Take My Heart -Em suas mãos tudo começou escrita por M Iashmine M


Capítulo 4
Capítulo 03 – Imparcialidade corrompida


Notas iniciais do capítulo

Como muitos esperavam - e como eu vinha avisando -, as coisas estão ficando extremas para nossos protagonistas.
Os conflitos estão chegando e prometem muito.
(Consegui fazer esse capítulo em tempo recorde! XD)
E quem esperava por uma "revolta" da parte de Cathie, acho que ficara satisfeito com esse capítulo.
Aviso: peguei pesado e pode ser um pouquinho assustador para alguns.
Ainda assim espero que gostem!^^



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Imparcialidade corrompida: “Você não tem esse direito”



Sim, Henry sabia que não haveria atrasos, mas...

– Eu te disse para não se atrasar – resmungou enquanto entravam no seu carro novo, um Hispano-Suiza branco fabricado em Barcelona no ano anterior.

– Senhor di Castle, eu...

– Mas não, tive que ir te buscar na casa da proprietária. O que diabos estava pensando? – Henry não poupava, metralhando palavra após palavra. Isso mesmo não fazia muito sentido, afinal o que ele pretendia com todo aquele sermão?

– Eu vi que o senhor estava cansado e não quis te atrapalhar, então...

– Então o quê?

– Eu achei que estaria estorvando se ficasse no quarto, foi por isso que saí.

– Saiu e foi passear na casa dos outros, não é? Mas não achou que se esqueceria da hora.

– Não, senhor! Eu estava atenta...

– Atenta a quê? Ao lanchinho da tarde? Ao seu joguinho fajuto de xadrez?

Aquela era a maior conversa que já tiveram até então e estava sendo... Uma discussão?

Catherine começou a sentir as primeiras palavras aborrecidas de Henry, mas ela de fato não fizera nada de errado. Então por que tudo aquilo? E o xadrez que aprendera com a senhora Lori podia ainda ser fraco – considerando o pouco tempo de treino que tivera –, mas ele não tinha o direito de chamar o xadrez de “fajuto”; tampouco agora que ela compreendia as palavras de seu pai atribuídas ao jogo: “Adoro elaborar estratégias e não há forma mais simples de se aprender isso do que jogando uma boa partida de xadrez. Cresça e aprenda, Cathie, pois isso poderá elevá-la às colocações mais respeitadas da Europa ou até mesmo salvará sua vida algum dia.” Ela ainda não compreendia a segunda parte, mas sabia bem agora o significado da primeira. Poderia ela evitar esses agressivos e infundados ataques de Henry se aprendesse a ser estratégica e elaborasse algo bem defensivo ao seu favor?

Ele continuava a resmungar mesmo que ela não respondesse mais, parando alguns instantes e recomeçando sem avisar e com mais frases que a faziam afundar ainda mais no assento do carro. Não, isso não era justo! Por quê? Por que está sendo assim? Sentiu algo quente subir-lhe a garganta, mas não estava enjoada nem nada assim... O calor eram lágrimas, formadas pela dor que surgira em seu peito e iam subindo pelo seu pescoço, dando-lhe dores nas têmporas e acumulando-se em seus olhos. Elas queimavam e tiravam sua visão. E então desceram por sua face...

– Senhor! – Tentou falar acima dos resmungos. – Eu não entendo bem onde eu errei, mas eu assumo todo e qualquer erro desde que pare com isso, por favor.

– Assume, é? Mas isso é óbvio! Eu disse que sairíamos ao anoitecer.

– E foi como o senhor disse!

– Olha, eu nem sei por que fiz isso por você, então não abuse, pirralha – ele a xingava mesmo com o olhar fixo na estrada escura e vazia à sua frente.

Pirralha?

Catherine sentia uma faca invisível rasgar seu peito. Tentou respirar fundo, esforçando-se para não soluçar – não daria a ele o gosto de saber que a estava vencendo por completo, mesmo que fosse o caso.

– Então... Por que fez isso? – Perguntou ela, depois que finalmente um minuto se passara completamente silencioso. – Por que me adotou?

– Há! Mesmo eu me pergunto isso agora...

Sentiu-se como se estivesse sendo estrangulada.

