Bandida

-Olá gente pobre e imprensada deste muquifo que eu chamo de metrô! Eu sou Valéria e estou prestes a entrevistar um cantor famoso!

-Mas não eram dois?

-Cala boca Janete, deixa eu apresentar essa budega direito!

-Mas são dois Valéria.

-O outro é namorado dele.

-Namorado?

-Claro que não Janete! Acorda, bicha! Eles são irmãos.

-Ah, tá.

-E vê se não me enche, eles vão entrar na próxima estação.

-Em Inhaúma?

-Não, na puta que pariu Janete. É claro que é em Inhaúma, pra que estação você acha que estamos indo? Pra estação dos marcianos felizes?

-Desculpa Valéria. É que eu pensei alto.

-Da próxima vez você não pensa que é melhor.

-Ih, olha lá Valéria! São eles!

-Sai pra lá, deixa eu ver – empurra a Janete – É, parece que são.

-Oi – cumprimentou o Bill sorrindo.

-Que cabelo é esse meu filho?  Tá achando que isso aqui é a África? Abaixa essa juba se não o povo vai achar que você esta escondendo drogas!

-drogas?

-É, drogas, bagulho, pó, dá tudo na mesma!

Bill não entende e fica olhando espantado pra Valéria, enquanto o Tom se mete na muvuca do pagode.

-Que que é? Gostou do que viu? Então vamos logo, abaixa essa crista. – fazendo mímica – Isso abaixe essa juba! Pute ite doun –Bill começa a tentar imitar – Ah, não! Para! Que isso? Tá parecendo um macaco se coçando! Deixa que eu ajeito pra você – Valéria ajeita o leãozinho.

-Valéria, você não se esqueceu de uma coisa?

-Quê que foi Janete, fala logo tranqueira!

-Tá se esquecendo de me apresentar pra eles, eu também quero entrevistar.

-Mas nem morta eles querem te conhecer Janete, vê se ressuscita! – Valéria começa a rir – Ai como eu to bandida!

-Valéria, você tá me bulinando!

-Ok, Janete, pode entrevistar. Começa aí vai.

-Certo. Qual o nome de vocês?

-Peraí Janete, que pergunta chinfrim foi essa? Deixa que eu pergunto então – olha para o Tom – Quê que você tá fazendo aí seu alemão safado? Vem cá que eu vou te entrevistar!

-Eu? Não era o meu irmão?

-Eu não to vendo ele, então serve você mesmo.

- Ele está ali – aponta.

Bill estava do outro lado do vagão cantando o funk dos pôneis malditos.

-“Pôneis malditos, pôneis malditos...” (8)

-Mereço, vou ter que andar até lá pra buscar ele. Só falta o que? Ele vir montado num pônei! –rindo – Ai como eu to bandida!

-Vamos lá Valéria – puxando a amiga.

-Vai lá você, eu vou gritar ele daqui, acha que eu sou besta? Ô VOCÊ AÍ DO PÔNEI, VEM PRA CÁ COLEGA! VOCÊ NÃO, O DE PRETO ALI! ALI MEU FILHO, VOCÊ É DALTÔNICO? CHAMA ELE LÁ PRA MIM VAI COLEGA! Ô BILL!  ISSO, VOCÊ MESMO! E NÃO FINGE QUE NUM ME CONHECE NÃO!

Bill, assustado, obedece.

-A tia Valéria quer saber: é seu irmão mesmo ou você descoloriu o Bob Marley?

-O Tom? É meu gêmeo.

-Engraçado, vocês dois não se parecem. Vem cá, tu não tem uma banda colega? Como é que chama mesmo? Tô no motel? Tô com pastel?

-Tokio Hotel.

-Isso mesmo. E quem é que toca contigo?

-Meu irmão, o Gustav e o Georg.

-Você quis dizer Jorge né?

-Não, eu falei Georg!

