Bleeding escrita por caiquedelbuono


Capítulo 8
Humilhação.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/173532/chapter/8

Mesmo depois de tudo o que acontecera, não teve motivos para que as aulas se interrompessem e fossem canceladas. Logan até poderia pensar que Janeth daria uma trégua depois que seu amado filho desconhecido fora assassinado misteriosamente, mas não. O longo cronograma de aulas chatas e insuportáveis ainda faria parte de sua vida.

Depois que Logan, Sophia e Helena deixaram o quarto onde a menina loira chorara desesperadamente, ainda teria mais dois tempos de aulas. Cada aluno tinha o seu cronograma, com as suas próprias aulas e curiosamente todos os horários de Logan batiam com os de Sophia. Ele até achara isso perturbador quando descobrira, mas agora isso não era mais um problema. Sophia, na verdade, era a solução de todos os seus problemas, e ter visto-a completamente em prantos na biblioteca e logo depois no quarto fez com que ele se sentisse ainda mais próximo dela. Ainda mais encantado com a beleza que emanava do rosto alvo e delicado da menina cujos olhos eram verdes feito uma esmeralda.

Mas Logan preferiria não ter entrado na classe de química depois do pequeno intervalo entre os tempos. As acusações que Janeth fizera na biblioteca pareciam ter repercutido na cabeça de todo mundo e ele podia ouvir cochichos e conversas que com certeza eram sobre ele. Ele pôde ouvir uma menina dizendo que havia um assassino dentro daquela classe, enquanto a colega dela olhava diretamente para os olhos de Logan. Isso sem falar que todos estavam olhando para ele com olhares repreensivos, como se ele fosse uma coisa que precisasse ser erradicada.

É, dias difíceis estavam chegando para Logan. Mas, qual era a importância disso se ele tinha Sophia ao lado dele? Nada importava quando ela segurava a mão dele e ele conseguia sentir a pulsação acelerada dela. Nada mais existia quando ele olhava dentro daqueles olhos intensos. Nada mais...

— Nada mais importa agora. — disse Helena — Todos nós sabemos que Janeth é uma vaca e nada vai mudar isso.

Logan estava sentado em uma das mesas da cantina, durante o horário de almoço, comendo lasanha à bolonhesa, juntamente com Sophia, Mark, Tommy e Helena.

— Eu já sabia disso há muito tempo. — disse Tommy, deixando escapar um pouco do molho pelo canto da sua boca — Nunca fui com a cara dela.

Sophia ainda não havia tocado no seu prato. Ela segurava os talheres, mas fazia movimentos circulares sobre a comida e olhava para um ponto fixo da mesa. Seus pensamentos deveriam estar vagos e ela provavelmente não estava escutando nada do que os outros estavam conversando.

— Sophia? — chamou Helena — Não vai comer nada? Vai ficar o resto do almoço com essa cara de tacho?

Logan olhou para ela e franziu as sobrancelhas numa expressão de repreensão.

— Eu não estou com fome. — respondeu a menina, que não ousou olhar para os olhos de ninguém.

— Mas você precisa comer. — disse Logan — Não precisa ficar assim por causa daquela mulher.

Sophia olhou para cima e encarou Logan. Olhou no fundo dos olhos dele.

— Aquela mulher acabou com a minha vida. Todos estão olhando para mim como se eu fosse uma coitada e você acha que eu tenho que sorrir para todo mundo?

Talvez ela tivesse razão. Quando Logan chegara à Shavely, ele também não sorria e achava todas aquelas pessoas que estavam sentadas à mesa completamente estranhas. Ele não tinha motivos para sorrir, e assim como ele, Sophia atualmente também não tinha. Ela tinha todo o direito de se sentir triste e cabisbaixa, mas cortava o coração de Logan vê-la assim e saber que não poderia fazer nada para ajudá-la. Nada que ele dissesse a reconfortaria e faria com que ela excluísse a dor que sentia por aquele segredo que fora guardado a sete chaves durante muito tempo.

— Ele só quer ver você melhor, Sophia. — disse Tommy.

— Só vou ficar melhor quando Janeth pagar por toda a vergonha que ela me fez passar. — Sophia jogou sobre o prato o talher que estava segurando e se levantou da cadeira, batendo os pés e indo em direção à porta da cantina.

