Chrono Crusade - After Heaven escrita por Mirytie


Capítulo 7
Capítulo 7 - A Troca


Notas iniciais do capítulo

Enjoy ^-^



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A escuridão era a única coisa que o envolvia, agora. Não conseguia ouvir nada, não conseguia ver nada além das memórias que um dia tinham sido a vida dele.

Sobretudo, lembrava-se daquele Tic Tac irritante, enchido de remorso.

Não queria abrir os olhos porque tinha medo de reviver aquela cena e depois teria de ouvi-la a chorar novamente, e sentir-se culpado porque, afinal, tinha sido ele que a levara até aquele fim.

Se abrisse os olhos, o que é que a veria? Todas as pessoas que magoara?

Ou o sorriso dela?

A medo, abriu um olho, e depois o outro mas só viu chamas que tentavam iluminar a escuridão natural daquele lugar. O que indicava que ele estava de volta ao horrível lugar a que chamavam de Pandemonium.

Bem, pelo menos ali não podia magoar ninguém.

Mesmo depois de pensar nisso, reparou que os seus cornos continuavam partidos e, aquele incomodativo Tic Tac…

…tinha voltado.

Rosette acordou às seis da manhã com um aperto no peito.

Quando descobriu a razão, quase ia tendo um ataque mas não tinha tempo para ficar chocada. O relógio estava aberto, a andar e já lhe tinha gasto aproximadamente um ano de vida. O que era pouco devido às circunstâncias mas, mesmo assim…

Com força, conseguiu fechar o relógio a parar a transferência vital.

Com um sorriso, olhou para o vidro azul-transparente. Isso significava que Chrno estava definitivamente vivo e agora, conectado com ela.

Isso também queria dizer que tinha de falar com o Padre e não achava que ele ia ficar muito feliz com a novidade.

Com uma aura brilhante à sua volta, vestiu-se, amarrou o cabelo, fez a cama, calçou-se e desceu as escadas. Quando chegou lá abaixo, Jason olhou para ela, sem esconder a surpresa por ver um sorriso na cara da irmã.

- Pareces bem-disposta. – disse Joshua quando Rosette se sentou ao lado dele – E o teu colar mudou. É daqueles que muda de cor conforme o humor?

- Podes dizer que sim. – respondeu Rosette direcionando-lhe o sorriso brilhante – As coisas podem tornar-se difíceis a partir de agora mas prefiro que seja assim.

- Não te estou a perceber. – declarou Joshua – E porque é que não vieste a casa ontem à noite?

- Ah, por falar nisso, acho que também não vou às aulas de manhã. – lembrou Rosette – Preciso de ir a um sitio antes de voltar para a escola.

- O que é que acabaste de dizer, menina?

Rosette olhou para trás e viu a sua “mãe” com os braços cruzados. Aquela não era uma expressão feliz, definitivamente.

- Devo lembrar-te que só tens 17 anos? – perguntou a mulher – E, enquanto assim for e estiveres sob o nosso teto, és obrigada a cumprir as nossas regras. – com passos rígidos, ela sentou-se numa das pontas da mesa – O Jason disse-me que tens andado estranha, ultimamente. Podes explicar?

Rosette olhou para Joshua como se tivesse acabado de ser traída. Afinal, o que é que aquela mulher tinha a ver com os seus problemas ou decisões?

- Eu só preciso de…

- Se não fores à escola, fica a saber que não tens um sítio para onde voltares. – avisou a mulher.

- Mãe! – exclamou Joshua, chocado – O que é que está a dizer?

- Tu sabes o que eu estou a dizer, Jason! – ripostou ela – Se ela não for à escola, também não volta para casa. Estou farta dos comportamentos e atitudes egoístas dela!

Foi a vez de Rosette ficar chocada.

A palavra “egoísta” feriu-a como um punhal no coração. Sem se aperceber, levou a mão ao relógio que contava quantos dias viveria.

Na verdade, só estava a fazer aquilo por ela, porque queria vê-lo outra vez. Isso era realmente egoísta da sua parte. Só estava a magoar e a preocupar pessoas que eram importantes para si.

- Eu percebo. – disse Rosette levantando-se, mesmo sem ter comido – Eu vou para a escola.

