Rain escrita por caah_haru


Capítulo 1
No suffering, no pain. The rain became warm.


Notas iniciais do capítulo

Yo!
Depois de muito tempo, estou voltando com uma one grande até, do meu casal favorito.
Espero que gostem. (:
Boa leitura!



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Doía.


A chuva que batia contra a janela parecia fazer com que essa dor forte e intensa aumentasse. Ele não gostava de chuvas. Havia lembranças nela, havia sentimentos guardados que quando novamente sentidos, uma explosão de nostalgia o incomodava e novamente sentia o que jurou nunca mais sentir... Dor.


Havia se passado dois anos desde a última vez. Mas parecia que ontem o adeus se tornou uma simples e cruel verdade. Podia ainda ver claramente os olhos tristes e magoados. O viu tentar diversas vezes que aquele não fosse o fim.


Mas já era tarde demais.


Ele não podia continuar com aquela situação. Sua personalidade não deixava brechas para um relacionamento. Tinha medo. Medo de dar errado, de sair ferido, com todas as vezes que tentou amar alguém.


Amar? O amava de verdade? Os beijos, os toques. Estava se deixando levar por aquela paixão passageira de adolescentes, mas olha como se encontrava agora... De frente para sua janela, se recusando a levantar ou se quer se mexer, apenas ouvindo e observando a chuva cair majestosamente.


Não gostava mesmo de chuvas, pois ela representava alguém que não deveria lembrar, não deveria sentir falta. Mas estava sentindo.


Podia fechar os olhos e lembrar de cada momento, cada palavra. Apenas um idiota mesmo para fazê-lo se irritar tantas vezes, mas era uma idiotice que não se cansava. Mesmo tendo vontade de arrancar sua cabeça fora, sentia a falta daquele sorriso estúpido e a risada irritante. Elas faziam sua tarde menos tediosa.


Impossível sentir tédio quando as mãos ávidas e caprichosas passeavam pelo seu corpo, causando lhe mais calor. Sedento de vontade era como ficava.


Uma vontade que o fazia suplicar, implorar e então mergulhar em puro êxtase com mais um toque, mais um sorriso, mais um beijo. O fazia se tornar dependente daquela sensação, o fazia um tolo apaixonado. E isso era inaceitável.


Gokudera Hayato. Guardião da mais importante Máfia Italiana. O mais temível se apaixonando? Não, não podia acontecer.


E então ele fez o que fez há dois anos atrás. Acabou com aquele sentimento, tentou mata-lo, joga-lo fora. Feriu, machucou. Mas ainda sim tentou expulsar tudo que passou, o que sentiu naquela noite.


Então o que fazia sentado em sua poltrona, fitando dolorosamente a água escorrer no vidro? Talvez aqueles sentimentos de outrora não fora embora realmente. Talvez falhou ao tentar se livrar de uma coisa que tinha se fundido ao coração frio. O que pensou ser inalcançável e fadado ao desastre ainda estava ali, intacto desde dois anos atrás, desde quando tudo começou.


Suspirou cansado. Todo aquele momento de reflexão e memórias o havia deixado exausto. Só aumentava a certeza da besteira que tinha cometido e o remorso.


Sim, sentia arrependimento. Cruel como sempre foi e será.


Fechou os olhos e na imensidão escura pode então aparecer à imagem da quando o olhar alegre e despreocupado morreu, quando o sorriso irritante e idiota desapareceu e só restou a dor.


Doía. Em todos seus nervos, em todo seu interior a dor que evitava frequentemente passar, ali tinha se instalado. Pior. Era sua culpa. Daquilo que julgou ser inapropriado e desnecessário se perder.


Era sua culpa.




–-




Sawada Tsunayoshi havia notado algo de diferente. Uma áurea pesada e estranha rondava sua sala já fazia algum tempo.


Aquele era mais um dia de trabalho. Com o mesmo tanto de papelada, a mesma vontade de sair correndo. Não fazia tanto tempo que havia se tornado chefe dos Vongolas.


Ainda achava uma péssima ideia, vez ou outra quando parava pra pensar nos dias calmos, mas essa era uma decisão que havia tomado para o bem de seus amigos.


Preciosos amigos.


Não se arrependia, mas sentia falta de quando não havia preocupações e responsabilidades.


Ainda sim continuava o mesmo de antes. Com a intuição sempre aguçada. Era pouco tempo afinal para mudar e tinha suas dúvidas se algum dia mudaria realmente.


Por essa mesma intuição que o havia salvado tantas vezes o cutucava agora. Algo lhe dizia que as cosias não andavam bem. Logo com dois de seus preciosos amigos.


