A Bruxa De Liveway. escrita por belle_epoque


Capítulo 11
Capítulo 11 - Dúvidas.


Notas iniciais do capítulo

Bem, para quem não sabe ainda - ou não percebeu -, eu estou postando dia sim ou dia não xD. No máximo, atrasarei apenas alguns dias - no máximo dois.
...
Agradeço aos reviews de:
> miss yuki
> Hina
> Emanuelle
> carolisle
> Lilith
> Luct1997
> LuLerman
...
Esse capítulo será um dos golpes de misericórdia para as dúvidas de vocês xDDDD
...
Hope you like it~*
Beijos,
EUQOPÉ-ELLE3



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ANTES DE QUALQUER COISA: TENHO ALGO A FALAR.

Meu amigo, Vini-vini - também conhecido como VincentDeLeon que hora ou outra comenta na fic - fez uma capa para a mesma - mesmo que NÃO PEDINDO para que ele o fizesse. Ele fez manha, insistiu, insistiu até chegar a ponto de ser irritante... E acabei aceitado em fazer uma votação.

Conto com o voto de vocês para escolher se devemos ficar com a capa atual - a que é e sempre foi a primeira capa da fic - ou com a nova dele:


ESPERO TER ALGUMA RESPOSTA NOS REVIEWS DE VOCÊS.

Agora.... AO CAPÍTULO!


Capítulo Onze – Dúvidas.

Enquanto eu me arrumava para a escola, eu percebi a quão perturbada eu estava. Aquele site, The Dark Hole, deixara-me temerosa. Eu me olhava no espelho do meu banheiro, tentando enxergar algo que não deveria estar ali, mas não via nada. Era um reflexo normal de uma adolescente graciosa e normal. E então eu me lembrei que tinha que ser em um espelho do qual meu reflexo não estivesse familiarizado.

Então eu passei o caminho da escola inteiro me olhando no retrovisor do carro de Roman. Novamente, eu não encontrei nada de anormal. De duas uma coisa, ou tudo o que tinha naquele site era mentira, ou meu reflexo já havia se adequado ao do carro de Roman também, o que era provável já que eu pegava carona com ele muitas vezes.

- Anabelle, eu sei que você não é narcisista então vou perguntar: o que está acontecendo? Você não para de se olhar no meu espelho – ele pediu incomodado.

Eu olhei para o meu amigo, desculpando-me.

- Desculpe Roman é que... eu li e ouvi uma coisa ontem que me deixou perturbada – respondi tentando soar arrependida.

Ele franziu o cenho e me olhou por breves segundos. Dirigindo o seu olhar para a rua da escola. Ao adentrar no estacionamento, ele jogou o seu carro para o lado e fez uma manobra assustadora para entrar direitinho em uma vaga mais do que apertada para um fusca.

- E eu posso saber o que foi? – perguntou estacionando o carro depois de fazer uma manobra de louco.

Não conta! Não conta!” alertou-me minha consciência.

Abri a minha boca, mais desisti.

Roman conversava com Alice Franklin ontem, e acho que eles falavam de mim pelas minhas costas. Ele não comentou nada a respeito até agora. Eu não iria comentar também. Tanto que eu havia escutado uma parte e que eu queria explicações, quanto que eu havia pesquisado sobre o que era “Guardião Sombrio” e não gostado do resultado.

Esperaria ele se abrir primeiro para eu me abrir depois.

- Nada muito importante – menti. – Você sabia que, no Japão, se você por um espelho de frente para o outro supostamente abriria uma passagem para o submundo deles?

- Sério? – ele parecia impressionado. – Uau. Então é por isso que você está preocupada?

- É – menti sorrindo. – Agora vamos que eu não quero chegar atrasada.

Se ele acreditou ou não, é um mistério. Mas, ao que parece, ele pareceu acreditar. Recomendou-me até não ficar brincando com esses tipos de lendas urbanas que algumas podem até ser verdade, depois, para me chatear, ainda disse “menos fantasmas”. Claro que eu fiquei irritada. Só não sabia se era por ele ficar falando de alguém, que eu creio ser eu, pelas costas ou por não ter mencionado nada.

Tentei não me fazer de abalada. Se ele iria ficar agindo normalmente, eu também não iria me incomodar com peso na consciência agora...

- Então... não se esqueça da nossa conversa hoje à noite – Daniel murmurou baixinho para mim, em tom de confidência.

- Daniel, para quê tanto mistério? Tem haver com a garota que você está afim? – perguntei.

Ele suspirou.

- Tem sim – respondeu e parou de frente para mim, encostando-se à um armário. – Eu quero muito chegar nela... mas eu não sei como – admitiu. – Queria que você me ajudasse... nisso.

- E você não acha que ela vai estranhar quando te ver bebendo com uma garota? Vai pensar que estamos saindo – eu argumentei.

Ele pendeu a cabeça para o lado.

- Verdade. Eu não tinha pensado nisso – admitiu.

- Por que você não chama Roman ou Josh? – perguntei.

- Porque Josh também não saberia como conversar com ela, e Roman daria em cima dela – respondeu com lógica.

Olhei ao redor. Deveríamos conversar com mais garotos “normais”, porque eu estava certa de que nossos amigos eram anormais.

Então, eu o vi.

- E ele? Ele poderia ir conosco – ofereci puxando César Villanueva pelo capuz do casaco. – Aliviaria a ideia de que estamos saindo.

- Solte-me, Malback – mandou César tentando tirar a minha mão de seu capuz.

- Anabelle, não. Um, eu nem conheço o cara, dois, ele me dá medo – recusou Daniel.

César revirou os olhos e, em um golpe inesperado, libertou-se de minha mão.

- E você também é muito bonito – retrucou com ironia. – Vou para a minha sala, vocês deveriam fazer o mesmo. Somos os únicos que ainda estão no corredor.

Eu e Daniel trocamos olhares pelo corredor e vimos que era verdade. Então saímos correndo para a aula de química.