- E não te esqueças que o teu pai vai dar uma festa em honra do nosso 10º Aniversário de casamento. – lembrou a mulher degustando um pouco de chá – O teu pai já vos pôs dinheiro no banco para comprarem roupas decentes. Estou-me a referir a ti, Claire.

- Espere…10 anos? – perguntou Rosette. Como é que era possível? Não era suposto serem filhos dela?

- Bem, em todo o caso, nós temos que ir indo. – anunciou Joshua, levantando-se também – Estás pronta, Claire?

- Sim. – respondeu Rosette – Tenha um bom dia.

- É estranho que não te lembres. – disse Joshua – Mas talvez seja alguma reação à tua estadia no hospital.

Eles caminhavam em passo demorado em direção à escola, enquanto Joshua respondia à pergunta de Rosette.

- Na verdade, os pais só se conheceram há onze anos atrás, quando os pais deles decidiram organizar um casamento arranjado. – explicou ele – Nós fomos adotados aos doze anos já que, por causa do negócio, eles não tinham tempo suficiente para cuidar de um bebé.

Sim, claro, pensou Rosette. Achava que não era o tempo que era insuficiente, mas sim o amor que tinham um pelo outro. De certa maneira, ficava aliviada por aqueles não serem os seus verdadeiros pais, apesar de saber que era errado pensar assim.

- Talvez fosse melhor ficares uns dias em casa. – admitiu Joshua, finalmente – Pareces confusa depois de teres saído do hospital. Seria mau se fosses parar ao hospital outra vez por causa disso.

- Então…achas que eu não devia ir para a escola? – perguntou Rosette.

- É o que eu acho. – confirmou Joshua parando de caminhar - Porque é que não vais comprar a roupa para a tal festa e vais para casa descansar um bocado? A mãe já deve ter saído nessa altura.

Num impulso, Rosette abraçou-o. – Obrigada, Joshua!

- Não tens de quê. – ele deu pequenas palmadinhas nas costas dela – Mas é Jason.

- Eu não me enganei. – disse Rosette afastando-se – Vemo-nos logo à noite.

Ficou a acenar até perder o irmão de vista. Em algumas horas, o dia tinha dado tantas reviravoltas que quase a deixava confusa mas, agora, tinha quase a certeza que Joshua lembrava-se que era o Joshua e não o “Jason”.

Começou a correr, depois de recuperar o sorriso. Chegou ao convento em quinze minutos e só precisou de dois segundos para saltar o portão. E um segundo para tropeçar e cair depois de ver Bobby mesmo à sua frente.

- Bom dia, menina Rosette. – disse Bobby com os braços cruzados em frente dela – Sabia que as freiras não estão autorizadas a sair do convento?

Rosette recompôs-se o mais rapidamente possível e sorriu-lhe.

- Bom dia…eu estava só a… - cumprimentou Rosette - …hum…e o meu nome é Claire, lembras-te?

- Engraçado. – disse Bobby coçando o queixo com o polegar e o indicador – Deu-me a impressão que o Padre te chamou de Rosette, ontem. E porque é que estás a entrar à socapa com roupa ordinária a esta hora?

- Porque o meu segundo nome é Rosette. – mentiu Rosette com o coração aos pulos – E ontem fui visitar o meu irmão. Estou a entrar à “socapa” porque não queria acordar ninguém a esta hora.

- Claire Rosette Christian? – perguntou Bobby com uma sobrancelha erguida – Porque é que isso me soa tão falso? E porque é que a Irmã Charlotte não te conhece?

- O quê?

- Pois é. Ontem, depois de saíres, eu fui perguntar à Irmã Charlotte se conhecia alguma freira acabada de chegar chamada Claire Christian mas ela disse que não fazia ideia. – revelou Bobby dando um passo em frente para encurralá-la contra o portão – No entanto, ouve uma rapariga que dizia ser A Rosette Christopher há uns dias atrás.

- Eu…

- Estás a tentar imita-la? – interrompeu Bobby pegando no relógio pendurado ao pescoço dela – É para isso que serve o relógio? Mas porque é que está azul hoje quando ontem estava negro? – perguntou Bobby sem a deixar responder – Fizeste um pacto com um demónio para trazer a Irmã Rosette de volta? O que é que aconteceria se eu abrisse o relógio?

