Você, Apenas Você. escrita por Enjolras


Capítulo 1
Only


Notas iniciais do capítulo

Escrita em um momento depressivo, é. q
Aos que leem Sweet Shop, me aguardem. ~
Boa leitura.



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Agora eu estou aqui, parecendo um idiota depois do último ensaio antes das nossas férias. Os outros foram para um barzinho qualquer beber, e você sequer me olhou antes de sair porta a fora, talvez eu esperasse demais depois de ontem. Eu não tive coragem de ir com eles, dói demais fingir estar feliz quando tudo que mais se quer é ir pra casa sentar sobre a cama e chorar, chorar até parar de doer, chorar até secar todas as lágrimas que agora insistem em cair dos meus olhos.


Eu criei muitas expectativas não foi, Reita?


Eu não deveria esperar tanto de você.


E agora a primeira lágrima que eu segurei tanto para não derramar escorria pelo meu rosto. Por sua causa. Mas não importava agora, se no estúdio eu tentei escondê-las, aqui na chuva elas passavam despercebidas aos olhos alheios de curiosos. Alguns me olhavam de cima a baixo, eu sabia que estava um lixo e ensopado, o casaco longo de couro pesava ainda mais, sei, também, que meus cabelos estavam uma merda, eu podia os sentir em meu rosto.


Três crianças passaram por mim, me rodearam brincando de pega-pega e sumiram na outra esquina. Voltavam da pracinha.


Lembra-se dela?


Eu me lembro.


Foi na primavera de 2002...





– Me promete Akira-san? – Foi então que você parou o balanço ao lado do meu.

– Taka... Não acha desnecessário usar os minguinhos pra manter uma promessa?

– Vamos Suzuki! Prometa. – Eu insisti esticando o minguinho, no qual enganchou o seu.

– Eu prometo Takanori-san, eu nunca vou te abandonar, independente do que aconteça.

– Eu também prometo Akira-san.




Eu estava ali agora, sentado naqueles malditos balanços me lembrando do que eu não precisava. Sei que você diria que eu amo me martirizar, afinal alguns evitariam essa praça depois do que aconteceu, mas eu não queria esquecer você. Por mais que isso doa.


E dói.


Seria maravilhoso tê-lo do meu lado Akira-san, eu dei minhas cartas, mostrei como seria lindo. Mas você é assim, não ouve, e apenas contestou dizendo que isso acabaria com tudo que tínhamos, acabaria com a nossa amizade. Essas 12 horas diárias que convivemos na última semana me angustiou, ambos em um teatro particular, fingindo que nada tinha acontecido e que estava tudo bem, mas é claro eu nunca deixei que visse o quanto meu coração se despedaçava aos poucos e escorria pelo meu rosto, eu escondia cada lágrima durante o intervalo para ninguém ver, ninguém perguntar a respeito, ninguém perguntar se eu estava bem.


Irônico, eles já sabiam apenas em nos ver.




– Eu estou saindo da banda Ruki-san. – Meu coração descompassou ao ouvir isso e meus olhos se arregalaram, todos os meus gestos mostravam isso, eles me deduravam. – Você é um livro aberto Taka...

– Do que esta falando Aki-san? –Mais um vacilo meu, fingir-me de desentendido.

– Eu já sei de tudo Taka. – Essa foi a primeira vez que um sorriso triste apareceu em seu rosto, e isso me machucou. – Infelizmente eu não posso...

– Não pode aceitar que eu o amo Akira?

– Não posso continuar na banda depois de saber disso, eu estou saindo.





Saber que iria sair da banda, abandonar algo que construímos juntos, por minha causa doeu bem mais do que não ser correspondido. A sensação é quase igual a quando se desaponta alguém, só que muito mais amarga. Foi quando eu esperei que alguém fizesse algo, eu não olhei para nenhum dos outros que nos ouviam por que eu sabia que ia desmoronar com o olhar furioso de Aoi, o piedoso de Uruha e o desinteressado de Kai.


Eu pedia mentalmente que algum deles dissesse algo.


Que Kai dissesse algo.


Mas não disse.


A chuva aumentou e a minha vontade de ficar nela também. No fundo eu esperava que ela lavasse esses últimos dias, que as gotas frias me despertassem de um sonho e assim que eu olhasse para o lado eu me deparasse com você sorrindo para mim, e só para mim, que dissesse: “Esta tudo bem Taka, é só um temporal, volte a dormir”. Mas nós não temos tudo o que queremos. Cerrei os olhos assim que ergui o rosto, o balanço rangia à medida que eu me balançava.


Pra frente... Pra trás, pra frente... Pra trás...


Se eu ficasse doente, você voltaria Akira?


Se eu estivesse quase morrendo, você voltaria?



– Eu odeio missoshiru! – Grunhi.

– Só mais uma colherada Taka-chan. – Você a serviu na colher pacientemente e assoprou antes de me dar. Por mais que eu dissesse que odiava essa sopa, você insistia. – Precisa comer algo hoje.

– Você esta muito chato.

– E você esta muito doente. – Eu comi aquela droga, com todos os meus 39º graus de febre. Você não precisava cuidar de mim, nem ficar ao meu lado por 72 horas pondo panos molhados na minha testa. Mesmo assim, ficou.