Chegamos alguns minutos atrasados, mas conseguimos entrar, desde que trouxéssemos uma pesquisa sobre as reações químicas da Chuva Ácida e do Efeito Estufa, para aula que vem.

- Você e o Daniel andaram de segredinhos a aula toda... – Roman comentou enquanto andávamos pelo corredor, a caminho do estacionamento.

As gêmeas trocaram olhares tensos e curiosos. Josh apenas sorriu e também ficou observando.

- Mesmo? Não achei – fiz-me de idiota.

- Bem, eu achei. Eu só estava pensando... Ultimamente Daniel tem estado no mundo da lua por uma garota que ele não disse quem era, ontem ele me pediu o seu número de celular, e, hoje, vocês estão cheios de segredos – ele argumentou. – Eu só queria saber se há alguma chance de você ser a garota que ele está afim.

Eu parei no lugar e me engasguei com a minha saliva. Quando me recuperei, comecei a rir.

- Eu e o Daniel? – perguntei entre risadas. – Claro que não sou eu! Por que seria eu?! O que ele teria visto em mim?

Roman suspirou... Aliviado (?).

- Bem, todos nós achamos que era você – as gêmeas disseram em uníssono.

- Não... Sabem, é que ele não consegue se declarar para a garota que ele gosta e pediu a minha ajuda. Hoje à noite, depois do meu trabalho, vamos para um lugar chamado Eletric Chapel e ele vai tentar se declarar para ela – expliquei. – Ele me chamou apenas para dar apoio moral.

Voltei a andar, mas ele não.

- Só vocês dois? – perguntou Érika com desconfiança.

- Hm, é... – respondi receosa. ­

- Anabelle, você é tão tapada! – exclamou Anabeth. – Nem acredito que dividimos o “Ana”! É claro que ele quer um encontro com você! Se ele quisesse apenas moral, teria pedido para os garotos.

- Você já viu os “garotos”? Roman acabaria dando em cima da garota e Joshua é tão tímido quanto ele – expliquei. – Cheguei até a convidar César, mas ele dava medo.

- Me admira a ideia que você tem de mim, Anabelle – Roman resmungou.

- Quem faz a fama deita na cama – Joshua respondeu.

- Então nenhum outro homem serve é? – comentou Elizabeth com malícia.

- Não é o que parece – eu disse, mas eu estava começando a ficar confusa.

Anabeth, Elizabeth e Érika pediram licença e me puxaram para um canto um pouco afastado no corredor. Os garotos, Joshua e Roman, ficaram apenas observando à distância.

- Então... qual você vai escolher? – perguntaram-me.

- Escolher o quê? – perguntei confusa.

Elas só faltaram gritar de frustração.

- Entre os garotos! Roman ou Daniel? – perguntaram em um sussurro frustrado.

- Escutem: nenhum dos dois está afim de mim, O.K? – eu disse um pouco impaciente.

- Você é doida? Daniel passou o dia grudado em você e quer sair em um “encontro” com você para se declarar para a garota de quem ele gosta – argumentou Anabeth.

- Não é um encontro – reclamei.

- Claro que é! Um garoto e uma garota sozinhos no Eletric Chapel é um encontro! – respondeu Érika.

- Pode até ser, mas Roman não está afim de mim – mudei de tática.

- Nãooo... Quê isso... Ele só estava morrendo de ciúmes por saber que Daniel é capaz de pegar a garota que ele não conseguiu – Elizabeth inquiriu com sarcasmo.

- Pode ser... Do jeito que ele é... – eu concordei.

As três negaram com a cabeça.

- Anabelle, Roman pode ser mulherengo e cafajeste, mas ele dificilmente sai correndo atrás de mulheres – Érika explicou. – Quando ele se aproxima com segundas intenções, se afasta ao ser rejeitado. E você já deu vários foras nele. E com vários, eu digo: muitos foras. Tipo, desde que você pôs os pés aqui.

Eu suspirei. Eu não acreditava que os dois estavam apaixonados por mim, mas senti meu rosto pegar fogo ao cogitar a ideia. Eu raramente sentia um olhar em cima de mim. Era difícil acreditar que uma pessoa estava gostando de mim, ou pior, duas. Principalmente meus amigos. Eu havia aprendido em Paris, em meus catorze anos, nunca namorar um garoto que é seu amigo. Pode acabar com a amizade.

- Isso é besteira – neguei dando as costas a elas. – Vou para a minha casa – bufei irritada.

Elas não disseram nada, talvez percebendo a minha irritação.

Eu não gostava de ficar gritando aos sete ventos quando eu gostava de alguém, mas no momento, eu não estava gostando de ninguém em especial. Eu estava começando a ficar constrangida e irritada só de imaginar essa hipótese.

Constrangida por quê? Você é bonita e os garotos têm mesmo é que cair aos seus pés” minha consciência tentou me fazer sentir melhor.

E se eles tiverem apaixonados por mim? No que vai mudar a vida das garotas se Roman e Daniel gostarem de mim? O que diz respeito a elas? Até parece que o mundo vai parar de girar só porque Roman se interessou por mim...

- Ei, Anabelle, espere! – Roman pediu segurando o meu braço.

Vir-me-ei para ele e foi instantâneo quando meu rosto pegou fogo.

- Que foi? – perguntei me afastando.

- Nada, é só que eu sempre te levo para casa – sorriu.

O que estava havendo comigo? Era só saber que Roman estava gostando de mim que já sinto meu coração dar um pulo no peito só por ele sorrir? Isso é normal? Será que... eu também estava gostando dele um pouco?

Que nada, você está empolgada é em saber que ele está gostando de você” minha consciência respondeu. “Passou tanto tempo sozinha que está empolgada em saber que alguém como Roman ainda se sente atraído por você”.

Talvez fosse verdade.

- Ah, c-certo – concordei desviando o olhar. – Eu fiquei tão irritada com o que as meninas estavam dizendo que nem percebi.

