Take My Heart -Em suas mãos tudo começou escrita por M Iashmine M


Capítulo 2
Capítulo 01 - Coração retalhado


Notas iniciais do capítulo

Chegou o primeiro capítulo.
Espero que gostem, pois é realmente mais complicado para mim escrever em terceira pessoa.
Enjoy!
OBS.: Em cada capítulo aparecerá seu título e seu subtítulo logo no início.



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Coração retalhado: “Mas não é o fim de tudo”

Na delegacia, estavam reunidos o Primeiro-Ministro de Copenhague, o primeiro delegado, o detetive di Castle e alguns policiais – os outros haviam sido mandados para a cena do crime para verificar se algum corpo havia resistido às chamas; mais tarde viriam informar ou trazer algum resto mortal ensacado.

O Primeiro-Ministro caminhava nervosamente de um lado ao outro do gabinete principal, esfregando uma mão na outra como se tentasse aquecê-las naquela noite fria; o detetive se acomodava na poltrona acolchoada perto da janela e o delegado, escorado em sua mesa de trabalho, lia seriamente uma ficha em voz alta.

– Elas moravam juntas em Warwick, capital do condado de Warwickshire, que acredito ser na região central da Inglaterra, mas não posso dizer com exatidão, pois os todos os documentos que trouxeram estavam na casa. Ao que sabemos, não sobrou muita coisa.

– O condado de Warwickshire,você diz?! – Comentou di Castle.

– Sim, você o conhece Sir Henry? – Questionou o delegado.

– Não, nunca ouvi falar, mas antes tarde do que nunca – respondeu o rapaz, sem muito entusiasmo na voz. - E o que mais pode me dizer a respeito da família?

– Por que está interessado senhor? – O Primeiro-Ministro interrompeu seu caminhar frenético e voltou-se à conversa.

– Algo errado em eu estar interessado?

– Desculpe a pergunta – continuou o chefe do governo, claramente incomodado pelo aparente descaso do jovem para com a situação -, é só que o senhor não demonstrou nenhum interesse no caso das outras famílias atacadas. Isso me parece um tanto desigual, um tanto injusto.

– Bom, se meu interesse te inquieta, vou responder então – agora di Castle juntou as mãos e apoiou os cotovelos na mesa do delegado à sua frente, assumindo a postura de alguém que vai dar uma aula aos de capacidade inferior de raciocínio. – Veja bem: no caso das outras famílias de alta classe atacadas, os assassinos deixaram algumas pessoas vivas - o que não me interessa, até porque não posso fazer nada a respeito e elas poderão se restabelecer com o passar do tempo; o ocorrido não passará de uma enorme cicatriz no seu histórico familiar.

– Detetive! – Exclamou o Primeiro-Ministro, incomodado com a aparente insensibilidade presente naquelas palavras.

– Porém – continuou o rapaz, ignorando o estado de espírito do homem –, quando a quadrilha invadiu esta última casa, os criminosos já pretendiam matar todos no local; o incêndio comprova isso, sendo que nenhuma outra casa foi incinerada.

– Mas isso... – Começou a dizer o homem, mas logo se interrompeu, sabendo que não tinha nada para dizer naquele momento.

O delegado decidiu se manifestar antes que uma discussão se iniciasse:

– Você acha que há algo por trás deste caso em especial, algo relacionado a esta família?

Henry di Castle observou a menina desmaiada no sofá mais ao canto da sala, ainda suja de sangue e coberta pelo grande casaco do delegado. Seu olhar ao fazer isso era translúcido e distante; seu objetivo não era se focar na menina em si, mas em algo muito além dela... Razões, significados, ligações, fatos.

– Se houver algo a mais que eu possa saber a respeito dela ou da família, talvez eu possa ajudá-los a conduzir a situação daqui para diante – respondeu enfim, os olhos ainda distantes.

– Senhor Primeiro-Ministro, não há mais nada para o senhor fazer aqui! – Ralhou o delegado para cessar os resmungos do outro. – Como o senhor pode ver, o caso da quadrilha “Lâminas de Sangue” está encerrado. Peço que se retire agora e tenha um bom retorno ao seu escritório. Se descobrirmos mais alguma coisa, entraremos em contato com o senhor; até lá, não há nada que o senhor possa fazer. Tenha uma boa noite.

O detetive logo compreendeu que o delegado queria lhe falar em particular e permaneceu em silêncio. Contudo, o Primeiro-Ministro ruborizou, provavelmente sentindo-se ofendido, e bufou.

– Mas isso é um ultraje! Estou claramente sendo expulso daqui!

– Eu não estou expulsando o senhor, meu caro Primeiro-Ministro – agora o delegado suavizou a voz –, só o que estou querendo dizer é que o senhor está muito agitado por algo que já não está mais em suas mãos.

– Como não está em minhas mãos?! Sabe quantos problemas vou enfrentar por toda Copenhague para tranqüilizar toda a população, e todas as informações que os jornais tentarão arrancar de mim?