– Então por que me salvou, primeiramente? Por quê? Por que não me deixou morrer então? POR QUÊ? – As lágrimas verteram copiosamente, rolando por seu rosto como gotas de um ácido leve.

Por um instante, Henry não respondeu; sua imparcialidade fez com que seu raciocínio retardasse para compreender que havia exagerado. Oras, havia exagerado mesmo, ou de fato poderia dizer o que bem entendesse já que a garota lhe devia sua vida?

– Por que não me deixou morrer se era para as coisas seguirem desse jeito? – Catherine não reconhecia as próprias palavras, pois nunca antes falara em morte desta forma tão desesperada. – Se sou tão inconveniente, por que não deixou que me matassem ou que o fogo me consumisse? – Aquelas palavras eram mesmo dela?

– Ah, então quer dizer que não teria feito diferença se você tivesse morrido naquele dia? – Henry respondeu de forma fria, como se nenhum ser vivo fosse digno de pena. – Não se ache tanto, garota... Sua vida salva foi a “bonificação” do caso, pois eu fui contratado apenas para deter a quadrilha, independente dos métodos necessários para isso, tanto que achei melhor matá-los logo, e não ouvi queixas por isso.

Hipócrita, eu ou ele? Que ingênua, depositar minha gratidão em alguém que chama minha sobrevivência de acaso, de “bonificação”. Como pude ser tão ridícula?

Não, Catherine ainda podia ser um tanto ingênua considerando sua idade, mas ela não era idiota. Pelo contrário, orgulhava-se de compreender quando as coisas finalmente se fixavam em um rumo e o seguiam. Sua mãe lhe ensinara a amar, a ser gentil, ser honesta e caridosa, a como se tornar uma dama enquanto crescia; seu pai lhe ensinara a ser esperta, atenta a tudo e a todos ao seu redor, pois um dia poderia ser traída e abandonada, e nesse dia ela só poderia confiar em si mesma. Que irônico! Agora, quando tudo parecia desabar, ela mesma se traíra, pois confiara cegamente em um homem que salvara sua vida, mas considerava isso um mero acaso, um mero acidente, uma consequência completamente imprevista e sem importância.

– Sim – sua voz saiu rouca e seu rosto estava caído, mas uma frieza que não era dela a possuiu –, de fato o senhor cumpriu seu trabalho, detetive...

Como se uma neblina cobrisse instantaneamente a pista e sua visão ficasse prejudicada mesmo com a ajuda dos faróis, Henry reduziu sutilmente a velocidade. Mas então percebeu melhor que não era do lado de fora do carro, e sim do lado de dentro que havia algo errado. Sim, era como se uma fina e invisível camada de neve caísse sobre eles. Olhando de esguelha para a menina, percebeu que ela não demonstrava qualquer reação ao frio repentino. Pelo contrário, era como se o frio viesse dela. Antes que pudesse dizer algo, ela continuou:

– Cumpriu o dever ao qual fora incumbido, mas você não terá êxito em tudo que fizer... Suas tão honradas decisões irão ruir e lhe trair, serão incompletas.

O que era aquilo? A garota estava amaldiçoando-lhe, ou algo parecido? Sua surpresa foi tal no instante em que Catherine virou o rosto na sua direção e cravou o olhar de ambos, impedindo desvios; seus olhos, originalmente azuis, estavam acinzentados, mesclados a um tom avermelhado – este gerado pelas pesadas lágrimas.

– Hipócrita. – Sua língua de repente pareceu ferina como uma lança, o que fez Henry encará-la de frente, pasmado com a mudança radical no comportamento frágil da garota que observara nos dias anteriores. – Vou mostrar a você que mesmo alguém que lhe parece insignificante, como eu devo lhe parecer, pode arruinar suas preciosas e firmes decisões, seu doce e egocêntrico orgulho.

Dito isso, Catherine agarrou seu coelho pelas orelhas e abriu a porta do carro, no mesmo instante em que atravessavam uma estreita ponte.

– Vou lhe mostrar, Henry Dante di Castle, como a “bonificação” do seu caso pode ser facilmente destruída.

– E-EI, O QUE ESTÁ FAZENDO?! – Tentou gritar, mas a garota saltou pela porta do carro. – SUA IDIOTA! – Henry freou violentamente e também se apressou em sair do carro.