Logan soltou um suspiro e de repente toda sua fome havia sido aniquilada. Ele queria tanto ver novamente um sorriso na cara de Sophia...

— Poxa, pensei que ela tinha ficado melhor depois que saímos do quarto. — comentou Helena.

— Vai demorar para ela ficar melhor. — disse Mark.

As lembranças da morte de Brian vieram à cabeça de Logan e ele perdeu definitivamente o apetite. Ele se lembrou do seu corpo completamente aberto e ele teve vontade de vomitar. Por que ele não conseguia esquecer aquela cena? Era como se ela tivesse acontecido há alguns segundos. Ele até olhou para as mãos para ver se elas não estavam sujas de sangue de Brian.

— Agora quem vai ficar no mundo da lua é o Logan. — disse Tommy — Realmente ele é o par perfeito para a Sophia.

Helena deu uma risadinha e Logan voltou a sua atenção para os amigos.

— Desculpe. Eu estava me lembrando da morte do Brian.

— Tantas outras coisas para você pensar e você fica justamente pensando nisso. — disse Mark — E ainda na hora do almoço. Não quero perder meu apetite imaginando aquele rio de sangue que estava em volta dele.

Helena contorceu a boca e levou às mãos ao estômago.

— Mark! Seu nojento!

Rio de sangue. Um peito aberto. Um corpo sem o coração. Foi quando uma ideia absurda passou pela mente de Logan.

— Não foi um ser humano o responsável pela morte de Brian.

Todos na mesa olharam para Logan como se ele fosse completamente louco.

— O quê? — perguntou Tommy — Do que é que você está falando?

— Vocês viram como estava o corpo dele? Estava completamente aberto e sem o coração! E que tipo de ser humano mata alguém, arranca o coração e ainda deixa o corpo completamente exposto?

Por um momento, eles ficaram pensativos. Helena passava a mão sobre o queixo, enquanto Tommy coçava a parte de trás da cabeça.

— Ok, deixe-me ver se eu entendi. — Helena foi a primeira a falar — Você está sugerindo que o assassino é um monstro canibal que adora comer corações humanos na hora do jantar?

— Não que ele seja um monstro canibal, mas é algo que os nossos olhos não conseguem captar. Algo sombrio e oculto pelas trevas. Algo sobrenatural que não sabe as consequências dos seus próprios atos.

Helena se encolheu sobre a sua cadeira.

— Você está me assustando.

— E por quais motivos você acha que essa tal “coisa” estaria aqui em Shavely? — perguntou Mark, olhando profundamente para Logan.

— Acho que isso é o que temos que descobrir, não? — Logan deu um sorriso amarelo.

Apesar de tudo aquilo parecer um pouco estranho, Logan sabia que fazia o maior sentido. Ele pensara muito nessa possibilidade desde o ocorrido, mas tinha medo que todos o chamassem de louco por causa disso.

— Se isso que o Logan falou for realmente verdade, — disse Tommy — essa coisa vai tentar atacar de novo. Temos que ficar alertas com tudo agora e, o mais importante, redobrar a segurança.

— Como nos protegeremos de algo que nem sabemos o que é? — perguntou Mark.

— Ainda é muito cedo para afirmarmos isso. — respondeu Logan — É apenas uma suposição que se passou pela minha cabeça. Acho que o que temos que fazer é esperar por mais algum sinal, porque, se essa coisa realmente existir, ela deixará algum sinal.

Mark engoliu em seco e ele parecia estar com medo. Todos já haviam terminado de comer e um silêncio profundo se formara. Todos imersos em seus próprios pensamentos, provavelmente pensando na possibilidade que Logan levantara.

Foi quando uma lâmpada pareceu se acender na cabeça de Helena e ela levantou a mão completamente eufórica.

— Sei de uma pessoa que pode nos ajudar!

Logan franziu as sobrancelhas.

— Quem?

— Ai, como vocês não pensaram nisso antes? — ela deu um leve tapa em sua própria testa — A Sra. Strauss! Ela não sai de dentro daquela biblioteca e com certeza deve ter visto algo estranho por lá.

Eles ainda não sabiam que Logan havia sido a primeira pessoa a ver o corpo morto de Brian e provavelmente também não sabiam que ele não havia visto a bibliotecária quando entrara no cômodo. Ele respirou fundo e começou a falar:

— Eu vi o corpo do Brian ontem logo depois de ter saído da sala da Janeth. Eu tinha visto a porta da biblioteca entreaberta e resolvi entrar. Achei estranho porque a Sra. Strauss nunca se esquece de trancar, e foi quando eu vi o corpo do Brian completamente morto.

