P. Bailey escrita por CellyLS


Capítulo 8
Viagem Gelada




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Depois de uma hora de estrada, Nigel não conseguiu mais conter o cansaço. Dois dias e meio sem dormir fazem alguém apagar em qualquer banco macio, ainda mais após ter viajado as últimas horas apertado no canto de um pequeno avião sem ar quente enquanto terminava de revisar as anotações de Preston.

Agora que havia desmantelado a armação de seu irmão, sentia-se mais leve. O fato de estarem viajando contra a vontade em uma caçada o deixava nervoso, é claro, mas isso já não era nenhuma novidade.

Nigel lutou o quanto pôde, mas o sono o venceu, turvando a bela visão do Mar Báltico e forçando-o a fechar os olhos. Os quatro viajavam agora em um jipe que fora alugado perto do aeroporto particular onde pousaram. Jonathan e o T.A. estavam sentados no banco de trás do automóvel. Sydney era a única dos reféns que foi liberada das algemas e estava dirigindo. Preston continuava sob a mira da pistola no banco do carona.

Jonathan obrigou os três a saírem do hotel de Londres na noite passada e conseguiu, sabe-se lá como, um vôo particular para a Estônia, o que indicava que não devia estar sozinho na busca pela urna. Os historiadores não esperavam que a relíquia tivesse sido deixada tão longe da Inglaterra, mas o imprevisto não impediu o loiro fazer os três virem atrás do artefato na mesma noite.

O equipamento que ele reuniu para a expedição, no entanto, era muitíssimo precário, isso se pudesse ser chamado de equipamento. O material resumia-se a uma machadinha de gelo, um pedaço de corda e algumas lanternas, nada do que se esperava da pessoa que realizou a proeza de atravessar a Europa de avião carregando tantos reféns. Deve ter esgotado os fundos que recebeu para a expedição – pensou Sydney – Provavelmente fornecidos pelo futuro comprador. Algum colecionador rico devia estar interessado na urna.

"Este seu assistente realmente é de muita ajuda!" O comentário sarcástico do loiro quebrou o silêncio no carro e fez Preston olhar para trás. Ele viu o irmão afundado no banco do carro, dormindo profundamente.

"Como ele consegue? Essas algemas são desconfortáveis, este carro está praticamente congelado e estamos sob a mira de uma pistola!" reclamou Preston tentando se mexer no banco. Os dois ingleses haviam sido algemados com as mãos nas costas e ele já não sentia os dedos de tanto frio.

"Ele não dorme há dois dias terminando a sua pesquisa, Preston!" Sydney ainda não havia conseguido tempo para exigir satisfações sobre as cartas e estava profundamente irritada com o homem ao seu lado. E pensar que ela havia acreditado em tudo o que disse e considerado lhe dar a chance de entrar em seu coração! Se Nigel tivesse demorado mais tempo para chegar a Londres talvez já fosse tarde demais. Agradeceu a seu inconsciente por tê-la feito ligar para Cláudia naquela noite.

Jonathan pressionou mais ainda a arma na nuca do inglês. "Do que ela está falando? Pensei que tivesse feito a pesquisa sozinho!"

"Oh, foram apenas alguns detalhes que precisavam ser acertados" foi a desculpa, seguida de uma risadinha amarela. Sydney apenas balançou a cabeça. O homem era mesmo incorrigível.

Seguiram a estrada por mais algum tempo e então a historiadora avistou o penhasco onde ficava a cachoeira. O lugar era lindo. Com certeza a paisagem certa para guardar uma relíquia feita com amor.

Amor... pelo menos uma pessoa naquelas dezenas de quilômetros de estrada e de mar tivera sorte em sua vida amorosa, mesmo que já tenha sido há muito tempo. Uma cachoeira fantasticamente esculpida no gelo com vista para o mar era o lugar perfeito para esconder as cinzas da pessoa amada durante toda a eternidade.

Voltou sua atenção para a caçada. Se tivessem sorte, a passagem para os túneis escondidos no penhasco não estaria bloqueada com gelo. Se tivessem mais sorte ainda, não congelariam até a morte antes de encontrar a cripta com a urna.

Assim que o carro foi estacionado, e depois de chamar Nigel algumas vezes, os quatro desembarcaram do veículo. Jonathan fez Sydney colocar as algemas novamente, com as mãos para frente, e fez o mesmo com Preston e o irmão, que ainda esfregava os olhos com sono.

Eles estavam usando casacos e calças de neve, mas o frio ainda parecia atravessar as pesadas roupas. Jonathan vestia um casaco azul igual ao de Nigel e os outros dois vestiam vermelho. Sydney estava tendo dificuldade para conseguir dobrar a manga de seu agasalho, que era comprida demais. "Não entendo como espera que sejamos capazes de fazer um trabalho de campo com as mãos algemadas!"

"As correntes são compridas, você vai conseguir. Agora MEXAM-SE!" e a arma mais uma vez tomou seu lugar na nuca de Preston.

Os dois caçadores de relíquias começaram a recolher no carro o pouco equipamento que Jonathan reuniu. Sydney ajudou Nigel a enrolar a corda para pendurá-la no ombro e ficou com duas das quatro lanternas. Ela ofereceu um olhar reassegurante ao assistente, mas recebeu de volta um mero 'Humpf'.

"Não acredito que acabou de fazer humpf para mim!"

Ele apenas conferiu o material, não se preocupando em responder.

"Nigel, ainda está zangado? Pensei que tivéssemos esclarecido o mal entendido."

"Claro, e agora não vai mais sair com Preston. Essa é sua grande resposta para todos os problemas. Mas isso não muda nada, Syd."

