Eu a procurei. Em cada espaço vazio. Onde os meus olhos podiam alcançar. Ela não estava lá. Até a grande multidão já havia diminuído. Havia ocorrido um tiroteio, um policial e o assaltante foram atingidos. Ouvia-se barulhos de sirene por todos os lados. Mas eu não a via, e isso de alguma forma me angustiava.

Aos poucos fui percebendo o que acabara de fazer. Havia pego um ônibus e corrido desesperadamente atrás de alguém que eu nem ao menos sabia se existia. Mas era tão real....

Voltei para casa. Precisava aprender matemática.

A ajuda da minha mãe não significou muita coisa. Como havia dito, ela era tão amiga dos números quanto um gato é amigo de um rato. No final desistimos dos estudos e fomos preparar algo para comer.

__O que foi fazer na galeria hoje?

__Queria ver algumas obras. Respirar um pouco outro ar.

__Sente muita falta de Perth?

__Não ia mudar muita coisa se tivéssemos continuado lá.

O silêncio que se seguiu foi péssimo. Mas eu falei a verdade. Nenhum lugar do mundo seria interessante sem meu pai. Ela sabia disso.

Conversamos sobre a escola. Tentei fugir um pouco do assunto quando chegamos ao tema amigos. Deveria ser meia noite quando fomos deitar.

Não costumo lembrar dos meus sonhos. Acho que nem costumo sonhar. Mas eu a vi. Por alguns insistentes segundos. Em flashes. Aqueles olhos azuis destacando-se em sua pele clara. E seus cabelos... Tão negros... Precisava alcança-la. Perguntar seu nome. Escutar sua voz. Eu tinha que...

Acordei apavorado. Meu coração batia loucamente em meu peito. A janela abria violentamente com o vento gélido da noite. Fui fechá-la. A lua estava tão brilhante. O vento sussurrava em meu ouvido. Era como se a noite me chamasse. Eu não tinha sono. Nada me segurava ali. Eu precisava ir até ela.