Os passos na areia molhada ficavam cada vez mais altos e espessos.


Ótimo, um guarda.


– Já estou de saída, não precisa... – Aí esta você, me encarando com aquele sorriso bobo de sempre, aquele que me fazia ceder e parecer uma “garotinha na puberdade”. Um sorriso, por menor que tenha sido, brotou em meus lábios ao vê-lo.


Diferente de mim pensou em trazer um guarda-chuva.


E um cigarro.


– O que houve agora Reita? – Eu tentei, mas mesmo assim, minha voz saiu chorosa. Mesmo sorrindo eu ainda estava destruído.


– Você devia parar de fazer essas coisas. – A distância diminuía conforme as palavras eram ditas, como se nada tivesse acontecido, como se fosse mais um dia, como se eu apenas tivesse terminado com mais uma namorada. – Sebe, deixar os outros preocupados.


Não estávamos tão distantes, mas agora eu pude vê-lo melhor, pude ver as linhas pretas que percorriam lhe as bochechas na diagonal, os olhos levemente inchados e vermelhos encontraram os meus mais uma vez, e o roxo sob um deles. Eu teria corrido o abraçado e perguntado o que tinha acontecido, mas não sabia se seria bem aceito.


– Por que veio aqui?


– Uruha tem todo aquele jeito especial de dizer como estamos perdendo algo que. . . Pode nos fazer realmente feliz. Aoi o teria feito, - Apontou para o próprio olho como se aquilo não fosse nada. - Mas Uruha disse que só ele poderia fazer isso, pelos nossos 16 anos de amizade.


– Vai sair mesmo da banda?


– Vou. - Doía cada vez mais.


– Por que Reita? - Eu insistiria até que me dissesse, até que me desse uma resposta coerente, mesmo que fosse preconceituosa.


– Nós temos um sério problema Taka. - Eu nunca veria isso como um “sério problema”. A única coisa que me permiti fazer foi olhar para o outro lado segurando aquele nó na garganta que todos sentimos quando o choro esta vindo, tentei evitar a todo custo às lágrimas, mas elas desciam inconscientemente.


Eu já tinha aceitado que ele nunca me amaria.


Jogou o toco de cigarro no chão e o apagou, aproximando-se o suficiente para me deixar em baixo do guarda-chuva. O gesto a seguir me surpreendeu, principalmente ao se ajoelhar entre as minhas pernas na areia úmida. Embora eu continuasse encharcado, você, Reita, sabia muito bem diferenciar as lágrimas das gotas da chuva.


E secou cada uma delas com a palma da sua mão.


Isso só serviu para que elas viessem ainda mais.


– Eu não entendo, por que isso é um problema Akira? Eu não consigo entender! O que tem de tão errado nisso? - Eu não tinha coragem de olha-lo nos olhos.


– Por que eu te amo pequeno.


Pude sentir meu coração descompassar e aquela angustia toda ser retirada com apenas três palavras, e é claro, a minha falta de coragem ir junto e como consequência o rosto pegar fogo e ficar encarnado. O fitei quase que de imediato e o sorriso encabulado estava lá mais uma vez, direcionado a mim. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele continuou.


– Não há nada de errado nisso Taka, absolutamente nada. - A voz tornou-se rouca e sumia cada vez mais, eu não assimilava aquilo, até sentir a primeira lagrima cair na minha mão. Vê-lo chorar diante de mim me fez entender o que acontecia, sempre tão... Profissional. - Eu te amo tanto.


– Pare de pensar na banda Akira. - Disse-lhe em um sussurro. Esse era o real motivo para estar fugindo de mim, a banda. - Pare de pensar no que os outros vão achar disso. Pare com isso!


E ele se encolheu abraçando-me a cintura.


– Eu te amo meu pequeno. – Ergueu o rosto com um sorriso lindo, foi quando vi que tudo ficaria bem dali em diante.


Enganam-se aqueles que acham que esse dia na pracinha ficou apenas em meras lembranças, que deixamos de lado todo aquele sentimento e que Reita rendeu-se ao profissionalismo. Naquele mesmo dia fomos ao meu apartamento, completamente molhados e com sorrisos cumplices. Depois daquela noite eu não sei onde minha boxer da Gucci foi parar, provavelmente junto ao meu juízo e sanidade.


O melhor sexo da minha vida.


Os gemidos mais excitantes.


Eu ainda posso sentir o perfume dele impregnado nos meus lençóis e no meu corpo.


– Taka-chan... – Chamou dengoso, limitei-me em abrir os olhos e sorrir para você, apenas para você.


– Hun?


– Eu te amo. – Não pude evitar de ficar ruborizado.


– Eu te amo Rei-chan.


Sabe qual é a melhor sensação do mundo? Aqueles lábios doces tocando os meus em um “bom dia” silencioso ou então acordar e sentir os braços fortes me envolvendo em um abraço como se eu fosse um ursinho. O calor do seu corpo, o brilho dos olhos, a sinceridade ao dizer que me ama, os fios loiros despenteados e, principalmente, o pequeno nariz, que sempre insistia em esconder


Sim, eu me tornei um apaixonado incorrigível.


Apaixonado pelo meu melhor amigo.


Apaixonado por Suzuki Akira.



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Notas finais do capítulo

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