Seu braço direito não mais mantinha aquela animação tão característica. Sempre vinha com um sorriso extremamente feliz por estar servindo mais um dia ao Décimo, mas ultimamente os sorrisos haviam diminuído e não apenas isso.


As frases irritadas direcionadas a certo alguém tinham parado.


E esse certo alguém parecia estar afetado também.


Yamamoto Takeshi, seu querido Guardião da Chuva ainda mantinha o sorriso despreocupado, mas Tsuna o conhecia melhor que qualquer um. Não era verdadeiro. A risada facilmente contagiosa não tinha mais o mesmo efeito.


Os dois guardiões além de estarem estranhos em seu silêncio, mais intenso para um do que para outro, nem se quer se olhavam.


Uma voz em seu interior lhe dizia que aquele estranho comportamento fora causado por algum desentendimento que ocorreu entre os dois. O que não poderia ser possível, afinal desentendimentos ocorriam sempre quando a Tempestade se voltava contra a Chuva.


Ainda sim, naquela quarta – feira normal tinha alguma coisa extremamente errada e não era apenas sua intuição que lhe dizia, eram os fatos. Ou melhor... Uma ligação.


Gokudera havia acabado de ligar, alegando dizer que não estava se sentindo muito bem e perguntou se poderia ficar em casa por um ou dois dias. Sua primeira reação foi de espanto e eterna preocupação, mas depois do jovem de cabelos prateados o acalmar um pouco, se deixou respirar e deu não apenas dois dias de repouso e sim uma semana.


Fazia tempo que queria dar esse pequeno tempo ao Guardião da Tempestade e qual seria hora mais propícia que essa?


Gokudera negou, é claro. Não poderia ficar tanto tempo longe de seu estimado e amado chefe, mas não fora um pedido.


Não gostava de dar ordens, ainda mais para com seus amigos, mas aquela era uma exceção e assim o fez. Ordenou que Hayato ficasse uma semana em casa, para então descansar. Não vendo outra escolha, o rapaz aceitou depois de varias afirmações que tudo ficaria bem por parte do Décimo.


Quando o telefone havia sido desligado, Tsuna pode então pensar com calma.


Aquilo era inédito. Em seus anos de amizade e convivência, nunca lhe passou pela cabeça que Gokudera pediria um tempo fora de toda aquela brincadeira de Máfia, que era tão séria e importante para ele.


Estranho.


Ainda mergulhado nos possíveis motivos que o levaram a aquele estado, todos envolvendo outro Guardião, não percebeu sua porta sendo aberta e uma presença abatida, tentando ser discreta quanto a aquilo com um sorriso, entrar.


— Tsuna?


A voz suave o fez acordar dos pensamentos e olhar para frente, encontrando a figura do Guardião da Chuva parada no meio da sua sala.


— Ah sim... O que houve Yamamoto?


— Você mandou me chamar, não mandou?


O sorriso brincalhão que ordenou aqueles lábios pela surpresa repentina do seu chefe, foi o mais sincero desde muito tempo. Apenas Tsuna para fazê-lo se sentir melhor.


Gomen Yamamoto, esqueci completamente que havia te chamado. – Suspirou. – É que recebi uma ligação do Gokudera que me deixou apreensivo e...


— Uma ligação do Gokudera? O que houve com ele? – Seu tom era preocupado. Preocupado demais.


O silêncio se seguiu com a falta de resposta. Tsuna fitava Yamamoto intensamente. Havia algo naqueles olhos, naquele modo que sua desconfiança apenas aumentava.


Tsuna sabia o efeito que causaria com seu silêncio, por isso o manteve e se contentou em deixar o Guardião se acalmar sozinho, mesmo sabendo que isso não seria possível. Logo Yamamoto caia em si, sorrindo envergonhado. Levou as mãos aos fios curtos e os bagunçou, como em um pedido mudo de desculpas.


O Décimo apenas balançou a cabeça e suspirou.


— O que está acontecendo Yamamoto? – O moreno o olhou confuso. – Porque está tão triste?


Yamamoto não poderia ter ficado mais surpreso do que naquele instante. Nunca vira Tsuna falar, agir e olhar daquele modo. Ainda conseguia ver o garoto pequeno e desastrado, além de tímido que tanto fazia seus dias engraçados e divertidos.


Mas naqueles pequenos e longos segundos Tsuna não era aquele amigo de colegial. Era o chefe que o bebê tanto acreditou e forçou para que mostrasse. Foi então que entendeu do porque ele recebeu tão alto posto e responsabilidade.


Da mesma forma que o Décimo estava sério, o moreno também ficou.