Aquela ponte felizmente não passava por nenhum rio, mas a encosta sob ela tinha pelo menos seis metros – de fato, o suficiente para alguém sofrer um acidente.

Henry correu para trás do carro, procurando onde a garota poderia ter caído, mas logo ouviu uma sequência de altos ruídos, algo colidindo contra a encosta. Correu até a lateral da ponte a tempo de ver, mesmo sob o breu da noite, o corpo de Catherine batendo e rolando cruelmente pelo declive. Tomado por um pânico repentino, Henry jogou-se da ponte, correndo na direção da garota – sentindo, agora com sua imparcialidade rompida, que aquela noite poderia deixar uma cicatriz em sua vida, ainda que não entendesse bem o porquê.

Mesmo correndo e pulando para desviar de pedregulhos, não conseguia acompanhar a queda da garota, até o momento em que ela parou inerte ao chegar à base irregular da encosta.

Henry saltou o último metro, chegando à base também, tremendo e ofegando. Correu na direção da garota e parou ao seu lado, entrando em choque e sentindo um suor frio percorrer todo seu corpo: ela parecia uma boneca atirada de um precipício, caída de forma triste e deplorável, frágil demais para se recuperar. Não! Não, não, não, não, não! Henry começou a temer pelo pior, quando, de repente, viu que ela ofegava ruidosamente. Ele caiu ao lado dela e tirou o casaco, dobrando apressadamente. Em casos normais saberia o que fazer, mas o pânico que o consumia o estava impedindo de pensar claramente.

Como se lidasse com uma fina e delicada camada de cristal, Henry tocou o rosto ensanguentado da pequena e lentamente o virou em sua direção... Ela estava viva. Graças a Deus! Seus olhos cintilavam ao refletirem a luz da lua, mas era um efeito criado pelas lágrimas que agora caiam silenciosa e dolorosamente. Sim, apesar do som arrastado de sua respiração, aquele silêncio e imobilidade significavam a dor que ela provavelmente sentia.

Sustentando cuidadosamente o rosto de Catherine com uma das mãos, colocou o casaco sob sua cabeça com outra.

– Por que fez isso, garota estúpida? – Henry não conseguia controlar nem mesmo sua voz, que saía entrecortada, quase em sussurros.

Não houve resposta imediata, apenas o claro esforço que ela fazia para respirar, como se cada inspiração fosse um segundo a mais que teria de vida. Era um movimento lento e torturante, até mesmo para Henry assistir.

– Por que... se... importa? – Questionou a garota, tentando focar o rosto de Henry através das lágrimas. Seu empenho para falar era ainda mais cruel de se ver, pois as palavras eram intercaladas por golfadas de ar estranguladas.

Isso chocou Henry ainda mais, como se já não estivesse assustado o suficiente. O quê?! Você quase morreu e reúne forças para dizer isso?

Mas Catherine ainda conseguia raciocinar, mesmo que todo seu corpo estivesse sendo tomado por ondas e mais ondas de dor. Não conseguia mover nem sentir seus membros, apenas aquela dor retalhadora. Antes que ele respondesse algo, continuou:

– Esquece...! Apenas... me responda... uma coisa...

Mas antes de dizer mais uma palavra sequer, começou a tossir e sangue escorreu por sua boca. Henry conseguiu ficar ainda mais pálido e um sobressalto percorreu seu corpo, como se ele mesmo a tivesse atingido agora e se arrependia do ato.

– Por que... você... me salvou? – Disse finalmente, com sangue escorrendo pelo canto da boca.

– De novo essa pergunta inútil? – Henry tentava se controlar para não soltar um riso nervoso.

– Sim... Inútil,... como sou... para você. – Ela parecia preocupada em ressaltar aquilo, fosse ou não verdade.

– O que está dizendo, garota idiota? Quase não respira e se esforça para dizer algo assim?

– Detetive... idiota!... Preciso... tentar... me manter... atenta... com algo, não?!

Aquele comentário pegou Henry de surpresa; mesmo naquele estado, ela daria um jeito de fazê-lo se arrepender por cada palavra dita, não?

Tentar se manter atenta? Isso quer dizer...

– E-ei, não me diga que está ficando sonole-...

– Apenas... responda... minha última... pergunta!... Pare... de tentar... parecer... preocupado...

