Kiss And Bite. escrita por momsenwestwick


Capítulo 2
1 (um)




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— Você não devia fazer isso, de jeito nenhum! — bufou Marie, impaciente, cruzando os braços. — Acha que as pessoas não vão notar o corpo morto e associá-lo à nós?

— Você se preocupa demais, mon cherie. — o garoto de cabelos escuros riu, abotoando a camisa de flanela — Em primeiro lugar, a polícia já deve ter encontrado o corpo de nossa vítima e, se não encontraram, ninguém liga para o corpo de um criminoso, entendeu? Você tem tanto a aprender...

— O seu nome verdadeiro, por exemplo. — ela observou, sem descruzar os braços. — Vamos lá, estamos juntos há tanto tempo...

— Algumas semanas. — riu o garoto.

— ... e você nem me disse seu nome verdadeiro! Não acha que eu mereço esse gesto de confiança? Olha tudo que fiz por você!

Marie não estava falando só das últimas vítimas: ela literalmente deixou tudo e todos que amava para seguir sua nova “vida” com o garoto que nem ao menos lhe dizia seu nome e, embora isso fora em parte porque ele destruíra tudo que ela possuía, ele lhe devia pelo menos confiança.

— Tem razão. — admitiu ele, sorrindo. Marie surpreendeu-se, mas não demonstrou, embora ele pudesse ler sua mente e saber tudo que ela sentia. O garoto se virou para ela e segurou seu rosto com as mãos. — Eu lhe devo isso. E você saberá meu nome, em breve, mon cherie. Na hora certa.

Estava fácil demais, eu devia ter suspeitado. Marie se afastou do garoto, ficando de costas para ele. No fundo, ela sabia que ele não se importava muito com ela.

— Por falar nisso, as pessoas dessa cidade já esqueceram tudo sobre nós, então não tem com o que se preocupar. Eu já mudei de nome tantas vezes que até me perco. — ele riu com sua piada particular — Você tem sido uma garota tão boa...

Marie passou a mão pelo pescoço, ainda sentindo as mãos dele em sua pele. Por alguns instantes, ela considerou que ele fosse matá-la, mas ele nunca faria isso — não, ela era preciosa demais para ele, só não sabia por quê.

— O plano é o seguinte: você se matricula na escola como uma garota do interior, o que você já foi, e eu me matriculo alguns dias depois. Simples. Ninguém vai descobrir nossa ligação. — ele se virou para ela, depois de abotoar a camisa — A menos que você conte.

— Eu nunca faria isso. — ela disse, sinceramente. Se o coração dela batesse, Marie sabia que estaria acelerado. —  Você sabe, as pessoas notam algumas coisas, assim como nós. Vão notar que temos “alguma coisa”.

— Então é isso que nós temos para você? — ele fingiu-se de magoado, o que Marie sabia que ele não sentia há décadas.

— Vão notar olhares e essas coisas, sem contar que você vai saber tudo que eu sinto. — continuou ela, fingindo não tê-lo ouvido.

— Pensarão que estamos namorando e sentirão inveja. Isso é tudo que adolescentes pensam hoje em dia. — ele suspirou, passando a mão pelo rosto de Marie. Seu olhar estava distinto e Marie sabia, por experiência própria, que ele estava se recordando de épocas passadas.

— Então combinado. Mas qual será o nome que você vai usar dessa vez?

— Cameron. – ele sorriu, voltando para a atualidade rapidamente. Era quase como se não estivesse no passado. Quase. — Vou usar o nome da vítima. Como era o sobrenome mesmo? Check?

— Algo assim. Já providenciou os papeis? Quero dizer, precisamos de documentos, não é?

Mon cherie, às vezes você se esquecesse de que estamos na atualidade. — ele deu uma gargalhada grave, dessas que Marie adorava. — Controle mental. Não precisamos de mais nada.

Marie virou o rosto para a janela, tentando não demonstrar o quanto estar errada a irritava profundamente. Cameron — ou seja lá que nome ele tivesse — agarrou-a por trás e jogou-a na cama, ficando com o rosto a centímetros do dela. Marie gostou disso, embora tentasse não demonstrar.

— O que eu posso fazer com você? — ele sorriu, colocando os cabelos dela atrás da orelha. Suas presas estavam expostas e Cameron roçou-as nas bochechas e depois no pescoço dela. — Saborosa. Se estivesse viva. — ele mordeu-a, fazendo-a gemer. Ele sabia que Marie sentiria dor se não estivesse morta. — Mas mesmo assim, saborosa. Eu diria que de outra forma. — ele ergueu o rosto para olhar nos olhos dela. A sede era insaciável.