Por um instante ponderou na sua resposta.


Era óbvio que não estava bem. Mentir e torcer para que Tsuna acreditasse era um risco que não iria dar certo, pois ele não sabia mentir, de fato.


Yamamoto sempre foi sincero com tudo que fez e ainda faz. Por isso mentir para si mesmo que tudo estava bem era outro risco que também não daria certo. Enganar a si mesmo era um luxo que não funcionava. E durante aquele tempo em silêncio compartilhado pelos dois, um brilho de dor e tristeza o Guardião deixou escapar.


Podia ouvir claramente as palavras frias e cruéis acertarem a fundo seu coração. O ocorrido há dois anos atrás, voltava com força e rapidez. O rompimento que não havia superado.


Era errado pensar naquilo, porque da mesma forma que saiu do apartamento naquela noite decidido a não voltar, também prometeu a si mesmo não pensar mais no que ocorreu.


O que não deu certo, afinal ao chegar à sua casa e encontrar o vazio, ao mesmo tempo em que dava um passo, cada vez mais sua mente rodava no mesmo ponto. E pela primeira vez em toda a sua vida, chorou.


Era um choro mudo e com abundantes lágrimas. Era uma dor forte e marcante. Nunca mais fora o mesmo depois daquele dia. A costumeira alegria não o contagiava mais, no entanto tinha de ser forte.


Foi isso que Yamamoto fez. Doendo ou não, sobreviveu cada dia. Sua vida não poderia parar, ainda que todo seu ser houvesse ficado naquele quarto, naquela noite fria.


Nada. Sentia-se dessa forma.


Só que da mesma forma que não poderia mentir para seu melhor amigo, não poderia contar a verdade. Não queria preocupar mais Tsuna, afinal ele já tinha problemas demais. O incomodar com os seus não é uma coisa pela qual lhe parecia agradável.


O Décimo via aqueles pequenos gestos como sua resposta. Não iria impor, nem perguntar e muito menos julgar. Sua função era orientar e ajudar sua família, seus amigos que lhe eram tão importantes.


É o que sempre fará.


— Gokudera pediu uns dias de folga. – Começou a informar o que tanto parecia preocupar o Guardião da Chuva, tendo sua atenção roubada no mesmo instante. – Ele ficará uma semana em casa, descansando.


Yamamoto pode então ter como aquela conversa encerrada, já que o pequeno voltava sua atenção ao papel a sua frente.


Sabia que de alguma forma ou de outra, Tsuna já sabia o que acontecia consigo. Sentiu-se um pouco mal por não conseguir impedir que seus problemas incomodasse os outros, mas não vendo outra forma sorriu agradecido.


Fez uma pequena reverencia antes de sair.


Tendo Yamamoto fora da sala, o Décimo pode então recostar em sua cadeira e rodar para trás. Fitou cuidadosamente a grande janela, onde a vista dava para o enorme jardim. Logo a primavera estava para chegar e bonitas e elegantes flores iram nascer.


Tudo daria certo, tinha fé em seus guardiões.


Não... Em seus amigos.




–-



As cortinas estavam fechadas, impedindo que qualquer feche de luz entrasse no local. A cama bagunçada, com os lençóis jogados e cobertores amontoados. No meio de tudo aquilo, se encontrava o rapaz de cabelos prateados.


Já fazia dois dias que havia falado com o Décimo no telefone, pedindo um tempo para si. Em todos esses anos nunca passou pela cabeça que fosse capaz de ficar longe do Tsuna e a ideia ainda lhe parecia errada.


Mas ele não estava bem.


Como proteger e se esforçar quando se sentia péssimo? Não era como um ano atrás, ou uma semana. Estava pior, cada vez pior.


Sentia-se afundar com a solidão e o arrependimento. Encontrava-se em uma situação onde não conseguia lidar com seu trabalho e muito menos com a sua vida. O que podia fazer era ficar deitado, tentando a todo custa dormir e não sonhar.


Esse não era Gokudera que conhecia ou que deixava transparecer. Mas a força que possuía antes, estava se esvaecendo pouco a pouco.


Revirou-se lentamente e suspirou. Tinha que levantar e ir comer alguma coisa. Tsuna havia dado esse tempo para descansar e não passar mal por não ter cuidado de si mesmo.


Preocupar ainda mais o Décimo era horrível, não deixaria isso acontecer. Já não bastava a vergonha que sentia por ter ligado e pedido dois dias de folga, o que era tempo demais. E mesmo necessitando daquela semana que ganhou, iria voltar o mais rápido possível. Ficar muito tempo longe não era uma opção válida.