Ele poupou os detalhes de que sua mão havia ficado completamente suja de sangue.

— Agora está explicado porque você estava todo nervoso no quarto ontem. — disse Mark com um pequeno sorriso nos lábios.

— Mas a Sra. Strauss não estava lá? — perguntou Tommy.

— Não. Acho que a porta foi arrombada depois que ela trancou.

— Mas o que o Brian estaria fazendo lá dentro? — perguntou Helena.

Tommy enrijeceu as costas sobre a sua cadeira.

— Só iremos descobrir se falarmos com a Sra. Strauss. Vocês topam fazer isso hoje à noite?

Todos acenaram afirmativamente com a cabeça e o sinal para o início das aulas da tarde ecoou por todos os cantos do internato.



Logan não pôde participar da aula que ele mais esperava desde que entrara em Shavely. Ele teria que encontrar Janeth no pomar durante a aula de educação física para que lhe fosse aplicado o seu segundo dia de punições.

Ele estava saindo da quadra onde seus amigos se preparavam para um jogo de beisebol e o sol já esquentava a sua cabeça, fazendo com que seus fios de cabelos grudassem na sua testa.

A quadra ia ficando cada vez mais afastada, mas Logan ainda podia ouvir o barulho do taco acertando em cheio a pequena bola de beisebol e os gritos desesperados dos torcedores pedindo para que o rebatedor corresse o mais rápido possível. Ele não era muito bom em esportes, mas gostava de jogar. E era o que ele queria estar fazendo agora e não indo encontrar uma diretora perversa que estava lhe aplicando punições injustas.

Logan já alcançara a primeira das árvores que compunham o pomar e ele não poderia imaginar o quão grande ele era. Havia árvores frutíferas de todos os tipos: laranjeiras, limoeiros, mangueiras, pitangueiras, melancieiras, parreiras e qualquer outro tipo de fruta que se pudesse imaginar.

Ele já estava se sentindo perdido rodeado por aquelas árvores que estavam lhe dando fome, quando ele viu Janeth encostada em uma laranjeira e levou um dos maiores sustos da sua vida. Ele ainda não havia reparado em como o rosto da diretora poderia parecer enrugado e feio quando estava iluminado pela luz do sol.

Logan fitou o chão e ele franziu as sobrancelhas imediatamente. No lugar das folhas secas e frutas podres que era comum de se revestirem o chão de pomares, ele estava coberto por milhares de sementes de milho secas. Ele olhou novamente para Janeth e viu que ela sorria e um gemido silencioso se formou na sua boca.

— Está atrasado. — Janeth desencostou da árvore e começou a se aproximar de Logan — Estava planejando a morte de mais alguém?

Logan poderia ter gritado, poderia ter xingado Janeth de várias coisas que estavam se passando pela sua mente, mas a única coisa que ele fez foi revirar os olhos.

— Vim aqui para que você me aplicasse a sua tão idolatrada punição. Será que poderemos ir direto ao ponto? Quero ver se consigo pegar o final da aula de educação física.

Janeth acenou afirmativamente com a cabeça.

— Como queira. Então, arregace suas calças.

Logan franziu o cenho.

— O quê?

— Vamos! É exatamente isso que você ouviu. Arregace as calças para que eu possa lhe aplicar a punição.

Logan olhou novamente para as sementes de milho no chão e agora ele havia entendido o que Janeth estava querendo fazer.

— Vai me fazer ajoelhar no milho?

Janeth deu uma risadinha.

— Você é tão maquiavélico para algumas coisas, que nem percebeu de imediato o óbvio.

Logan queria sair correndo dali o mais rápido possível, mas suas pernas se mantiveram firmes. Ele lembrou a si mesmo que não iria fraquejar. Sua consciência estava limpa.

— Terei que ajoelhar no milho porque você enfiou na sua cabeça que eu supostamente dei um soco na cara do seu filho desconhecido?

Janeth uniu suas duas mãos diante do seu corpo e começou a andar vagarosamente para a direita.

