Não precisei ao menos bater os olhos em qualquer uma das palavras. Eu sabia o que Cassie tinha em mãos. Sua face se virou em minha direção e seus olhos deram um pulo. Sua mão instantaneamente começou a tremer. E eu... Eu estava prestes a ter um tique nervoso.

Deixei que meus olhos corressem o local, mas não havia nada de relevante ali. Apenas ela. Apenas a carta.

O vento frio me fazia tremer mesmo debaixo de tantos casacos. Mesmo abaixo do solo, eu o sentia. Sempre havia vento, soprando contra mim. Nossos olhos permaneciam um no do outro. Nenhuma palavra foi dita. Apenas me virei, dirigindo-me para qualquer lugar.

Demorei minutos até conseguir voltar até lá. Sim, eu sabia que a carta já fora enviada. Provavelmente aquilo selava o fim da colônia e, consequentemente, da raça humana.

Passos pesados se aproximaram. O gordo homem vestia menos casacos do que eu, mas mesmo assim sua barriga ficava de tamanho descomunal sob as vestes e ele tinha dificuldades para andar.

– Já a levaram. – disse solenemente. – Você já sabe qual será a pena. - O líder da colônia-Capital nem mesmo tivera a oportunidade de cumprimentar-me. Suspirei. E segui em frente para fazer tudo aquilo que meu dever dizia para não fazer.

Abri a porta da jaula, mas os olhos do “anjo” não se levantaram do chão coberto de neve. Atirei as chaves ao seu lado.

– Está livre. – disse. – Vá embora daqui. Junte-se aos seus.

Saí segurando as lágrimas nos olhos. Pouco havia passado do local quando virei-me para trás. E, como esperado, a jaula estava vazia.

Cassandra Eccher se fora como traidora, não à humanidade, mas a mim.

“E agora meu dever era mata-la.”