Então decidido a levantar, jogou as cobertas para o lado e respirou fundo. Ao se sentar na cama, uma leve tontura quase o fez deitar de novo. Esperou por alguns instantes antes de ficar de pé e quando sentiu estar pronto, foi em direção à cozinha.


Todas as cortinas estavam fechadas e por isso a casa inteira mantinha-se na penumbra. Com esforço Gokudera caminhou lentamente por entre o corredor escuro. Chegando ao cômodo que queria, foi logo abrir a geladeira para ver o que poderia preparar de rápido e prático. Não tinha o que reclamar de sua comida, durante todos esses anos que morou sozinho teve que aprender a se virar, mas naquele momento seus dotes culinários eram pequenos e o fazia ter vontade nenhuma de usá-los.


Por isso apenas pegou alguns frios e o pacote de pão que havia em cima da mesa. Um sanduíche rápido iria resolver seus problemas.


Mas antes mesmo de montar o que seria seu almoço, a campainha tocou.


Iria ignorar se não fosse pela insistência irritante. A cada segunda o barulho o incomodava, lhe tirando do sério rapidamente. Largou tudo em cima da pia e foi direto a entrada, pronto para tachar a pessoa que achava que o botão era de brincar.


Abriu a porta, preparando seus melhores xingamentos quando toda aquela ideia fora embora. De repente a irritação não mais o incomodava e a única coisa que havia sobrado era a surpresa.


Parado bem a sua frente, Yamamoto Takeshi o olhava envergonhado, com aquele mesmo sorriso idiota. Parecia que nada havia mudado desde dois anos atrás.


— Oi.


Gokudera não sabia como reagir. Depois de tanto tempo, de tudo aquilo, ele voltava a bater na sua porta e apenas diz um simples “oi”? Na mesma hora sua expressão mudou. Estava com raiva. Muita raiva.


— O que você está fazendo aqui? – Seu tom era ríspido, o que causou uma gargalhada do moreno.


Parecia que o humor do Guardião da Tempestade continuava o mesmo.


— Não vai me convidar para entrar?


O rapaz de cabelos prateados ponderou por alguns segundos. Estava curioso para saber por que ele havia voltado, mas a ideia de tê-lo dentro do seu apartamento ainda fazia com que as memórias vivas o machucassem. Ainda sim não conseguia mentir para si... Estava feliz. Muito feliz.


Ainda que não querendo, lembranças voltaram e nelas pode encontrar a saudade. Uma que estava quase fazendo o agarrar, mas trabalhando no mesmo lugar que ele, tendo que participar nas mesmas missões o fez ter um autocontrole invejável. Por isso nada do que se passava dentro de si transparecia em seu rosto.


Mas o movimento de seu corpo fora incontrolável. Logo dava passagem para o maior, sentindo seu perfume tão característico impregnar suas narinas e todo o local por onde passava. Seu corpo se arrepiou.


Tossindo levemente, tentando não pensar e muito menos ter novamente uma sensação daquelas, fechou a porta e caminhava em direção a sala.


Yamamoto olhava tudo com bastante atenção e em seu olhar havia certo brilho de nostalgia e seu sorriso diminuiu, fazendo com que desse uma aparência triste e melancólica. Depois de tudo entrar naquele lugar onde passaram por tantas coisas e tantos momentos, lhe doía mais do que o previsto.


Em cima da mesinha de centro, o moreno pode ver a coleção de dvds que Gokudera tanto gostava. Lembrava de quando mexeu em um deles, o olhar obsessivo e enciumado que o Guardião da Tempestade o lançou o fez nunca mais encostar um só dedo.


— Parece que ainda gosta dessa série. – O tom era divertido, fazendo com que o outro estreitasse os olhos. – Nunca mais assisti.


Gokudera se moveu para frente, pronto para pegar sua preciosa coleção e guarda-la em um lugar seguro. Sabia que era besteira, mas era um luxo que se dava ao gosto. Às vezes um homem precisava de seus vícios para manter sua vida, alguns bebiam, outros fumavam e tinham aqueles que eram viciados em sexo. Mas Gokudera era apenas um amante da história que aquela série continha.


Tendo pegado todas as capas, as levou para a estante, colocando cada uma em ordem.


Yamamoto ao observar todos os movimentos e o cuidado com que ele guardava, não pode impedir de fraquejar. Por um momento quis pedir perdão, abraçá-lo e implorar para que o tenha de novo em sua vida, que esquecesse todo o passado e a briga que parecia tão tola agora.


Mas aquele momento passou. Respirou fundo e tentou se controlar. Não era tão fácil assim voltar a dois anos atrás.


