Sweet Pomme escrita por Chibi Tiemi


Capítulo 1
Introdução


Notas iniciais do capítulo

Apresentação das personagens e do mundo em que vivem.



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Introdução

Aplausos. Era esse o som que ecoava no grande salão, misturado com os assovios dos homens e as risadas histéricas das mulheres. Este era o seu mundo, cheio de prazer e felicidade. Não havia nada que substituísse tudo aquilo. Ela descia do palco entre olhares gulosos, cheios de luxúria, e seguia para o quarto. Era sempre assim. Depois de um magnífico show ela se deitava com aquele que pagava mais, satisfazendo-o por completo. Todas as obscenidades reservadas àquele quarto eram o sonho e o desejo que percorriam nas veias de todos os homens. Ela se tornara o pecado, a ânsia, a insônia da cidade.

Aquela noite, ela seria de um aristocrata. Não fazia a mínima idéia do nome dele, desconhecia sua aparência e não se importava com isso. Tudo que ela tinha que fazer era abrir as pernas mais uma vez e deixar ser levada por ele. Depois disso nada mais importaria. Ele desapareceria e ela continuaria sua vida nas noites boêmias da França.

Uma vida sem ambições, sem paixões, sem rumo. E mesmo assim, tudo fazia sentido. Para ela, nada poderia ser mais perfeito do que essa vida vadia. O amor, talvez? Contos-de-fadas. Não que não acreditasse no amor, acreditava na sua existência. Achava-o lindo quando mais nova e queria um dia poder se apaixonar de verdade. Este fora um dos poucos sonhos que tivera. Um sonho tão inocente que a vida lhe negara da forma mais irônica possível, trazendo homens e mais homens para perto dela, todos famintos, todos a desejá-la. O único luxo que uma cortesã nunca teria: o amor. Era por isso que a busca por sua alma gêmea já havia terminado há muito tempo, muito antes de começar. Mas ela não estava triste. Não tinha motivos para estar triste afinal, tudo o que uma garota poderia querer, ela tinha. Sua beleza natural, seus movimentos graciosos, seu sorriso deslumbrante. E era assim, como se não fosse suficiente ter todos os homens boquiabertos diante de sua presença, ela ainda atraía as mulheres. Muitas a invejavam, muitas a admiravam e, é claro, muitas a queriam.

Fora assim que ela construira seu império. Garotas juntavam-se cada vez mais em busca de fama e dinheiro e se aproveitavam da imagem dela para isso. Contudo ela, obviamente, também fez uso desse interesse e criou seu próprio bordel. Pomme. Assim o chamavam e assim ela decidira nomeá-lo. A maçã de Adão e Eva, o pecado. Este se tornara o mais famoso e luxuoso bordel da região. Os clientes, fiéis, eram todos da elite francesa e, mesmo depois de casados, eles continuavam vindo para os braços cheios de perfume das prostitutas, que se divertiam com as esposas desesperadas. E tudo aquilo era seu. Sonhos, portanto, eram totalmente desnecessários.

xxx

-Bom dia, senhorita Aimée!

Madeleine puxava as cortinas para o canto, permitindo a entrada da luz que envolvia o quarto. O aposento era espaçoso, decorado em tons de vermelho, com alguns vitrais e grandes janelas com vista para a cidade. Próxima a penteadeira cheia de cosméticos estava a cama onde a moça dormia. Ela se remexeu nos lençóis e cobriu sua cabeça para evitar a luz solar que lhe impedia o sono.

-Já é tarde! Vamos, levante-se! – a garota dizia alegre, retirando-lhe o lençol que cobria a face da outra – a senhorita ainda tem que ir à cerimônia de abertura da nova fábrica do senhor conde.

-Dane-se a fábrica – ela respondeu num resmungo, a boca contra o travesseiro.

Dois anos já haviam se passado desde que Madeleine viera. Nunca se soube sua origem, mas a menina não parecia se importar com isso. Adaptou-se rapidamente ao mundo sujo das intermináveis noites e impressionou-se da primeira vez que viu a apresentação de Aimée. E por mais que a cortesã negasse, a garota continuava a sonhar em um dia poder ser tão incrível quanto aquela que ela admirava.

