Bleeding escrita por caiquedelbuono


Capítulo 19
Resultados.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/173532/chapter/19

Tudo estava tão escuro que Logan se perguntava onde poderia estar. Não se lembrava de como tinha ido parar naquele lugar insólito. Um vento gelado e cortante percorria o ambiente todo e ele podia sentir os pelos do braço se eriçando. Ele estreitou os olhos e tentou visualizar algum sinal que indicasse a sua localização, mas a única coisa que conseguia enxergar eram milhões de sombras negras dançando e se misturando umas as outras.

Ele respirou fundo e um cheiro de carnificina preencheu as suas narinas. Seu estômago revirou imediatamente e começou a suar frio. Aquele cheiro podre estava fazendo o seu cérebro de deteriorar dentro do seu crânio, mas ele logo tratou de começar a caminhar e tentar sair daquele lugar úmido e nojento.

Não precisou dar nem dois passos, para logo tropeçar em algo. Ele caiu com a cara no chão e logo sentiu o gosto de sangue escorrendo para dentro da sua boca. Logan se arrastou pelo chão, afagando o local onde havia sido ferido, mas, para o seu desespero, o ambiente se iluminou e ele se deparou com a coisa mais terrível que já havia visto: uma verdadeira fileira de corpos abertos e completamente ensanguentados.

Logan poderia ter considerado o fato de levantar daquele lugar e sair correndo, mas suas pernas estavam travadas. Ele não conseguia se mexer. Observou atentamente por entre os corpos e percebeu que Sophia fazia parte deles. A menina loira estava morta com os olhos abertos como se estivesse pedindo por socorro. Logan quis gritar, mas sua voz não saía.

De repente, uma risada fria e metálica começou a emanar do ambiente que se assemelhava a um campo de guerra depois de uma batalha perdida. Logan olhou para cima e viu o rosto ensanguentado de Ashley: os olhos negros e vazios, os dentes pontiagudos, o pescoço desfigurado; do mesmo modo que ela estava na sala de estar. Ela olhava para ele como se estivesse pronta para atacá-lo, mas a única coisa que fez foi gargalhar maquiavelicamente.

Logan desviou o olhar rapidamente para ver Sophia, e quando o transportou novamente para cima, Ashley não estava mais lá. Brian era quem estava, nas mesmas condições que a garota. A risada dele era ainda mais grossa e fria e Logan queria ao máximo poder tapar os ouvidos.

Todos morrerão, uma voz soprava em sua mente. Ele fechou os olhos por alguns instantes e quando os abriu nada mais estava lá. Brian e os corpos haviam sumido e não havia mais nada além da escuridão silenciosa.

Apesar do silêncio, a voz estava gritando dentro da sua cabeça.

Todos morrerão, todos morrerão...



Logan sentou tão rápido na cama que seu cérebro começou a doer. O grito que escapou dos seus lábios fez com que Mark saísse correndo do banheiro, vestindo apenas uma bermuda que quase não cobria suas pernas e segurando uma escova de dente dentro da boca. Pelo visto, ele não tinha levantado não fazia nem dois minutos.

— O que aconteceu? — ele perguntou e sua voz saiu como se ele estivesse com a boca cheia de comida.

Pasta de dente escorreu pelo canto da sua boca e pingou no chão.

— Um pesadelo horrível! — Logan levou as mãos à cabeça — Sophia estava morta, havia vários corpos no chão e eu via Ashley e Brian me falando que todos morrerão!

Mark correu de volta para o banheiro e cuspiu a pasta de dente na pia. Logo em seguida, ele voltou com uma toalha de mão sobre o ombro despido e passou-a na boca.

— Você ficou muito impressionado quando viu a Ashley-zumbi lá na sala de estar. Foi isso.

Logan fez que sim com a cabeça e, embora ainda estivesse um pouco tonto com o sonho, levantou-se da cama e tratou de se arrumar para descer e tomar o café da manhã.

Enquanto trocava seu pijama por algo apresentável, ele transportou os pensamentos até Sophia. Por que será que ele já havia tido várias vezes a sensação de que ela estava morta? Quer dizer, não foram várias vezes, apenas uma, no dia anterior, mas ele ficara com tanto medo que jamais queria sentir aquilo de novo. E agora, ele sonhara que ela estava morta. Será que isso era alguma forma de lhe alertar que Sophia estava correndo perigo de vida? Talvez ela fosse a próxima pessoa na lista do assassino sanguinário...

