Dear Devil - The Last Hope escrita por Pode me chamar de Cecii


Capítulo 43
Capítulo Nono




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Ela abriu os olhos e a cabeça rodava como a semanas antes, quando acordara após o efeito do sedativo. Poderia ter sido, talvez, a mesma substância, mas estaria muito, muito mais forte. A luz não invadiu seus olhos e, de certo modo, no primeiro momento, isso a acalentou. Mas logo se tornou um alerta. Ela não estava mais no seu quente e escuro lar. Estava num frio e cruel mundo.

Ela abriu os olhos e a cabeça rodava como a semanas antes, quando acordara após o efeito do sedativo. Poderia ter sido, talvez, a mesma substância, mas estaria muito, muito mais forte. A luz não invadiu seus olhos e, de certo modo, no primeiro momento, isso a acalentou. Mas logo se tornou um alerta. Ela não estava mais no seu quente e escuro lar. Estava num frio e cruel mundo.

Levantou-se com um pulo, batendo a cabeça em algo sólido acima. Passou as mãos pelo local e se virou na direção do objeto, sem, entretanto, conseguir vê-lo. Levou uma das mãos até ele e sentiu o metal pesado gelar sua mão, fazendo-a afastar-se e escorregar, caindo com as costas no chão de sua gaiola. Gritou. O chão também era de placas de metal muito lisas fixadas com pregos, um dos quais perfurou sua carne para dentro do ferimento onde um dia estiveram suas asas. Ela tampou a própria boca e fechou os olhos, levantando-se e afastando seu ferimento do prego com imensa dor, mas sempre tentando não fazer sequer um ruído.

Onde estava Derek? Ela odiava se sentir tão indefesa. Seus olhos pediam para se fechar e, vez ou outra ela cedia. Quando permanecia acordada, estava tonta e não podia ver nada além de reflexos da pouca luz. O metal era pintado de branco. Por horas ela permaneceu no semi-sono até que o veículo parasse.

As portas foram abertas de uma só vez e não houve muito tempo para ver nada. O lugar era incrivelmente mal iluminado. Ela foi atirada no chão gelado por mãos fortes e só então percebeu estar nua. Cerrou os olhos e esperou alguns segundos antes de se portar de quatro e levar uma das mãos à cabeça, que doía. Levantou os olhos para o homem que a empurrara, sem poder vê-lo. A cabeça fazia que as imagens ficassem desfocadas.

Cassie girou para todos os lados, chegando a avistar a ambulância que a trouxera até ali. Sentia o familiar perfume de Derek, apesar de não vê-lo, e percebia estar entre uma longa fileira de bancos de madeira. Uma igreja, podia-se ver pelos vitrais que faziam a luz entrar colorida. Passos pelo piso de mármore. Algumas pessoas estavam sentadas nos bancos, cabisbaixas, fazendo orações. Os passos prosseguiam pelo corredor que dava passagem a quem entrava ano recinto.

Ela sentia o corpo gelar. Olhava para os vitrais e as imagens de um homem crucificado em estátuas, o eco dos passos parecia querer explodir sua cabeça.

O homem de batina parou a alguns metros dela e a encarou. Sua cabeça ainda girava e doía. Os olhos castanhos do padre careca a encaravam. Ele sorriu. Ela entreabriu os lábios e tentou se mover, perdendo o apoio de um dos braços e caindo. E seus olhos se fecharam de novo.

Um golpe no rosto e as pálpebras imediatamente se abriram. Um leve fio de sangue correu de seu nariz, pingando dourado no chão.  Ela tocou sua própria cabeça como faria uma coitada e subiu os olhos. O padre acertou-lhe mais uma vez.

No fundo da sala, alguém se levantou, mas ela tinha os olhos baixos. Derek chamou  a atenção do senhor por um segundo e ele se virou, encarando-o.  Ela apenas percebeu quem poderia ser ao ouvi-lo murmurar “Senhor...”. O Padre sorriu e se afastou um passo.

- Est impurus. [É impura] – ele murmurou e todos os senhores e senhoras que rezavam se levantaram e se retiraram pela porta principal, aberta apenas levemente. Derek lançou um olhar para a garota antes de acompanha-los. Os olhos âmbar dela queimavam.

Assim que a porta se fechou, o careca se virou na direção da garota, que agora parecia uma criança a ser maltratada. Ajoelhou-se e esticou uma das mãos para tocas seus cabelos oleosos. Seus lábios formaram um sorriso de dentes amarelados e Cassie procurou não encará-lo. Ali, ela era minoria. Os dedos tocaram a superfície lisa de seu rosto, sentindo-a tremer internamente e soar frio. Ele pretendia que fosse assim.

- O pecado... – ela sentiu todo corpo arrepiar. – É belo.

Ele a tocou. Não houve sutileza, apenas sujeira. Nem discrição, apenas grito. Nem mente, apenas carne. E dor. Ela sentiu uma lágrima escorrer de seus olhos. Nem quando esteve no mais profundo inferno sentira-se tão suja. Sentiu-se fraca e impotente. Mais impotente. Mais.

Cassie procurou, por um segundo, dentro de si, aquele único motivo que lhe mantinha viva ali. Poder. Ela sabia que estava cansada, que estava com medo e com dúvidas em relação àqueles humanos. Salvação... Eles deveriam morrer naquela neve. Todos eles. Para que, enfim, ela estivesse em paz e pudesse se convencer de que aquela ridícula missão jamais daria certo. E, então, ela fez o que tinha de fazer.

***

Tarde de domingo. O sol se recusa a aparecer como em todos os outros dias. Ele fechou de leve a porta de igreja e fechou os olhos. Apesar da sensação de objetivo cumprido, ele tinha borboletas no estômago. Não era orgulho de si mesmo, Derek não tinha esse tipo de coisa. Era medo, um pressentimento ruim. Não que ele pudesse fazer alguma coisa. No maior silêncio que conseguiu, ele seguiu pela rua, como se sempre estivesse ali.

As pessoas reconheciam seu rosto, sabiam que ele havia estado fora, mas se mantinham caladas. A grande maioria entendia o que aquilo significava, mas preferia manter-se calada, apenas fazendo baixos comentários sobre as possibilidades que sua volta trazia. Se afastavam dele, a maioria. Esperavam que Derek estivesse doente, por isso voltara. Homens de caras sujas que soavam para manter aquela colônia o viam como um vagabundo.

Ele prosseguiu a caminhada com as mãos no bolso e o capuz levantado. Ela estava bem escondida. Isso era claro. Ninguém saberia de sua presença ali, não por enquanto. Naquele momento, ela precisava estar sob os cuidados de um padre. Exorcismo, talvez? Prisões? Era obrigação do padre, naquele momento.  Weiland queria descansar e aproveitar a sensação de estar em casa.


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