Ecos do Passado escrita por Isabelle


Capítulo 7
Almas Gêmeas




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Capitulo  VI

                 Almas Gêmeas 

 

Angel estava apreensiva. E se Draco fosse, na verdade, Jonathan Malfoy, e Lizie estivesse tentando levá-lo consigo? Angel não acreditava em reencarnação; contudo, pelos últimos acontecimentos, era obrigada a acreditar em tudo - os últimos dias se mostraram atípicos em todos os sentidos.

 

A dúvida a consumia. Angel não seria capaz de deixar Draco Malfoy, nem naquele momento, e nem nunca. Ela o sentia com tanta intensidade que sabia que não sobreviveria sem ele.  O garoto de olhos tristes se tornara o ar que ela respirava, vida que preencheu todas as lacunas do seu coração. Angel já não olhava mais para o poente, mas sim para aqueles olhos cinzentos prestes a desabar em tempestade.

 

Malfoy sentia o perfume de Angel e sua aflição. Ele compreendia muito melhor o que se passava ali, afinal, era bruxo. Sabia dos riscos do ritual. Ele poderia ser a reencarnação de Jonathan Malfoy, o que achava improvável. Jonathan morreu por Lizie. Um amor assim é para sempre. Ele não se apaixonaria por outra assim, tão perdidamente, a ponto de sair da loucura por ela, mesmo se fosse uma Reed. E, mesmo recuperando toda sua memória, o amor que Draco sentia por Angel permanecia.

 

A cabeça de Draco doía. Angel estava sentada a seu lado com a cabeça recostada em seu peito. Ele olhava para seus cabelos, imaginando o que se passava com ela, e então depositou um leve beijo no topo de sua cabeça. Nesse momento, Harry, Ginny e Hermione entraram pela lareira, agora ligada à lareira dos Potter em Londres.

 

Hermione e Draco foram estudar a magia do círculo de proteção; a medibruxa trouxera um livro que tinha uma cópia do feitiço feito por Adele. Draco estava tão apreensivo que escutava a sabe-tudo com a maior atenção, sem o sarcasmo habitual, mesmo quando ela falava algo que até as criancinhas de Hogwarts já sabiam. Depois de passar e repassar todos os passos da magia, Hermione fez uma varredura em Draco com a varinha.

 

- Malfoy, se tivéssemos escolha eu não liberaria você para feitiços, sua magia ainda está muito instável. Terá que se concentrar ao máximo. Sei que é um bruxo poderoso, mas tem que encontrar seu ponto de equilíbrio. Você sabe das conseqüências. – A sala ficou silenciosa. Draco abaixou a cabeça, suspirou e olhou para Angel, lançando-lhe um arremedo de sorriso que foi interrompido por Hermione. – Tome isso. É uma poção fortalecedora, vai ajudar.

 

Draco apanhou o frasco das mãos da medibruxa e tomou todo o conteúdo de uma vez, fazendo uma careta para o gosto. Então, tomou as mãos de Angel, que estivera sentada ao seu lado na mesa desde a chegada dos três bruxos, olhou fundo em seus olhos, e apenas sussurrou:

 

- Confie em mim.

 

Sim, Angel confiava, mesmo vendo que, apesar do sorriso que havia no rosto pálido do garoto, seus olhos denunciavam sofrimento. Mas Hermione estava certa: eles não tinham escolha. Ela sentia que tinha que acabar com tudo aquilo.

 

Ginny explicou para Angel sua parte no ritual e o que aconteceria dentro do círculo. A ruiva esclarecera que ela poderia sentir a energia da magia fluindo a sua volta, ou mesmo não sentir nada, o que não significaria que o ritual não estava dando certo. Explicou também que Angel não poderia sair de dentro do círculo de proteção enquanto Draco não encerrasse o feitiço.

 

- Isso é uma coisa importante, Angel. – Interrompeu Draco, olhando profundamente nos olhos assustadiços da médica. – Aconteça o que acontecer do lado de fora do círculo, não interrompa o ritual. Mesmo que um de nós peça, mesmo que o aposento esteja em chamas. O círculo irá protegê-la, então não saia dele. O ritual não pode ser interrompido. Você me compreende?

 

- Sim, Draco...