Logan jamais permitiria isso. Ele seria capaz de dar a sua vida para proteger a de Sophia e agora, mais do que nunca, ele estava predestinado e descobrir a identidade daquele zumbi e garantir que ele não tocasse nenhum dedo nojento na sua namorada. Se é que zumbis possuíam dedos.

Logan e Mark desceram as escadas para a cantina antes mesmo de o sinal tocar. Era incrível ele não estar atrasado, mas o sonho havia lhe arrancado qualquer respingo de sono que o permitisse ficar mais alguns minutos na cama.

Os garotos mal conversaram pelo trajeto. Mark apenas havia perguntado se Logan estava com fome, pergunta a qual foi respondida com um aceno negativo. Sua mente estava avoada demais pensando em toda aquela história para que pudesse querer comer qualquer coisa que fosse.

Quando alcançaram a porta da cantina, perceberam que apenas Sophia estava presente. Estava sentada na mesa usual e já comia um potinho de salada de frutas. Logan sabia que ela fazia o possível para chegar mais cedo só para comer aquilo.

Ele se aproximou dela e sem nem ao menos dizer nada, lhe deu um beijo que fez com que os olhos dela se arregalassem. Era tão bom poder tocá-la, poder beijá-la e saber que ela não estava morta. Logan tinha tanto medo de perdê-la que ele jamais se perdoaria caso isso viesse a acontecer. A morte seria melhor do que encarar uma vida sem Sophia.

— O que é isso? — ela perguntou quando ele se desvencilhou e sentou ao lado dela — O senhor aprontou alguma coisa e está tentando me agradar para eu não ficar brava, é isso?

Mark havia sentado em uma cadeira à frente de Sophia e abriu a boca para falar:

— Na verdade, ele sonhou que você tinha morrido.

— Mark! — rosnou Logan.

Sophia franziu as sobrancelhas e levou as mãos para mais perto das de Logan.

— Você sonhou isso mesmo?

Logan fuzilou Mark com o olhar e passou discretamente o dedo indicador pelo pescoço, como se falasse “você está encrencado” e logo olhou tristemente para Sophia.

— Sim. Mas de qualquer forma, foi apenas um pesadelo e eu não quero mais falar sobre isso.

— Você sabia que quando alguém sonha com a morte de uma pessoa é sinal que ela viverá mais do que se imagina? — perguntou Sophia.

— Então você completará um centenário, Sophia! — disse Mark com um sorriso na boca.

Logan deu um sorriso amarelo para Sophia e amarrou a cara para Mark.

— Por que você não vai à bancada se servir, Mark?

— Já entendi, — ele revirou os olhos — deixarei o casal apaixonado sozinho por alguns instantes.

E se levantou da mesa indo em direção à bancada onde estavam sendo servidos pedaços de bolo, suco de frutas, leite e outras comidas que as pessoas costumam comer no café da manhã.

— Pelo visto, ele acordou com a corda toda hoje, não é? — perguntou Sophia.

Logan não respondeu. Apenas sorriu para ela e segurou em sua mão enquanto a observava terminar de comer a salada de frutas.

Ele queria parar de se lembrar, mas a imagem de Sophia morta ainda vinha forte em sua mente. O sonho fora tão real que ele chegou a se perguntar se aquilo não era um presságio do que estava por vir. Ele sentiu um arrepio ao pensar nisso e balançou a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos.

Olhando de soslaio para a porta da cantina, ele viu Tommy e Helena entrando. Ele quase não reconheceu o garoto, pois ele parecia ter ouvido os conselhos de Logan e Mark naquele dia e mudara completamente o visual: os cabelos estavam espetados, as roupas negras e apertadas que ele costumava usar foram substituídas por trajes mais largos e descolados. Já Helena parecia cansadíssima; mesmo de longe ele podia enxergar a espessa camada negra que cobria a parte de baixo dos seus olhos. Os machucados de sua perna já não estavam tão vermelhos quanto no dia anterior, mas algumas marcas roxas agora estavam visíveis. Ela mancava bastante e lentamente eles alcançaram a mesa.

Sophia assobiou quando Tommy sentou na cadeira ao lado de Mark e Logan olhou furioso para ela.