Madeleine era a mais nova e, por isso, não trabalhava vendendo o corpo. Era a flor no meio da podridão em que viviam, no meio das plantas carnívoras que as outras eram. Aimée a encontrara perdida nas vielas perto do bordel e adotara-a como ajudante porque ela parecia não se lembrar de quem era ou de onde vinha. Não sabia nem sequer seu próprio nome, nada. O nome lhe fora dado por Sophie que se tornara como uma mãe para a menina e não permitira que ela se tornasse uma cortesã tão cedo. O corpo era ainda visivelmente de menina, apesar da primeira menstruação já ter vindo há alguns meses. Os seios, os quadris e a inocência no seu rosto delatavam que ela ainda não estava preparada para ser parte ativa daquele bordel. Assim, ela se responsabilizara pelas tarefas domésticas. Limpava, arrumava, organizava e fazia os preparativos para as noites, sem contar as muitas vezes em que ajudava arrumando os cabelos ou a maquiagem das outras meretrizes. Estava sempre alegre e animada e isso chamara a atenção de Aimée que, assim como a amiga, criou uma enorme afeição por ela.

A mais nova saiu da sala para que a outra pudesse se trocar. Assim que a porta se fechou, dirigiu-se até a penteadeira e olhou-se no espelho. Estava com olheiras. Naquele dia ela não se apresentaria ou dormiria com ninguém, não podia estragar sua imagem com estas olheiras. Seus pensamentos foram interrompidos por leves batidas na porta e a voz suave de Sophie do outro lado:

-Aimée, Gaspard chegará logo! Deixe de ser tão lerda e apronte-se!

Tinha esquecido esse detalhe. Gaspard escrevera-lhe dizendo que voltaria em breve e traria novidades. A saudade que a imagem dele lhe trazia fez com que ela se vestisse rapidamente e descesse as escadas, eufórica. Encontrou Sophie ao pé da escada, que parecia tão feliz quanto ela, com um sorriso que mostrava todos os brancos e perfeitos dentes que ela tinha.

Gaspard veio correndo, na chuva. Entrou no bordel todo molhado e sacudiu-se como um cachorro para se secar. Ele continuava o mesmo desajeitado de sempre e soltou um sorriso maroto quando viu as duas garotas paradas, esperando-o. Elas se aproximaram rindo alto e o abraçaram mesmo ele estando todo molhado. Levaram-no para o grande salão e sua chegada atraiu as outras garotas, que se aglomeravam em volta dele. Por Aimée estar lá, nenhuma ousou tentar seduzi-lo, mas todas estavam surpresas pela beleza do jovem. Ele contava sobre os lugares por onde havia passado, as pessoas que conhecera e a vida que levara. Tudo parecia atraente e encantador para Sophie, seus olhos brilhavam a cada novo lugar que ele descrevia. Eles estavam os três juntos novamente.

Sophie era a única herdeira de uma família rica da burguesia francesa. Seu pai ostentava uma imagem feliz da sua relação com a filha e a esposa. O álcool, no entanto, fazia-o demente e bruto. Batia e maltratava a ambas, até que Sophie decidiu fugir. Esta fora a história que ela contara a amiga quando se conheceram, ainda adolescentes e imaturas. Contudo a verdade nunca lhe saíra da mente e ela nunca pretendera contá-la. Já não importava mais o seu passado quando conseguira a amizade e confiança de Aimée. Elas acabaram crescendo juntas, criando todo o Pomme juntas.

Gaspard, ao contrário, teve uma vida bastante normal. Sua família de classe média deu tudo o que ele precisava para se tornar um jornalista renomado na imprensa. Conheceu as meretrizes quando elas ainda estavam trabalhando num outro bordel, o Les anges d’amour, numa noitada que teve com amigos. Naquela noite, Aimée fizera parte do show, mas não se deitara com ninguém, alegando estar passando mal. Ele fora o primeiro cliente que Sophie tivera e ela estava tão nervosa na hora que ele teve de fazer mil carícias para tentar acalmá-la. A partir daí, os três eram praticamente inseparáveis. Exceto os momentos em que ele estava trabalhando, o trio passeava pela cidade, despreocupados com os olhares reprovadores que lhes eram lançados. Até que Gaspard decidiu conhecer o mundo numa proposta que o editor-chefe do jornal em que trabalhava lhe fizera e não podia recusar. Abandonou-as, mas sempre lhes escrevia e, agora, retornara.