Entrei no seu carro, mas não disse quase mais nada. Ele deveria estar tagarelando alguma coisa que eu não estava prestando atenção. Preferi responder com monossílabos enquanto eu estava desligada. Apenas despertei quando ele estacionou na frente de casa.

- O.K. Tchau – despedi-me abrindo a porta, mas ele segurou o meu braço.

- O que aconteceu? – perguntou preocupado. – Você está distante.

- N-não é nada – neguei.

Seu aperto afrouxou e eu saí de seu carro. Porém, eu não esperava que ele saísse também. Ele segurou novamente o meu braço e eu o olhei mais uma vez.

- É alguma coisa sim. Você parece meio perturbada hoje, desde que eu te levei para a escola, com o tempo você melhorou, mas agora está perturbada de novo. As gêmeas te falaram algo que você não gostou de saber? Foi a Érika? – perguntou-me preocupado.

- Hm, foi. Mas não é nada muito importante. Só fiquei um pouco chateada – respondi.

Sua mão me segurou durante um tempo que pareceu longo, enquanto seus olhos azuis escuros me analisavam procurando por anomalias. Ele, então, me soltou e levou as mãos aos bolsos da calça jeans. Parecendo mais aliviado ao constatar alguma coisa.

- Você vai trabalhar hoje, certo? – mudou de assunto.

- Vou. Estou me sentindo uma vagabunda esses dias. Alexander fez todo o meu trabalho – reclamei. – Vou ver se consigo encontrar alguma coisa para fazer.

- Não se preocupe. Hoje, você não vai precisar fazer nada. Alice Franklin quer conversar com você – ele respondeu.

Eu congelei. Senti a cor sumir da minha face.

- Ela quer falar comigo? – perguntei confusa. – Eu fiz algo de errado?

- Não – ele apressou-se em dizer e deu um sorriso aliviado. – É só que... Ela precisa conversar com você sobre alguns assuntos sérios. Por isso eu não vou poder vir para te levar ao trabalho, ela quer conversar comigo também. Você se importaria de ir andando hoje?

- Não, eu não me importo. Ontem eu fui andando também – respondi dando de ombros. – E o que ela quer falar comigo?

- Eu... acho melhor ela mesma lhe contar – ele respondeu enigmático.

Eu concordei com a cabeça e ele se virou para ir embora. Mas algo o fez parar e se virar de novo.

- Anabelle, eu estou com a sensação de que você vai passar a me odiar esta noite – ele murmurou com pesar.

Eu franzi o cenho. Por que eu o odiaria naquela noite? Ele havia feito alguma coisa?

- Por que eu te odiaria esta noite? – perguntei.

Ele ficou um instante em silêncio.

- Eu não posso dizer, mas sei que não foi pelo o que eu vou fazer agora – ele disse.

Franzi o cenho mais uma vez, porém, ele me puxou pelo braço e me beijou.

Demorei alguns segundos para associar aquilo que acontecia. Até que caiu a ficha: Roman estava me beijando!

Os braços dele envolveram o meu corpo, como se estivessem com medo de que eu fugisse ou que eu me afastasse e lhe desse uma merecida tapa na face. Mas eu fiquei tão chocada e entorpecida que eu estava crente de que não faria nada além de responder ao seu beijo.

Seus lábios encostados aos meus se entreabriram e a sua aveludada língua pediu a passagem que eu concedi. Com menos tensão, sua mão subiu para a minha nuca e ele aprofundou o beijo, deleitando-se daquele contato. Roçando sua língua casualmente na minha com lentidão.

Eu não sei o que senti, meus pensamentos se nublaram.

Ele beijava tão bem quanto Alexander... mas quando ele se afastou, eu não me senti desnorteada, não vi estrelinhas e nem suspirei. Apenas senti meu rosto queimar de vergonha, e seu hálito quente bateu em meu rosto.

- Tchau – ele murmurou com os lábios entorpecidos.

Ele foi embora e, mesmo que eu o chamasse para conversar, ele não virava para me olhar. Eu estava confusa. Mais confusa do que... bem, não sei. Não consigo pensar. Entrei em casa e vi que meu pai estava na sala com a mosca nem tão morta. Ela o segurava e ele parecia bravo.

- Que beijo foi aquele Anabelle?! – ele pareceu gritar, mas para mim foi como uma mosca zumbindo em meu ouvido. Eu estava confusa.

- Você pode comer a Mery na mesa e eu devo ser casta? Isso, além de ser um pouco de maxismo, é muita hipocresia do senhor! Comedor de santinhas! – murmurei indignada.

Ô povo que gosta de se meter na sua vida!” ouvi minha consciência reclamar e eu concordei.

- Vou para o meu quarto – disse vendo o rosto corado da Senhorita Nightray e o olhar reprovador de meu pai.

Tranquei-me no meu quarto durante um tempo. Tentei ocupar minha cabeça com os inúmeros deveres de matemática para a semana que vem, tentei ocupar-me com o dever de química para semana que vem... mas não dava.

Esses últimos dias foram os mais confusos.

Primeiro foi àquela conversa absurda que eu escutei Roman tendo com Alice (será que a conversa que ela queria ter comigo, tinha haver com isso?), depois o fato de eu dividir a capacidade de ver espíritos com Alexander e, aparentemente, Alice Franklin! Agora vinha Roman e me beijava, dizendo que a partir daquela noite eu o odiaria para sempre.

Pessoas de cidade pequena eram complicadas. Parece que Liveway vive coberta em uma eterna névoa de mistérios. Principalmente quando se trata de pessoas enigmáticas e misteriosas como Alice, Alexander e Roman.

Se bem que não é de hoje, que Roman fica dizendo coisas estranhas. Na verdade, os três que trabalham no Cemitério Montecristo dizem coisas absurdas. Alexander, para começar, é todo cheio de “não-toques” comigo. A imagem da frescura, mesmo que em momentos ele fosse divertido. Parecia que ele usava uma máscara de arrogância, prepotência e grosseria com os outros por medo de criar laços emocionais com as pessoas.

