Take My Heart -Em suas mãos tudo começou escrita por M Iashmine M


Capítulo 10
Capítulo 09 – Crise pelo passado


Notas iniciais do capítulo

Voltando dos mortos!
Embora não consiga postar regularmente, estou me dedicando à história como uma mãe se dedica a um filho.
Espero que gostem. Boa leitura!*w*



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Crise pelo passado: “Aquilo que não deve ser tocado”

Henry ainda estava na capital. Dois dias se passaram desde sua reunião com seu superior, Linus.

Passara um dia corrigindo e reformulando seu relatório da missão em Copenhague – Henry tentara omitir detalhes para evitar um envolvimento profundo da menina no seu ofício, mas descobrira na reunião que, por bem ou por mal, a menina já estava envolvida.

Na tarde do segundo dia, recebeu a visita inesperada de um conhecido. O homem bateu na porta do quarto onde Henry estava hospedado e entrou ao receber a permissão do hóspede.

— Eu soube que você e Linus discutiram feio. É verdade? – perguntou o homem.

— É bom vê-lo também, Jullian – respondeu Henry, sem levantar os olhos dos papéis à sua frente. Ainda precisava finalizar alguns detalhes e seu trabalho estaria terminado.

— Me desculpe – corrigiu Jullian. - Olá, Henry.

— Olá. Sobre a sua pergunta... Como ficou sabendo?

— Esqueceu de com quem está falando? – brincou Jullian, rindo e apontando para si mesmo. – Esqueceu que, graças a quem sou, tenho o melhor dos ouvidos?

— Não, não esqueci – riu Henry em resposta. – Só tinha esquecido que decidiu se fixar aqui na capital.

Jullian era diferente de Henry em vários aspectos, tanto físicos quanto na questão de vestimentas. Enquanto Henry tinha cabelos loiros acinzentados e olhos de um azul cobalto, o rapaz tinha cabelos compridos e pretos, lisos até quase metade das costas, presos em um rabo de cavalo. Seus olhos eram castanhos, mas carregavam um brilho sobrenatural. Era esguio, bem alto e jovem, não tão forte quanto Henry, mas sorria com tamanha cordialidade que seu sorriso lhe dava uma aparência ainda mais juvenil, e poderia facilmente ser seu convite para novos relacionamentos. Não exibia nenhum traço de frieza ou hostilidade. Era quase tranquilo demais.

Henry terminou de escrever e olhou para o homem ainda parado à porta.

— Entre. Faz tempo que não conversamos – convidou, acenando com a mão.

— Faz tempo, não é?! – respondeu o outro, entrando no quarto e fechando a porta. - Você andou bem sumido nos últimos tempos – continuou, dando um tapa sutil nas costas de Henry.

— Trabalho.

— Sei. Só isso mesmo ou andou se divertindo por aí?

— Não, não tenho tempo para brincar ou me divertir – respondeu Henry, repassando em sua cabeça tudo o que acontecera em sua última missão.

— Se você diz, então é.

Henry deu uma olhada rápida no rapaz com o canto dos olhos. Jullian estava vestido com um terno preto simples, mas com belo corte, com uma camisa branca não abotoada totalmente sob o casaco. Um lenço mesclado em tons de vermelhos, bordô e marrom sob o colarinho da camisa pendia desamarrado sobre o tórax. Com exceção à camisa que estava sutilmente amassada e ao lenço solto que davam à sua aparência um ar levemente descontraído, Jullian parecia estar vestido formalmente, e Henry sabia que ele sempre se vestia assim. Mas havia um forte motivo por detrás disto...

— Estava lembrando de quando o conheci – disse de repente. – O visual de Chopin não lhe caía bem. O estilo de Liszt quando jovem até que era mais adequado, porém ainda muito antigo para alguém da sua idade... – fez uma pequena pausa e continuou. – Ao menos o preto lhe cai bem – disse por fim, pensando em si mesmo que só vestia roupas claras após a morte de seu tio.

— Bem, é melhor que eu vista algo que relembre século XIX do que século XVII.