-E o que eu disse?  Não se acanhe, eu conheço um bando de Jorge, não é nome de pobre não! É até bonito porque é nome de santo.

-Que nem São Jorge, né Valéria? Aquele que matou o dragão.

-Pois é Janete, só que tu ele ainda não deu jeito de matar – rindo.

-O que Valéria?

- Esquece Janete. Próxima pergunta: aonde é que fica a Alemanha? Tenho que pegar que trem pra chegar lá?

-Fica na Europa.

-E onde é isso?

-Ô Valéria, eu acho que a Europa fica encima da África.

-É mesmo Janete? E ainda bem que a sua cabeça fica encima do pescoço.

-É sim Valéria, eu vi isso na TV.

-E tem TV na sua casa? – rindo – Ai como eu to bandida e maléfica! Ô colega, chama o plágio do Bob Marley pra mim – empurra o Bill –Vai, anda!

-Vamos entrevistar ele também?

-Ele e as tranças dele Janete! Se tiver tempo eu entrevisto até os piolhos também.

-Piolhos?

-Você já viu o tamanho daquelas tranças Janete? Dá pra brincar de Tarzan se pendurando ali Janete!

-Então ele é o Tarzan, Valéria?

-É, e você é a macaca Xita!

-ah, e você é o que Valéria?

-Que isso, Janete, tá tirando com a minha cara é?

-Mas você disse que ele era o Tarzan!

-Não, era só brincadeira!

-Ah, tá... Achei que você estava me bulinando Valéria.

-Eu te bulinando Janete? Eu to bulinando é pobre da macaca Xita – olha para o Tom – Mais que demora ein? Ô COLEGA! CHAMA ESSE CABELUDO AÍ! ESSE MESMO, QUE PARECE O BOB MARLEY! CHAMA ELE PRA CÁ. Ô COLEGA, EU TENHO QUE TE ENTREVISTAR!

Tom balança a cabeça pros lados dizendo não e aponta para as garotas dançando pagode ao redor dele.

- VOCÊ PREFERE QUE EU VÁ AÍ?

Tom levanta o dedo do meio.

-AH, SEU ABUSADO! SAIA DA MINHA FRENTE JANETE! – atropela a Janete.

-Ei, Valéria, eu to aqui.

-Estava! Dá licença colega! Abre espaço moço, tira a sua pança da frente – Valéria abre espaço entre as pessoas, chega até o Tom e joga os cabelos nele.

-SEU BOB MARLEY OXIGENADO EU DISSE QUE TENHO QUE TE ENTREVISTAR E VOCÊ SERÁ ENTREVISTADO!

-Ah, qual foi! Vai se ferrar!

-VAI SE FERRAR VOCÊ, QUAL É TÁ ME ESTRANHANDO É? POIS ENTÃO VÁ SE FUDER, VAI TOMAR NO CU E VAI PRO MOTEL COM ESSAS VAGABUNDAS. ISSO AQUI É UM VAGÃO DE RESPEITO, TÁ PENSANDO QUE TÁ AONDE? QUER SABER? EU NÃO PRECISO TE ENTREVISTAR, O LUAN SANTANA TÁ NO VAGÃO DO FUNK! – dá as costas e sai pisando fundo.

-Valéria, e agora?

-E agora o que Janete? Você não viu que o alemão foi arrogante? Quer que eu entreviste o que mais?

-Então a gente vai pro outro vagão entrevistar o Luan Santana?

-Não, o outro vagão tá muito cheio Janete, vamos descer nessa estação mesmo e pegar uma combe por sua conta.

-Vamos então Valéria.

-E o big tudo você também paga, junto com um copão de açaí ali no tio da esquina que parece com o Michel Teló.

-Eu não sei se estou com dinheiro Valéria.

-Então joga a maldição da sua cara feia nele que você consegue um desconto, Janete.

-Você me acha feia Valéria?

-Eu não, os meus olhos! – rindo- Ai, como eu to bandida e maléfica!!

                                          Fim.