Por isso eu acho que ele é um sociopata.

De acordo com o dicionário, sociopata é quem sofre de sociopatia, e sociopatia é um desequilíbrio patológico que se manifesta em um comportamento anti-social e impulsivo ou agressivo, no caso do dito cujo, os dois servem. Ele é impulsivo e agressivo.

Ele também dizia coisas estranhas como: “Mais ninguém tem o que Alice procura” ou “Não, mas Alice sabe de tudo”.

Talvez o problema não fosse com Liveway, mas, sim, as três pessoas que eu convivia durante quase toda a noite durante cinco dias por semana.

Continuei sentada na cadeira da minha escrivaninha e levei a mão trêmula aos lábios. Roman beijava bem, porém, seu beijo não fora como o de Alexander. O beijo de Alexander fora... bem, avassalador e mágico. Parecia que meu coração havia corrido uma maratona. Já o de Roman foi... bem, diferente. Como se ele quisesse me beijar, mas não passar dos limites.

Pare de pensar nisso” minha consciência mandou. “Os dois já são suspeitos demais para você ficar fazendo um concursinho para ver quem beija melhor”.

Abri meu notebook e chequei a caixa de mensagens de meu e-mail. Não havia nenhuma mensagem de ninguém de Nova York, claro, meus "amigos" estavam pensando que eu tinha AIDS. Mas eu tinha um e-mail da Adele, de Paris, outro de Mattew, em Londres, e mais um do Keisuke, um amigo do Japão.

Cada um em uma língua diferente.

Quantas pessoas não dariam tudo o que poderiam para viver como eu? Vivendo de cidade após cidade, como meu pai dizia, “pingando” de uma cidade para a outra. Não era tão legal ou excitante quanto parecia. Na verdade, tinha uma hora que irritava e você trocava as línguas.

Respondi as curtas e desinteressantes mensagens de uma vez e vaguei pela internet sem rumo certo. Até eu decidir entrar naquele site de novo. The Dark Hole.

A página inicial era tão boba que ainda me incomodava.

Ele queria me assustar com isso era?

Vi sua última postagem, feita à mais ou menos um ano atrás, o que era estranho porque ele tinha o costume de postar uma vez por semana. Quase caí da cadeira quando vi o título desta “A Cidade Dos Desaparecimentos”. O que mais me assustou foi qual era a cidade: Liveway.

Anualmente, mais de mil jovens entre dezenove e vinte anos somem na pequena e pacata cidade de Liveway. Pequena sim, mas pacata?Nossas equipes tem essa dúvida. Por isso, esta semana, iremos checar o perímetro paranormal da cidade. Esperamos que vocês aguardem até lá.” Terminara assim.

Afastei-me da tela do computador um pouco para me recostar ao encosto da cadeira. Eles não haviam postado desde então. Há mais ou menos um mês atrás. Rolei as imagens e fui para ver os comentários do blog, lotado. Era incrível o número de outros blogs ou de pessoas que se interessavam pelo assunto. Todos perguntavam onde eles estavam.

Congelei por um breve momento, calculando o pior.

Eles desapareceram quando vieram para Liveway?” Minha consciência quase gritou.

Não. Vai ver eles apenas perceberam que ter esse blog era deprimente demais e resolveram virar adolescentes normais e não nerds fissurados em coisas paranormais” tentei enganar à mim mesma.

Mas... e se eles tivessem sumido quando vieram para Liveway.

Fechei a página, levemente perturbada.

- Não, isso é loucura – disse a mim mesma. – Vou me arrumar para o trabalho que eu ganho mais trabalhando do que perdendo o meu tempo com besteiras como um site feito por adolescentes. Liveway é uma cidade normal, Anabelle, como qualquer outra.

Entrei no meu closet e procurei algumas roupas que eu fosse capaz de utilizar tanto para conversar com a senhorita Alice Franklin quanto para ir dar apoio moral à Daniel. Acabei por escolher uma saia de babados preta com uma camisa regata da mesma cor com um casaco de lã por cima. Coloquei um colar e sapatilhas confortáveis nos pés.

Eu não sabia que tipo de lugar era Eletric Chapel nessa cidade, mas se fosse como naquela música de Lady Gaga e no seu Videoclipe de Judas, eu teria que me vestir como uma garota de gangue. Mas eu não tinha roupa de “bad girl”, papai me tratava como princesinha desde que ele se deu conta da minha existência, quando eu tinha seis anos de idade.

Troquei apenas o colar de flores para um que tinha um pingente de caveira e saí do quarto.

Vejam só: meu pai ainda estava com Meredith na sala. Conversando sobre algo durante horas. Fazia quanto tempo que ela estava aqui? Um dia? Se eles realmente fizeram o que eu acho que fizeram, era provável.

- E aí Mery, resolveu se mudar de vez? – brinquei maldosamente enquanto ajeitava a minha bolsa preta da Gucci.

Ela tingiu altos níveis de vermelho e eu quis rir.

- Calma, estou só brincando – eu sorri. – Vou indo trabalhar. Pai, depois do trabalho eu vou sair com um amigo, então não precisa ficar me esperando... quer dizer, você ainda me espera? Da última vez que fiquei até tarde na rua, você estava bem distraído...

- Anabelle, como você é maldosa. Seu humor é ácido – ele repreendeu-me. – Por tanto que você não saía com aquele tal de Roman eu não me importo, desde que você chegue até as quatro e meia!

Eu senti meu coração parar por um momento quando ele falou o nome do Roman. Por quê? Será que era porque eu ainda estava constrangida depois daquele beijo? Meu deus, como eu olharia em seu rosto depois daquilo?

- Er... tanto faz – respondi tentando fugir dele, meu pai era sagaz, perceberia que havia um conflito interno acontecendo dentro de mim. – Tchau.

