– Isso é com certeza uma ameaça! – berrei, assim que chegamos em casa. – Precisamos fazer alguma coisa!

Craig continuou calmo, pelo menos aparentemente. Nunca odiei tanto isso nele como odiava agora. Tudo que eu queria era pegar Alligator e socá-lo até ele ficar incapaz de machucar alguém novamente. Minha raiva era tanta que eu só queria acabar de vez com esses assassinatos e seqüestros.

– Craig, pare de ficar andando de um lado para o outro e por favor faça alguma coisa!
– O que você quer que eu faça? Nós não sabemos nem quem Alligator é! Como saberemos o dia e hora exata em que ele atacará Kyle? Rose, seja racional! Precisamos de mais pistas, não podemos agir agora!

– Então vamos ficar parados enquanto Kyle pode morrer? É isso que está me dizendo?

– Estou pedindo que tenha paciência! Vamos continuar a rotina e ver se descobrimos algumas pistas! Eu vou ligar para Taylor e chamar reforços. Precisamos grudar em Kyle vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Vá falar com a general e conte tudo que sabemos.

Dei um chute na perna da mesa e subi para meu quarto. A dor física que aquilo me causou foi o suficiente para acalmar minha raiva. Liguei o notebook e roí unhas enquanto esperava. Nunca ficara tão nervosa com um caso na vida. Uma voz em minha mente dizia que tudo era culpa por ter me apaixonado pela vítima. Outra completava perguntando por que Kyle tinha que ser o alvo.

– O que foi, agente Holmes?
Relatei tudo em um jorro, as palavras vazavam de minha boca e pouco me importei se xingava ou se a general entendia alguma coisa. Eu só queria que a justiça fosse feita e rápido. Precisava por minhas mãos em Alligator e socá-lo até ele se arrepender de tudo o mais rápido possível.

– Então eu estava certa. Bom, vou chamar reforços. Quero que ajam o mais rápido possível. Craig e Carter vão seguir Kyle Brass enquanto você pode descansar. Seu trabalho foi muito útil e...

– NÃO! – falei rapidamente, sem pensar nos riscos que corria contrariando a general. – Eu não vou me afastar de nada enquanto vejo Alligator atacar mais uma pessoa! – continuei, sem confessar que Kyle e eu éramos mais do que apenas conhecidos. A general nunca entenderia por que eu queria protegê-lo com minha vida se não fosse além de trabalho. – Eu quero ajudar Craig e Carter. Kyle confia em mim, se lembra? Só eu posso protegê-lo sem ele questionar.

– Faz sentido. – ela respondeu. Seu rosto não emitia sentimento algum. Era tudo profissional para ela, assim como para os outros espiões. Nunca odiei tanto meu trabalho. – Como quiser. Amanhã mesmo, você vai agir. Quero que mostre à Kyle como ele pode confiar em você para contar tudo e que descubra os possíveis motivos para ele ser a vítima. Desligando.

– Obrigada, general. Nem sabe o quanto isso significa para mim.

– Sei sim. Seu trabalho é tudo para você.

– É. – concordei, engolindo em seco. – Claro que é.

Fechei o notebook quando a tela ficou escura.

– Oi, Kyle. Vim o mais rápido possível. O que houve?

– Rose. – ele me abraçou com urgência, trêmulo. Seus braços me apertaram até que eu ficasse sem ar, mas ele nem pareceu perceber. Seu pavor era aparente. – Eu estou assustado, Rose. Estou apavorado. Eu preciso de você.

– Sabe que pode me contar tudo.