— Você me assusta às vezes.                                            

— Eu sei. — ele pressionou os lábios nos dela, mordendo sua língua. Suas mãos exploravam o corpo da garota e o desejo aumentava cada vez mais.

— Serviço de quarto. — murmurou Marie — Cinco segundos. Melhor parar.

Cameron falou um palavrão em francês e saiu de cima de Marie. Passou a mão pelos cabelos e abriu a porta, antes mesmo que a camareira pudesse bater. Cameron fez um sinal para que Marie o acompanhasse e deixou o quarto.

— Aonde vamos? — perguntou ela. Marie desejava poder ler a mente dele como ele lia a dela.

— Comer, querida, comer.

Marie tinha bons motivos para permanecer ao lado de Cameron (ela já desistira de tentar adivinhar o nome verdadeiro dele). Ela podia se lembrar perfeitamente de como ele a ajudara e salvara. Enquanto esperava Cam trazer a comida, Marie se recostou na árvore mais próxima e cruzou os braços, assumindo um ar indiferente.

Ela estava tentando fugir dele quando aconteceu. Por experiências anteriores, ela sabia que não devia depender de ninguém — especialmente um garoto bonito e arrogante — e ela também sabia que Cam era exatamente esse tipo de garoto. Ele ia usá-la e quando se cansasse a jogaria feito lixo.

Mas ela estava cansada de ser usada e jogada.

Era uma noite fria, não que ela pudesse sentir isso, mas se fosse humana — ou melhor, se fosse viva — ela estaria congelando. Marie sempre adorara o frio, ainda mais quando se tinha um namorado para aquecê-la.

Não que, é claro, ela pudesse ser aquecida agora.

Marie lembrava de sentar-se num daqueles bancos de praça que sua antiga cidade tinha. Ela afastara os cabelos do rosto — aqueles cabelos incrivelmente dourados que eram seu maior orgulho — e começou a pensar em estratégias para fugir de seu novo companheiro e criador (ela odiava pensar nele assim).

Seu primeiro sentido a ser ativado foi a audição. Ela ouviu os batimentos cardíacos (o primeiro sinal de que era alguém vivo) e os passos. Depois sentiu o cheiro do sangue e aspirou. Se concentrou nas mentes mais próximas e quase pode ver o rosto conhecido.

Era seu ex-namorado humano.

Argh.

O primeiro movimento dela foi instintivo e tão humano que lhe deu repulsa, posteriormente, ao se lembrar disso. Ela tinha abaixado a cabeça para ignorá-lo, como se estivesse envergonhada. Depois um pensamento invadiu sua mente: Ele é minha presa. Eu não vou ficar envergonhada diante da presa. Isso foi suficiente para que Marie se levantasse e andasse na direção dele, que estava a bons quinhentos metros de distância. Isso era bom; iria parecer um acidente quando eles se esbarrassem.

Ela andou distraída até ele — um humano pensaria assim ao vê-la. Marie estava concentrada em fingir distração e sorriu mentalmente quando se viu vitoriosa: ela esbarrou nele.

Pedir desculpas foi seu primeiro ato de reflexo. Era tão humano que ela sentiu orgulho de si mesma. Ela ouviu a si mesma dizendo:

— Ah, meu Deus, eu sinto muito! Eu nem te vi e...

— Marie?

Ela sorriu mais uma vez mentalmente. Sim, ele a reconhecera.

— Leopold? — ela fingiu surpresa e esperou que sua voz soasse mais dependente possível. — Eu não te reconheci de imediato...

Você continua a mesma — ela odiou ouvir isso de sua mente e teve de segurar-se para não pular em seu pescoço imediatamente.

— Você quer dar uma volta? — ela se ouviu perguntando em voz alta. Isso soou tão humano...

— Claro. Uma volta. — ele deu um risinho egoísta que ela bem conhecia.

Marie colocou as mãos nos bolsos de sua blusa de moletom e caminhou lado a lado de Leopold, tentando parecer o mais casual possível. Ela podia sentir as emoções do ex-namorado – ele estava orgulhoso por tê-la “conquistado” novamente e aos olhos dele ela parecia indefesa e insegura.

Marie teve de segurar o riso ao captar esse pensamento.

