Kiss And Bite. escrita por momsenwestwick


Capítulo 3
2 (dois)


Notas iniciais do capítulo

tentei mostrar um pouco da vida "dele"- que ainda não sei o nome q



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/173173/chapter/3

O garoto de cabelos negros estava no telhado de seu atual prédio. Ele gostava da vista; sentia-se poderoso, o dono de tudo. Gostava de ver tudo de cima, inclusive sua cidade. Mas não fora por isso que ele subira lá.

Ela.

Ele não sabia ainda por que se importava. Ele não devia sentir absolutamente nada por ela. Nada além de desejo.

Fazia tanto tempo...

Ele se lembrava da primeira e última garota pela qual se apaixonara. Fora realmente há muito tempo, quando ele tinha sido amaldiçoado — tinha sido criado para essa nova vida. Quantos anos ele tinha mesmo? Dezessete? Dezoito? O que isso importava? Acontecera há mais de mil anos... Mas sua mente funcionava bem para datas.

15 de janeiro de 1015 d.C.

Ela não tinha cabelos dourados como os de Marie (isso era um dos motivos que o fazia questionar sua atração pela garota) e nem olhos verdes. Não, seus cabelos eram castanhos escuros e os olhos eram negros. Ela era uma garota de família e ele era um garoto que se dera bem na vida depois da morte dos pais. Era certo que ambos se casariam — negócios de família — então ele não se importava muito em tentar seduzi-la ou conquistá-la.

E ele a desejava, oh, como a desejava. Foi a primeira garota que desejou tanto na sua vida — na sua atual existência amaldiçoada — e não sabia se isso ia passar. Mais forte que o desejo era sua sede insaciável.

Mas ele ainda não tinha descoberto isso.

Ele se lembrava perfeitamente do nome dela — Mademoiselle Chloé.

Só o nome ainda despertava tais emoções dentro dele.

Quando fora amaldiçoado, ele sabia que sua vida seria diferente — sabia que não poderia ser digno de ter ninguém para amar, que tudo lhe seria tirado. Só não sabia que poderia ser tão cruel.

Era uma história meio comum: a garota dos seus sonhos, ela te ama, e isso é tão incrível que você agradece a Deus todos os dias. Ela é nobre, ela é prendada, gentil e lhe recebe com um beijo carinhoso quando você chega do trabalho.

Mas tem um porém: ela envelhece e morre e você não.

Ah, se ele soubesse que seria assim... Mas ele não teria como, ou teria?

Talvez eu devesse imaginar que teria um preço a pagar.

Aconteceu num dia qualquer: ele chegou em casa do trabalho e antes que batesse a porta sua mulher estava do seu lado, dando-lhe um beijo na face. Ele tira o casaco e o dá a ela, que o guarda com carinho e vai cozinhar. Enquanto ele lia, ela olha sonhadora pela janela e faz uma pergunta inesperada:

— Por que você não envelheceu?

A primeira reação é discordar; mulheres sempre se consideram mais velhas do que aparentam, e o dever do marido é dizer que estão lindas e maravilhosas. Mesmo depois de vinte anos de casados.

Mas antes de responder, ele teve uma outra reação: foi se olhar no espelho. O que viu, quase o matou de tanto choque — se ele pudesse morrer, é claro.

Nenhuma ruga.

Nenhum cabelo branco.

Nenhum cabelo faltando.

Nenhuma mudança na aparência.

Quando olhou para sua mulher, ele entendeu a pergunta: ela estava mais baixa, mais gorda e mais velha. Não tão velha, mas ele podia ver algumas rugas no canto dos olhos e podia ver cabelos mais claros que sua cor natural.

Ele não podia envelhecer.

Ele nunca envelheceria.

E ela definharia até morrer.

Ele não se lembrava da resposta que dera, mas se lembrava de recorrer à bruxa que o amaldiçoara. Estava desesperado, querendo uma salvação. Queria envelhecer com sua mulher, queria que ela fosse como ele. Não queria perdê-la.

— Você não pode ficar com ela. Não pode ficar com ninguém. — a bruxa lhe disse, num tom natural, como se falasse de suas alfaces novas. — Você verá todos que ama definhar e morrer, enquanto você viverá para sempre.

Para sempre.