— Pelo visto, resolveu seguir as nossas dicas. — disse Mark assim que chegou de volta à mesa carregando uma bandeja com pelo menos sete fatias de pão com geleia de uva.

— O que acharam? — ele perguntou.

Logan notou que a única coisa que ele não havia mudado era o piercing no nariz.

— Ficou um gatinho — disse Sophia.

— Sophia! — exclamou Logan, mas ela logo lhe deu um beijo e ele deixou o pequeno ciúme que havia surgido de lado.

— Percebi que vocês tinham razão. — disse Tommy, pegando uma das fatias de pão de Mark sem ao menos pedir — Me olhei no espelho naquele dia e percebi que tinha algo estranho. Algo que não se encaixava. Me sinto melhor agora.

— Aposto que agora arranja uma namorada. — disse Mark.

Tommy assentiu, embora arranjar uma namorada não parecesse ser um dos objetivos para a sua aparente e notória mudança de visual.

Helena, que se manteve calada durante esse tempo todo, levantou-se sem ao menos falar com ninguém e foi até à bancada se servir.

— O que há com ela? — perguntou Logan.

— Passou a noite toda em claro pensando em um meio de se vingar de Janeth. — disse Sophia. — Foi horrível dormir essa noite. Ela ficava me acordando periodicamente com seus gritos de “Já sei!”, que logo eram substituídos por “Ah não, isso não vai dar certo”.

Logan gargalhou enquanto virava a cabeça e observava Helena praticamente arremessar dentro da bandeja as coisas que ela queria comer.

— Eu encontrei com ela no corredor e só faltou ela me comer vivo quando eu perguntei por que ela estava com uma cara estranha. — disse Tommy.

— Eu fico é feliz que ela ocupe a cabeça com algo que não seja tentar me beijar. — comentou Mark, com a boca cheia de pão.

Helena voltou logo em seguida e jogou a bandeja sobre a mesa. Um pedaço de bolo quase voou para fora da mesa e ela notou que todos estavam lhe olhando com um sorriso escondido no rosto.

— O que estão olhando? — ela perguntou rudemente — Nunca viram uma pessoa após uma noite mal dormida?

— Uma noite sem dormir, você quis dizer. — disse Sophia.

Helena revirou os olhos e enfiou um pedaço de bolo inteiro na boca.

— Tanto faz. — farelos voavam por todo o lado e ela parecia não estar se importando em sujar toda a mesa.

— Helena, por um acaso já te falaram que você fica engraçada quando está irritada com alguma coisa? — perguntou Logan.

Ela pegou o objeto mais próximo dela (a colher metálica que Sophia havia usado para comer a salada de frutas) e apontou-o para Logan.

— Quem está irritada aqui? Eu estou exausta, isso sim. E sugiro que você vá ocupar sua boca com alguma comida e pare de me importunar antes que eu enfie essa colher em um lugar que você não consegue alcançar.

Tommy e Mark deram risadinhas que foram abafadas pelo pão que estavam comendo, mas Helena apontou a colher para eles e repetiu a ameaça.

Eles ficaram em silêncio, finalmente, enquanto terminavam de comer, cada um parecendo estar absorto em seus próprios pensamentos.

Barulhos de passos podiam ser ouvidos na porta da cantina e Logan virou a cabeça apenas para encontrar o detetive John vindo em sua direção.

— Será que ele descobriu alguma coisa? — perguntou Tommy.

Ele foi se aproximando e Logan percebera que ele não estava trajando o chapéu. O cabelo de John era quase inexistente, exceto por algumas rodelas sobre a sua orelha. Ele estava segurando um grande envelope marrom.

— Bom dia, crianças. — ele disse, e puxou a única cadeira que estava sobrando na ponta da mesa.

Ninguém respondeu. Eles apenas se entreolharam, apreensivos.

— Suponho que vocês eram as pessoas mais chegadas às vítimas, então vim diretamente falar com vocês.

Ele repousou o envelope sobre a mesa e respirou fundo.

— O que tem nesse envelope? — perguntou Mark.

— O resultado de um exame de perícia que foi feito com respingos de sangue que encontrei na cena do crime da garota de cabelos morenos, Ashley o nome dela?