Eles andaram em silêncio até chegar a um beco escuro — o lugar perfeito para um acidente... Marie permitiu-se dar um sorriso vitorioso. Estava ficando cada vez mais fácil.

— Sabe, Marie, você me parece igualzinha à garota que conheci anos atrás.

Ficaria surpreso. Ela sorriu para si mesma, lambendo os lábios.

— Eu discordo de você nesse aspecto.

— Ah, fala sério! — ele riu, segurando a mão dela. — Tão insegura e delicada... Você não mudou nada.

— Tem certeza? — ela disse. Sua voz transformara-se em um rosnado e as presas estavam crescendo. Ela jogou Leopold contra uma parede e prendeu-o ali com um braço em seu pescoço. – Eu tomaria mais cuidado se fosse você.

— O que diabos é você? — ele perguntou, os olhos arregalados de surpresa.

— Diga-me você.

Ela cravou as presas na carne dele e sentiu a explosão escarlate em sua boca. O sangue transbordava da artéria para o interior de sua boca, causando em Marie uma sensação de prazer e em Leopold, dor. Marie fechou os olhos e, segurando-se no ex-namorado, rasgou ainda mais sua carne, abrindo um buraco que permitiu que ela bebesse mais.

— Marie, Marie. Estou decepcionado com você.

Ela abriu os olhos e virou-se para trás. Lambeu os lábios, limpando o sangue que escorria deles, e viu Cameron (que na época não informara seu nome a ela) sorrindo atrás deles. Seu rosto estava escondido pelas sombras, mas os olhos assumiram um brilho vermelho inconfundível.

Você. — ela rosnou, deixando o corpo de Leopold cair no chão.

— Surpresa? — ele riu, um som grave e delicioso. Marie odiava admitir, mas adorava a risada dele. — Como eu disse, estou decepcionado. Você resolve visitar sua antiga cidade, ver antigos amigos — ele apontou para Leopold com o queixo — e deliciar-se com o banquete sem me convidar? Eu, que mudei você? Isso me magoou profundamente. — ele pousou a mão onde deveria estar seu coração.

— Sinto muito. — ela passou as costas da mão nos lábios, limpando o sangue.

— Eu entendo. As primeiras semanas são muito difíceis, especialmente se você for uma adolescente com raiva. — ele balançou a cabeça, fingindo uma compreensão que Marie sabia não existir. — Mas me privar disso? Me magoou, Marie, e muito!

— Vocês são dois monstros. — gemeu Leopold, quase inconsciente.

Cale a boca. – ela rosnou, virando-se para ele — Seu humano inútil.

— Por que, Marie? Pensei que você e eu tínhamos alguma coisa.

— As coisas costumam mudar, Leo, e você sabe muito bem disso. — com uma velocidade sobrenatural, ela o encurralou novamente na parede e aproximou seu rosto do dele, as presas a centímetros de sua bochecha. — Você me usou e me humilhou, e ainda pergunta? Eu não sinto mais nada por você, Leo, além de uma fome insaciável. — ela roçou as presas no rosto dele, deixando arranhões leves. — Você o quer? — ela olhou para o garoto nas sombras, com um sorriso zombeteiro — Ele é todo seu.

Marie virou-se e andou a esmo, tentando ignorar a fome que crescia cada vez mais. Ouviu latidos e virou-se a tempo suficiente de ver Cam desaparecer. Então ela correu.

No dia seguinte, ela foi chamada na delegacia. Parecia que Leopold ficara consciente a tempo de avisar aos vizinhos que sua ex-namorada era um monstro e o atacara. Leo ficou na delegacia para sua própria segurança e sanidade, enquanto Marie fazia seu depoimento falso.

— Onde esteve na noite passada? — perguntou o delegado, andando ao redor dela. Marie estava presa a um identificador de mentiras.

— Na casa do meu namorado. — ela engoliu em seco, com raiva de si mesma por usar Cameron como um falso namorado. — Nós estávamos vendo uns filmes.

— E a senhorita tem algum álibi? — os olhos do delegado estavam no aparelho, esperando por uma mentira.

— Além dele próprio? Não.

— A senhorita sabe das acusações. — não era uma pergunta, mas ela assentiu. — Ainda tem sentimentos pelo jovem que se diz seu ex-namorado?

— Não. — ela disse, tentando soar mais normal possível. — Nenhum.