Era tarde quando Gaspard foi embora. As garotas começaram a se arrumar para a noite e Aimée chamou por sua melhor prostituta:

-Nicole, entre no meu lugar hoje, por favor – ela disse enquanto arrumava os longos cabelos da loira sentada a sua frente que consentiu sem dizer nada, apenas meneando a cabeça. Ela era linda com suas pernas longas e finas, maquiava-se perfeitamente e era quase tão requisitada quanto a dona daquele bordel. Ninguém sabia nada do seu passado. Ela apenas se juntara à equipe quando o Pomme já tinha sua fama e não falava muito sobre si, comentava apenas da mãe que amava tanto. Não era muito simpática, tinha uma personalidade forte e sorria só o necessário.

A noite finalmente viera. Homens e mais homens vinham, já excitados com o brilho do lupanar. Aimée deitara-se em sua cama e, mesmo com o ruído proveniente do salão principal, dormira o sono que não lhe era permitido há dias.

xxx

Amanhecera finalmente. Antes que Madeleine aparecesse para acordá-la, Aimée já estava de pé, trocada, e isso surpreendeu a menina.

-O que uma boa noite de sono não faz! – disse entre risos. Ela espanava a mobília quando pareceu lembrar-se de algo, e completou – ah! Já ia me esquecendo! O senhor Gaspard está lá embaixo, esperando para falar com a senhorita.

Aimée olhou-a com uma cara de indagação, mas a menina simplesmente levantou os ombros e espalmou as mãos em sinal de que não sabia qual era o assunto. A moça então levantou-se da penteadeira e saiu do quarto. Gaspard estava sentado num sofá róseo com decoração um ouro, lendo um jornal. Ela se aproximou e sentou-se ao lado dele:

-Queria falar comigo?

-Ah, sim, sim! – ele respondeu, percebendo a chegada da amiga e ajeitando-se para dar mais espaço a ela – eu... tenho uma coisa que queria te pedir, na verdade.

- E o que é? – ela falava enquanto pegava a xícara de café em cima da mesa, que provavelmente era dele, mas ela parecia não se importar.

Ele pareceu procurar palavras para explicar o seu pedido:

-Você já deve saber que tem um grupo de circenses chegando aqui na cidade.

-Sim. – ela dizia sorrindo – adoraria ir a alguma apresentação deles. A mídia diz que eles são muito bons.

-É... eles são ingleses. Conheci-os quando passei pela Espanha e... eu só queria saber se você não poderia dar boas-vindas para eles – ele disse tímido e muito rápido.

-Quer que eu reserve uma noite aqui só para os circenses? – ela perguntava num misto de surpresa e diversão.

-É, mas não precisa fechar só para eles. Não são muitos no total, devem ser uns... – e ele parecia tentar lembrar os seus nomes.

-Tudo bem... só confirme o número de circenses que eu avisarei as garotas – ela confirmou, interrompendo-o e tomando um longo gole do café.

Ele pareceu espantado e, ao mesmo tempo, aliviado. Largou o jornal no sofá e agradeceu-a energicamente. Sophie chegou no mesmo instante e Gaspard levantou-se num pulo para falar com ela. Aimée, ainda com a xícara numa mão, pegou o jornal com a outra e arrepiou-se ao ler a manchete: Assassino de prostitutas ataca mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Pois é, como vocês podem ver, eu nunca vou poder trabalhar como jornalista. Esta manchete ficou (muito) horrível, mas eu estava sem criatividade na hora x]~
Espero que gostem, critiquem e corrijam se alguma coisa estiver errada, principalmente em francês! [*totalmente leiga em francês*]



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