Fale o que está na sua mente.

Como se eu me importasse

Todos haviam mudado, aquela turminha não existia mais. União? Eles nem sequer sabiam o significado. Mas se havia algo que ainda existia dentre eles era o amor. O amor não correspondido, o amor deixado de lado, o amor escondido. E nada importava.

Eu consigo ver seus lábios se movendo.

Eu só aprendo a não ouvir.

Não desperdice o seu tempo.

Eles não ouviam a si mesmos, quem dera aos outros. Os pais de alguns já tinham desistido, o que adiantava? Alguns tinham até desistido do amor. Ela estava feliz sem ele, estava feliz com outra pessoa. Mas realmente importava se não tinha amor? Eles estavam felizes. Com outras pessoas, mas felizes. Será que realmente sabiam o significado da palavra felicidade? O tempo tinha sido deixado de lado, como a amizade entre todos eles. Uma briga aqui, uma discussão ali e tudo se fora pelos ares. Fingindo felicidade, não é mesmo? Mas agora eles já eram adultos, sabiam tudo sobre a vida.

Nunca é o suficiente para você, baby.

Não quero jogar o seu jogo mais - não importa o que você diz.

Estou sem amor para você, baby.

E agora que eu já tentei de tudo eu vou adormecer a dor até que eu seja feita de pedra.

Mônica terminara a faculdade de veterinária, estava trabalhando e morando junto com Cebola, que estava lecionando (dando aulas) Matemática para adolescentes da 7ª série. Quim seguira cuidando da padaria de seu pai, e acabara de pedir Magali em noivado. Magali fazia faculdade de nutrição. Compraram uma casa nova, e estavam mobiliando-a ainda. Cascão era um jogador de futebol profissional, havia milhares de fãs e mudava de namorada duas vezes por semana.

Demore o quanto quiser.

Eu não tenho medo.

Um tempo atrás, Magali e Cascão tiveram um caso. Um caso que levou a destruição de toda a amizade entre o grupo. Não era uma traição, mas quando eles brigaram, todos tiveram que decidir do lado de quem ficariam. Como uma bomba interna.

Faça de mim tudo o que você precisa que eu seja

Assim, o julgamento parece justo.

Não desperdice o seu tempo.

Ele prometeu a ela sua alma, assim como ela havia prometido a ele seu coração. Para todo sempre. E eles ainda nem sabiam o significado de todo sempre. Embora sempre diante da luz, câmeras e tudo a que o brilho dá direito, ele vivia na sombra. Assim como ela, que por mais que seguisse a vida todo dia, não sentia um coração bater tão vivo como naquele dia.

Nunca é o suficiente para você, baby.

Não quero jogar o seu jogo mais - não importa o que você diz.

Sem medo de nada, apenas esperando que a vida lhes mostrassem que não podiam viver sem o outro. Porque eles não podiam enxergar sozinhos, a escuridão forçava-os a fechar os olhos. E sempre que fechavam os olhos, viam outro par de olhos castanhos, diretamente olhando pro deles, ela via uns olhos castanho-escuros e ele via uns claros como alguns méis. Estava estampado na cara. E eles não percebiam.

Estou sem amor para você, baby.

E agora que eu já tentei de tudo eu vou adormecer a dor até que eu seja feita...

Um dia, supostamente comum, ela chegou em casa extremamente cansada. Não havia tido muitos pacientes, mas parecia que seu coração havia batido cada vez mais fraco, até chegar o momento de que ela quase não sentira nada. Deitada no sofá, ela ligou a TV. Viu um caixão sendo carregado por seguranças, uma mulher chorando. Ela teve a impressão de conhecer aquela mulher. Trocou de canal, não era o tipo de notícia que ela estava com vontade de ver.

...Para atacar meu coração

Pela maneira como ele se sente

Eu ainda me lembro quando você me esqueceu há muito tempo.

Parecia a mesma cena. Mas nesse momento apareceu um repórter. Ele dizia algo sobre um famoso ter morrido. Sobre milhares de fãs estarem chorando. Recusava-se a continuar vendo aquilo. Trocou de canal novamente.

Nunca é o suficiente para você, baby.

Não quero jogar o seu jogo mais - não importa o que você diz.

“Cascão Antunes...” – Ela ouviu o nome e deixou no canal. Congelou. Seu coração batia mais forte do que em qualquer momento dos últimos anos. - “O famoso jogador de futebol foi encontrado morto dentro de um carro preto caído em um morro” – A câmera em um helicóptero sobrevoava um abismo, com um lago ao fundo. Magali perdera toda a sensação de batimentos cardíacos.

Nunca é bastante (eu não vou jogar)

Dirigiu-se a cozinha e pegou um facão. Iria fazer algo que fazia anos que não tentava. Foi até o quarto da casa que estava vazio, as paredes brancas, apenas com o piso branco colocado. Fechou a porta, sentou em um canto e passou o facão por um de seus pulsos. Passou mais uma vez, e com mais força. E mais uma. E mais muitas. E no outro braço. Mais algumas. Só mais uma e pronto. O sangue escorria diante seus olhos. Seu coração batia forte. Ela sabia o porque. O chão branco, agora estava vermelho. Um vermelho escuro.

Nunca é bastante (o jogo)

Nunca iria admitir pra si mesma, mas só havia parado porque seus braços não tinham mais tanta força pra continuar. E seu coração batia cada vez mais forte. Sentia-se cada vez mais perto dele. Juntou suas forças em um último apelo, e apontou a faca pra si mesma. Fincou-a pouco acima da boca do estômago, um pouco perto do coração. Vomitou sangue pela boca, um gesto desesperado do corpo. Tirou a faca, agora não mais cravada.

Nunca é o suficiente

Um momento e então a faca caíra no chão, encharcada de sangue. Havia sangue até nas paredes. Então um corpo, sem vida alguma, caiu no chão. Mas o coração batia tão forte quanto a uns anos atrás.

Vou adormecer a dor até que eu seja feita de pedra

Ela não teve um grande enterro, nem milhares de fãs chorando ao redor do seu caixão, mas ela recuperou seu bem mais precioso: seu coração. E eles aprenderam com a morte, o que a vida não conseguiu ensinar-lhes: que o amor é maior que tudo.

Adormecer a dor até que eu seja feita de pedra.