Gone Too Soon escrita por Lgirlsclub


Capítulo 1
Capítulo único




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Ele havia chegado. Agora acabaria com aquilo. Secou as lágrimas e adentrou o espaço. Não sentiria mais dor. Ninguém no mundo sentiria. Ele a mataria. Ele o faria e ela deixaria de existir, de uma vez por todas. Para sempre. Sem dor.

Ele fitou a personificação da dor. Esperava algo diferente. A jovem ,de pele alva e olhos extremamente azuis e bondosos, exibia longas feridas pelos braços e pulsos. As lágrimas rolavam pela pele clara e acabavam por cair no vestido encardido. Ela estendeu a mão em direção ao rosto do jovem que deu um passo para trás. Ela abaixou o olhar. Tinha longos cabelos cor de mel que acabavam em cachos largos, e agora que ele reparara bem, grandes olheiras.Parecia não dormir a séculos.

Ele cerrou o punho e pareceu sair de um transe. Empurrou a jovem para longe. Amaldiçoou. Berrou. Chamou-a de maldita. Mãe de todos os maus. Disse que a odiava. A garota abaixou o rosto. Não reagiu. Apenas murmurou: ”você também me odeia”. Como não odiá-la, pensava o rapaz, mas dessa vez ele se calou.

-Eu não sou má- murmurava com dificuldade. A voz embargada, mas ainda assim clara.-Meu acordo era outro. Eu só devia avisá-los quando houvesse algo errado, eu só devia avisar e aguentar participar da morte. Achei que eu ainda assim ajudaria.- ela secou os longos cílios negros- Mas alguns humanos...machucaram uns aos outros. Mataram, bateram, torturaram e me culparam. Eles matam por nada e eu não descanso. E eu acabo participando disso, eu...

O rapaz estava atônito e a Dor caiu de joelhos. Ela passava a mão pelas feridas. “Me machuca tanto saber que não ajudo mais, que virei um instrumento para causar sofrimento a quem eu escolhi cuidar”. Ela já não falava com o rapaz e sim com ela mesma, num tom quase inaudível. Ele piscou os olhos diversas vezes. A dor era...boa?! Demorou para assimilar tal concepção.

A jovem pediu desculpas. Disse que se pudesse escolher não causaria dor indevida . Ele se sentia culpado. Os olhos puros da menina não mostravam um monstro escondido. E de fato, nunca mostrariam. Perguntou se a dor que ele mesmo sentia iria passar. Ela respondeu que sim. Todas as dores passam. Ela não queria maltratar ninguém, não queria machucar ninguém.

Sentou-se ao lado da Dor. Devia ser solitária. “Posso ficar um pouco aqui?”. Os olhos dela se acenderam. Ela estava acostumada a ser temida. Ignorada. Amaldiçoada. Ela abriu um sorriso e agradeceu ao rapaz, que parecia que iria lhe fazer tão gentilmente companhia por alguns dias. Mas os dias viraram meses. Os meses, anos. Os anos, uma vida. Ele ficava ao lado da garota que curava suas crises de choro aos poucos, assim como ele curava as dele, após algum pesadelo, algum sofrimento. Um carinho foi se formando, e com ele, sorrisos foram surgindo. Acabaram por curar o sofrimento e a solidão um do outro.

Porém, havia um problema. A Dor sempre existira, o jovem não. Os anos passaram. O rapaz já era um senhor. O tempo deveria ter parado, mas não o fez- e nem tinha como obriga-lo a fazê-lo. Não se obriga o tempo a parar. Nem ao menos se obriga a ir mais devagar. Ele apenas segue. Alheio as nossas vontades.  Muitos anos se passaram desde que aquele encontro inicial. Mas homem de face cansada, agora sorria, diferente de outrora. Mesmo assim a dor podia sentir. Podia sentir que o fim estava próximo.

Deitou-o em seu colo enquanto cantarolava algo com a sua voz doce, já tão conhecida pelo senhor. Acariciava os fios castanhos com carinho. O homem caiu no sono sorrindo. E foi assim que, embalado pela música e pelo carinho, que pouco a pouco seu coração cedeu. A menina secou as próprias lágrimas, ao menos não fizera nenhum mal ao único que ela realmente amou na vida. E o único que lhe permitira esse amor.

Deu um beijo de leve nos lábios do amigo. Se ela ajudasse um humano que fosse como aquele, todo sofrimento valeria a pena. Aliás, sentia que tudo já tinha sentido, só por ter conhecido este. Tocou os próprios lábios. Ela se lembraria dele. Por toda eternidade. Ela secou uma lágrima. Começava a conseguir causar uma dor absurda a si mesma. Mas de certa forma era uma dor boa. Porque ela era, sem dúvida, a marca de um amor. Um amor que ainda perduraria séculos e séculos.  E continuaria perdurando, até o fim dos tempos.


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