— Então vai me dizer por que veio até aqui? – Gokudera o olhava irritadiço.


Conhecia o bastante para saber que se não tivesse um bom motivo, iria ser chutado para fora do seu apartamento. Mas todo o motivo, o mais idiota, mínimo que fosse se tornava bom o suficiente para fazê-lo voltar. Ele só não tinha coragem. Até agora.


— Tsuna me disse que você pediu alguns dias de folga. – Começou com a voz um pouco baixa.


— Sim, pedi. Algum problema? – Gokudera sabia que estava sendo grosso demais e que deveria ser um pouco mais gentil, mas era de sua natureza e sua personalidade não o deixava ser mais simpático que isso.


Ainda mais com um estúpido viciado em beisebol.


O Guardião da Chuva apenas riu. Sabia bem como era e não se surpreendeu com a resposta.


— Eu queria ver se estava tudo bem. – Parou por um instante, vendo a reação do outro. – Não é comum você pedir folga.


O silêncio seguiu. Gokudera sabia bem como responder. Seria mal educado novamente e o mandaria embora e tudo aquilo iria acabar. Era ali que estava o problema. Ele não queria que o moreno saísse, mas não queria ter que lhe dar satisfação, mas acima de tudo... Seu coração batia acelerado com aquela preocupação.


Não conseguia impedir. A felicidade explodia dentro de si e seu estômago dava voltas, como se houvesse várias borboletas voando em um pequeno e único espaço. Rodando e rodando.


Mesmo tendo passado alguns minutos, longos e devagares, nenhum quis quebrá-lo. Havia tanta coisa a dizer, tantas a explicar, mas naquele pequeno instante entre um ponteiro e outro, o silêncio parecia o certo. Era nele que continua tudo. Todas as lembranças, toda a raiva, tristeza e acima de tudo... Todo o arrependimento.


Não era apenas Yamamoto que o sentia, Gokudera era capaz de pisar em seu orgulho e pedir às desculpas que faria tudo melhorar, ainda sim as palavras pareciam morrer toda vez que chegavam a sua garganta.


E então aquele instante passou. Com ele o corpo do moreno passou a se movimentar em direção ao outro. Gokudera estaria mentindo se não estivesse esperando por aquela aproximação, pois era o que mais esperava. Sentia as pernas bambearem ao fitar o olhar, aquele olhar, sobre si.


Era o mesmo, como há dois anos atrás.


Yamamoto por sua vez, sentia uma confiança quase quebrada, mas estava confiante, por incrível que parecia. Tinha a necessidade de se aproximar e fora o que fez. Cada vez mais estava próximo do objeto de seu amor, de sua vida.


Ao estar apenas dois passos de distância, se viu em um impasse. Terminarei o que estava disposta a fazer? Ou simplesmente recuaria e voltaria para a vida monótona e triste pela qual vivia?


A resposta era óbvia demais. Escolher não seria uma opção.


Por pensar em como Gokudera poderá se irritar e explodi-lo, sorriu. Nostálgico e com aquele misto de paixão, a qual nunca havia morrido.


O Guardião da Tempestade pode então sentir o coração perder todo o controle, fazendo a razão desaparecer. Queria tê-lo mais perto, sempre mais. Como se lesse seus pensamentos, Yamamoto se aproximou e com os dois passos dados, nada mais os separava. O vazio não estava mais ali e o calor dos dois corpos os instigava a continuar.


Nem passado um segundo, corpos eram rodeados por braços necessitados por aquele toque. Os olhos foram fechados, e os lábios pressionados. Nem Gokudera, muito menos Yamamoto, poderiam estar preparados por aquela maravilhosa sensação. O gosto de suas bocas continuava tão doce quanto se lembravam.


Logo a língua pedia passagem, a tendo sem impedimentos. Cada um explorava e assim chocavam-se, causando arrepios excitantes em todos seus corpos. Não importava o ar, era mínimo comparando o desejo pelo qual os faziam transformar aquele simples pressionar em um beijo voluptuoso que chegava ao bruto. Mas não capaz de machucar, não... Nunca os Guardiões seriam capazes de machucar um ao outro.


Era apenas o prazer e a saudade. Forte e arrebatador como sempre fora.


Gokudera não conseguia mais saber como, mas o dois havia começado uma dança lenta até o quarto. Os pés se moviam desajeitados pelo corredor escuro e as mãos não ficavam paradas. Moviam-se tão rápidas quanto suas bocas. Passeando pelo corpo que há tanto queriam sentir novamente.


