Nós conversamos com a diretora com a desculpa “Justin bateu a cabeça na quina da estante e se machucou”, ele não quis dizer a verdade, fomos até a empresa do papai, era alguma coisa ligada a administração, ou engenharia, ou arquitetura, é eu realmente não sei.

_ Oi pai – sorri o abraçando

_ Qual o milagre que trouxe vocês aqui?

_ Eu queria falar contigo – sorri de lado e ele assentiu

_ Vamos na minha sala então – ele sorriu

_ Daqui a pouco eu volto – falei ao Justin e ao Kauã que estava sentado quase dormindo no sofá

_ Pode dizer – meu pai falou sentando-se

_ Sabe aquele menino que está lá fora? – o olhei

_ Sei

_ Bom, ele e a mãe dele são pobres, moram em uma casa minúscula e ele ia perder a bolsa do colégio – olha eu fazendo mais uma loucura – e eu queria perguntar se o senhor não tem um emprego pra ela, bom, lavar banheiros está fora de questão – falei e ele sorriu

_ Porque você está sendo tão legal com ele? Que eu saiba ele é o tipo certo de suas práticas nada legais – ele me olhou

_ Ele era, mas quando começou a me dar aulas lá em casa eu vi que ele é legal...

_ Hm, faça o seguinte, pegue papeis de contrato com o Martin e venha aqui para eu assinar. – ele sorriu e eu corri até a sala do Martin

_ Hey Martin – falei animada

_ Oi Kaya – sorriu

_ Meu pai pediu uns papeis de contrato – sorri lhe dando um beijo na bochecha

_ Aqui, leva essa pasta – ele falou me entregando uma pasta amarela

_ Ok, obrigado! – sorri – até mais.

...

_ Vai demorar? Preciso ir pra casa – o Justin falou passando a mão na cabeça

_ Não, é dor de cabeça? – perguntei

_ É – ele sorriu de lado

...

_ Toma

_ O que você acha melhor pra ela? – perguntou

_ Não sei, talvez secretária do senhor, não faz nada mesmo – sorri

_ Hm, então tá, estou precisando de uma – bati palmas animada e esperei ele assinar algumas coisas nos papeis.

_ Pai, será que dá para aumentar minha mesada só um pouquinho? – perguntei fazendo cara de anjo

_ Pra que? Você ganha oitocentos dólares na mesada fora quando me pede alguma coisa – ele falou negando

_ É que, bom, o Justin ia perder a bolsa e como eu sou muito legal eu falei com a diretora e disse que vou pagar a escola dele.

_ Só uma pergunta, ele sabe que você está fazendo isso?

_ Não, mas depois eu conto da mensalidade da escola e tal – sorri de lado

_ Tudo bem, mas eu quero ver o carnê todos os meses, em dia ok?

_ Ok – sorri e lhe dei mais um abraço – tchau pai, obrigado.

Peguei um remédio de dor de cabeça e entreguei ao Justin, fomos primeiro o deixar e depois voltamos para casa.

_ O que você tanto conversava com o nosso pai? – o Kauã perguntou bebendo água

_ Pedi um emprego... – nem terminei a frase e ele cuspiu toda a água em mim – seu desgraçado

_ Foi mal – ele falou rindo – mas emprego?

_ É para a Pattie, de secretária do senhor Godón – sorri, é o nosso incrível sobrenome.

_ Então tá, quer ir lá na agência comigo hoje? – perguntou

_ Claro – revirei os olhos

_ se arruma, vou ficar esperando aqui na sala. - falou

Subi as escadas correndo, tomei um banho rápido, vesti-me, e na maquiagem delineador, rímel e blush dourado.

Roupa: http://www.polyvore.com/cgi/set?id=39619288&.locale=pt-br

_ Estou pronta, agora tenta não cuspir em mim – ele riu e foi em direção ao carro

O caminho fomos cantarolando algumas músicas, só espero que nossos vidros sejam a prova de som rs.

_ Chegamos – ele sorriu

_ Ok, daí você desfila na vogue? – o encarei séria

_ É, olha só – ele saiu do carro e foi em direção do segurança eu fui andando atrás dele.

_ Kauã Godón – falou

_ Pode entrar – ele sorriu

_ Ela é minha irmã, está comigo, Kaya Godón – ele falou e o segurança nos deu passagem

_ Ok, isso é um sonho – falei analisando o local

Enquanto nós passávamos por alguns corredores eu recebia olhares de algumas garotas, já estava ficando constrangida, estou tão gorda assim?

_ Não liga pra elas – o Kauã percebeu

_ Não estou ligando – dei de ombros

_ Oi Ana – o Kauã me puxou para entrar em uma das salas

_ Oi Kauã, quem é essa? – ele me cumprimentou com um beijo na bochecha – sua namorada?