 

A voz de Angel não era mais que um sussurro. Dizer que ele estava assustando a médica trouxa era apenas constatar o óbvio. Mas eles não tinham escolha. Se não fizessem o ritual, Lizie a assombraria para o resto da vida e Angel não suportaria isso. Malfoy a abraçou e sussurrou ao seu ouvido:

 

- Você pode desistir, se quiser. Nós encontraremos um outro meio de acabar com esse fantasma.

 

Angel olhou para Draco e viu desespero em seu olhar.

 

– Lizie é inocente e merece encontrar o seu amor, mesmo que seja você. Ela merece um descanso. E eu também. – com um sorriso cansado, Angel tentou parecer menos assustada - Eu confio em você, Draco. Sei que sua magia vai me proteger, posso senti-la em meu corpo quando você me abraça. Não se preocupe, eu estarei bem.

 

“Essa é uma Gryffindor”, foi o que todos ali pensaram ao ouvir Angel pronunciar aquelas palavras, e sentiram orgulho da amiga trouxa. Draco estava perdido, apaixonado por uma trouxa extremamente corajosa. Ironia de um destino incerto.

  

Voltaram à sala do ritual. Com certa dificuldade, Malfoy se equilibrou nas muletas ao mesmo tempo em que segurava um recipiente de prata contendo pétalas de rosas, e fez um círculo mágico em volta do pedestal que sustentava o livro. Angel ficou dentro do círculo mágico, vendo o olhar de Draco beirar o desespero ao encará-la. O loiro, enfim, fechou os olhos, buscando equilíbrio e concentração, empunhou a varinha e pronunciou o feitiço:

 

- Invoco os deuses do amor...

  Invoco as sílfides da floresta...

  Da lua, o manto perolado,

  Do céu, o brilho morno da estrela,

  Do meu coração, todo amor.

  Que se tornem escudo,

  Que nada de mal possa entrar,

  Que de dentro nada de mal possa sair.

 

Um leve brilho azulado envolveu o centro do aposento. A um sinal de Ginny, Angel começou a invocação do enforcado. Nesse momento, Lizie já esvoaçava entre eles, ansiosa.

 

- Das sendas da morte eu invoco o supremo guardião. Que a alma perdida do enforcado ache a luz do amor. – um vento soprou forte dentro da sala, apagando algumas das inúmeras velas que iluminavam o ambiente. Angel continuou, tentando não se abalar: - Eu invoco aquele que um dia morreu por amor. Eu invoco a alma perdida de Jonathan Malfoy. Que a luz guie seus passos. Que ele encontre o caminho. Que ele venha até Lizie Reed. Que ele reencontre o seu amor.

 

Terminada a invocação, todos estavam atônitos: nada aconteceu. Lizie afastou Angel do livro com uma força tão intensa que a arremessou contra a parede, deixando-a desorientada por um segundo. Imediatamente se lembrou das palavras de Draco: “Aconteça o que acontecer, não saia do círculo...”. O que estaria acontecendo? Angel procurou pela sala, mas não havia nenhum outro fantasma além de Lizie, que se encaminhava na direção de Malfoy. Seu coração falhou uma batida.

 

“Então é isso”, pensou Angel, desolada, “Ele é mesmo Jonathan”. Lizie tocou a testa de Draco delicadamente, e algo parecido com um fantasma separou-se do corpo de Malfoy, que caiu inerte no chão, assustando a todos. Angel correu até ele enquanto Lizie voltava para o círculo, levando a alma de Draco consigo.

 

Angel tentou falar com Lizie, mas foi inútil. Todas as tentativas de chegar perto deles terminaram com Angel sendo arremessada com violência contra a parede. Quando o desespero já ameaçava dominar todos os sentidos de Angel, algo se acendeu em sua mente.

 

- A luz! Jonathan não pode nos encontrar porque ela apagou a luz!

 

- Do que, em nome de Merlin, você está falando? – Ginny parecia desesperada.

 

- A luz daquele lampião que fica no portão de entrada! Ela tem que ser acesa para que Jonathan nos encontre! – Angel praticamente gritava. – Rápido, Gin! Acenda o lampião, rápido!¹

 

Ginny saiu correndo, e Harry a seguiu. Angel tentou se aproximar do livro, mas Lizie a impediu novamente.

 

- Como eu volto a entrar nesse círculo, Hermione?

 

A medibruxa mordeu os lábios, parecendo relutante a responder.

 

- Só se você estivesse inconsciente... Então a sua alma deveria continuar a invocação e terminar o ritual, mas...

 

- Então me ajude!