Quando perceberam, estavam deitados na cama desarrumada. O cheiro do Guardião da Tempestade era como um vicio para o moreno e podê-lo sentir outra vez era como se um alivio entorpecesse seus sentidos, assim como a sensação gostosa que lhe causava.


Ali naquela tarde, depois de tanto tempo, os dois Guardiões poderam encontrar um no outro o que tanto lhe causavam o vazio. O coração mantinha-se alegre, pulando no peito e as respirações se mesclavam rápidas e entrecortadas. Os sons eram como uma bela melodia harmoniosa.


Fora naquela tarde que o amor finalmente os encontrou. Foi ali que a dor não mais os atormentava.


Gokudera não se importaria mais se começasse a chover, afinal... As gotas que tanto o machucava, agora o fazia fechar os olhos em pleno e entorpecente prazer.




–-




Abriu os olhos preguiçosamente. Demorou alguns instantes para focar sua visão, mas ao ter se acostumado conseguiu entender onde, como e com quem estava.


Não pode impedir de ruborizar ao lembrar do que havia acontecido há algumas horas atrás. Apertou os lábios em sinal de constrangimento. No final não conseguiu impedir de seu coração e desejo o guiar.


Por um momento queria se espancar. Nunca poderia ter se deixado levar. Não é como se apenas uma tarde poderia resolver todos os problemas e o tempo que fora gasto por causa de uma tola briga. Mas ali estavam os dois, deitados na cama nus.


O que deixava o Guaridão da Tempestade ainda mais possesso era o fato de que não conseguia se arrepender. Os suspiros, os toques, os beijos... Tudo fora tão bom e precisava tanto senti-los novamente que não se importava de fazer tudo novamente. Sorria internamente apenas com a lembrança.


Suspirou mudo e olhou para o lado. Yamamoto continuava dormindo tranquilamente, em seus lábios um mínimo sorriso irritante fazia Gokudera tremer por dentro. Aquele sorriso ao seu lado, novamente.


Decidiu se levantar e aos poucos estava sentado de costas para o moreno. Olhou para a janela e a escuridão brincava com o brilho das estrelas. Bagunçou os fios prateados ao perceber que já era de madrugada. Agora que não poderia chutar o outro Guardião pra fora da sua cama e do seu apartamento. Era melhor esperar até amanhã de manhã, afinal.


Respirou fundo. Ainda se importava com o moreno? Não havia prometido a si mesmo naquela noite que nunca mais iria perder seu tempo com ele?


Uma promessa falsa, que nunca foi comprida.


Gokudera sabia que tentava se enganar e falhava. Não havia um dia se quer que não se preocupasse com Yamamoto. Sempre observando, atento a cada movimento, conversa ou qualquer coisa que esteja relacionado ao outro. Talvez fosse por esse motivo que nunca conseguiu esquecê-lo...


Olhou para o teto novamente e tentou mudar um pouco a rota de seus pensamentos. Deveria estar consumido pela raiva por causa da falta que cometeu. Era tão fraco.


Quando estava pronto para levantar, uma voz grossa e baixa o fez arregalar os olhos.


— Aonde vai Hayato?


Seu nome proferido por aquela voz... Fechou os olhos, tentando apaziguar seu interior que parecia enlouquecer por poucas palavras.


— Já está na hora de você ir embora.


Custou para dizer tais palavras, mas sabia que tinha que fazê-lo. Para o bem de ambos.


Yamamoto ficou em silêncio por um momento. Estaria mentindo em dizer que estava surpreso por aquela reação, conhecia bem o Guardião da Tempestade, assim sabia que de fato o que aconteceu naquela tarde foi um erro, mas mesmo a razão dizendo que não deveria ter feito o que fez não conseguia se sentir menos do que verdadeiramente feliz. Mas não satisfeito.


Nunca estaria satisfeito se não tivesse o homem sentado de costas para si. Porém era um desejo que se tornava um sonho.


Gokudera vendo que não teria uma resposta resolveu se levantar por fim. Ao estar de pé, notou o quanto era difícil dar simples e pequenos passos que o faz ficar longe do moreno.


Queria socar a perna que teimava em ficar parada, mas controlou-se. Tentou novamente e conseguiu caminhar em direção ao banheiro, mas antes de entrar pode ouvir novamente a voz rouca.


— Então é isso? – Yamamoto dizia sussurrante. Aceitar uma verdade dolorosa uma vez era difícil, mas ter que fazê-lo de novo machucava extremamente seu coração. – Tudo não passou de um erro?


Não queria ouvir a resposta, nem ao menos queria ter feito à pergunta. Porém era algo maior que sua vontade, maior que seu desespero interior, maior que os dois.