O queixo de Logan caíra. Os faxineiros de Shavely deveriam ser bem preguiçosos para deixar respingos de sangue que pudessem ir para um laboratório criminal.

John abriu o envelope, retirou um papel branco de dentro dele e o entregou para Logan.

O garoto passou os olhos pelo exame e não entendeu muita coisa, mas foi esperto o suficiente para perceber que não havia um resultado em si. Não havia o nome do dono do sangue, nem o tipo sanguíneo e nenhuma característica que pudesse incriminar ou inocentar alguém.

— Mas esse exame não diz nada. — disse Logan.

— Exatamente. — os olhos de John exprimiam uma evidente frustração — Não há um dono para esse sangue.

Sophia passou a mão pelo queixo.

— Então, se o sangue não é de Ashley, só pode ser do assassino.

— Vocês não estão entendendo a gravidade da situação. — disse o detetive — Esse assassinato terá que ser arquivado como crime sem solução. Quando acontecem coisas desse tipo, não há muito que possamos fazer. É como se uma coisa que não existisse tivesse sido a responsável pela morte de Ashley.

Uma coisa que não existia... Zumbis não existiam para a maioria das pessoas. Eles eram apenas criaturas sobrenaturais presentes em filmes e livros e não no dia-a-dia das pessoas.

John recolheu o exame e guardou-o novamente dentro do envelope.

— Eu sinto muito.

Ele lançou um último olhar acolhedor para os garotos e saiu da cantina.

— Sangue não identificado. — disse Helena — É o sangue do zumbi!

Todos fizeram que sim com a cabeça.

— Então o assassino deve ter se ferido durante o ataque à Ashley. — disse Tommy.

Mark exibia um olhar sombrio.

— Eu lembro bem daquele dia. — relembrou — Ela havia deixado as unhas crescerem para a festa e estavam muito afiadas...

— E fincou-as nas costas do assassino durante a luta. — completou Sophia.

Fincou-as nas costas do assassino. As palavras de Sophia entraram raspando nos ouvidos de Logan e de repente ele se deu conta de tudo o que estava acontecendo. Lembrou-se instantaneamente do dia em que vira os arranhões nas costas de Mark. Arranhões que ele alegara serem de Helena, mas eles eram profundos demais para terem sido feitos apenas por uma menina que queria um beijo. Eram arranhões de luta corporal.

Os amigos ainda jogavam suposições sobre a mesa, mas Logan não estava prestando atenção. Ele olhava para Mark e tudo dentro de sua mente indicava que ele era o responsável pelas mortes.

Logan não aguentava mais ficar naquela mesa. Ele levantou-se rapidamente e saiu correndo para fora da cantina, ainda ouvindo os amigos gritando e chamando pelo seu nome.

Como ele não havia percebido isso antes? Mark havia chegado como quem não queria nada. Enturmou-se com todo mundo. Observou a tudo discreta e silenciosamente. Planejou tudo dentro de sua mente maquiavélica. Logan já estava correndo o mais rápido que podia. Não se importava se tinha aula agora ou não. A única coisa que ele queria era ficar longe de tudo e todos e repousar sua cabeça que pulsava desesperadamente.

Entrou no seu dormitório e correu até o banheiro. Abriu a torneira, encheu suas mãos com a água gelada e encharcou o próprio rosto. Olhou o seu reflexo no espelho trincado e estava se sentindo um monstro por desconfiar de Mark. Ao mesmo tempo em que uma voz dentro dele gritava para acreditar piamente que Mark havia sido o responsável por tudo aquilo, outra dizia que ele estava enganado e que não podia deixar se levar por apenas uma evidência. Ele precisava de mais provas.

Era isso. Mark não era o assassino. Não poderia ser. Logan sempre dividira o quarto com ele e o colega nunca demonstrara qualquer sinal de irritação. Ele era sempre calmo e sereno, divertido e descontraído. Jamais seria capaz de fazer mal a uma mosca.

Como Logan pôde pensar uma coisa dessas? Estava sendo egoísta ao acreditar nisso, sendo que ele confiava em Mark. Aquilo era apenas uma coincidência, tinha que ser.

Ele respirou fundo e prometeu a si mesmo que nunca mais pensaria numa possibilidade dessas. Nunca mais desconfiaria do seu melhor amigo, uma pessoa que ele confiava de olhos fechados.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bleeding" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.