E saí.

A rua parecia estranhamente fria. Provavelmente era por conta do inverno que já estava chegando. Oh, certo. Já estava perto de Dezembro. Eu nem havia me dado conta. Isso me fez lembrar de que me disseram que, depois dos quinze anos, parece que o tempo corre. Antes nós queríamos que ele passasse, e agora ele passa tão de pressa que nem vemos.

Comecei a andar em direção ao Cemitério Montecristo. Cantarolando a música Eletric Chapel em minha cabeça. Será que era apenas coincidência que o nome do lugar tivesse o mesmo nome da música? Acho que não, de duas uma: ou o lugar se inspirou bastante na música da Gaga, ou a Lady Gaga já passou e se inspirou por lá (o que jamais teria acontecido, porque... sinceramente: estamos em Liveway!).

Empurrei levemente o portão do cemitério e o encostei. Como eu fazia de costume, mas havia algo de errado. Algo de diferente. O céu estava em tom de roxo lilás e parecia que todas as plantas ou todas as construções estavam misteriosamente sombrias. As raízes dos salgueiros-chorões esparramavam-se pelo chão como as mãos enterradas de um gigante adormecido.

A única coisa bonita de se ver eram as plantas coloridas das cores do arco-íris que também eram brilhantes. As raras Twinkkys que Alice comentara. Era simplesmente incrível.

- Lindas não são? – uma grave voz perguntou ao meu lado.

- É... – eu respondi com um suspiro admirado e dei um pulo de susto.

Era Alexander quem estava ali. Meu coração perdeu umas vinte batidas só com o susto que eu levei por: um, ele ter aparecido do nada, dois, ele estar falando de forma amigável e amistosa comigo.

- Você se assusta com muito pouco – ele murmurou com a voz neutra.

- É que... eu não havia te visto ao redor – expliquei. – Às vezes sou desligada com as coisas que me rodeiam.

Ele revirou os olhos e deu um meio sorriso.

- Vamos. Alice estava te esperando – ele disse me puxando com rudeza para a construção gótica.

- Ela sempre está me esperando é? – brinquei.

Ele deu de ombros, talvez, sem saber o que responder.

- Alexander... você sabe se ela vai brigar comigo ou me demitir? – perguntei depois de alguns minutos calada.

Ele parou e olhou para mim com interrogação.

- Eu sempre tenho maus pressentimentos quando digam algo do tipo como: “A chefia quer falar com você” ou “O diretor da escola quer conversar com você” ou, até mesmo, “Querida, precisamos conversar. É importante” – expliquei.

Ele pareceu querer rir, seus olhos demonstraram isso, mas sua boca permaneceu calma e fechada.

- Não se preocupe, ela não vai fazer nada de mais. Só vai... conversar – ele respondeu.

Dei de ombros e caminhamos lado a lado. Ele me soltou ao perceber que ainda o fazia, e não conversamos muito. Eu estava nervosa demais para conversar com ele, tanto por ele estar agindo de forma não conhecida por mim, quanto porque em alguns minutos eu veria Roman de novo. E ele parecia desligado. Alheio à minha presença ali do seu lado.

Será que eu deveria responder alguma coisa ao Roman? Será que aquilo fora um pedido de namoro? Com David não foi assim, ele pediu para me namorar numa festa e eu aceitei de boba, depois demos o nosso primeiro beijo. Ele não me roubou um beijo como Rudolph, Roman e Alexander fizeram. Será que era coisa de pessoas de cidade pequena? Sair roubando beijos quando bem entendesse? Ou será que isso era um traço dos prepotentes.

- Alexander – eu o chamei.

- Era bom de mais para ser verdade – ele resmungou e se virou para mim. – O que foi?

Depois de sua má vontade, minha bola murchou um pouco. Mesmo assim, perguntei:

- Se você roubasse um beijo de uma garota que você não tem certeza dos sentimentos dela por você, o que você esperaria? – perguntei.

Eu deveria estar no fundo do poço, não? Pedindo conselhos para um sociopata... Bem, para Roman é que não poderia ser.

- Uma tapa... eu acho – ele disse franzindo o cenho. – Por que dessa pergunta?

- Nada – respondi com um suspiro. – Só estava me perguntando se era comum, nessa cidade, as pessoas saírem me roubando beijos sem um aviso prévio. Primeiro foi você na festa do Roman, para meio que me salvar. Depois foi Rudolph, que descanse em paz, que me roubou um beijo. E hoje foi Roman...

Calei-me instantaneamente e ruborizei.

Eu estava simplesmente buscando consolo em um sociopata que aparentemente me odiava! “Anabelle, você está ficando maluca?!” minha consciência e eu gritamos internamente. Eu deveria estar no fundo do poço.

- Desculpe, acho que isso não lhe diz respeito, não é? – pedi vermelha. – Desculpe-me.

Ele deu de ombros enquanto abria uma das portas duplas para que eu passasse. Alexander, para a minha surpresa, não fez gracinha. Ele não comentou mais nada, até que paramos na frente da porta da pequena igreja que e ele se virou para mim por um breve momento.

- Eu acho... que você deveria esperar ele tocar no assunto primeiro para depois falar alguma coisa – ele respondeu à minha pergunta anterior, o que me surpreendeu. – Como você foi a “vitima” ele vai entender o seu constrangimento. Podemos ir agora, sua adolescente em crise?

Concordei com a cabeça, mais aliviada e me perguntando onde Alexander guardara aquele seu lado legal. Provavelmente em algum lugar longe de mim. Parecia... Que ele si forçava à ser chato e mau humorado comigo.

Ele abriu a porta e fez sinal para que eu entrasse na frente, e assim o fiz. Alice estava sentada em um dos bancos enfrente ao altar, conversando com... a enfermeira da escola e com César Villanueva.

O QUE ELES FAZIAM ALI?!