Gokudera parou e se apoiou no batente da porta, ainda de costas para o Guardião da Chuva. Odiou ter de ouvir aquelas palavras. E aquele fato foi ainda mais odiado por si, pois deveria ser uma verdade. Porém passava de apenas mais uma mentira.


Finalmente se virou para o homem deitado em sua cama. Encontrou um olhar triste. O mesmo de antes, de dois anos atrás.


Doeu. Doeu mais do que o rompimento daquela noite, estava doendo mais do que os dias solitários e amargurados. Pois estava acontecendo tudo de novo e isso era simplesmente arrebatador. Mais forte que qualquer coração partido, é os cacos que sobraram ter se quebrado novamente.


Daqueles cacos veio a vontade de chorar. As lágrimas que tanto tentou guardá-las estavam ali... Querendo escapar, tentando a todo custo cair e rolar por sobre seu rosto. Mas não... Ele era Gokudera Hayato. Ele não chorava, ele não pisava em seu orgulho.


Por tal motivo, que lhe parecia o mais idiota e ridículo fez o mesmo que antes. Cometeu o mesmo erro.


— Sim... Tudo não passou de um erro. – As palavras pareciam pedras que machucavam sua garganta. Tão difíceis dizê-las. – Agora, por favor, vá embora.


Engoliu as lágrimas que se mantinham fortes ao intuito de escapar e voltou a fazer o que pretendia desde o começo. Talvez se tomasse um banho, toda aquela dor fosse embora. Mentira. Ainda sim queria acreditar que tudo ficaria bem.


Yamamoto ao ver a porta se fechar, fixou seu olhar no teto. Naquele momento sua mente parecia um turbilhão. Sua vontade era invadir aquele banheiro e implorar para tê-lo de volta, mas não poderia.


Novamente era ali que tudo acabava. No entanto em seu coração, aquela história nunca teria um fim. Nunca.


Pode ouvir o chuveiro ser ligado, tendo aquele som como a força que o fez levantar e ir atrás de suas roupas. Enquanto as vestias pode sorrir abatido ao se lembrar do momento maravilhoso que iria ficar guardado. Como tantos outros. O rosto mergulhado no prazer, a voz que tanto amava o chamando, pedindo por mais do seu corpo, do seu amor. Mas ali estava ele... Abotoando a camiseta vagarosamente, tentando ao máximo impedir de sair do apartamento e deixar mais uma vez tudo que tiveram para trás.


Lamentável.


Finalmente quando colocou o último botão em sua casa, a porta do banheiro se abriu e por ela um Gokudera ainda molhado, com uma toalha em sua cintura e outra em suas mãos enquanto secava os fios prateados, saiu.


Os olhos se encontraram por míseros segundos. O suficiente para toda a força de vontade de Yamamoto em sair esvair rapidamente. Respirou fundo. Tinha que fazer aquilo, nada mais restava se não às memórias.


Apenas as memórias.


Gokudera esperava ter encontrado o quarto vazio, como da última vez, porém teve que se contentar em fingir descaso em relação à presença do outro. Por mais difícil que fosse. Foi até seu guarda roupa e retirou uma calça de moletom e uma boxer. Ignorando qualquer sensação de olhos sobre si, retirou a toalha da sua cintura e vestiu suas roupas.


Yamamoto apenas o observava atentamente. Cada movimento, cada pele descoberta era um atentado ao seu autocontrole.


Tinha de ser forte, por isso caminhou até a porta, disposto a sair, mas antes respirou fundo e deixou que seu coração falasse por si. Uma última vez.


— Eu não queria que tudo isso acontecesse. – Dizia calmamente. – Foi um erro, não me lembro se foi meu ou seu, mas foi um erro. Um erro termos brigado daquele jeito, um erro termos nos separados. Mas somos todos feitos de erros.


Esperou por alguma reação, mas sabia que não teria nenhuma, por isso continuou.


— Não me arrependo dessa tarde. De ter vindo querendo saber se você estava bem. E sabe por quê? – Virou-se, fitando os olhos verdes que tanto é viciado e apaixonado. – Porque eu te amo.


Viu naquele brilho opaco, algo flamejante e surpreso torna-lo vivo e ardente. Uma pequena esperança se acendeu, mas logo ele a guardou. Talvez fosse sua imaginação.

É... Talvez.


— Eu te amo Hayato e isso não mudou. – Suspirou e virou novamente e dessa vez pronto para ir embora e deixar tudo para trás. Mais uma vez. – E... Não vai mudar.


Tendo aquilo como suficiente abriu a porta e saiu. Os olhos perdiam a vida, afinal estava a deixado ali, naquele quarto, com o dono dela.


