Michelle não queria voltar às aulas.

Além do óbvio (ela é uma adolescente, adolescentes odeiam escola), ela não queria encontrar ele.

Na verdade, ela estava passando por sua maior batalha interna, ao mesmo tempo querendo vê-lo e querendo ignorá-lo o dia todo.

Ela queria fingir que ele não significava nada para ela, que nem o notava.

Mas é claro que ela notava ele.

Todos notavam o tímido Lucas Morris: um metro e noventa, cabelos castanhos lisos, olhos negros e profundos, ótimo com informática e humanas, mas péssimo com exatas — no que, por ironia do destino, Michelle era ótima. Suas feições lembravam Angus T Jones, típico daquele garoto que cresceu demais. Se Michelle tivesse que escolher uma palavra para descrevê-lo seria fofo.

Era quase impossível não se apaixonar por ele. O jeito de garoto tímido conquistava-a cada dia mais.

E não era só ela que era conquistada pelo sorriso bobo de Lucas.

Mas agora era um novo ano e ela estava determinada a ignorar completamente Lucas, na esperança de que ele percebesse que estava apaixonado por ela.

E foi com esse pensamento que ela terminou de se maquiar, vestiu seu suéter lilás e foi para o carro do irmão, que lhe dava carona desde que tirara sua carteira de motorista — Michelle não gostava de dirigir.

A pior parte do colégio era com toda certeza as líderes de torcida (Michelle sabia que no fundo só achava isso porque nunca foi escolhida para ser uma) e os jogadores que se achavam os gostosões. E eles eram mesmo gostosões, mas humildade não fazia mal a ninguém.

Michelle desceu do carro, soprou um beijo pro irmão e caminhou para a entrada da escola, ignorando todos a sua volta, como se não visse nada além do cenário. Ela sabia que quase ninguém a notava, pois não era muito popular e nem muito bonita — cabelos castanhos sedosos e comuns, olhos azuis, um metro e setenta, magra e pelo menos tinha peito e bunda —, mas sentia todos os olhos fixos nela, como se estivesse com a calça manchada ou coisa pior.

Seguiu seu caminho, olhando para frente, como se não ligasse para ninguém a sua volta. Parou ao chegar na secretaria, onde um garoto novo discutia com a secretária gorda. O garoto era um pouco maior que ela, cabelos negros e olhos escuros, corpo atlético, com um sotaque carregado de francês. Ela ouviu alguns palavrões; a impaciência na voz do garoto estava clara.

— Eu já disse. Eu trouxe os papeis com antecedência, você deve ter perdido.

A secretária olhou bem nos olhos do garoto novo por alguns instantes e então sorriu, como se lembrasse-se de algo subitamente.

— É verdade. Estão aqui. Que cabeça a minha! Me desculpe, senhor Delacroix, e aqui está seu horário! Tenha um bom primeiro dia!

— Obrigado. — o garoto sorriu, exibindo dentes perfeitamente alinhados e brancos. Virou-se para seguir seu caminho quando viu Michelle em sua frente, com olhos arregalados. Ela imaginou o que ele pensaria dela, estando ali feito uma retardada, ao invés de seguir seu caminho. — Olá?

Sorria, idiota, sorria. Já que ele a viu, o que deve fazer agora é interagir.

— Oi. — ela sorriu levemente, esperando que sua aparência fosse ótima e ele não a achasse uma babaca. — Você é novo aqui, não é? Eu sou Michelle Layne. — ela começou a estender a mão, mas deteve-se, apenas acenando.

Definitivamente, ele vai me achar uma retardada.

— Eu sou Louis. Louis Delacroix. — ele se aproximou mais dela, pegando sua mão e levando aos lábios. — É um prazer conhece-la, Michelle.

— E-eu posso ajuda-lo com seu horário, Louis. — Michelle segurou o papel contendo o horário escolar do garoto e sorriu. — Nós temos quase as mesmas aulas. Começamos com biologia, é logo ali. — ela apontou para a primeira sala do corredor. — Eu posso te acompanhar, se você quiser.

— Parece uma ótima ideia. — o sorriso de Louis era caloroso. Michelle gostava de sorrisos assim, mas logo desviou o olhar. Não se permitira apaixonar por outro cara com sorrisos bonitos.

— Venha comigo.

Os dois caminharam lado a lado, sem conversas. O braço de Louis roçava no dela, mas ambos fingiram não notar. Andar ao lado dele dava a Michelle um pouco de adrenalina, acelerando seu coração. Ela tentou não pensar isso no momento, mas mais tarde lembraria de detalhes que não notara no momento, como que o sobrenome de Louis era francês e ele tinha um leve sotaque, ou o olhar vago dele.

Vago demais para um adolescente que iniciaria seu último ano letivo em uma escola nova e deveria estar ansioso.

— Há outra aluna nova este ano. — Michelle se ouviu dizendo. Uma estúpida tentativa de puxar assunto. — Marie Check. Eu ouvi falar dela, meu primo dá aulas de trigonometria aqui e ela está na turma dele. Mas não ouvi falar de você.

— Talvez não tenha prestado atenção.

— É, talvez.

Louis sorriu uma última vez para ela antes de entrarem na sala de aula. O professor ainda não chegara, então a classe estava em uma das típicas guerrinhas de aviõezinhos de papel, com os nerds mais atrás, calados enquanto liam seus livros. Era lá que geralmente Lucas ficava, sem dizer nada, tímido demais pra qualquer coisa. Michelle varreu os olhos pela sala, procurando por seu objeto de afeição, imaginando que ele estaria virado para trás conversando com um de seus amigos nerds, ou então apenas em silêncio, fitando sua carteira interessante demais para ele sequer olhar para ela. Quando o viu, quase não o reconheceu. Na verdade, seu subconsciente sabia que era ele. Ninguém mais teria tal fisionomia, o que fazia a escola — senão a cidade — toda saber quem ele era. Mas ela não quis acreditar no que via.

Sentado em sua carteira de sempre, estava Lucas, virado para trás conversando com uma garota loura, rindo alegremente. Michelle sentiu um jorro de inveja por seu corpo. Ela quem deveria estar ali, não a...

Ah, mas é claro! É claro que Lucas tinha que estar conversando com a garota nova!