Ela olhou para a janela, sabendo que Cameron estava lá fora, divertindo-se com o interrogatório. Ele seria chamado depois, e ambos sabiam disso, mas para ele isso era tão divertido quanto assistir a comédias de Jim Carrey.

Marie também estava ciente de que o aparelho não sofreria alterações, porque seu coração não bateria nem seu organismo reagiria como os humanos à uma mentira — e para ela isso era um troféu.

— Muito bem, eu vou trazer a vítima aqui para ver suas reações. — disse o delegado e, com um gesto de comando, dois guardas abriram a porta e trouxeram Leopold, que usava uma camisa de força.

Ele reagiu exatamente como Marie esperava: sua expressão era de pavor e seu corpo tremia incontrolavelmente. Leo avançou na direção dela, suas mãos agarraram o pescoço de Marie, tentando sufocá-la.

— Você. Você. — ele repetia, freneticamente.

Mantenha a calma. Cameron murmurou na mente dela. E aja com naturalidade, como se você fosse de fato inocente.

Marie obedeceu, calmamente, suas mãos segurando as mãos de Leopold.

— Leo, acalme-se, Leo. Sou eu. — ela disse, numa calma tão impressionante que chegava a ser irritante.

— Você é um monstro!

Os guardas deram um sedativo a Leopold, que soltou o pescoço de Marie aos poucos. O delegado virou-se para ela enquanto Leopold era levado para fora da sala.

— Vamos ter de chamar seu namorado, está ciente disso?

Ela concordou. Sabia que Cameron faria um show para mostrar sua inocência.

E ele foi tão incrível nisso que Marie concluiu que segui-lo era a chave para sua segurança. Não era só isso; Cam era incrivelmente sedutor e um perfeito cavalheiro quando estava de bom humor e juntos Marie sentia que eles formavam uma boa dupla.

Embora ele a assustasse na maior parte do tempo.

— Você ainda está neste planeta?

Cam estava sorrindo, o que era ao mesmo tempo reconfortante e assustador. Só ele conseguia combinar as duas coisas.

— Estou. É claro que estou.

— Ótimo. Preciso de você aqui para nosso plano funcionar.

— É só para isso que precisa de mim? — ela fez uma careta. Cam passou os braços ao redor dela e puxou-a para mais perto.

— Sabe que não. — ele roçou as presas no pescoço dela — Mas agora realmente não é hora. Precisamos voltar para o apartamento. — ele ergueu dois sacos de sangue — Tome. Isso vai bastar por hoje.

Marie rasgou o primeiro saco numa velocidade indetectável aos olhos humanos e tão logo o abrira, já esvaziara o saco. Ela tirou o segundo saco das mãos de Cam e saciou sua sede, mas apenas por alguns minutos. Logo já estava faminta novamente.

— Sabe, às vezes eu adoro essa sua sede insaciável. — ele deu seu sorriso mais sedutor e se aproximou mais dela, deixando uma mão pousada em seu pescoço. Marie tentou não olhar, tentou não sentir uma vontade enorme de sucumbir à luxúria. — Ah, meu Deus, como você é tão sexy. Mon cherie, eu poderia fazer o que quero aqui mesmo, nesse exato instante... — seus olhos se tornaram mais escuros; Marie sabia que era pelo desejo (ela não sabia se ficava surpresa ou deliciada por despertar desejo nele) — Mas eu sou tão cavalheiro... Desculpe, mon cherie, mas eu tenho uma reputação.

Marie sabia que o único motivo para não arrancar-lhe a cabeça era porque ele era terrivelmente sexy. Isso e o fato de ele ser mil vezes mais forte, é claro.

— Você me usa. — ela sibilou, irritada.

— E você gosta, eu sei disso. — ele gargalhou, inclinando a cabeça para trás. Marie estava fervendo por dentro. Ela queria investir nele, queria arrancar-lhe a cabeça. Mas antes que pudesse agir, Cam estava com o braço em seu pescoço, bloqueando seus movimentos. — Eu só espero que você não tente isso de novo, ou as consequências serão graves. É, Marie, você subestima muito seu querido mestre. Só não se esqueça que para você eu sou Deus: eu te dei essa nova vida e posso muito bem acabar com ela. — ele rosnou um palavrão em francês e soltou-a. O pescoço dela doía; ela escorregou e caiu no chão enquanto ele saía.

Mas não foi o movimento que assustou Marie. Foi saber que tudo acontecera na cabeça dela. Cam não mexera um músculo para imobilizá-la; foram só imagens enviadas da mente dele para a dela.


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