- Não! – gritou Rosette arrancando o relógio das mãos dele antes de conseguir controlar-se – Quer dizer…isto é só um brinquedo.

O sorriso nervoso de Rosette não chegou nem um pouco para convencer Bobby. Com um movimento rápido, arrancou o relógio do pescoço dela. Em cinco segundos estava no chão.

Com um joelho a pressionar as costas de Bobby, Rosette tirou-lhe o relógio e amarrou-o à volta do pescoço já que ele tinha partido a corrente ao puxá-lo.

- Isso é um belo movimento para uma simples freira. – comentou Bobby a lutar para respirar normalmente.

- Anda comigo. – pediu Rosette pondo-se de pé.

No entanto, aquilo não era um simples pedido, parecia mais uma ordem ou uma ameaça. Bobby sentia que, se não fosse com ela, algo de mal podia-lhe acontecer. Por isso, levantou-se, sacudiu a terra do fato seguiu-a até pararem em frente à arrecadação escondida por árvores.

- Sabes o que é isto? – perguntou Rosette seriamente.

- Sei. – respondeu Bobby sem perceber onde é que ela queria chegar – É a arrecadação onde guardamos coisas desnecessárias.

- Sabes o que era antes disso? – continuou Rosette vendo Bobby abanar a cabeça. Deu alguns passos em direção a uma árvore e tirou de lá a saca de armas que tinha escondido ali no dia anterior. Com destreza, tirou de lá de dentro a Beretta e desmontou o carregador, mostrando-lhe o conteúdo – Ontem, depois de o Padre ter ido para o seu quarto, eu voltei para ver o interior da arrecadação.

Com cuidado, Rosette entregou-lhe o carregador para ele ver melhor.

- Isso são munições que usávamos…que os exorcistas usavam para matar demónios. – Rosette esticou a mão para a arrecadação – Era aqui que eram construídas, ou melhor dizendo, inventadas, por um cientista a que chamavam de Elder. Encontrei essas num armário secreto, lá dentro. Mas foram as últimas que ele criou…

Rosette teve de fechar os olhos durante alguns momentos para impedir que as emoções transbordassem.

- Disseste que os exorcistas eram violentos e que é por isso que já não existem. – lembrou Rosette abrindo os olhos novamente – Talvez assim fosse. Mas tu não viveste naquela época e não sabes como era. Estava tudo tão…confuso, na altura. Não havia outra maneira de fazer as coisas. – limpou uma lágrima que tinha escapado e sorriu-lhe – Eu não estou a tentar imitar ninguém nem trazer ninguém de volta.

- Então o que é que estás a dizer? – perguntou Bobby devolvendo-lhe o carregador – Que és a verdadeira Rosette Christopher? Isso é uma parvoíce.

- Hei, eu não disse nada. – alegou Rosette piscando-lhe o olho, enquanto voltava a montar o carregador – Só acho que não deves falar das coisas antes de saberes o que é verdade ou não.

- Eu não conheço ninguém que viveu naquela época. – lembrou Bobby – Como é que hei de saber o que é verdade ou não?

- Se não sabes é melhor não dizeres nada. – respondeu Rosette. Pegou na saca que, por Bobby saber onde estava, já não estava segura ali e virou costas – Vemo-nos ao pequeno-almoço.

- Quem é o Chrno, “Claire”? – perguntou Bobby vendo Rosette parar – O que é que ele tem a ver com o relógio?

Com uma cara mais perturbada do que queria, Rosette olhou para ele por cima do ombro. – Estás a perguntar à pessoa errada.

Bobby decidiu não dizer mais nada e deixá-la ir. Afinal, já tinha o que queria.

Com um sorriso, levou a mão ao bolso de dentro e tirou-o para poder olhar bem para ele. Com cuidado, passou o polegar pelo vidro azul do relógio verdadeiro.

Não tinha sido fácil guardá-lo e troca-lo por um falso, pois não contava que ela fosse tão rápida a deitá-lo ao chão.

E, se aquele fosse o verdadeiro relógio, a situação ia tornar-se interessante.

Passou os polegares pelos ferros suavemente.

Quais eram as possibilidades?


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Notas finais do capítulo

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