 

- Não, Angel! – Hermione estava incerta do que a garota a sua frente seria capaz de fazer sem magia. - É muito perigoso! Você pode ficar presa fora do corpo, ou coisa pior!

 

- Eu não tenho escolha!

 

Hermione olhou no fundo dos olhos de Angel e viu seu pedido silencioso de socorro. Sem pensar mais, sacou a varinha e estuporou a garota.

 

Angel sentiu-se cair sem sentidos com uma consciência estranha, e logo percebeu que estava fora de seu corpo. Sem olhar para trás, com medo de ver a si mesma caída de qualquer jeito no chão, a médica atravessou o círculo de proteção com estranha facilidade e recomeçou sua invocação. Não conseguia ouvir sua própria voz, mas sentiu que o feitiço estava dando certo. A energia ao seu redor aumentou gradualmente, chegando ao seu ápice quando uma tênue luz amarelada surgiu nos jardins, vinda do lampião que Ginny acendera.

 

Depois disso, tudo aconteceu muito rápido. Os versos da invocação nem haviam sido terminados quando uma nova presença etérea se fez presente, aproximando-se do círculo como uma névoa suave e perolada. Angel sentiu a emoção do fantasma de Lizie dominando todo o aposento quando o recém-chegado fez sua voz ecoar nas paredes:

 

- Lizie, meu amor...

 

Draco foi solto e esquecido quando Lizie se voltou imediatamente para Jonathan, seu pecado, seu único pecado. O estranho fantasma que saíra de Draco flutuava acima do corpo, incerto do caminho a seguir. Hermione, do lado de fora do círculo, foi rápida ao achar uma solução:

 

- Enervati!

 

Angel e Draco precisavam voltar logo aos seus corpos, então Hermione lançou o feitiço com toda a força que conseguiu reunir, e acabou por perder suas próprias energias, desabando na parede às suas costas. Draco abriu os olhos, acordando de seu estupor e tentando entender o que acontecia ao seu redor. Angel permaneceu desacordada, pois ainda tinha que terminar a união dos dois fantasmas.

 

O círculo de proteção de Draco foi lentamente tomando um tom cinzento que foi diminuindo a visibilidade de quem estava do lado de fora, até que, quando Ginny e Harry voltaram ao aposento, já não se podia enxergar mais nada do que acontecia dentro do círculo.

 

No centro do círculo, Angel observava Jonathan e Lizie, que se olhavam fixamente, de mãos dadas. Angel pôde sentir todo o amor que os unia, e todo o sofrimento e solidão que ambos enfrentaram em todos esses anos de espera, e isto a emocionou. Sabia que, se estivesse em seu corpo, estaria com os olhos cheios de lágrimas. Então, Lizie desviou o olhar do amor da sua existência e pousou-o sobre Angel.

 

- Eu queria acreditar que aquele Malfoy era meu Jonathan. Perdoe-me. Posso sentir que vocês se amam como nós dois. – Lizie olhou novamente para Jonathan, sorriu, e então continuou. – Agora você tem que nos libertar desse mundo, menina Reed. Conclua a leitura, e nós finalmente estaremos livres para nos amarmos.

 

Emocionada, Angel assentiu com a cabeça, voltou ao livro e leu o restante da invocação:

 

- Do mar de Posseidon, a calmaria,

  Dos portos do além, a nau da partida,

  Dos ventos do norte, a brisa macia.

  Que a noite se faça dia,

  Carregando o amor

  Rumo ao poente neste dia que se inicia.²

 

Um facho de luz prateada adentrou a janela quando os versos terminaram, ofuscando a luz dos dois fantasmas por um instante. Angel só tinha olhos para Lizie e Jonathan, que estavam maravilhados e aliviados com o fim daqueles dias tenebrosos de separação e espera. Com um último sorriso agradecido a Angel, Lizie segurou com firmeza o braço de Jonathan e, juntos, desapareceram em direção à luz prateada.

 

Quando seus olhos viram a luz, Angel se sentiu hipnotizada. A luz era morna, e tudo parecia tão simples ali, tão calmo... Era tão mais fácil permanecer ali, tão mais fácil...

 

Com a partida dos fantasmas, a bruma cinzenta que encobria a cena foi se dissipando, e Draco pôde ver quando Angel estendeu a mão para a luz prateada e começou a andar para ela. Ele então se deu conta do que acontecia: Angel estava morrendo.

