Disse à Kyle que conversaríamos mais tarde e corri para casa. Quando cheguei, me apressei subindo as escadas e liguei o notebook. Não podia perder mais tempo.

Craig me perguntou o que eu tinha, mas o ignorei. Ele sentou-se em minha cama e esperou que eu dissesse algo, mas eu só me concentrava na videoconferência. Quando a general Simon apareceu na tela, me segurei na cadeira para não desabar.

– O que aconteceu, agente Holmes? Parece desesperada!

– Kyle Brass. Ele é a próxima vítima do Alligator! – falei, desesperadamente.

– Conseguiu mais pistas?

– Kyle era namorado de Priscilla Gray, a segunda vítima do caso. E também era melhor amigo de Thomas Shaw, a terceira vítima. Ele está ligado à todos eles! Kyle é o próximo alvo!

– Precisamos tomar as providências imediatamente. Agente Holmes, agente Watson, vocês vão grudar nesse garoto. Holmes o segue na escola e você, Watson, arrume um jeito. Vou avisar aos outros agora mesmo.

– Com todo respeito, general, acho que Rose merece cuidar disso sozinha.

– Ela não está pronta. Precisa de reforços.

– Mas ela combateu aqueles caras que assaltaram o carro forte. Ela merece algum crédito!

– Sem discussões, agente Watson! Desligando.

Craig socou a cama e se levantou, segurando meus ombros. Disse que estava orgulhoso de mim e que eu conseguiria deter o Alligator antes que ele agisse.

Mas não era com isso que eu me preocupava. Eu tinha achado o alvo de Alligator e me apaixonara por ele. Agora precisava protegê-lo sem ele saber que estarei fazendo isso e corro o risco que ele me odeie por esconder tanta coisa dele. Mas só o que importa é a segurança de Kyle. E eu tinha certeza de uma coisa: não deixaria Alligator encostar em um fio de cabelo de Kyle.

Só tinha um problema com minha missão: eu não sabia quando e nem por qual motivo Alligator atacaria Kyle e nem por que ele atacara os outros.

Mas eu ia descobrir, é claro!

Então tive que dobrar meu esforço: passei a maior parte de meu tempo com Kyle. O encontrava depois da aula, grudava nele quando ele ia embora, mas sem ele saber, o vigiava de noite... Meu único problema foi Luce. Quando ela soube que Kyle e eu estávamos juntos, ela meio que me abandonou. Não olhou mais para mim durante as aulas nem dirigiu-me palavra alguma. Se afastou toda vez que eu chegava perto e evitou Kyle também.

Até que finalmente eu a confrontei, semanas depois.

Depois da aula de educação física, eu geralmente ia ao vestiário, tomava banho e ia embora. Mas dessa vez não fiz isso. Lucinda estava enrolada na toalha, pronta para o banho, quando bloqueei sua saída, encostando na porta de seu armário.

– Saia da minha frente. – ela falou, segurando os próprios cotovelos. Luce nunca me pareceu tão insegura e frágil.

– Não. Luce, precisamos conversar.

– Eu não tenho nada para falar com você, traidora.

– Luce, por favor, eu...

– Ah, claro! Talvez queira me contar como foi bom você ter ficado com o Kyle! Vamos lá, diga! Eu sei que você adorou me trair!

– Você disse que não estava nem aí pra ele!

– Mas eu estava! Você não percebeu?

– Eu o amo! E ele me ama!

– Amar? Ora essa, você nem sabe o que é isso! Kyle já era meu muito antes de você aparecer e roubar o meu namorado!

– Ele não era seu namorado! Ele namorou Priscilla Gray e não você! Cai na real, Lucinda! Kyle nunca esteve louco por você como você está por ele! Se você tivesse dito algo, talvez ele estivesse, mas você é covarde demais para isso!

Luce deu uma bofetada em minha face, deixando-a queimando.

Demorei alguns segundos para perceber isso. Luce realmente tinha feito aquilo? Ela não seria capaz... Ou seria? Passei a mão no rosto, perplexa, e fuzilei-a com o olhar. Me virei e fui tomar um banho, sentindo um aperto no peito por ter brigado com minha única e melhor amiga.

Certo, eu não fora totalmente justa com ela. Luce não merecia ouvir nada daquilo e eu acabei nem dizendo o que realmente deveria: que eu amava Kyle e não fora minha culpa me apaixonar por ele. Que Kyle me amava também e que sentíamos muito por magoá-la. Mas agora eu não poderia dizer mais nada para desfazer o que eu fizera.

– Você parece meio tensa, Rose. – seus lábios desceram por meu pescoço. – O que foi?

– Eu falei com Luce hoje. Ela está... Arrasada.

– Vocês brigaram?

– Pior. Ah, Kyle, eu fui uma idiota! Ela não merecia isso. É tudo minha culpa.

– Rose, não é culpa nossa se nos amamos desse jeito. Luce tem que entender. Eu mesmo vou falar com ela amanhã, tudo bem?

– Tudo bem. – ergui meu rosto para beijá-lo. – Amo você.

Mais do que eu deveria acrescentei mentalmente.

– E eu amo você.

Kyle puxou-me para mais perto, envolvendo meu corpo com seus braços fortes, e aprofundou mais nosso beijo. Enterrei minhas mãos em seu cabelo, descendo-as para o pescoço e pousando-as ali. Senti sua língua tocando na minha antes que ele deslizasse um dedo para o cós de meu jeans e...

Craig batesse à porta.

Kyle afastou-se abruptamente de mim, levantando-se da cama e endireitando os cabelos. Disse à Craig para entrar e ele apareceu no quarto em dois segundos.

– Oi, pessoal. Sinto muito interromper isso, mas, Rose, sabe aquilo que combinamos?

Ele se referia à minha missão. Eu combinara com ele que Craig me ajudaria a vigiar hoje.

– Sim.

– Pois bem, está na hora. Sinto muito atrapalhar.

– Ah, não atrapalhou nada. – mentiu Kyle. – Eu já estava indo. Eu te vejo mais tarde, Rose. – Kyle sorriu antes de sair pela porta.

Craig e eu trocamos olhares e fomos nos vestir. Trajes pretos eram bons o bastante para seguir alguém sem ser visto. Em menos de cinco minutos, nós dois seguíamos Kyle noite afora. E, por sorte, ele não suspeitou de nada.

Kyle entrou em seu apartamento como sempre fazia – e Craig e eu espiávamos, como eu sempre fazia. Pela luz acesa do quarto, vi ele beijar o rosto da mãe e subir para o quarto, onde costumava tocar violão e ficar no MSN. Mas, antes que ele fizesse algo disso, ele soltou um grito.

Craig e eu ficamos imóveis, parados na árvore mais próxima do apartamento.

– Eu vou espiar, espere aqui. – Craig murmurou, se aproximando da janela.

Meu coração estava acelerado. Eu só podia ver as sombras de Kyle e sua mãe através da janela. Craig não dizia nada e isso me dava nos nervos. Seu rosto ficou totalmente tenso e profissional.

– Rose... Tem um bilhete dizendo que Kyle vai morrer. E está assinado com uma foto de jacaré.

Meu coração congelou de pavor.