-... Sei que vocês vão cuidar bem quando eu partir. Tanto de Liveway quanto de minha herdeira... – ela conversava com os dois.

Eles assentiam com a cabeça parecendo cãezinhos treinados.

Alexander pigarreou e atraiu ao olhar de todos.

Os olhos distintos de César me olhavam com curiosidade, os olhos cinzentos da enfermeira – cujo nome me era esquecido frequentemente por eu achar estranho – me fitavam sorridentes, como sempre, os olhos azuis de Alice eram quase com orgulho, e – percebi em um canto – os de Roman eram cautelosos.

- Oh, que bom que você chegou querida, já estava começando a ficar preocupada – disse-me com o seu típico e doce sorriso.

- Desculpe-me, eu acabei demorando em algumas coisas em casa – pedi abaixando o olhar, para o chão.

Eu me distraíra vendo aquela matéria de desaparecimentos em Liveway e escolhendo uma roupa descente para ir ver Daniel. Será que era por conta dos desaparecimentos que Alice insistia que os garotos ficassem de olho em mim constantemente? Tinha sentido.

Ela é tão boa” pensei quase com admiração.

Boa até demais” minha consciência respondeu.

Qual é o seu problema com algumas pessoas?” indaguei a mim mesma.

Quando a esmola é muito grande, o santo desconfia” foi o que minha consciência me respondeu.

Isso me fez lembrar daquilo sobre os Guardiões Sombrios. Não tinha como, tinha?

Está duvidando de si mesma? Acredite Anabelle, você só pode contar consigo mesma nesse mundo.” Minha mente reclamou.

Suspirei cansada.

- Disseram-me que a senhorita queria falar comigo – eu comentei depois de um constrangedor silêncio entre nós.

- Oh, sim. Isso mesmo – ela concordou sorrindo. – Venha cá querida. Pensei que já houvéssemos passado da fase de formalidade para algo mais coloquial.

- Desculpe, é o costume – eu pedi sentando-me um banco atrás do dela.

- Anabelle, quero que conheça dois amigos meus. Esses são Atuérpia Villanueva e, seu filho, César Villanueva – apresentou-nos. – Como eu estava dizendo, essa é Anabelle. A garota que cuida das minhas Twinkkys.

Atuérpia! Era esse o nome da enfermeira.

- Oh, sim, nós já nos conhecemos – a enfermeira disse jogando seus cabelos cor de caramelo para o lado. - Uma vez ela desmaiou na escola.

Alice me olhou com preocupação quando eu assenti com a cabeça, mas sorri simpática.

- Estudamos na mesma turma – César comentou me olhando de soslaio com o olho verde, que brilhava intensamente por algum motivo.

Alexander sentou-se ao lado de Alice, seu olhar parecia analisar todo o ambiente ao redor. Hora ou outra olhava para Roman questionando-se alguma coisa, eu esperava que não fosse pelo o que eu deixei escapar, mas depois o seu olhar vinha para cima de mim e eu acabava me encolhendo por extinto.

Alexander era meio intimidante. Eu tinha medo dele, mas tentava não deixar transparecer porque – na minha teoria – se eu demonstrasse o medo que eu sentia de Alexander, ele se sentiria vitorioso. Por que, quem sabe – no fundo -, ele quisesse mesmo que eu o temesse, assim, eu acertaria as minhas contas e iria embora.

Um silêncio estranho ecoou no ambiente e eu fiquei olhando para o rosto de todo mundo, esperando alguém começar. Mas ninguém deu sinal de fazê-lo. Era impressão minha ou todos me olhavam?

Sim, todos estão te olhando Anabelle” minha consciência fez o favor de me avisar.

Eu enrubesci.

- Er... não quero parecer apressada, mas eu meio que tenho um compromisso para hoje e eu realmente quero voltar para casa antes de amanhã – respondi com um leve humor. - Ninguém vai me dizer nada?

Alexander e Roman mexeram-se, desconfortáveis com alguma coisa, no banco em que estavam sentados. E eu não entendi o porque do clima pesado.

- O que foi? É sobre o trabalho ou o quê? - perguntei começando a ficar nervosa.

Alice suspirou e se virou para mim.

- Anabelle, não é sobre o trabalho, que é muito bem feito por você e por Alexander. Espero que não se incomode, mas hoje eu gostaria de falar sobre a sua vida pessoal – Alice disse em um tom calmo e gentil.

Franzi o cenho. Depois ela queria que eu conversasse de modo mais informal com ela... Ela falava parecendo uma professora de português ou algo parecido. Sempre com palavras nem tão rebuscada e em um perfeito português (leia-se: inglês).

- E o que a senhorita gostaria de saber da minha vida pessoal? - perguntei confusa.

- Por favor, trate-me com você – ela pediu sorrindo. - Não é nada de mais querida. Eu queria apenas falar da sua mãe, de seu ex-namorado e de Rudolph, se você não se importar.

Franzi o cenho mais uma vez, desta vez estreitando os olhos com desconfiança.

Por que será que ela quer falar sobre quase todas as pessoas mortas de seu passado?” perguntou minha consciência, e eu havia me perguntado isso também.

- E o que a senhor... - interrompi-me e suspirei – e o que você quer saber sobre isso?

Ela sorriu por eu tê-la tratada como “você”.

- Você disse que a sua mãe sempre teve uma saúde muito fraca, e que optou por parto normal – ela comentou.

Ela tinha que começar logo falando da sua mãe?” minha consciência gemeu agonizada.

- Foi o que meu pai disse – respondi na defensiva. - Por quê?

Antuérpia inclinou-se sobre o banco.

- Anabelle, você não acha estranho que a sua mãe, que tinha uma saúde tão frágil, optasse por parto normal? Quais seriam as chances de ela sobreviver depois do parto? - inquiriu-me.

- Eu não sei – respondi. - Pergunte para o meu pai, é ele quem me contou isso.