_ Não, ela é minha irmã

_ Prazer conhecê-la – sorri educada

_ Prazer é todo meu – ela assentiu

Passamos o dia todo na agência, conheci os amigos –lindos- do meu irmão, trocamos telefones e quando estava anoitecendo decidimos voltar para casa.

_ Passa na casa do Justin – falei e ele desviou o caminho

_ Vai fazer o que lá?

_ Entregar o papel do emprego dela – sorri

Rapidamente chegamos até o incrível bairro deles.

Toc toc – bati na porta, ouvi a fechadura se destrancar

_ Oi? – era o Justin

_ Oi, sua mãe está? – perguntei

_ Não, ela está trabalhando

_ Agente pode esperar ela aí? – perguntei sem graça

_ Pode – ele deu passagem e nós entramos

Ficamos calados até ouvirmos a posta se abrir.

_ Boa noite – a Pattie entrou sorrindo

_ Boa noite tia – o Kauã a cumprimentou

_ Boa noite – lhe dei um beijo na bochecha – que tal ela ficar melhor? – amostrei o envelope e ela me olhou com dúvida

_ Como será possível? – o Justin me olhou

_ A Pattie vai se demitir desse emprego dela...

_ Você é louca? Só se nós nos sustentarmos do ar poluído dessa cidade – o Justin falou e sentou-se

_ Continuando... a Pattie se demite do emprego amanhã e no outro dia vai para empresa do meu pai – falei entregando o envelope a ela

_ Emprego de que? – o Justin perguntou

_ Secretária do meu pai – sorri, ele revirou os olhos e entrou em algum cômodo da pequena casa.

_ Não liga pra ele – a Pattie falou – como posso agradecer?

_ Não precisa, eu estou feliz em fazer isso – sorri

_ Você está mudando mesmo nossas vidas, obrigado, Kaya não é?!

_ É sim, por nada.

Ficamos conversando mais um pouco e decidimos ir para casa.

Mais uma confusão com minha mãe, ela me xingou de tudo possível, e bom, ela foi mais além, ela jogou um copo de vidro em mim e bom, nem preciso dizer que acertou, em meu rosto, fez um corte em minha bochecha, e após eu o complementei com mais vários em meu braço, eu de todo coração, odeio minha vida.

Agora estou chorando como nunca chorei, é uma mistura de arrependimentos, com ódio, dor e tudo possível.

_ Dorme Ká, dorme – o Kauã afagava meus cabelos

_ Eu me odeio, eu não faço nada que preste, eu só faço o mal para as outras pessoas.

_ Não diz isso, você é uma garota incrível, e o que você está fazendo pela mãe do Justin e ele? Dorme, nossa mãe não merece uma lágrima sua.

Depois de muito chorar dormi.

_ Você não vai fazer isso – alguém falava

_ E me diz, quem é você pra me falar o que fazer?

_ Para de atormentá-la, ela não é e nunca foi a melhor aluna ou a melhor filha, mas ela é uma boa pessoa, só você não enxerga isso.

_ Me prova uma coisa boa que ela já fez pra alguém? Ela é uma estúpida que só pensa em si, de dois anos pra cá ela só começou a fazer nosso casamento dar errado, eu vou expulsá-la dessa casa!

_ Não vai, você sai, mas ela não, deixa um espaço pra ela demonstrar a garota legal que ela é, essa casa é minha, tudo aqui é meu, você nem trabalha, só fica lá na empresa andando pra lá e pra cá, quando fica. A deixe em paz.

Acordei com essa aparente discução, bom, era meu pai e minha mãe, lavei o rosto e ajeitei meu cabelo, olhei a hora e já havia se passado bastante da hora do colégio. Abri a porta do quarto e fui surpreendida por um tapa no rosto.

_ Porque você não foi para a escola vagabunda? – mais uma vez a metida senhora Godón estava me deixando para baixo.

_ Ai – resmunguei – não fui porque eu não quis – dei de ombros

_ Entra no quarto agora – ela me empurrou, entrei e sentei-me em minha cama ainda bagunçada – já te falei alguma vez que você é uma inútil? Pois é, se eu pudesse eu tinha te dado a qualquer pessoa que passasse na rua, mas seu pai não deixou, infelizmente, nessa família as únicas coisas que prestam são o dinheiro de seu pai e o seu irmão, ele sim tem futuro, mas você não sua imprestável, suas notas são todas vermelhas, e seu histórico escolar é uma incrível porcaria – ela me olhou

_ Porque você faz isso comigo? Você não é a melhor mãe do mundo, você nem merece ser chamada de mãe, porque todos os dias é essa mesma coisa? – senti meus olhos marejando – e se eu sumisse? E se eu morresse? Você ficaria feliz? – a olhei

_ Sim, é tudo que eu mais quero! – ela riu irônica e eu involuntariamente soltei as lágrimas que estavam presas, ela soltou uma gargalhada e saiu do quarto batendo aqueles saltos no chão.

