Meus olhos pareceram pesados ao se abrirem. A luz que os invadiu era pouca, vinha de pequenas chamas de velas que eram inúteis para emitir calor. As pessoas se aninhavam perto umas das outras, buscando o calor humano. Os pertences ficavam espalhados pelo perfeito círculo formado no gelo.

Apesar disso, as pessoas pareciam bonitas... Os corpos cobertos pelos enormes casacos, os olhos vagando pelo local, a fraternidade estampada nestes. A diversidade era evidente. Havia negros, asiáticos, europeus, latinos... Todos eram lindos aos meus olhos.

Mas nenhum se comparava ao que estava a minha frente.

Os cabelos negros presos em um coque mal feito, os olhos castanhos voltados para as mãos cruzadas em volta das pernas, o casaco grande era sua única proteção.

À medida em que fui me despertando, senti a cabeça latejar e tomei forças para levantar do gelo. Senti os olhos se virando para mime foi tensão demais, dúvida demais... Meus braços cederam e eu esperei a brusca pancada contra o chão.

Mas os braços firmes e delicados me seguraram, ajudando-me a me levantar. Levantei os olhos até os seus, apoiando-me na parede.

- O... Obrigada. – gaguejei. Ela apenas sorriu em resposta. – O que aconteceu aqui?

O anjo suspirou.

- Um... Incêndio... – respondeu, hesitante. – Não se sabe a origem ainda. Mas sei que foi algum... Acidente.

Meus olhos se estreitaram quando a cabeça voltou a latejar.

- Não... Eu sei disso. – corrigi. – O que aconteceu comigo?

O sorriso de seus lábios aumentou a ponto de reluzir em seu rosto.

- Você apagou... – respondeu. – Foi para dentro da vila, gritava o nome de seu irmão... E apagou. Estamos esperando você acordar. Eu tirei você de lá, Garotão. Eu salvei você.

Dessa vez, os olhos se arregalaram e as sobrancelhas se arquearam. Eu estava prestes a pergunta-la, mas senti que os olhos continuavam sobre todos nós. Apenas suspirei.

- Obrigado. – agradeci e ela piscou, amigável.

Demoraram-se algumas horas antes que eu pudesse raciocinar novamente. Ainda tinha crises de mal estar e, no início, desmaios constantes. A imagem de Alec, dos corpos carbonizados, permanecia em minha mente.

Mas eu já havia tomado minha decisão.

“- Vamos para a Colônia Base.”