— Certo, nesse caso preciso concordar. Joseph gostava muito de extrapolar na época das vestimentas dele.

— Ele amava a arte de Vivaldi, e é por isso que estou aqui hoje. Mas preciso concordar que ele era extravagante com aquelas roupas vermelhas e lenços brancos no pescoço.

Henry soltou uma pequena risada abafada, mas cheia de nostalgia.

— Sim, é verdade.

Um minuto de silêncio se estendeu sobre eles. Jullian caminhou até o outro lado do quarto e sentou em uma poltrona, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e o rosto sobre as mãos cruzadas.

— Olha, sobre o que você ouviu naquele dia... Da minha discussão com Linus... – começou Henry, quebrando o silêncio.

— Isso não é da minha conta, Henry. Cada um tem a sua vida e eu não tenho o direito de opinar na vida alheia. Joseph me ensinou assim. Fazer algo que vá contra isso é ir contra a memória dele.

— Entendo. Isso é muito nobre da sua parte. Muitas pessoas tirariam vantagens se tivessem as habilidades que você tem.

— Essas habilidades foram dadas pelo meu pai e sei que ele me presenteou com elas para que eu fizesse algo bom pelos outros.

— Joseph foi, de fato, um grande homem. Se ele o visse agora, ficaria muito orgulhoso de você.

— Se você diz, então significa muito para mim. Afinal, como meu veterano...

Henry riu.

— Você ainda usa essa hierarquia ordinária? – brincou. – Não sou seu veterano, sou apenas seu colega. O próprio Joseph chegou antes de mim. Logo, ele seria meu veterano primeiro. Quem você é agora não é diferente de quem você já foi quando Joseph estava aqui.

— Talvez não tenha mudado quem eu era, mas o que eu me tornei não tem volta.

— Veja isso como um último desejo dele... Essa foi a herança que ele lhe deixou.

— No lugar dessa “herança”, gostaria que ele ainda estivesse aqui.

Henry entendia aquele sentimento. Primeiro fora sua mãe e, depois, seu tio. Sim, ele entendia perfeitamente aquele desejo.

— Sei como se sente sobre isso – respondeu, baixando a cabeça e apertando as mãos entrelaçadas, deixando os nós dos dedos brancos.

Novamente o silêncio tomou conta do quarto, mas dessa vez durou menos.

— Ora, não vim aqui para uma conversa deprimente – anunciou Jullian, sorrindo e agitando as mãos no ar como se tentasse dissipar a atmosfera depressiva que havia se formado. – Uma coisa eu quero saber e você não vai me negar – exigiu, erguendo um dedo como se estivesse dando um sermão em uma criança.

Um pequeno sorriso se formou no canto da boca de Henry, que fingiu uma expressão desconfiada para acompanhar o ritmo do outro.

— E o que é?

— A garota! – disparou o rapaz.

Ao ouvir aquilo, o rosto de Henry enrijeceu, seus olhos se estreitaram e sua coluna se alinhou perfeitamente ao encosto da cadeira onde estava sentado. Conhecendo as habilidades especiais de Jullian, sabia que não adiantaria mentir sobre a existência de Catherine, afinal ele provavelmente já teria ouvido algo durante a discussão de Linus e Henry dias antes. De qualquer forma teria que trazê-la para a capital, e logo os fatos seriam conhecidos por todos. Então era melhor que os rumores não começassem a se espalhar, ao menos não da forma errada. Henry confiava no rapaz de verdade, mas primeiro queria saber o porquê da curiosidade dele.

— O que tem ela? – perguntou apenas.

— Ora, vamos, Henry! Não tente me enganar – comentou Jullian alegre, sem saber da posição cautelosa que o outro estava tentando tomar. – Ela é como o Darell? Quero dizer, você a acolheu como alguém da família, não é?

Henry não respondeu imediatamente. Apenas fitou Jullian com os olhos e ouviu o que ele tinha a dizer.

— Mas me diga como ela é! É bonita? Quantos anos ela tem?