 

- Angel! – ele gritou, correndo até o corpo da médica e tentando reanimá-la, sem sucesso. Desesperado, ele tentou acordá-la com feitiços, mas sua ansiedade não permitiu que nenhum deles saísse corretamente. A cada passo que Angel dava em direção à luz, o pânico de Draco aumentava. Em seus braços, Angel ficava mais e mais fria. – Alguém faça alguma coisa!

 

- Eu não sei o que fazer! – Hermione se desesperou. Estava fraca demais para tentar novamente o feitiço para reanimar, e as tentativas de Ginny e Harry não tinham obtido sucesso, tampouco.

 

Draco sentia como se o mundo estivesse ruindo. Lágrimas inundaram seus olhos cinzentos, e o sentimento tão sufocante de perda o engolfou com tal intensidade que todo o seu corpo se viu envolvido em uma estranha e fortíssima energia. Numa última tentativa, Draco apertou mais o corpo de Angel contra o seu e gritou, apontando sua varinha para o coração da garota:

 

- ENERVATI!

 

Angel viu a luz prateada desaparecer e todas as dores e sensações retornarem. Estava consciente.

 

Ao ver a médica tossir, voltando a si, Draco a estreitou nos braços com tanta força que quase a sufocou. Ele percebera o que é quase perder alguém, e conseguiu entender, finalmente, todos os sentimentos de Angel para com ele.

 

- Draco... – chamou Angel, sua voz ainda vacilante e muito trêmula. – Draco, a luz...

 

- Shhh... – ele afagou os cabelos de Angel com carinho, sentindo um alívio que não se podia medir em palavras. – Vai ficar tudo bem agora.

 

Todos na sala estavam atônitos. Hermione respirou fundo, sentindo a garganta seca e os olhos marejados. Ginny não estava muito melhor; tomada por um instante de emoção, a ruiva abraçara a cintura de Harry com força e enterrara o rosto em seus ombros. Tão transtornado quanto Ginny, Harry retribuiu o abraço e foi o único que teve voz para relembrar uma última coisa do ritual:

 

- Malfoy, você tem que desfazer o círculo.

 

Angel se remexeu nos braços de Draco, como se tentasse dizer, sem usar palavras, que Harry estava certo e que o loiro tinha que soltá-la. Relutante, Draco levantou-se e desfez o círculo que traçara, finalizando o ritual.

 

Quando toda a energia que preenchia o aposento se foi, Draco percebeu que o poderoso feitiço escudo que protegia o livro de feitiços de Adele havia se desfeito. Conseguiu aproximar-se do livro, tirou-o do pedestal e o fechou. Tinha uma sensação de missão cumprida. Draco olhou mais alguns segundos para o livro, e então percebeu o que deveria fazer com ele. Voltando-se para Ginny, que se soltara dos braços de Harry e agora limpava as lágrimas de seu rosto, Draco entregou o livro em suas mãos.

 

- A família Malfoy agradece solenemente à família Weasley pela fidelidade... E pela amizade.

 

Draco proferiu essas palavras com tanta sinceridade que Ginny deixou cair mais lágrimas e, num impulso, abraçou o garoto a sua frente, tendo a certeza de que ele havia, finalmente, crescido. Harry e Hermione jamais haviam sonhado em presenciar uma cena como aquela; ouvir aquelas palavras saírem da boca de Draco Malfoy era o bastante para deixar qualquer um estupefato.

 

Ao ver-se livre do abraço da ruiva, Draco pigarreou e voltou seus olhos para outro lugar. Foi então que viu que o pedestal voltara a seu lugar de descanso e que a tampa que o cobria estava novamente no lugar, deixando à mostra o pingente de Lizie. Draco retirou-o do lugar com certa dificuldade, e sorriu para a borboleta de pedras preciosas.

 

- Acho que isto te pertence, anjo.     

 

Draco entregou o pingente para Angel, que o recolocou no cordão de prata e prendeu-o ao redor de seu pescoço, com a ajuda do loiro. Não havia o que falar. Estavam cansados e precisavam urgentemente de um bom descanso.

 

Angel foi para a biblioteca com Draco, enquanto Harry, Ginny e Hermione ocuparam dois quartos de hóspedes no andar superior do Solar. Àquela hora da noite, todo o lugar parecia vazio. A presença de Lizie não era mais sentida, e não seria nunca mais.

 

Angel se colocou confortavelmente em uma camisola, e então encarou Draco, que havia acabado de se ajeitar na cama.