- Anabelle, de acordo com o que eu sei, pessoas de saúde tão frágil quanto sua mãe, não podem fazer muito esforço físico. Então por que ela foi se meter à fazer parto normal? - argumentou-me mais uma vez.

Eu pulei do banco agoniada.

- Eu não sei! Pergunte à ela, foi ela quem decidiu assim! - briguei sentindo meu sangue ferver.

Ela parece estar até supondo que...”

- Anabelle, nós não queremos te chatear – disse-me Alice e eu me virei para ela com raiva.

- Mas me chatearam. Do jeito que vocês estão falando parece até que estão supondo que ela escolheu morrer por saber que não sobreviveria ao parto normal – eu cuspi as palavras com raiva.

Vir-me-ei para ir embora. O que estava acontecendo com essas pessoas que pareciam estar se metendo na minha vida? Pensando bem, agora eu via que era melhor não ter tantos amigos mesmo. Seriam menos intrometidos querendo bisbilhotar o passado que eu não faço tanta questão de saber.

Alexander meteu-se na minha frente e eu nem vi.

Ele não estava ao lado de Alice?

- Volte e escute, Anabelle – ele mandou com autoritarismo.

- Que mudança hein? De “pirralha” e “Malback” para Anabelle – eu ri. - Você também é outro que está agindo de forma muito estranha hoje Van Cruce.

Passei por ele e ele segurou o meu braço com força.

- Solte-me – mandei.

Ele, porém, não me soltou.

- Anabelle, por favor, me escute, eu não estou dizendo que a sua mãe escolheu morrer de propósito. Eu só estou querendo que você veja o quão estranho isso é – pediu Alice.

Fitei-a com chateação.

- E o que a minha vida diz respeito à você? Sou muito grata pelo carinho com qual você me trata, como se eu fosse sua amiga ou sua filha, mas em momento algum eu te dei o direito de se meter na minha vida tanto quanto você não me deu o direito de me meter na sua – eu disse. - Eu vivia muito bem antes das pessoas ficarem metendo perguntas que me tiram o sono.

Livrei-me do aperto do Van Cruce e andei até a porta.

- Anabelle... espere! - ela pediu, mesmo não se movendo um passo.

Eu não esperei, abri a porta, mas congelei ao ouvi-la dizer:

- Sua mãe não era normal, Anabelle! Ela era como eu!

Como assim a sua mãe não era normal? Como assim a sua mãe era como ela? Espere, Alice conheceu a sua mãe?

Olhei para a mulher de cabelos platinados em choque.

- C-como assim ela era como você? - perguntei confusa.

Os olhos de Alice pareciam estar brilhando mais do que o comum. Pareciam mais cristalinos, mais... vivos e cintilantes. Percebi que ela estava lacrimando pela leve irritação que se formava ao redor dos seus olhos.

- Eu sou Alice Christina Franklin. E sou uma bruxa.

Uma bruxa?

Alice achava que eu era alguma retardada? Alguém que era tão viciada em contos de terror que não saberia que bruxas não existem? E, mesmo que Alice fosse uma bruxa, o que a minha mãe tinha haver com ela? O que a minha vida tem haver com ela?

- Você é louca? Bruxas não existem – eu disse com convicção.

- Existem sim Anabelle – ela disse dando um passo em minha direção. - Eu sou uma bruxa, assim como a sua mãe também era.

Franzi o cenho.

Ela está dizendo que a sua mãe era uma bruxa?Mas que viagem...” desdenhou minha consciência.

E então eu comecei a rir.

- Minha mãe? Uma bruxa? - eu indagava entre risadas. - E você espera que eu acredite nisso? - ri mais uma vez. - Eu não sei o que é mais loucura: minha mãe ser uma bruxa ou você alegar que você é uma bruxa.

- Quer ouvir mais uma loucura? - César disse dando um sorriso amargo. - Você também é uma bruxa.

Eu fiquei observando cada um ali. Alexander apenas me observava, assim como Roman e Antuérpia, enquanto Alice esperava uma aceitação que eu não iria dar e César segurava a vontade de rir daqueles acontecimentos.

Ele parecia gostar de ver desgraças alheias.

- Ah, claro que eu sou uma bruxa – eu disse com ironia. - Senhoras e senhores eu vou lançar a minha incrível magia de desaparecer – eu disse apontando para a porta e dando adeus.

Alexander segurou meu braço mais uma vez e me puxou para dentro. Fechando a porta com força, já com a paciência esgotando.

- Você ainda não vai embora Malback – ele rosnou para mim.

Esse sim é o Alexander que você conhece!” minha consciência disse.

- Você é sim uma bruxa porque herdou a magia da sua mãe – ele disse um pouco mais calmo, mas seu apertou em meu braço era como um abraço de ferro: insistente e resistente.

- Minha mãe não era uma bruxa! - eu exclamei.

- Era sim querida – Alice disse com pesar e depois olhou para mim. - Eu sou irmã da sua mãe... Sou sua tia, Anabelle.

O quê?” eu e minha consciência perguntamos quase ao mesmo tempo.

- Minha... tia? - eu perguntei confusa. - Não... meu pai...

- Nunca falou da sua família materna? - ela perguntou com a voz embargada. - Ele não gosta de falar sobre a família Franklin, assim como a sua mãe, Jane Marie Franklin, tinha vergonha de falar sobre nós. Tanto que ela chegou até a mudar de sobrenome depois que se casou.

Neguei com a cabeça, não querendo acreditar.

- Não pode ser verdade... - neguei começando a chorar também.

- É sim – ela respondeu chorando. - Eu sou a sua tia Anabelle...

- Não! Isso é mentira! - neguei fechando os olhos e tampando meus ouvidos.

Isso era um pesadelo não era? Eu queria acordar no meu quarto agora!

- Você está mentindo para mim! Disse que era bruxa e agora que é a minha tia? Isso é insanidade. Sinto pena por Liveway não possuir um manicômio para te internar lá! - gritei.