– Eu compreendo senhor, mas ficando aqui nada se resolverá e só o que o senhor vai conseguir será acordar a única sobrevivente dessa família massacrada.

Com este último argumento, o Primeiro-Ministro olhou de esguelha para a criança sobre o sofá e engoliu em seco qualquer outra palavra que pretendesse cuspir naquele momento. Endireitando-se, o homem pegou seu casaco, colocou seu chapéu e virou-se para os outros dois.

– Boa noite, cavalheiros. Conto com os senhores para encerrar este caso devidamente – disse, enfatizando a última palavra antes de se virar e bater a porta ao sair.

O delegado suspirou após o estrondo.

– É por isso que não gosto deste homem... Consegue piorar tudo com seu nervosismo desenfreado.

– Que cara mais estranho – comentou o jovem detetive, quase se divertindo com a derrota do recém-partido.

– Quisera eu achar a mesma graça da situação, meu rapaz, pois de engraçado isso não tem nada – respondeu o delegado de volta, repreendendo sutilmente o comentário do mais novo. Em seguida, fez um sinal para os poucos policiais ainda presentes. – Vocês também estão dispensados. Por hoje é só, então podem ir para casa.

Aos poucos um a um foi deixando a sala. Logo estavam apenas os dois homens no local, e o oficial apontou para o sofá, para a criança que se remexia sob seu casaco.

– Ah, era isso que eu temia – lamentou.

A criança se remexeu mais e começou a esfregar os olhos. O barulho de fato a despertara.

– Ah, céus – suspirou. – Vou chamar minha esposa para cuidar dela. Não podemos deixá-la simplesmente se sentindo sozinha. Uma mulher lhe fará melhor companhia.

– Não, espere – interrompeu di Castle. – Ainda não terminamos de conversar e ela poderá ajudar com algumas respostas agora que despertou.

– Ora! No que está pensando, rapaz? – Repreendeu o delegado. – Ela é uma vítima que acabou de passar por um trauma enorme. E por Deus! Ela tem só dez anos! – Desencostando-se da mesa, adiantou-se na direção da menina caminhando lentamente para não assustá-la.

Mas Henry di Castle também se ergueu neste momento e foi na mesma direção, mas mostrando-se seguro e despreocupado, ao contrário do primeiro. Logo estava na frente da menina e agachou-se:

– Consegue me ouvir agora? – Perguntou diretamente.

– Ei, detetive! – Pigarreou o delegado, mas o rapaz o ignorou, enquanto a menina olhava para cima.

– Ei, menininha. Você consegue me entender agora? – Chamou o rapaz novamente, reconquistando a atenção da garota, fazendo-a olhar para frente. – Eu sei que naquela hora você não estava me entendendo.

– Você está bem, pequenina? – O delegado também fez sua tentativa.

Ambos esperaram alguns instantes olhando atentamente para a menina sem obter resposta.

– Vou pegar algo para ela beber – disse por fim o delegado, claramente preocupado.

– Só não traga nada alcoólico porque não ajudaria em nada – comentou o mais novo, brincando despreocupadamente, mas ainda assim sem rir.

– Não fale estas besteiras, detetive! – Respondeu o outro ao sair da sala.

– Acho que agora podemos conversar a sós. E então... Consegue me entender? – Perguntou di Castle mais uma vez, controlando o tom da voz para não assustar a garota.

– Sim – respondeu ela, a voz fina saindo rouca. Sua expressão era apática e seus ombros estavam completamente caídos sob o peso do enorme casaco.

– Bom, que bom. Acha que pode me responder algumas coisas? – Henry tentava manter um ritmo bem lento a cada nova frase, o que não era seu habitual, já que não costumava se importar com detalhes a fundo nos casos que resolvia.

– Sim – repetiu ela baixinho.

Não demorou muito e o delegado estava de volta trazendo uma jarra de vidro com água, um copo, uma vasilha de latão e um pano pendurado no braço.

– Ora, ora. Primeiro vamos limpar essa sujeira da senhorita – disse sem se importar de estar ou não interrompendo algo. Abaixando-se à frente da menina, largou o copo um pouco ao lado e despejou um pouco da água na vasilha, pegando o pano logo em seguida e umedecendo-o no líquido. – Pronto, logo estará melhor.

– Daqui a pouco de nada mais me adiantará ficar aqui – comentou o rapaz, quase em tom de birra.

– Vou ser claro então, detetive. A casa em que ocorreu o ataque pertencia ao tio desta criança, irmão de sangue de sua mãe. Sendo que toda a família estava reunida e considerando que o casal Stevenson não tinha herdeiros ainda, esta menina à sua frente acaba de se tornar a única herdeira de uma grande fortuna, tanto dinamarquesa quanto inglesa.

Di Castle olhou atentamente o rosto da menina, agora já limpo.