 

- Só para ter certeza... Você está bem? – Angel arriscou; não queria que Draco se zangasse com ela.

 

- Ficarei melhor quando a tiver bem segura em meus braços novamente. – respondeu o loiro, sorrindo. Mas seu sorriso desapareceu quando ele olhou mais atentamente para Angel. - Mas você não me parece bem. Parece cansada. Bem... Toda aquela magia em humanos normais não faz muito bem, mesmo. – aqui, o tom descontraído de Draco se tornou irritado. - E eu tive que aplicar um feitiço forte para não te perder para a morte! O que pretendia? Deixar-me?

 

- Quase. – admitiu a garota, estranhamente séria. O tom dela deixou Draco apreensivo. – Aquela luz era... Mágica... Era tudo tão intenso!

 

Um segundo se passou antes que Angel continuasse, sacudindo a cabeça para esquecer aquela estranha luz prateada.

 

- Eu te devo a minha vida, Draco. Eu não queria realmente morrer, mas estava cada vez mais difícil voltar... Não sei o que você fez, mas agradeço por tê-lo feito.

 

- Venha, deite-se. – Angel hesitou, o que deixou Draco ainda mais apreensivo. – Nem pense que vou deixar você longe de mim! Venha, precisamos dormir. Eu estou bem cansado, fazer magia consome nossas energias, e sabe Merlin de onde eu tirei energia o bastante para todos aqueles feitiços de hoje!

 

Angel finalmente deitou-se, e Draco aninhou-a debaixo do cobertor, o mais próximo possível de seu corpo. O sono chegou com uma rapidez espantosa, e não foi muito diferente com os ocupantes do andar de cima: Morpheu havia tragado a todos.

 

Tudo no solar seria bem diferente daquele dia em diante, e ninguém parecia ter pressa de começar nada, de voltar à vida antiga. Ela já não existia mais. Ecos de um passado distante haviam transformado a vida daquelas pessoas.

 

Hermione passara a acreditar mais na mudança das pessoas depois de ver Draco mudar e quase perder a vida por aquela médica trouxa.  Agora, a medibruxa pensava em Ron, seu noivo, agradecendo por ele estar em missão com os outros aurores - seria difícil gerenciar os ânimos dele e de Malfoy! Os dois nunca se deram bem, desde o colégio; mas então, Hermione se pegou desejando que o ruivo estivesse lá para ver o agradecimento que Malfoy fizera a Ginny e, talvez, passar a acreditar que nada no mundo é imutável.

 

Na biblioteca, Draco tinha um de seus pesadelos favoritos: as masmorras do Lord das Trevas, tendo Lucius como anfitrião. Seu pai era sádico e nunca o poupou. Sempre acordava banhado em suor, sufocado pela lembrança. Mas naquela noite foi diferente: ele sentiu a presença de Angel em seu sonho, viu-a destruir a porta da cela onde estava e dizer a Lucius, com uma voz calma e etérea: “Nunca mais ouse tocá-lo”. Depois ela simplesmente levantou a mão, e Lucius sumiu no ar. As masmorras desapareceram, toda aquela cena desapareceu, e o garoto triste de olhos grises se viu nos jardins de rosas do Solar Reed, em companhia da mulher que o salvou de todas as maneiras que se possa imaginar. Angel. Seu anjo da guarda. Seu porto seguro.

 

Por outro lado, Angel também fora resgatada de seu pior pesadelo: a solidão. Quando tirou Draco da cela, ela encontrara e resgatara seu companheiro para a vida. Nada de pecado, apenas amor. No jardim de rosas, seus lábios se tocaram e um doce beijo foi trocado.

 

Angel procurava os lábios de Draco na cama, entre acordada e sonhando com o jardim. Draco acordou ao sentir o leve beijo da garota, e correspondeu, aprofundando-o com cuidado para não acordá-la. Apesar disso, Angel acordou no meio daquele beijo arrebatador, sentindo que iria derreter ao toque das mãos de Draco, que passeavam pelos seus cabelos e começavam a descer pelas suas costas...

 

- Ai! – ela reclamou, ao sentir os dedos de Draco tocarem em algum ponto dolorido em suas costas. - Cuidado...

 

O garoto foi mais gentil, mas, ao ouvir um segundo gemido de dor, ele tateou no escuro à procura da sua varinha, quebrando o beijo. Angel se sentiu constrangida, mas a voz doce de Draco em seus ouvidos a desarmou.