Ele nunca odiou tanto alguém na vida quando odiou aquela mulher. Ah, como ele a odiou. Ele queria arrancar-lhe o coração naquele exato momento, mas não podia. Ele não queria ser um monstro.

Naquela época, ele ainda ligava para isso. Mas agora não.

Não ligava para nada desde que sua mulher se fora.

Eles tiveram que se mudar logo, as pessoas já estavam comentando. Mas ela não durou  muito tempo. Um dia, trabalhando numa tapeçaria, Chloé se cortou sem querer, um corte profundo. Ele estava em casa — se arrepende disso até hoje, embora não admita — e correu para ajudá-la, para tentar curar o ferimento. Ele já a achava tão frágil...

Colocou o corte na boca e chupou. Sorriu para ela, mostrando que não ia doer mais. Ela sorriu de volta. Mas a sede dentro dele foi despertada. Ele se viu querendo mais e mais. Levou novamente o corte a boca e sugou. Sugou até não haver mais nada. Ele nem ouviu os gritos da mulher, não. Ele só queria se saciar. Demorou a perceber que o corpo flácido de Chloé caíra em seus braços.

Quando perdeu Chloé, ele assassinou a bruxa. E desde então se desligou dos sentimentos e emoções humanas. Emoções deixam fraqueza e ele não queria ser fraco.

Não mais.

Durante séculos, ele usara as mulheres para seu bel-prazer, seduzindo-as e saciando sua sede com elas. Algumas vezes ele encontrava semelhanças com Chloé, mas ignorava isso. Ele só queria saciar sua sede. Nunca cogitou sequer transformar uma delas — ele nunca se importou.

Até conhecer Marie.

Ele não sabia por que sentia-se atraído por ela; não era nem um pouco parecida com Chloé, nem física nem emocionalmente. Enquanto Chloé era gentil e educada, Marie era mimada, convencida e arrogante. Porém — ele demorou a perceber isso — Marie era frágil como Chloé um dia fora e isso despertou um interesse nele.

Mas só momentaneamente. Ele só queria a garota para luxúria e para massacres.

Era isso que ele dizia toda noite.

Amar traz destruição.

Um dia ele se arriscou e saiu com Marie. Foi um encontro agradável, mas eles não se beijaram nem nada. Antes que ele pensasse em fazer qualquer movimento, enquanto voltavam para casa, eles foram assaltados. Ele lutou bravamente com o assaltante — a presa era só dele, de mais ninguém — mas Marie levou um tiro. Quando ele percebeu que seu sangue estava perdido, teve uma ideia absurda: deu seu sangue a ela para tentar curá-la, assim ela teria algum tipo de sangue no corpo e ele poderia matar a sede.

Mas o sangue dele só transformou a garota, que acabou assassinando um casal de idosos para saciar sua sede.

Vendo o quão perigosa sua garota ficou, ele assassinou os pais dela e a obrigou a sair da cidade com ele. Eles não podiam ficar por perto, era suspeito demais.

Ele ensinou tudo que sabia à Marie. Estava gostando de ter uma companheira, mas pensou que ter um exército seria melhor. Ele seguiu-a quando ela voltou à sua cidade natal para uma visita — para um banquete — com o objetivo de criar mais de sua espécie enquanto ela passeava. Mas não conseguiu. Ele viu como o comportamento dela estava, então não criou ninguém.

Mas Marie não sabia disso. E nem saberia, se dependesse dele.

Resolveu então que lidaria com ela, e apenas com ela. Odiava comportamento de adolescentes e imaginou como seria irritante lidar com dezenas de vampiros adolescentes. Ele gostava de ter Marie por perto; as outras garotas eram deliciosas e não aguentavam uma noite na cama com ele. Mas Marie aguentava — talvez porque eles fossem da mesma espécie.

Mas ele ainda não estava pronto para amar alguém de novo, não. Ele prometeu jamais sentir nada por ninguém.

Seu plano era simples: acabar com todas as descendentes da bruxa que o amaldiçoara — e havia uma delas na escola da cidade em que ele estava.

Ela seria exterminada, todas elas.

E então a maldição acabaria.

Talvez ele morresse, talvez não.

Mas estava disposto a correr o risco.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kiss And Bite." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.