— Nós estaríamos colhendo frutos no pomar se você tivesse apenas feito isso. Mas, sua psicose fez com que você se tornasse um assassino. Eu poderia ligar para a polícia e mandar te prender por homicídio doloso. Eu poderia te expulsar do meu internato e te largar no meio da rua. Mas, eu sei que você fez isso porque é doente. Sei que ajoelhar no milho não vai resolver, mas pelo menos é um castigo bem dado.

Logan não poderia acreditar que estava ouvindo aquilo. Não poderia acreditar que Janeth fosse tão ridícula a esse ponto: achar que os seus leves sintomas de esquizofrenia fossem responsáveis por ele ter supostamente matado Brian. E agora ela queria que ele ajoelhasse no milho. Era demais para a cabeça dele.

— Você tem uma ideia fixa de que eu sou doente. Deveria reaver esses conceitos.

Janeth enrijeceu as sobrancelhas.

— Cale a boca! Agora, apenas faça o que eu mandar. Arregace as calças ou você quer que eu arregace-as para você?

Logan soltou um suspiro, abaixou-se e levantou as calças até que elas chegassem à altura dos seus joelhos.

— Isso, me obedeça. — a voz de Janeth entrava quase raspando pelos seus ouvidos — Agora pode ajoelhar sobre essas lindas sementes de milho.

Logan ajoelhou primeiramente sobre a terra fofa e respirou fundo antes de colocar os joelhos sobre o milho. Ele começou a sentir a dor aguda se espalhando pelo seu corpo todo. Era como se ele estivesse levando uma facada e ele sentiu uma vontade imensa de gritar. Mas ele se conteve a apenas tremer os seus músculos faciais.

— Ora, Logan, você está cometendo uma desfeita. Tive o maior trabalho para encher o chão com esses milhos e você não está os aproveitando.

A dor nos seus joelhos não permitia que Logan ouvisse com clareza o que Janeth estava dizendo. Mas ele entendeu o recado e relutantemente começou a caminhar ajoelhado sobre os milhos. A dor ia ficando cada vez mais forte e seu cérebro já não conseguia enxergar o ambiente em proporções exatas. Ele podia enxergar faixas escuras cobrindo a sua visão e ele queria levantar dali o mais rápido que ele conseguisse.

— Você está tão calado. Não quer falar alguma coisa? Que tal se você repetisse comigo: “eu sou um assassino!”?

Logan já podia sentir o sangue escorrendo dos seus joelhos e ele não conseguiria mais se movimentar sobre aquelas sementes pontiagudas.

— Eu...

Mas a sua voz não saia.

— Só irei liberá-lo quando eu ouvir você falando. — disse Janeth, que claramente estava se divertindo com aquela situação.

— Eu... — Logan estava ofegante e sua camiseta estava completamente colada no seu corpo — sou... — lágrimas escorriam dos seus olhos e ele não estava mais aguentando. As palavras saiam de sua boca como um sussurro e ele não sabia se Janeth estava ouvindo — um... — a dor chegando ao seu clímax — assassino.

E então ele desabou. Suas mãos tocaram as sementes e ele impulsionou o próprio corpo, tentando ficar de pé. Logan estava muito zonzo e a dor ainda estava presente. Ele olhou rapidamente para os seus joelhos e eles estavam em carne viva. Havia rastros de sangue que escorreram pela sua perna e a maioria dos milhos estava praticamente vermelho.

— Bravo! — aplaudia ironicamente Janeth — É bom saber que posso contar com alunos que farão exatamente o que eu mandar.

Dando um último olhar para Logan, que estava completamente desorientado e dolorido, ela abandonou o pomar um sorriso esplêndido no rosto.

Logan nunca se sentira tão humilhado em toda a sua vida. Ele praticamente se arrastou até a árvore mais próxima e sentou por entre suas raízes. Suas calças ainda estavam arregaçadas e ele podia sentir os joelhos pulsando de dor. Seus olhos ardiam numa vontade incontrolável de despejar toda aquela raiva que ele estava sentindo naquele choro. E foi exatamente assim ele fez: chorou intensamente, deixando as lágrimas molharem seu rosto e encharcarem seu corpo. Chorou de um modo que nunca havia chorado na vida, nem mesmo quando seus pais morreram. Chorou um choro de quem se sente a última pessoa do mundo e deseja com todas as suas forças sumir do planeta. E era realmente isso que Logan mais queria naquele momento constrangedor: desaparecer da face da Terra.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bleeding" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.