“Parecer”? O quê...!

Ele novamente esperou. Um instante agonizante se passou enquanto ela puxava o ar com mais força, como se sua garganta começasse a se rasgar e seus pulmões se enrijecessem.

– Você bateu as costelas, só pode ser isso. Precisamos...

– Cale a boca!... – Interrompeu, quase em sussurro.

Henry arregalou os olhos, pasmado.

Catherine inspirou mais profundamente, provavelmente utilizando suas últimas forças para aquela última sentença.

– Por que... você... me... adotou? – Seu tom foi mais sério agora do que fora em qualquer momento até então. Para destacar cada palavra, inspirou com muita força entre elas, propositalmente desta vez.

Compreendendo a direção de todas as perguntas e respostas da garota até ali, Henry entendeu que aquilo era para ela como um último desejo de vida, como se aquela resposta pudesse salvá-la ou deixá-la mais em paz.

Mas Henry engoliu em seco; de fato, mesmo ele não compreendia bem por que tomara aquela decisão – exatamente como dissera antes, durante a discussão no carro. Ele queria encontrar uma resposta imediata, mas nada lhe vinha à cabeça, apenas a certeza de que não queria que aquela noite terminasse daquele jeito.

Ele se conteve para não sacudir a cabeça a procura de algo, pois pareceria que estava evitando a perguntar. Enquanto olhava para a expressão de dor no rosto de Catherine, vendo seu peito levantar e baixar cada vez mais lentamente, suas lágrimas parando de cair, só o que veio-lhe de repente foi...

– Por que você me abraçou? – Sim, aquilo fora o gatilho para sua decisão. – Naquela hora, na delegacia, você me abraçou e não soltou, nem mesmo quando tentei te afastar, nem mesmo quando gritei com você.

Ela o olhava, mas ele já não tinha mais certeza se realmente o estava vendo. Não podia deixar que ela se apagasse ali, daquela forma.

– Catherine, por que você me abraçou? – Conseguiu fazer suas palavras saírem suaves e pausadas. Precisava mantê-la consciente, pelo menos até que a levasse de volta ao carro.

Algo mudou na expressão do seu rosto; como se a dor lhe desse uma pausa, seus lábios se curvaram, formando um leve sorriso. Nunca imaginei que seria tão bom ouvi-lo dizer meu nome. A sensação é ótima. Quase chega a ser doce, quase chega a ser palpável. Parece realmente que ele poderia ser gentil e carinhoso com alguém... Comigo. Ai, meus olhos estão pesando tanto, mas acho que a dor está passando; que bom.

– Hei, Catherine! – Chamou Henry, segurando o rosto da garota em busca de toda a atenção que ainda pudesse despertar nela. Suas mãos tremiam e seu rosto estava próximo ao dela.

Por que sua voz está tão... Assustada? Estou me sentindo melhor agora, como se quase nada tivesse acontecido. Eu não quero te ver assim...

– Hei, olhe para mim! Catherine!

Eu estou te olhando. E estou melhor, pode acreditar. Não precisa tremer desse jeito. Eu sempre soube que no fundo você tinha algo especial...

– Não! Catherine!

Eu...

Uma última lágrima rolou pelo canto do olho que se fechava, muito lentamente.

– CATHERINE!!!



Aquele grito ecoou pela noite, doloroso, desesperado, agonizante... Completamente perdido.

Ele agarrou o corpo dela, inerte, para junto do seu, e chorou... Chorou como jamais fizera antes em toda sua vida, chamando seu nome incontáveis vezes – talvez na esperança de que isso aquecesse seu corpo e a trouxesse de volta.

Mesmo nesse momento, aquela frágil mão ainda agarrava o último presente que ganhara de seu pai... Os esguios dedos enrijecidos em torno de um par de orelhas peludas.






Hispano-Suiza (Barcelona)


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Notas finais do capítulo

Pessoal, espero que esse capítulo tenha sido bom, apesar de meio "radical".
Se gostaram, fico feliz.
Se não gostaram... Por favor, não me matem!
Ainda não sei como vou iniciar o próximo, mas não desistam de ler, por favor.
Eu adoro todos vocês e conto com seus maravilhosos reviews.
Até mais, minna!



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