Marie estava seguindo com o plano normalmente quando o viu.

Os cabelos escuros bagunçados, a postura relaxada de sempre, os braços cruzados rente ao peito, recostado sobre o capô de seu porsche conversível prateado.

Mas como ele...?

Lendo os pensamentos dela, ele sorriu. Com um dedo, chamou-a para perto, sem desmanchar o sorriso sedutor. Marie praguejou baixo enquanto passava pela multidão de estudantes no estacionamento, mas sabia que ele poderia ouvi-la.

— O que você está fazendo aqui? O plano era eu me matricular e depois de semanas você viria, para ninguém nos relacionar!

— Ah, sobre isso... Eu estive pensando bem, mon cherie, e descobri que não posso ficar afastado de você por muito tempo. — ele segurou o queixo dela com uma mão, aproximando-o de seu rosto. — E, para ser franco, acho que nem quero.

— Pare com isso. — ela o afastou, limpando o rosto onde ele a tocara, como se tivesse sido infectada por um verme. Os olhos dele ficaram sombrios de repente, e ele se inclinou para mais perto, sem se afastar do carro.

— Olhe aqui, minha cara companheira: você querendo ou não estamos juntos nessa, e você irá me ajudar a encontrar quem procuro, fazendo isso do meu método.

— Se você ao menos me informasse quem devo procurar...

— Ora, isso é muito simples! — ele gargalhou, como se Marie acabasse de lhe contar uma piada. — Há uma energia diferente na pessoa que procuro, você só tem que ficar perto quando sentir esta energia.

— Isso é tudo? — ela bufou, insatisfeita com a informação que recebera.

— Sim. Pode ir agora. Misture-se, enquanto eu convenço algum subalterno que já estou matriculado aqui. — ele franziu o nariz e fez um gesto que indicava que Marie deveria se afastar. — Ah, e mais uma coisa. Fique de olho num garoto chamado Morris. Lucas Morris.

— Vou me lembrar disso.

— Leia as mentes e encontre ele. Mas seja rápida, vamos!

— Eu não sou um cachorrinho. — ela rosnou, afastando-se dele.

Nunca, em toda sua vida, algum cara a deixava tão confusa e irritada como ele a deixava.

E ela nem sequer sabia seu verdadeiro nome.

Foi fácil encontrar Lucas. Ele era um desses garotos fofos e inteligentes — e, consequentemente, calados — que as meninas adoravam e se apaixonavam facilmente. E além disso era alto. Marie deu seu mais encantador sorriso, pronta para flertar com ele. Seria uma conquista fácil, pois a transformação em vampira ressaltara suas feições e ela sabia o quanto era bonita. E Lucas era atraente, então ela teria certo prazer e diversão nisso.

Por sorte, eles teriam a primeira aula do dia juntos — biologia, ela percebeu, vasculhando a mente dos outros alunos. Marie sentou-se em uma das carteiras próximas a Lucas, fingindo-se de tímida, para que eles tivessem algo em comum para um começo de conversa.

— Oi. Eu sou Marie, sou nova aqui. Você é...?

— Lucas. — ele sorria naturalmente enquanto conversava, talvez porque seus lábios eram grandes. — Hum, seja bem-vinda. Acho que vai gostar daqui.

— É, quem sabe. — Marie sorriu, concentrando-se nos pensamentos do garoto a sua frente. Sua mente era meio confusa. Tinha algo sobre séries, desenhos, jogos, internet e uma garota. (Sempre tinha que haver uma garota?) Michelle Layne. Ah, ficou óbvio o quanto ele gostava dela, e o quanto era covarde para tomar uma iniciativa, ficando sempre na sua, fingindo que não a notava, mas olhando para ela disfarçadamente, desviando o olhar quando ela o olhava também. Bobo demais para perceber que era correspondido, ele preferiu se isolar, falando pouco com Michelle, apenas sobre assuntos do cotidiano. Marie revirou os olhos mentalmente, entediada. Como posso ficar de olho diariamente nesse cara se ele já está apaixonado por outra e é tímido demais para se envolver com uma garota?

Marie abriu a boca para dizer algo engraçado, mas um dos nerds contou uma piada e o grupo começou a rir, então ela riu também, sem saber o assunto. Parecia um bom começo, rir do que os garotos riam. Talvez eles a achassem parte do grupo.

Mas ela não queria ser uma nerd, queria?

Ela nunca foi esse tipo de garota. Sempre se afastara dos nerds, como se fossem seres repugnantes, namorando e flertando com jogadores que pudessem elevar seu status escolar. Mas agora precisava ficar de olho em um deles, então era melhor mudar as coisas.

Do que esses babacas estão falando? Ela parou de rir, mas continuou sorrindo, não exageradamente, mas de uma forma natural. Garotos adoravam garotas divertidas e que viviam sorrindo.

— O professor de biologia é muito inteligente. — comentou um dos nerds, olhando para ela fixamente. — Você vai gostar muito dele.

— É mesmo? Eu tenho certeza que...

Ela se interrompeu quando sentiu uma presença nova no ambiente — a presença dele. Estavam tão conectados ultimamente que era fácil reconhecer sua chegada. Ela vasculhou a mente de quem estava mais próximo dele, sem desviar o olhar de Lucas, e ficou surpresa ao ouvir um nome diferente vindo de uma garota de personalidade incrivelmente insegura.

A garota, ela notaria mais tarde, era Michelle Layne.

Louis Delacroix.

Ora, ora. Parece que meu querido cavalheiro tem um nome. Ela sorriu mentalmente, esperando que Cam (talvez devesse chama-lo de Louis agora) ouvisse. Ela sabia que ele ouviria, ele não seria tão descuidado a ponto de não nota-la ali.

E bingo!

Louis e a garota que o acompanhava olharam para o fundo da sala, para ela e Lucas. A garota arregalou os olhos e Marie deu uma risada baixa ao perceber o que se passava em seu interior. A garota, Michelle, estava apaixonada por Lucas (como todos podiam perceber se parassem de pensar em si mesmos e notasse mais as outras pessoas a sua volta... humanos são tão idiotas!) e seu coração se apertou ao ver outra pessoa — Marie — se divertindo com seu objeto de afeição.

Ah, isso seria divertido.

Lucas e Michelle se olharam, ambos surpresos demais para sorrir ou dizer qualquer coisa. Michelle impulsivamente agarrou a mão de Louis e sorriu, indo para seu lugar com ele. Marie fuzilou-a com o olhar, sentindo um pouco de inveja.

Ou talvez não.