A minha real vontade era de sair daquele lugar imediatamente e exigir explicações, mas eu me controlei ao máximo, não podia deixar agir descontroladamente, eu teria minhas explicações mais cedo ou mais tarde. Disso eu tinha certeza.

Ouvi a porta do banheiro ser aberta e coloquei a carta de volta em seu lugar. Mattew apareceu no mesmo instante e me olhou com suspeita, mas depois deu de ombros e foi até o seu closet, pegou uma roupa e voltou ao banheiro. Aproveitei a deixa e peguei novamente a carta, desta vez eu a guardei em minha bolsa, me aproximei da porta do banheiro até ficar a uma distancia razoável.

- Mattew, eu estou com sede. Vou descer para tomar água e te espero lá em baixo. – disse.

- Tudo bem. – ele disse e eu saí do quarto.

Suspirei fundo deixando que a minha raiva voltasse por alguns minutos. Cheguei à cozinha e tomei dois ou três copos d’água, como se isso fosse capaz de me tirar a raiva e o sentimento de ser traída por uma pessoa tão próxima, em que eu sempre confiei. Bebi o quarto copo e voltei para a sala. De forma incrível eu me controlei assim que Mattew chegou e me olhou com mesmo olhar curioso de antes.

- Você está bem?  - Ele perguntou olhando em meus olhos.

- Melhor impossível. – Sorri amarelo, desviando meus olhos.

Ele deu de ombros e passou por mim. Segui-o até o carro e entrei. Pouco tempo depois ele estacionou em frente a minha casa, saí menos de um segundo de o carro parar, apesar de não termos conversado, eu podia me lembrar perfeitamente de todas as vezes que eu entrei naquele carro e do que tinha acontecido, e aquilo me incomodou de todas as formas possível.

Dei a volta no carro e gritei um tchau antes de me virar e andar rapidamente até a porta de casa. Abri a porta e constatei que Alice não estava ali ainda, sorri maligna e me sentei em uma cadeira na cozinha. Enquanto Alice não chegava, passou-se um filme em minha cabeça, o mesmo filme da minha vida e diferente das outras vezes eu não tive vontade de chorar e sim, uma vontade inexplicável de ferir alguém, de fazer alguém pagar pelo meu sofrimento. E este alguém que me devia muitas explicações acabara de chegar.

Me levantei e encontrei Alice perto a escada, ela me olhou e sorriu, sorri também e abri os braços para abraçá-la, porém antes que ele se aproximasse eu me afastei.

- Como pode ser tão falsa? – perguntei, fazendo-a arregalar os olhos.

- Do que você está falando, querida? – Sua voz doce me fez ter enjôos.

- Do que eu estou falando? – Sorri descaradamente. – Talvez isto a lembre de alguma coisa. – Andei até a cozinha e retirei a carta da minha bolsa e entreguei para ela. Quando encontrei seus olhos, os meus já estavam cheios de lágrimas. – Como pode fazer isto comigo?

Alice olhou para a carta e suspirou pesadamente. Pensou que eu nunca iria descobrir? Pensei sarcástica e com o ódio perceptível em meus olhos e em minha palavras nada amigáveis. Ela respirou fundo e olhou em meus olhos se aproximando, mas eu me afastei como se ela fosse uma praga, e talvez fosse, o que ela fez não tem explicação.

- Maria, você precisa me entender!  - Ela disse em súplica.

A fuzilei com os olhos.

- Entender o que? Que tinha o mundo todo pra ficar contra e atrapalhar o meu namoro com o Mattew, mas a pessoa em que eu mais confiava foi a única que teve coragem de me trair? – Sorri nervosa.  – Desculpa Alice, mas eu não consigo entender.

Meu rosto se contorceu para uma expressão triste. Eu podia desconfiar de todos, até mesmo de Josh, mas não dela, Alice era a única que tinha minha completa confiança.

- Não é como você está pensando, Maria. – Ela dizia firme. – Eu quis te proteger, foi isso! Você sabe da história, eu não queria que se repetisse com você.

Olhei perplexa para Alice. Era a desculpa mais horrível que eu podia receber, o meu namoro com Mattew estava indo bem, e tudo o que ela dizia era mentira. Descontrolei-me e a empurrei, Alice se segurou no corrimão da escada para não cair.

- MENTIROSA! VOCÊ DESTRUIU A MINHA VIDA! – Apontei para ela, trincando os dentes de raiva.

- Ele destruiu Maria! Não eu! – Ela dizia com a voz alterada. – ELA MORREU MARIA E A CULPA É DELE!

Olhei desentendida para Alice, que chorava de maneira descontrolada.

- Ele a fez sofrer, ele feriu o coração da minha menina. – continuou com o mesmo nível de raiva que eu. – Ela se matou, Maria! Ela está morta e a culpa é de Mattew Bükcler!

Congelei no meu lugar. Não tive reação, minha mente ainda tentava processar, digerir o que Alice jogou desesperada sobre mim. Eu sabia que Isabel havia morrido, mas o que Mattew tinha com isso. Eles só namoraram, só isso.

- Você não sabia que esse foi o motivo da morte dela, não é? – Ela cuspia as palavras. – Ele não foi capaz de contar a história toda. É por isso que ele te culpa pela morte dos pais dele Maria, porque ele sabe como é ser culpado e quis tirar o peso de suas costas.

Minha raiva voltou subitamente. Tudo bem que Mattew tinha lá sua dose de culpa, Isabel tinha se matado, não interessa se foi por causa dele ou não, ele não a matou, ela fez isto. E agora o que Alice dissera por último, Mattew não me culpou para tirar a culpa de cima de mim, ele me culpou por ter aprendido que as pessoas não perdoam, é mais fácil apontar a culpa nos outros.

- Você está errada. – disse baixinho. Alice olhou em meus olhos. – Mattew não jogou a culpa em mim para se livrar dela. Ele fez isso porque vocês fizeram o mesmo com ele. – falei da maneira mais delicada que eu consegui naquele momento.

- Quer dizer que a culpa agora é nossa? – Alice se aproximou ameaçadoramente. – Ele te julgou sem nem te ouvir Maria. Você sabe que não teve culpa de nada.

Alice sem saber chegou ao ponto em que eu queria. Olhei em seus olhos, sustentando com os meus a raiva que ela demonstrava neles.

- Mas você sabe quem teve, não é? – Ela deu um pulo para trás e me olhou como se eu fosse louca. – E ainda teve coragem de namorá-lo!

- Maria ele não... – ela tentou se explicar, mas eu a interrompi.

- Você sabe muito bem que ele tinha ou ainda tem outra família. Você também sabe que o seu namoradinho – ironizei – não sabia que a mulher dele iria visitá-lo e foi pego no flagra. – Meu sorriso era maldoso e a feria mais do que milhares de facadas. – E você sabe que ele a humilhou de tal forma que ela decidiu voltar para a cidade e viajar para outro país com Mattew? – Ela arqueou as sobrancelhas assustada. – Você não sabia, não é? Ele não foi capaz de contar a história toda? – disse imitando a voz dela.

Alice se preparou para dizer algo, mas antes que dissesse ela olhou perturbada por cima de meus ombros. Minha reação foi virar-me em direção ao olhar dela e quando eu completei a volta, meu coração quase saltou pela boca.

Mattew estava ali, com os olhos azuis arregalados e repletos de lágrimas.