– Rose, eu tenho recebidos ameaças desde o início do ano letivo. – começou, me soltando para podermos nos sentar em sua cama. Ele fechou a porta e segurou firmemente em minhas mãos. – Sei que pareço louco, mas é verdade. No começo, meus pais e eu achávamos ser uma brincadeira, mas a coisa ficou séria. As ameaças só pararam quando... Quando você apareceu. Quando eu ia me encontrar com você, tudo parava. Eu me senti seguro pela primeira vez. Mas quando eu evitei você, deixei de me sentir seguro, então fiz de tudo para voltarmos a nos aproximar. Rose, eu nunca fiquei com tanto medo. Não sei por que, mas acho que você é a única que pode me ajudar.

– Sabe por que alguém poderia querer você morto?

– Não tenho a menor ideia! Só sei que tudo está acontecendo comigo. Primeiro Verônica foi encontrada morta, depois Priscilla, Thomas e agora eu! Priscilla terminou comigo por que não queria que eu fosse pego. Eu nunca entendi nada, mas agora entendo. Pensei que ela tivesse me traído e não quisesse admitir. Mas ela só quis me proteger. Rose, se eu estiver certo, você é a próxima, e eu não quero perder você também. Por favor, Rose, não...

Ele me abraçou, interrompendo a frase quando desabou em soluços. Tentei ficar forte, mostrar que estava tudo bem, mas eu sabia que não estava. Kyle corria perigo e tudo estava acontecendo mais rápido do que eu imaginava. Se ele soubesse que eu não corria perigo algum, talvez se acalmasse, mas eu não podia contar a ninguém minha identidade secreta. Era perigoso demais.

– Eu te juro que nunca vou te deixar. Eu juro que vamos ficar bem. Você vai ver, tudo vai dar certo. – consegui dizer, sabendo que não era bem assim. Quando Kyle estiver a salvo e o Alligator for detido, Craig e eu vamos abandonar a cidade e tudo voltará a ser como era antes, tanto para Kyle quanto para mim. Ele terá de me esquecer e eu terei de esquecê-lo. Mas eu não mencionei que seria fácil, certo?

– Eu te amo, Rose.

– E eu amo você. – muito mais do que eu deveria amar, claro. Mas Kyle não precisava saber disso. Não agora.

– Rose, posso te pedir uma coisa?

– Claro. Qualquer coisa.

– Quero que fique comigo essa noite. Por favor, eu não conseguirei dormir sabendo que você também corre perigo. Eu preciso de você.

– Tudo bem. Vou apenas ligar para Craig e dizer que vou ficar por aqui.

– Ele não se importa?

Dei apenas um sorriso e isso bastou para ele. Craig não se importaria com isso se fosse para proteger Kyle. Claro que ele sabia que Kyle e eu estávamos envolvidos, mas ele achava que era profissional. Mandei uma mensagem de texto, já que não consegui falar com Craig. Ele devia estar eu reunião de planejamento com Taylor e Julia. Falei que estaria com Kyle para protegê-lo e iria cuidar de tudo caso Alligator aparecesse.

Kyle arrumou um colchão para mim depois de fazer sua cama. Dei um sorriso grato para ele e em seguida um abraço. Senti que ele precisaria de toda demonstração de carinho por enquanto.

Comprovei isso quando ele me beijou, hesitante, mas urgente. Senti que ele estava preparado para uma despedida, mas não sabia o porquê. Ele deslizou as mãos por meu corpo e desceu os lábios por meu pescoço e ombros, explorando-me. Apenas parou quando sua mãe bateu na porta.

– Sinto muito interromper, mas eu vim ver se estava tudo bem. Olá, Rose.

– Não interrompeu. – falei, sorrindo.

– Ora, sei reconhecer uma mentira quando vejo uma. Boa noite, pombinhos. Durmam bem. Juízo, hein?

A senhora Brass fechou a porta ao sair e Kyle aproveitou para voltar a me beijar. Foi um beijo rápido dessa vez. Ele se deitou na cama logo em seguida e apagou as luzes. Me deitei no colchão, fitando o teto, perguntando-me o quão difícil seria achar Alligator e detê-lo antes que Kyle fosse... Eu não queria nem pensar na palavra.