A enxurrada de perguntas estava incomodando e agitando Henry, e por isso decidiu dar algumas respostas.

— Sim, sim. Eu a adotei de certa forma.

— Adotou? Como assim?

— Sou o novo guardião dela. Consegui ganhar sua guarda quando ainda estava em Copenhague.

— Ah! Entendo. Mas “guardião”? Quero dizer, ela tem quantos...

— Ela tem dez anos. É apenas uma menina – interrompeu Henry rapidamente. Possivelmente o outro deveria ter pensado que se tratava de uma jovem de pelo menos quinze anos, pela qual Henry pudesse desenvolver sentimentos amorosos em um futuro não tão distante.

— Ah, bom – respondeu Jullian, assentindo com a cabeça para mostrar que entendera a situação. – E Darell está bem com tudo isso? Quero dizer, ela mora com vocês agora e...

— Sim, ele está bem com isso. Na verdade, ele demorou a aceitar o que eu tinha feito, mas depois de conhecê-la, parece que cedeu. Acho que estão se dando muito bem neste momento. Ele deve tê-la levado no passeio que combinamos fazer quando acabei recebendo a carta de convocação de Linus e precisei sair às pressas.

Passeio?! – perguntou, incrédulo. – Você combinou de passear com alguém? Ainda mais com uma garotinha? – Jullian não conseguiu evitar provocar Henry e acabou deixando escapar uma sequência de pequenos risinhos.

— O que está insinuando? Está me chamando de antissocial? – Henry acabou entrando no ritmo de brincadeira do amigo. – Está dizendo que não sei fazer passeios e muito menos sei lidar com menininhas?

Jullian riu com vontade e a onda de riso alcançou Henry. Ficaram rindo por alguns instantes até pararem para respirar e recobrar a conversa.

— Bem, sobre isso... Aconteceram muitas coisas e digamos que eu não fui muito simpático com ela no início e, para as coisas não piorarem e para o Darell não arrancar meus cabelos por teimosia, acabei sugerindo o passeio. – Respondeu Henry. – Eu nem sabia de fato o que faríamos, mas achei que seria um modo de melhorar a imagem que ela deve ter de mim.

— Nossa! Você conseguiu deixar sua imagem tão ruim assim para uma criança?

— Provavelmente a pior imagem possível. Acho que ela só deve ter vindo comigo por eu ter salvado sua vida.

— Então ela confia em você... – disse Jullian, mais como se estivesse fazendo um questionamento.

— Talvez.

Os dois rapazes conversaram mais alguns minutos até Jullian informar que tinha coisas a fazer e que esperava encontrar o amigo com mais frequência. Henry concordou, dizendo que também precisava entregar os documentos que havia terminado para Linus e que, por conta do estresse que não havia eliminado completamente desde que retornara a Luxemburgo, ficaria na capital para descansar e tirar um dia de folga.

Passado aquele dia, Henry decidiu retornar. Acordou cedo, informou à recepção do hotel que estava partindo para que encerrassem sua conta e seguiu viagem. Dirigiu ininterruptamente durante toda a manhã, pois tinha expectativas de chegar em casa ainda no início da tarde.

Graças ao bom tempo e ao pouco movimento no caminho, seu retorno a Clervaux se deu dentro do tempo esperado. Chegou em casa um pouco depois das duas horas da tarde. Estava cansado e dolorido de dirigir por tanto tempo sem nenhum intervalo sequer, e por isso nem se deu ao trabalho de guardar o carro imediatamente, deixando-o em frente à mansão como fizera ao trazer Catherine consigo na semana anterior. O carro poderia esperar até depois. Agora o que ele mais desejava era tomar um banho quente para aliviar a tensão muscular. Mas, antes disso, precisava encontrar Darell para avisar do seu retorno.

Entrando na casa, Henry retirou seu trench coat bege de sempre e o dobrou sobre um braço, enquanto carregava sua mala com a mão livre.

— Darell – chamou, afrouxando a gravata com a mão que não segurava a mala. – Darell, cheguei! Estou extremamente dolorido e preciso de um banho.

