tipo de coisa enquanto estiver vestida assim. - ela passou a mão no meu cabelo, ajeitando a minha franja. - Eu posso não parecer, mas sou uma garota tímida também.

E com isso, ela saiu da cozinha e foi para o quarto, dormir.

Eu não tinha entendido muito bem e já tinha até esquecido que tinha entrado em casa como Luca. Apenas joguei meus ombros para cima e fui me trocar. Já era tarde e eu precisava ir dormir.

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Eu não conseguia dormir então resolvi ir brincar com meu violão.

Fui para a sala e pensei em alguma música que eu não tinha tocado ainda.

Por algum motivo, lembrei do dia em que eu estava nos bastidores. Jonghyun e aquela garota misteriosa. Eu não tinha visto ela desde aquele dia.

– Talvez eu devesse perguntar a Key sobre isso.. - sussurrei sozinha, mas logo afastei a idéia, balançando a cabeça rapidamente.

Me concentrei no violão e, de repente, uma música veio à minha mente. Comecei a dedilhar a primeira nota e já senti que a noite seria bem longa.

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Cheguei no estúdio de dança com os olhos inchados. Acabei virando a noite.

Ajeitei o violão nas costas e passei por todos, sem prestar atenção em ninguém. Senti falta do meu mp4.

– Talvez eu possa tirar uma soneca na sala especial.. Ah-

Esbarrei em alguém. Levantei a cabeça e encontrei ela. A garota que Jonghyun e Key conversaram no dia da gravação. Ela era ainda mais bonita de perto.

Seus olhos eram gigantes e seu cabelo escorrido escapava de trás da sua orelha. Suas bochechas avermelhadas e seu sorriso enorme e brilhante.

– Ah- retornei ao chão. - Desculpe-me. - me curvei.

– Ah, não precisa disso. - ela sorriu. - Você está bem? Não está com uma expressão muito boa.

Me atrevi a olhá-la nos olhos e a sua beleza apenas aumentava. Não era estranho Jonghyun gostar de uma garota assim.

– Ah.. S-Sim.. Virei a noite e estou com sono. Apenas isso. - respondi com uma linguagem estrenhamente formal, dando um sorriso amarelo.

– Você é o Luca, certo? Ainda não tivemos chance de nos falarmos. - a voz dela era bem fina, diferente da minha. - Sou a ajudante do estilista do grupo, Kim Shin Hye. E você?

Ajudante do estilista? Até o nome dela é bonito.. Talvez fosse por isso que eu não a via por perto. Apressei-me para responder a sua pergunta.

– E-Eu estou apenas trabalhando como assistente dos garotos.

– Garotos? Você parece ser íntimo deles. - o jeito que ela me respondeu começou a me incomodar.

Senti uma mão no meu ombro e notei que fui salva pelo gongo.

– Shin Hye noona, como está? - reconheci a voz de Taemin e não precisei nem me virar para confirmar. - E você, Luca? Parece cansado. Quer ir comigo para a sala no fim do corredor? Tenho que pegar algo.

Não entendi o porque de ele oferecer isso, mas apenas aceitei. Queria sair dali o mais rápido possível. Ficar perto daquela mulher, de alguma forma, não me deixava nem um pouco feliz.

Peguei a mão de Taemin e me apressei para ir para a minha sala especial - por sorte, ele não parecia nem um pouco relutante.

O alívio me tomou quando abri a porta da sala e ela estava vazia. Me virei e o garoto ainda estava comigo.

– Me desculpa. Acabei te puxando comigo. - sorri, meio abobada.

– A-Ah.. Tudo bem. - por algum motivo, ele parecia desconfortável e com as bochechas levemente avermelhadas.

– Algo errado? - perguntei, sem entender.

Ele ficou sem falar mas logo olhou para nossas mãos juntas. Soltei a mão dele.

– Descupa. - ri. - Me esqueci que tinha segurado sua mão. Ah. Você queria pegar algo na sala ao lado. O que é? Eu vou pegar. - me apressei e fui em direção à porta.

Senti meu pulso ser puxado e logo parei, me virando lentamente para o garoto.

– Eu só quis te tirar de perto da Shin Hye noona. Você parecia bem desconfortável perto dela. - ele disse, confiante.

"Você realmente tem um senso ótimo", pensei comigo mesma.

Respirei fundo, tirei o violão das costas e me sentei no chão. Taemin sentou-se na minha frente.