 

- Vira, eu quero ver suas costas.

 

- Não precisa, não é nada.

 

- Vamos lá, seja boazinha.. – A garota se virou, contrariada, e Draco gentilmente levantou sua camisola, deixando as costas da morena à mostra. – Lumus!

 

Draco ficou perplexo. As costas de Angel estavam cheias de hematomas, e havia um bem feio perto das costelas.

 

– Não é a toa que dói! – Draco exclamou, assustado - O que houve aqui? Suas costas estão cobertas de hematomas!

 

Angel virou-se, puxando a camisola para baixo outra vez.

 

– Já disse, não foi nada.

 

- Angel Reed!

 

- Bem, eu precisei me atracar com um fantasma que estava levando o meu Malfoy para o além! – respondeu a médica, a contragosto.

 

- Como assim?

 

- Ela pensou que você fosse o Malfoy dela, e já estava levando sua alma pra luz prateada! E toda vez que eu tentava chegar perto de vocês, Lizie me atirava na parede! – nesse ponto, a voz de Angel se tornou levemente histérica – Eu fiquei desesperada! Mas então, eu descobri que a luz do lampião da entrada deveria estar acesa, para que Jonathan nos encontrasse, e assim tudo deu certo!

 

Draco sacudiu a cabeça.

 

- Mas como conseguiu voltar para o círculo?

 

- A Hermione me... Estuporou. É esse o nome do feitiço, não é?

 

- É, sim... Merlin! – Draco a abraçou novamente, com mais força. Angel sorriu por entre os braços do loiro.

 

- Que tal continuarmos de onde paramos, senhor bruxo, para compensar esses hematomas todos? Eu preciso ser mimada depois do que passei!

 

Draco não respondeu - o convite era claro demais. Tomou os lábios de Angel numa doçura que jamais admitiu ter por alguém, e ambos se perderam no mar de sensações que o toque do outro lhes proporcionava naquele momento único. Sem pressa e sem promessas... Apenas a entrega.

 

No dia seguinte, quando saíram do quarto, encontraram Harry, Ginny e Hermione já tomando café na cozinha. As criadas não haviam voltado. Os três bruxos olharam para o “casalzinho apaixonado” com suspiros e expressões de descrença.

 

- Malfoy apaixonado no café deve dar azia! – Hermione disse, brincalhona. Draco retrucou com um sorriso sarcástico no rosto:

 

- E uma sabe-tudo dá azia a qualquer hora do dia!

 

Harry fez uma careta e Hermione revirou os olhos. Ginny, ao contrário, abrira um sorriso zombador e perguntou, brincalhona:

 

- E então? Como foi a noite dos pombinhos?

 

- Já vi que não vamos ter paz nesse Solar hoje! – Draco resmungou, sentando-se à mesa e servindo-se de café. – Cadê a sua filha, trasgo?

 

- Com a avó. – respondeu Harry, ignorando o adjetivo nada educado – Imagina  eu ter que tomar conta dela e de uma doninha manca, quando tem um fantasma à solta por aí!

 

Todos riram, até Draco, que fizera uma cara de poucos amigos ao ouvir a palavra “doninha”. Angel ainda não entendia muito bem o vocabulário em questão, mas percebeu que havia uma animosidade entre os meninos ali. Mas uma trégua havia sido erguida, e se solidificava a cada dia.

 

 

oOo

 


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Notas finais do capítulo

N/A-1 Bem,era um antigo costume em cidades portuária, principalmente quando se tem nevoerio que um lampião ficasse aceso no alto do portão de entrada para que seu dono a encontrasse depois de dias no mar. Uma superstição, deveria haver uma luz para que ele soubesse que havia alguém a sua espera depois de dias de solidão no mar. "Bem romântico né?"
2-Antes que me perguntem, usei nos versos finais do ritual “rumo ao poente nesse dia que se inicia” , sei o que significa poente sim, mas segundo o costume Celta, em que o ritual foi inspirado o novo dia se inicia ao por do sol, apesar de que o Ritual não é 100% Celta, se fosse ele seria feito aos pés de um carvalho. Então a palavra poente fica com sentido correto na invocação acima!

3- Agradeço a todos que estão acompanhando essa fic e deixando seus comentários! Adoro ler o que vocês escrevem é um bom incentivo!!!



Jinhos da Belle



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