A partir daquele momento não sobrará mais nada. Nada.


Gokudera se manteve parado onde estava. Ouviu a porta da frente se fechar e então o baque. As palavras, o tom baixo e verdadeiro... Tudo pareceu invadir seu coração de forma rápida.


Há dois segundos atrás ficaria ali, no meio do quarto se martirizando por ter feito as escolhas erradas novamente, mas dessa vez o coração que batia descontrolado dentro do seu peito fez esquecer a razão ridiculamente errada.


Ele ainda o amava. Depois de tudo...


Os olhos se arregalaram por causa da força daquela vontade que lhe invadia e sem querer perder um minuto ou um pouco que seja daquele momento correu. Não se importava se estava sem camisa e ainda descalço.


Atravessou os corredores do seu apartamento e foi direto para a porta. Passou por ela com a mesma rapidez em que desceu as escadas. Estando finalmente na rua, olhou para os lados a procura da figura morena, a encontrando virando a esquina.


Os trovões eram como gritos de incentivo para si, os clarões seu caminho e as gotas geladas que agora o atingia parecia como pequenas caricias. O frio que deveria fazê-lo tremer não chegava a tirar o calor de seu corpo. Nada o impedia de correr e tentar alcançá-lo.


Nada o impediria.


Finalmente conseguiu virar a esquina e correu ainda mais rápido. Tendo alcançado, o abraçou. O terno molhado não impedia o calor de atingir em cheio seu corpo, fazendo o tremer.


Yamamoto por sua vez ao sentir os braços tão conhecidos rodear sua cintura, se surpreendeu. Para ele nada mais poderia fazer sentir outra coisa se não a eterna tristeza, mas estava enganado.


Os braços o apertavam fortemente e assim cerrou os olhos.


— N-Não vá. – Aquilo doía. Ver suas costas se afastando de si, doía mais do que poderia imaginar. O ferimento em seu orgulho era mínimo comparado ao seu coração e não aguentava mais ter um buraco nele. – Não me deixe Takeshi.


Yamamoto não pode distinguir o que se passava com ele naquele instante. As pequenas palavras ditas tão baixas foi o estopim de tudo. Era isso que precisava, era só aquelas palavras para tudo dissipar.


O frio em seu interior tão rápido descongelado pelo calor. O calor do amor que não havia morrido.


Não impediu do sorriso alegre e enorme brincar em seus lábios. Segurou carinhosamente os braços e os retirou da sua cintura. Virou em direção ao homem dono de si, por completo, e observou o rosto molhado, não apenas pela água. Gokudera estava chorando.


Levou os dedos úmidos, passando sobre a água salgada misturada a doce no rosto belo de seu amado, acariciando o vendo fechar os olhos ante os toques. Teve vontade de suspirar, mas fez melhor que isso.


Beijou seus lábios. Tão doces e molhados. Perfeitos como eram encaixando nos seus.


Sentia-se tão feliz. Incrível como tudo parecia ser. Há alguns minutos antes seu mundo ruía e agora... Todos os pedaços quebrados voltavam ao seu lugar. Todos os machucados pareciam sarar.


Afastou e quebrou o pressionar tão gostoso e singelo. Observou atentamente, novamente, cada traço do homem que precisava para continuar. O dono da sua vida, do seu coração.


Ele sorria.


Gokudera sorria ternamente. Era inédito e ainda mais inesquecível. Poderia explodir de felicidade.


— Eu te amo Hayato.


Abriu os olhos e fitou o moreno. Levou os braços até seu pescoço e o rodeou, puxando para baixo. Encaixou a boca em sua orelha, ainda sorrindo, disse o que seu coração mandava... Disse a verdade.


— Eu te amo Takeshi.

Gokudera não se importava mais com a chuva ou com a dor que ela poderia lhe causar. Pois não havia mais dor ou sofrimento.


Um erro tão bobo, tendo demorado tanto para ser concertado, não existia mais entre os dois. Agora apenas restava duas pessoas extremamente satisfeitas e apaixonadas tendo seu segundo beijo em meio as gotas.


E elas? Pareciam sorrir enquanto caiam sobre seus corpos, os acariciando enquanto brincam se contagiando com a felicidade.


Não doía mais.




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Notas finais do capítulo

E aqui está. Demorei um pouco para fazê-la, por causa do bloqueio irritante que ando passando, mas gostei da forma como ela ficou.
Estou meio assim com o final, temendo que esteja muito rápido. Se vocês acham isso, por favor me digam ok? ç3ç
Enfim... Obrigada por ler.



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