– De quanto estamos falando?

– De uma quantia grande o suficiente para sustentá-la pelo resto da vida... Se somar a fortuna de ambas as famílias, alguns milhões de libras, quantia a qual não posso permitir de modo algum que chegue ao conhecimento de qualquer político – avisou o delegado, a seriedade em sua voz mostrando seus receios enquanto falava e deixando claro seu raciocínio para o jovem.

– Humph! – Bufou finalmente. – Arranjar alguém que queira adotá-la não será problema de modo algum – levantando-se, Henry di Castle apoiou uma das mãos na cintura e fechou a cara.

– Ora, o que houve agora, rapaz? – O delegado largou o pano encardido de sangue na vasilha, colocando-a de lado, e serviu um copo de água para a pequena. – Por que tal mudança de humor tão repentinamente? Qual o motivo para ficar com essa atitude defensiva?

O delegado ergueu-se também, alongando os braços. Ambos se encararam por um momento, o mais velho a espera de uma resposta. Pareciam absortos do fato de que a menina os observava atentamente. Do seu inocente ponto de vista, os dois estavam de acordo num instante e no outro não. O senhor mais velho parecia muito preocupado, enquanto o mais novo demonstrava um completo descaso após ter recebido a informação.

Eles começaram a questionar um ao outro, mas ela não entendia a razão daquilo ou do que estavam falando. Não. A verdade é que ela não ligava para aquela conversa. Ela só não queria ficar sozinha. A herança? De que lhe serviria se alguém que ela não amava e não conhecia provavelmente assumisse sua guarda. Sim, era uma menina esperta e tinha desejos em seu coraçãozinho recém mutilado, e um desejo gritava mais alto, agora mais do que antes...

– Isso não lhe diz respeito, senhor delegado! – Grunhiu di Henry. – Se eu não gosto daquelas pessoas que ganham as coisas na vida sem sacrifícios, isso é problema meu.

– Como pode dizer uma coisa dessas? Toda a família dela foi assassinada e você diz que não é um sacrifício? – O delegado, assim como o outro, começava a corar pelo nervosismo.

– Eu não chamo este tipo de sacrifício de esforço; você entendeu o que eu quis dizer!

– Ora, seu garoto insensível e... – o delegado já se inflamava pela atitude de Henry, mas algo os interrompeu bruscamente.

Enquanto estavam presos na crescente discussão, ambos foram surpreendidos por um ato repentino da criança: ela levantara do sofá e caminhara até o meio dos dois, para logo em seguida se virar para di Castle e abraçar-lhe a cintura, enterrando seu rostinho no abdômen do rapaz; agarrada a ele, ela sentia sua respiração acelerada, as batidas furiosas de seu coração e também seu estranho sentimento de raiva. De fato, ela não compreendia sua repentina e explosiva irritação, mas sabia que queria vê-lo calmo, sentir seu coração em paz.

– E-ei, senhorita... – Chamou o delegado, agora assustado com a recente situação e temendo que a atitude da menina leva-se di Castle a algum extremo. - Por favor, menina...

– Ei, garota! – Exclamou Henry ainda irritado. – O que pensa que está fazendo? – Colocando uma mão sobre o ombro da garota tentou empurrá-la para longe. – Ei, me larga!

– Ei, menina, não faça isso. Vamos, venha cá – o delegado já suava a frio e também tentou afastá-la do outro puxando-a pelos ombros sutilmente.

Mas ela nem se moveu. O delegado começava a temer que Henry ficasse violento – mesmo que sem motivo fundado -, mas seus esforços, bem como os do rapaz, foram em vão; ela mantinha seus bracinhos firmes e o restante do corpo imóvel. Se Henry estava zangado, não era por suas roupas limpas – ele trocara de roupa após encerrar o caso - estarem sendo tingidas pelo sangue da roupa da menina; não, Henry não se importava com aquele tipo de coisa, não era do caráter se importar com coisas tão simples.

– Ei, me larga! Eu disse para me largar! – Henry gritou e tentou puxá-la para longe pelos cabelos,que desciam em uma cascata dourada até metade das costas. – Qual é o seu problema? O que pensa que está...

Sua voz foi cortada por um novo movimento da garota: com um último esforço, ela apertou os bracinhos em torno da cintura novamente, com toda força que ainda lhe restava para resistir, e balançou o rostinho de um lado para outro, como se tentasse negar algo; depois olhou para cima, acertando diretamente seu olhar no de Henry, e as lágrimas desceram copiosamente, mas em um silêncio mortífero. O brilho naquelas íris azul-celeste quase dilacerou o peito de Henry, que levou a mão em punho até o coração, na tentativa de conter a dor. O que fora isso de repente?


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Notas finais do capítulo

E então? Ficou bom?
Se pareceu confuso, não se preocupe... Vou explicar mais no segundo capítulo (senão este ficaria enorme XD).
Não esqueça do review!^^
Kisu



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