– Você tá com uma cara péssima. - comentou.

– Não consegui dormir de noite. Estou com muito, muito sono. - fechei os olhos por uns instantes e senti que podia desmaiar a qualquer segundo, mas continuei acordada.

– Por que ficou acordado? - inocentemente, ele me olhava nos olhos.

– Muita coisa na cabeça. - e novamente, aquela mulher voltou a minha mente. - Fiquei tocando violão, também.

– Tocando o que? Alguma música nossa? - ele perguntou, se animando.

Dei uma risada meio seca.

– Não.. É outra música. - peguei meu violão, tirei sua capa e o coloquei no colo.

Taemin era um garoto bem inocente, então acho que, se eu conversasse com ele sobre aquilo, ele não iria falar para ninguém e também não tiraria conclusões precipitadas, certo?

– Nee.. Taemin hyung.. - comecei e percebi que ele estava encarando meu violão.

Ele respondeu com um som da garganta e eu acreditei que ele estava me ouvindo.

– Você.. já gostou de alguém?

Com essa pergunta, o garoto olhou para mim, curioso. Passou os dedos pelo seu cabelo longo, tirando-o do rosto.

– Acho que todo mundo já gostou um pouco de alguém, nem que tenha sido apenas um pouco. - respondeu, sorrindo de leve. - Por que?

Olhei para seus olhos, e eles pareciam olhar através de mim. Senti que eu podia confiar nele.

– Eu.. gosto de uma pessoa. - fiz uma pausa, mas logo continuei. - Essa pessoa não sabe e também gosta de outra pessoa. - me curvei e encostei o queixo no violão, encarando o nada.

– Como você sabe que essa pessoa gosta de outra? - ele perguntou, se aproximando de mim.

– Eu vi o jeito que eles se olham.

– Hm. Então.. - Taemin pegou meu rosto e levantou um pouco. Aqueles olhos enormes me encaravam e eu acabei esquivando. - Por que você não se declara para ela?

Respirei fundo, peguei as mãos do Taemin e as segurei com força. Tentei transformar a história, para que ele não suspeitasse de nada.

– Eu.. - minha voz falhou. - Acho que não sou bom o suficiente para ela. - respondi. - Não sou alto, nem bonito ou másculo o suficiente para ela.

Naquele momento, um bolo enorme na minha garganta se formou e eu senti como se não pudesse continuar falando. Aquilo que disse era, de fato, verdade. Eu não era alta, ou bonita ou feminina o bastante.

Vi a diferença entra as minhas mãos e as do Taemin - era enorme. Além de que minhas mãos eram mais gordinhas enquanto as dele eram mais largas.

Ele separou suas mãos das minhas mas continuou segurando-as, conduzindo-as até o violão.

– Se ela não gostar de você como você é, então ela não te merece. - eu olhei para ele e senti meus olhos lacrimejarem, enquanto eu via o sorriso brilhante e inocente daquele garoto. - É o que penso.

Comecei a tocar. Música seria a melhor saída agora. I Guess You Don't Know de M Signal era uma das músicas mais tristes que eu conhecia. Cantei com dificuldade, sentia que a voz não sairia da minha garganta facilmente.

– Eu te amo, mas você não consegue ouvir. Eu te amo mas você não sabe. Eu derramo lágrimas no meu coração mas você não vê. Eu chamo o seu nome mas você não consegue ouvir.– as lágrimas começaram a escorregar pelas minhas bochechas e era difícil cantar com aquele nó na garganta doendo e incomodando. - Você é o único para mim, mas você não sabe.

Eu parei de cantar. Não conseguia continuar. Meu coração doía - doía muito. Tentei segurar as lágrimas, mas Taemin tirou o violão do meu colo e me abraçou.

Fiquei surpresa. Ele tentava me confortar então não pude me segurar mais. Comecei a chorar alto, como uma criança. Me agarrei a camisa dele, enquanto ele passava a mão nas minhas costas, confortando-me.

Demorei para me acalmar, mas quando consegui, prestei atenção nas batidas do coração do garoto. Estavam rápidas. Sorri, boba. Ele está mais nervoso que eu.

Ficar ali era confortável e eu me sentia segura. De fraco, ele não tinha nada. A única fraca ali era eu. Fechei os olhos, sentindo o perfume leve que ele usava. Eu podia ficar ali para sempre.