Tudo bem, tudo que eu preciso agora é de um banho, e preciso pensar.

_ Droga, droga, droga – falei afundando minha cabeça na banheira, talvez morrer fosse a única solução, mas eu não iria conseguir assim, fechei forte meus olhos e uma explosão de acontecimentos explodiu em minha cabeça, subi a cabeça rapidamente e os abri. Enrolei-me em uma toalha e vesti uma lingerie, fiquei de frente ao espelho ajeitando meu cabelo, parecia que aquele espelho me fazia enxergar coisas ruins, passei minhas unhas pela barriga a fazendo queimar e ficar marcas vermelhas. Peguei a pequena lâmina que estava em cima de minha estante e fui passando pelas marcas, aquilo não doía, não mais que meus pensamentos, para cada corte uma lágrima, eu preciso parar com isso, eu preciso.

Joguei a lamina em qualquer canto do quarto, como se eu tivesse me desprendendo dela, vesti uma blusa preta e um short também preto, uma jaqueta verde escuro e uma sapatilha.

Peguei uma mochila média e coloquei algumas coisas que eu vi pela frente, peguei todo meu dinheiro em minha gaveta, pus os óculos escuros e desci as escadas correndo.

_ Pra onde você vai? – meu pai perguntou

_ Não sei – falei correndo para fora da casa e entrando em meu carro.

Dirigi na máxima velocidade possível, até achar um hotel, bom, era um hotel normal, mas seria melhor que ficar em casa aguentando as coisas que aquela mulher fala.

_ Uma semana, Kaya Angeline Godón – falei lhe entregando o dinheiro de uma diária

_ Quarto 17 pode ser? – perguntou

_ Pode – sorri simpática, ela me entregou as chaves e eu subi pelo elevador, bom as chaves eram cartões, passei no pequeno aparelho na porta e entrei.

Era um quarto normal, tinha uma cama, uma pequena cozinha, banheiro e uma varanda.

Lavei meu corpo novamente apenas para tirar todo o excesso de sangue que ainda tinha, vesti uma saia jeans e uma blusa roxa, me atirei na cama e cochilei.

Despertei com meu celular tocando, era o Kauã, atendo ou não atendo? Sem pensar muito atendi.

Kauã: Onde você está? O Justin está aqui te esperando para te passar as coisas que você perdeu e estudar com você.

Kaya: Diga a ele que pode ir pra casa, descansar, eu não estou bem.

Kauã: O que aconteceu? E diga, onde você está?

Kaya: Hoje quando eu acordei nossa mãe me agrediu, e começou a falar umas coisas para mim, e falou que o que ela mais quer é que eu morra, e bom, eu quase fiz isso.

Kauã: Sério? Cara, você fugiu? Não faz isso, por favor, volta pra cá, não liga para as coisas que ela fala, ela sempre foi assim.

Kaya: Eu não fugi, eu acho, mas eu vou para a escola todos os dias, só quero ficar longe dela, por um bom tempo.

Kauã: Tudo bem, mas... não faz besteiras, por favor.

Kaya: Eu já fiz, mas não conta nada pra ninguém, e pede mais uma vez desculpas ao Justin...

Kauã: Vou por na viva voz, daí você fala... Pronto

Kaya: Justin me desculpa por tudo, bom, lembra quando eu comecei a mexer com você? Eu por um lado era muito boba para gostar das pessoas, e bom, eu senti que você era legal o suficiente pra mexer comigo, eu acabei fazendo você o alvo do grupo, mas me desculpa, bom e as aulas, obrigado pelas duas ou três que você me deu, mas não se preocupa mais com minhas notas, sua mãe está com um bom emprego, e espero que vocês fiquem estáveis logo, e você daria um ótimo amigo, mas eu não iria merecer isso, eu sou uma garota horrível mesmo, em fim, só mais uma coisinha, seu abraço é o melhor que existe. Eu amo vocês dois, eu juro. E me desculpa por ser uma pessoa tão ruim. Tchau, beijos.

Falei e desliguei o telefone, bom, eu falei mesmo que eu os amava? Aliás, eu falei mesmo que amava alguém? Oh vida complicada.

Pela noite eu pedi um janta no serviço de quarto e logo dormi.