Livrei-me mais uma vez do aperto em meu braço e saí porta à fora. Alguém me chamou, mas eu fingi não ouvir e continuei correndo. Eu tinha uma tia? Eu era uma bruxa? Alguém me desperte desse sonho. Talvez eu tenha dormido enquanto lia aquele tal site chamado de The Dark Hole.

Alguém me segurou pelo braço e me puxou.

Meu rosto bateu de frente ao peito de Roman.

- Anabelle escute... tudo isso é...

- É uma grande mentira! - gritei chorando. - É mentira! Meu pai nunca me esconderia nada disso! Ele sabia que eu queria, mais do que tudo, conhecer toda a minha família!  Ele me ama e só quer o meu bem!

- Justamente por te amar e só querer o seu bem que ele escondeu isso! - gritou de volta apertando os meus braços. - Veja como você está alterada e arrasada!

- Você acredita no que ela disse?! - eu ri com ceticismo. - Daqui a pouco falta você me dizer que você, Alexander ou César também não são humanos!

Ele vacilou.

Eu percebi isso... e estranhei.

- O que foi? - eu perguntei confusa.

Vi um brilho de culpa refletir nos seus olhos azuis marinhos e ele desviou o olhar.

- Anabelle... eu realmente não-... urgh – ele se interrompeu soltando um gemido.

Ele olhou para o céu e novamente, vi aquela penumbra em seus olhos. Olhei para a mesma coisa que ele olhava...

... Uma grande e alva lua cheia brilhava no céu noturno. Sendo descoberta pelas nuvens que vagavam sem rumo pelo céu sombrio de Liveway, a cidade do terror.

Roman levou a mão ao peito em dor e cambaleou para trás. Vi o martírio estampado em seus olhos. Um rugido animal escapou por seus lábios finos e ele recuou mais alguns passos enquanto contorcia-se dolorosamente e as veias e músculos de seu pescoço saltavam de dor contida.

O que veio a seguir foi de mais para uma noite só.

Algo me lançou ao chão e me protegeu no mesmo instante em que Roman, a dois metros de mim, explodiu na forma de um lobo grande e peludo. Roman era um lobo feroz e altivo. De pelos brancos e olhos marinhos. Intimidava qualquer um com o seu rosnado feroz e seu uivo agudo e sofrido.

ROMAN ERA UM LOBISOMEM?!

O quê? Isso não podia estar acontecendo!

Ele se virou para mim e rosnou.

ROMAN ERA UM LOBISOMEM E ESTAVA ROSNANDO PARA MIM?!

Olhei para cima de mim e me deparei com o perfil de Alexander, que também olhava para Roman. Não com medo, mas com seriedade. Parecia absorto em seus próprios pensamentos. Na verdade, encarava Roman em seus olhos, como estivessem se comunicando mentalmente.

- Ele não está gostando de me ver em cima de você – ele sussurrou, mais para si mesmo.

ROMAN ERA UM LOBISOMEN E ESTAVA ROSNANDO PARA MIM PORQUE ALEXANDER ESTAVA EM CIMA DE MIM?!

Não sei como Alexander fez para chegar ali em uma velocidade incrível, nem porque ele me protegia do olhar atento do alvo lobo.

- Não faça movimentos bruscos, ele pode decretar isso como uma ameaça – ele sussurrou para mim, tentando se levantar lentamente.

Aquele lobo não podia ser Roman.

Roman era um rapaz gentil e dócil... sem contar que com ótimo senso de humor.

Aquele lobo era frio e... medonho. Um matador.

Mas, se Roman era um lobisomem, isso explicaria o seu sumiço em sua própria festa e aqueles rasgos e grunhidos que eu ouvi na sua festa. Não era Alexander fazendo sexo selvagem com a ruivinha coisa nenhuma, era Alexander acobertando a verdade sobre a natureza de Roman!

Ele se levantou com sucesso e estendeu a mão para me ajudar a levantar, mas foi quando eu peguei a mão fria de Alexander que Roman ameaçou me atacar. Ficando naquela medonha posição de abaixar as patas dianteiras e retrair o focinho. Mostrando-me os seus dentes afiados e perigosos.

Engoli em seco.

- Roman! - Alice o chamou e ele olhou.

A loira platinada olhou para mim com preocupação e depois lançou um olhar interrogativo para Alexander. Ele negou com a cabeça para alguma pergunta não pronunciada.

Ela ergueu um anel em direção à lua cheia. Percebi que era aquele mesmo anel com a pedra ametista que eu havia lhe devolvido no meu primeiro dia trabalhando naquele lugar.

- Quamquam non brumam ego invocare portas inferum. Precipio vobis aperire Katharine Langerark adducam spiritum in terram planam – recitou em uma língua desconhecida por mim.

Alexander me ergueu em uma puxada e Roman pulou para me atacar. Porém, parou ao atravessar o corpo translúcido de sua mãe.

Ele se virou para ela e soltou um ganido.

Ele ainda a reconhecia? Ou melhor, ele a via?

- A mãe de Roman é a única que consegue acalmá-lo – Alexander sussurrou para mim.

Ele fuçou a mão da fantasma e não atravessou. Era como se ela realmente estivesse ali. Viva e palpável. Ela se abaixou ao lado dele e abraçou o seu pescoço, colocando a cabeça no topo da dele.

- Eu sei meu filho. Eu sei – ela murmurou para ele.

Eu fiquei em choque e senti meus olhos lacrimejarem.

- Anabelle? - chamou-me Alexander.

Fiquei negando com a cabeça.

- Isso... Isso é demais para mim – eu sussurrei.

Alexander me soltou sabendo do que estava por vir, e assim fiz o esperado. Corri para fora daquele cemitério anormal.

Mas ouvi Alice conversar com Alexander antes de partir.

- Você não vai impedi-la?

- Não. Agora mesmo é que eu tenho certeza de que ela vai voltar.


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