O Nosso Amor Corre Perigo escrita por momsenwestwick


Capítulo 3
2 (dois)




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O dia seguinte foi igual ao anterior, tirando que alguns alunos novos entraram em minha turma de biologia. Luce, Serena e um garoto estranho – porém bonitinho – pareciam estar em todas as minhas aulas – não sei se isso era bom ou ruim. O garoto estranho e bonitinho se chama Kyle e, descobri depois, além de usar óculos desde os quatro anos de idade e ser o mais inteligente da turma, também era bolsista desde a oitava série.

Bingo! (ok, pode não significar nada; muita gente é bolsista, mas já era um começo.)

– Fale-me sobre o garoto bolsista. Quer dizer, Kyle. – pedi, evitando olhar para os lados, enquanto Luce e eu almoçávamos.

– Ele é legal. Divertido. Joga basquete. Eu sei, não é todo cara inteligente que joga basquete. – ela deu de ombros. Perguntei-me se estava pensando nas qualidades de Kyle. – A maioria das garotas apenas acha ele engraçado, mas quando ele tira os óculos para jogar elas babam. Eu nem o acho tão bonito assim, mas ele fica me olhando toda aula, sabe? Acho que está me paquerando, sei lá.

– E você o paquera de volta? – perguntei, mas só porque eu estava curiosa. Me interessar por um cara, mesmo que fosse bonitinho, só atrapalharia tudo agora. A menos, é claro, que ele fosse o alvo, mas era pouco provável que Kyle fosse o alvo. Com tantos bolsistas na escola, Alligator não escolheria justo um nerd.

Ou escolheria?

– Eu? E por que eu faria isso? Ele é só um nerd idiota. – ela fingiu rir, mas vi que uma corzinha em suas bochechas quando ela respondeu. Só um nerd idiota, sei... – Você está interessada nele?

Não do jeito que está pensando... pensei, segurando um riso. Para Luce, eu apenas neguei com a cabeça e afirmei só estar curiosa.

O almoço acabou e Luce e eu tivemos que correr para a sala de aula. Deslizei para o lado de Luce novamente e fingi estar atenta ao professor que já estava na sala, mas na verdade eu estava prestando atenção à meu redor, procurando um possível futuro-alvo.

Kyle entrou na sala meia hora depois e assumiu seu lugar atrás de Serena. Seu cabelo, percebi, era mais escuro do que parecera e seus olhos, por trás dos óculos, eram verdes. A pele estava bronzeada pelo sol; também notei músculos – recompensa por jogar basquete, imagino. Eu me enganara; Kyle era tão gracinha quanto qualquer outro garoto da sala de aula. Mas não era por isso que eu iria me concentrar nele e esquecer minha missão, até porque eu...

Ai, meu Deus, não olhe para mim desse jeito! Você vai me desconcentrar!

Ele virou o rosto na minha direção e seus olhos verdes e profundos encontraram os meus, que de repente me pareceram castanhos e sem-graça. (eu sempre os achara tão misteriosos e agora eles perderam toda a magia!) Por um momento, fiquei imóvel; nunca nenhum garoto olhara para mim daquele jeito – na verdade, nunca um garoto sequer olhou para mim. Kyle parecia querer desvendar qualquer mistério que eu escondesse nos olhos e eu gostei disso. Sustentei seu olhar por pouco tempo, pois ele teve que virar o rosto assim que o professor chamou seu nome.

– Você viu isso? – sussurrei, me virando para olhar para Luce novamente.

– O que? – ela ergueu o olhar de seu livro didático e me olhou.

– Nada, deixa pra lá.

Ok, eu não posso me virar para uma garota que aparentemente gosta do cara que acabou de trocar um olhar demorado comigo – e, caramba, foi um olhar daqueles! – porque, sei lá, não quero que ela pense que vim aqui só para roubar o namorado – que nem é um namorado – dela. Minha missão é achar o alvo e protegê-lo – seja quem for.

Mal sabia eu o quão difícil isso seria.

– Craig, eu já cheguei! – anunciei, batendo a porta dos fundos e seguindo para a cozinha. – Craig?

Nenhuma resposta. A casa estava vazia.

Geralmente, quando Craig precisava sair em missão ou qualquer outra coisa, ele deixava um bilhete, mas dessa vez não tinha nada. Subi para meu quarto, esperando encontrá-lo lá, embora isso não fizesse sentido. Como eu esperava, ele também não estava lá. Desisti de procurá-lo e resolvi me concentrar em coisas mais importantes, como relatar meu dia para a general Simon e fazer o dever de casa.

Liguei o notebook e relaxei na cadeira giratória do computador. Abri uma página no Google para pegar as respostas de meu dever de casa. Minha vida toda, eu tive aulas particulares por professores espiões da CIA; Craig disse que eu não precisava ir para a escola, então minha vida social não é muito boa. Meus amigos são pessoas que encontro em cada missão ou alguns colegas do jardim de infância que me reconhecem quando estou passeando no shopping com Craig ou qualquer outra coisa. Enfim, nunca tive deveres de casa e nem provas ou trabalhos escolares; os professores da CIA só se preocupavam em me ensinar o básico, já que eu não preciso de faculdade – graças à Craig, serei espiã a vida toda –, então resolvi pesquisar as respostas na internet (já que eu não sei nada disso e nem preciso saber tanto) e dizer ao professor que fiz tudo certinho com minha suposta inteligência.