"Vocês dois, parem de conversar em comecem a trabalhar!" Interrompeu o grito de Jonathan. A caçadora continuou olhando para o assistente, procurando entender o que ele queria dizer.

"As mesmas palavras que você não hesitou em interromper quando ditas por mim foram o motivo de você viajar para outro continente buscando a felicidade ao pensar que eram de Preston. Devo ficar feliz por isso?" Foi a resposta amargurada do assistente, que pegou o equipamento e se afastou, indo em direção a Jonathan e seu irmão na plataforma.

Sydney fechou a porta do carro e alcançou os três homens, apressando o passo quando o loiro ameaçou Preston com mais violência. Quando saísse dali, teria muito a conversar para acertar as coisas com seu 'melhor amigo'. Ela mesma tinha que organizar suas idéias e sentimentos. Ainda precisava se acostumar com o fato de que fora Nigel quem escreveu as cartas e que sua amizade nunca mais seria a mesma.

A historiadora olhou ao redor e resolveu que por enquanto seria melhor concentrar-se na caçada. Não poderia estar distraída quando Jonathan cometesse algum erro que permitisse aos três saírem desta situação. Os sentimentos complicados ficariam para quando estivesse de volta em sua casa.

O sol da tarde brilhava de maneira ofuscante, mas não era suficiente para aquecer a plataforma que se encontrava gelada e vazia. Não havia nenhum turista por perto e Sydney ainda estava decidindo se isso era bom ou ruim. O gelo já começava a cobrir grande parte do local, inclusive as escadas que permitiam a descida pelo rochedo até o final da cachoeira.

"A entrada está em algum lugar nas paredes do penhasco. Devemos procurar a estrela que marca o local."

"Boa idéia, Senhorita Fox. Será a primeira a descer, seguida de seu assistente. Eu e Preston ficaremos aqui no topo das escadas."

Enquanto Jonathan mantivesse Preston tão próximo e com a arma tão bem protegida não havia como Sydney revidar. Eles teriam que obedecê-lo até o momento em que se descuidasse. Aí sim a caçadora acertaria as contas com o loiro cheio de si e poderia começar a se preocupar com seus problemas pessoais. Mas enquanto isso não acontecia, eles tinham uma relíquia para encontrar.

Os dois amigos desceram as escadas em formato de caracol e começaram a inspecionar as paredes, buscando qualquer sinal nas rochas. Alguns minutos, e uma marca chamou a atenção de Sydney. Ela teve que se esticar sobre o corrimão da escada e quase não alcançou a pequena rocha com formato de uma estrela de cinco pontas. "Encontrei a entrada. Como nós a abrimos, Preston?"

"Você deve pressionar os cinco dedos nas cinco pontas três vezes, até a porta se abrir!" Gritou Preston do alto das escadas.

Sydney pediu para Nigel segurá-la pelo cinto da calça e retirou sua luva. Ela esticou os braços algemados o máximo que conseguiu e acionou a passagem. Um ruído enorme se iniciou e as escadas começaram a tremer fazendo pedaços enormes de gelo despencarem em todos os cantos. Os dois caçadores se encolheram ao máximo na escada.

Alguns segundos depois e tudo o que se escutava era o som da água da cachoeira encontrando o chão e escorrendo para o mar. Sydney então viu a enorme passagem que se abriu logo abaixo da pedra em formato de estrela. Antes de poder dizer qualquer coisa, Preston já estava a seu lado, sob a mira da arma.

"Não vamos perder tempo, caçadores!" Jonathan deu um sorriso malicioso e aguardou enquanto Sydney e Nigel passavam sobre o corrimão e entravam na caverna. Ele empurrou Preston e com um passo largo os dois saltaram para dentro da parede do precipício.

Tudo estava escuro adiante no que parecia ser um extenso corredor cuidadosamente cavado na rocha. A única claridade provinha das lanternas dos quatro exploradores e da luz que se refletia nos vários pontos congelados das paredes.

"Devemos seguir este túnel por alguns metros e depois dobrar à direita" Preston apontou com o feixe de sua lanterna. Ele havia decorado os mapas dos corredores da cripta e descobriu uma maneira rápida de chegar à câmara principal, onde a urna estava guardada.

"Fox, mantenha-se à frente. O assistente deve ficar dois metros atrás. Eu e Preston os seguiremos de perto."

Preston começou a bater o queixo e fazer alguns ruídos, com frio. Ele se calou quando recebeu um empurrão com o cano da arma no meio de suas costas. Sydney trocou um olhar com Nigel, indicando que seguisse seu raciocínio.

"Conseguiremos chegar à passagem mais depressa se Preston ficar na frente."

"É claro, Milady. E então você terá a oportunidade perfeita de me atacar e tentar tirar a arma das minhas mãos" foi a resposta sarcástica de Jonathan.

"Sydney tem razão. Nós dois não sabemos o caminho correto. O gelo está cobrindo a maior parte das pistas, podemos acionar alguma armadilha ou demorarmos demais e congelar!"

"Nada mais conveniente para dois caçadores de relíquias do que acabarem presos para sempre em uma armadilha antiga! Fox fica na frente e ponto final. ANDANDO!"

Os três suspiraram frustrados. Ainda teriam que esperar para se livrar do loiro psicopata. Todos apressaram o passo.

Mais alguns minutos e Preston começou a balbuciar alguma coisa sobre a engenharia empregada para a construção daqueles túneis e quanto tempo ele passou estudando os mapas. Quando conseguiu a atenção dos três, que mais queriam que se calasse, ele apontou para uma das paredes do estreito corredor. "Esta deve ser a entrada."


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