A única resposta que obteve foi sua própria voz repetindo em eco pela casa as mesmas palavras que acabara de dizer.

— Darell? – chamou mais alto. Novamente apenas eco.

Resolveu fazer outra tentativa.

— Catherine? Catherine! – chamou insistentemente.

Nada.

Onde raios estão estes dois?, pensou ao largar suas coisas sobre uma poltrona na sala de estar. Chegou a ir até os quartos de cada um, mas estavam vazios.

Decidiu procurar do lado de fora. Desceu trotando lentamente os degraus de entrada e contornou a mansão, indo para os fundos da propriedade. Passou primeiramente no jardim, seguindo por uma das trilhas até a fonte central. Contornou-a lentamente, observando em todas as direções para ver se avistava o amigo ou a menina, mas não encontrou ninguém. Seguiu então por uns cinquenta metros no sentido noroeste à casa, oposto ao vale, na direção de um enorme celeiro, onde ficavam alguns cavalos e uma antiga carruagem da família. Habitualmente o carro era colocado logo ao lado da estrutura, guardado sob um pequeno telhado sustentado por seis pilares de madeira e coberto por uma lona. Entrando no celeiro viu que dos quatro cochos onde ficavam os cavalos, dois estavam vazios. “Ah, devem ter descido o vale a passeio”, concluiu.

Quando estava retornando à entrada da casa, ouviu um bater de cascos surgir ao longe e ir aumentando. Virou-se para verificar sua origem e avistou Catherine se aproximando rapidamente montada em uma égua cinza claro.

— Senhor Henry! – exclamou, sorrindo. Quando chegou perto do rapaz, desmontou e correu para segurar sua mão. – Fez uma boa viagem, senhor?

— Fiz sim, obrigado – respondeu sorrindo, surpreso com a recepção. – Onde estava?

— Eu e o senhor Darell fomos passear a cavalo no vale – disse alegremente, dando pequenos pulinhos e confirmando o que Henry já havia concluído instantes antes.

— Porque voltou sozinha?

— Na verdade já estávamos retornando quando o senhor Darell disse que queria verificar os limites ao sul da propriedade. Mandou que eu viesse na frente pois poderia demorar um pouco. Eu teria ficado com ele se já não estivesse cansada... Andamos a tarde inteira por todos os lados – disse fazendo grandes círculos com os braços no ar.

— Não parece cansada para mim – observou o rapaz, rindo novamente.

— Estou, mas estou feliz que esteja de volta, senhor!

Henry sorriu e se limitou a afagar o topo da cabeça da garota.

— Ah! Senhor Henry, quero lhe mostrar uma coisa! – disse repentinamente, ainda mais animada.

— Se não formos muito longe, tudo bem, pois também estou cansado da viagem – respondeu abertamente.

— Não, não... É logo ali – acenou com a cabeça, balançando suas mechas loiras sem realmente indicar uma direção.

— Ali onde?

— Venha, o senhor vai ver – disse apenas, puxando-o pela trilha que seguia até o bosque atrás da casa.

A princípio Henry não percebeu onde a menina o estava levando, pois não imaginava que ela soubesse a respeito da estrutura que se escondia entre as árvores.

— Está tudo muito lindo! Espero que o senhor fique feliz! – informou a pequena, quase chegando à estrutura.

Quando fizeram uma última curva, a estufa se revelou diante dos dois e Henry parou. Catherine não percebeu e soltou sua mão, indo na direção da porta para abri-la. Estava destrancada, o que deixou o rapaz sobressaltado, sem compreender o que estava acontecendo.

— Demorou, mas conseguimos limpar tudo a tempo! – exclamou a menina, já entrando pela porta.

Henry começou a mover-se mecanicamente, com a mente ainda entorpecida, incrédulo do que via. Entrou pela porta logo em seguida, analisando milimetricamente cada canto do lugar.

Catherine esperou, empolgada, que ele avaliasse o árduo esforço que ela e Darell haviam dedicado ao transformar o lugar há tanto abandonado. Ele foi até o final da estufa, ainda em silêncio, e parou.