É claro que às vezes eu desejo ter uma vida normal como todo adolescente e apenas me preocupar com provas e namorados, mas eu sou boa no que faço – e creio que esse é meu único talento. Quando não estou em trabalho, estou lendo romances policiais ou dormindo. Às vezes, Craig resolve bancar o pai e me leva para dar umas voltas por aí. Mas isso é muito raro.

Depois de copiar as respostas de meu dever de casa, comecei a chamada de vídeo com a general. Aqueles olhos cansados e sombrios me encararam quando sua imagem apareceu na tela.

– Achei que tivesse morrido.

– Sinto muito, general. – ergui o caderno, de modo que ela pudesse vê-lo. – Dever de casa. Mas aqui estou eu.

– Ótimo. Onde está o agente Watson?

– Eu gostaria de saber, general. – cruzei os braços, fingindo que tudo estava sob controle. – Quer que eu comece o relatório diário agora?

– Seria bom.

– Muito bem, há quinze bolsistas na escola, pelo menos que eu saiba. Cinco deles ganharam um concurso sem fazer prova alguma, foi tipo um sorteio. O restante está lá por ser inteligente. Eu duvidaria dos inteligentes, pois os ganhadores do concurso podem ter dinheiro para pagar e ganharam por sorte. Entretanto, pode haver entre eles um bolsista de classe baixa que não tinha condições de pagar o colégio e, portanto, ganhou o concurso, se isso for possível.

– Sabe os nomes?

– Sei. Teresa Swann, Alicia Clark, Kyle Brass, Candy...

– Um momento. – interrompeu ela, erguendo uma mão para que eu me calasse. – Kyle Brass? O pai dele é trabalha em uma imobiliária perto de onde você e o agente Watson residem. Sei disso porque ele é primo de Verônica Marshall, a primeira vítima.

– Acha que tem alguma relação?

– Eu não sei. Qualquer detalhe pode ser uma pista. Agente Holmes, eu quero que se aproxime desse garoto. Grude nele como cola. Faça com que ele confie em você. Arrume um jeito de descobrir se há alguma relação com Verônica. Vou avisar ao agente Carter que temos uma pista.

Carter fazia parte do grupo de Craig, junto com Taylor e Julia. Eles eram os únicos que confiam em minha capacidade; os outros achavam que Craig nunca deveria ter me envolvido nisso. (apesar de ser meu tutor legal porque meus pais confiavam nele, muitos achavam que Craig devia ter me deixado em uma creche ou algo do tipo, e não fazer de mim uma espiã.)

– Entendido, general. Desligando.

Desliguei o notebook e saí do quarto. Craig tinha suas reuniões secretas no sótão e eu era proibida de entrar lá, a menos que ele pedisse. Eu tinha esperanças de que ele estivesse lá; ficar sozinha em casa não é tão divertido quando se é um espião. Precisamos de contato com outros agentes para nos manter informados sobre os acontecimentos do mundo. No caso Alligator, Craig, Taylor, Julia e eu trabalhávamos sozinhos e, como nenhum deles aparentemente estava em casa, eu estava sem ninguém para trocar informações.

Me decepcionei quando vi que o sótão estava tão vazio quanto o resto da casa. Só o que havia lá eram computadores e equipamentos da CIA para espionagem. E, claro, uma tela enorme onde fazíamos as videoconferências. Na mesa de reuniões, tinha um prato com um sanduíche de queijo pela metade. Sinal de que Craig estivera aqui.

Certo, eu tenho duas opções. Ou eu volto para meu quarto, espero ele chegar e não conto que invadi seu espaço ou eu abro o Armário Secreto e Proibido Para Rose e mato a curiosidade. Vejamos, qual eu devo escolher? Talvez eu deva checar o armário, pois talvez Craig esteja preso lá dentro, então... curiosa, abri o armário que Craig não deixava ninguém abrir. O que eu encontrei lá?

Nada. Apenas ar.

Bati a porta do armário de madeira e me virei para ir embora, mas parei ao ouvir o barulho. Muito bom, Rose! Você conseguiu quebrar o armário!

Que na verdade apenas escondia uma passagem-secreta.

Já que eu cheguei até aqui, melhor ir até o fim – ou então finjo que eu estava dormindo e alguém invadiu a casa e quebrou tudo, mas Craig é esperto demais para cair nessa. Vamos lá, Rose.

A passagem deu na entrada restrita a funcionários do shopping. Percebi isso quando me vi no meio de esfregões e baldes. Praguejando, resolvi voltar para casa e arrumar tudo para quando Craig chegasse.

Isso se ele chegar... pensei, apressando-me nos túneis.

Ora, pare de bobagem, Rose! Claro que ele vai chegar! Ele só está fazendo algo e esqueceu de avisar que demoraria a voltar. Relaxe.

Mas, por mais que eu repetisse, algo dentro de mim dizia que Craig talvez não voltasse.

E, por mais que eu odiasse, essa parte de mim sempre tinha razão.


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