— Ficou tudo tão bonito! Não acha, senhor Henry?

Como que despertasse ao ouvir novamente seu nome, o rapaz fechou os punhos tão fortemente que os nós dos dedos ficaram brancos e seu corpo tremia.

— Quem – começou a dizer baixinho – permitiu que você entrasse aqui?

— Senhor? – indagou a menina, sem entender o que ele havia dito.

— Quem deixou você entrar?! – bradou de repente, virando-se para a entrada, onde a menina estava parada.

A jovem juntou as mãozinhas sobre o peito fortemente, tremendo com a reação.

— Eu... Eu... O s-s-senhor D-Darell... – soluçou amedrontada, baixo demais para ser ouvida.

— QUEM DEIXOU VOCÊ ENTRAR AQUI!? – gritou Henry novamente, agora caminhando furiosamente na direção da pequena.

Apavorada com a explosão, Catherine começou a chorar e virou-se o mais rápido que suas pernas permitiam, disparando para fora da estufa e retomando o caminho de pedras.

Henry não a seguiu imediatamente, o que lhe deu um tempo para fugir. Chegando à frente da mansão, avistou a égua da qual havia descido instantes antes e correu em sua direção. No minuto seguinte, o rapaz disparou estufa afora também, sem de fato saber o que fazer, mas ainda tomado pela raiva. Quando alcançou o fim da trilha, a menina já disparava na direção ao vale novamente, de onde viera.

Ainda furioso, Henry urrou e socou o ar com a mão, voltando para dentro de casa.

— Maldita enxerida! – gritou subindo a escada principal e marchando ruidosamente para seu quarto.

O tempo passou rapidamente, mas não foi percebido por Henry até o momento em que foi acordado por Darell em seu quarto. Havia caído no sono devido ao ataque de raiva.

— Olha quem está desmaiado... Seja bem-vindo ao lar – cumprimentou Darell tranquilamente. – Mas da próxima vez tente não dormir com sua roupa de viagem, ainda mais se estiver suja – comentou em tom debochado em seguida.

Henry não achou graça devido ao mal humor que ainda o possuía, e olhou torto para o amigo.

— Nossa! Parece que dormiu no vinagre! – exclamou, surpreso com a feição rabugenta que lhe era direcionada.

— Você não sabe de nada – murmurou o rapaz, sentindo sua boca áspera como serragem.

Darell ignorou a resposta amarga e olhou em volta, como se procurasse algo no quarto.

— Você viu a Cathie? Eu mandei que voltasse na frente, mas já procurei por todos os cantos da casa e não a encontrei em lugar algum... Talvez esteja no jardim, mas ainda não olhei por lá... – questionou, mas conforme a expressão de Henry ia piorando com suas palavras, acabou sendo silenciado quando este começou a falar.

— Aquela peste! – exclamou baixinho, ainda tentado se livrar da sensação horrível em sua boca.

— O quê?

— Aquela peste! – repetiu Henry, agora mais alto e com a raiva reacendendo. – Por que ela se mete no que não lhe diz respeito?! Se eu pudesse voltar atrás e deixa-la onde a encontrei...

— Harry, do que você está falando? - interrompeu Darell, alarmando-se com os comentários do outro.

Henry sentou-se na cama, tentando endireitar a coluna e o mal-estar no pescoço.

— Aquela intrometida! Como conseguiu entrar lá? – murmurou novamente, mais para si do que para ser ouvido.

— Harry! Do que você está falando? -  Darell alarmava-se cada vez mais.

— Aquela pirralha entrou sem permissão onde não devia! – exclamou, agora mais alto.

Sem que mais nenhuma palavra precisasse ser dita, o rapaz indiano empalideceu, começando a ser esmagado pela culpa.

— Henry, onde está ela? – perguntou, com a cabeça baixa para esconder a aflição que percorria seu rosto, fechando os punhos.

— Não me interessa – disse amargamente. – Quero mais é que fique longe daqui...

— Henry! ONDE ESTÁ ELA? – agora Darell agarrou os ombros do amigo e o sacudiu.

— Não me importa! Ela não devia ter entrado na estufa...

— EU permiti que ela entrasse! EU lhe mostrei a estufa e a convidei para limpá-la! – disparou, sentindo preocupação tomar o lugar da culpa. – ONDE ELA ESTÁ, Henry?

— Você...? O que você... – começou a indagar, confuso.

— Ela lhe mostrou o que fizemos na estufa, não foi?! Provavelmente ela chegou logo depois de você e quis lhe recepcionar com uma surpresa... – concluiu Darell. – Pobre criança!

— Como assim? Quem disse que vocês podiam entrar lá? – questionou Henry de forma autoritária.

— Seu ignorante! Pare de viver no passado! Pare de nutrir esses fantasmas dentro da sua cabeça e do seu peito! – acusou o rapaz, empurrando o amigo para trás e fazendo-o cair na cama novamente. – Você brigou com ela por causa de uma estufa velha e abandonada que nós restauramos?! O que, aliás, foi ideia minha?! Você não tem coração, Henry?!

Tendo dito isso, Darell disparou para fora do quarto, descendo freneticamente a escadaria para ir atrás da menina.

As horas passaram rapidamente e Darell não a encontrou em lugar algum. O céu já estava tingido com as cores do crepúsculo e não havia muito mais tempo. Darell sabia que sozinho não poderia fazer aquilo e foi atrás de Henry. Encontrou-o escorado com o braço e a cabeça contra o vidro da janela curva do salão principal. Estava com o rosto voltado para o chão.

— Henry...

— Você não a encontrou? – perguntou baixinho, interrompendo o amigo enquanto este se aproximava.

Darell não respondeu imediatamente.

— Isso não está mais ao meu alcance... não sem ajuda, Henry. A sua ajuda.

O rapaz se afastou da janela sem dizer mais nada e disparou porta a fora, montando no cavalo que Darell havia deixado um minuto antes.

— Você pode encontra-la, Harry, mesmo que seja na escuridão – murmurou para si mesmo.

Henry sentia o vento úmido e gélido atravessar suas roupas e cortar seu rosto e suas mãos enquanto o cavalo disparava pelas trilhas e árvores do vale, mas não se importava. Ele observava tudo atentamente através da noite que se estendia à sua frente. Todos ruídos vinham até seus ouvidos em frequências sutis e distintas, e cada pequena ou grande criatura envolta pela escuridão aparecia a seus olhos como espectros luminosos. Reduziu sua velocidade, puxando as rédeas, ao ouvir um breve e baixo relincho não muito longe de onde estava. Aproximando-se de onde o som viera, pode ouvir o som de mais alguém respirando junto ao cavalo. Desviando de alguns pinheiros, Henry viu um grande corpo cinza claro deitado sob uma das árvores, acomodado junto ao tronco de costas para o rapaz.

— Finalmente. Achei você – disse, desmontando e caminhando na direção da égua cinza que conhecia tão bem.

Ao se aproximar por trás, acariciou a cabeça do animal para ser reconhecido e não assustá-lo.

— Boa garota – sussurrou.

Em seguida contornou-a e agachou-se a sua frente, vendo que a fêmea protegia um corpo menor junto ao abdômen. Mesmo através da escuridão, Henry viu que o rosto de Catherine estava manchado pelas lágrimas que havia derramado horas antes. A menina dormia profundamente, apesar do frio, devido ao susto repentino causado pelo surto do rapaz e ao cansaço da fuga.

Henry curvou-se, apanhando o corpo adormecido da menina nos braços e as rédeas da égua em uma das mãos.

— Vamos lá, vocês duas. Vamos para casa.


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Notas finais do capítulo

E aí?! O que acharam?
Espero ter agradado, pois fiz com carinho especialmente para vocês!
Não esqueçam de dar sua opinião! =]
Beijos e até o próximo capítulo, meus queridos e queridas! *w*



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