Back To December escrita por Nynna Days


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Outra inspirada na música de Taylor Swift e essa é para o meu ex- namorado. Que ele seja feliz.



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Back To December

Aquela seria a conversa mais tensa de toda a minha vida. Meu ex-namorado do tempo da escola estava sentado na mesma mesa que eu, me encarando. Quando a campainha tocou a 5 minutos atrás, a última pessoa que esperava passar pela porta era ele. Se passaram tantos anos. 2, 3 anos. A quem eu queria enganar? Sabia os dias, as horas, os meses e os anos que se passaram depois daquele dia.

Só não esperava o encontrar depois de tanto tempo.

Mesmo não demonstrando, estava feliz por ele ter tirado um tempo para me ver. Sua expressão não era a das melhores. Estava tenso, as mãos cruzadas na frente do rosto e os lábios franzidos. Eu não ficava muito atrás. Tinha um motivo para ele estar ali e no fundo sabia que não iria gostar nada.

“Se você me olhasse, eu poderia começar a falar”, ele disse chamando minha atenção. Obedeci-o e assenti. Senti uma leve pontada no peito por encará-lo. Tanto tempo e ele ainda era o mesmo. “Como você tem andado?”

*Bem,”, respondi, confusa. Mas feliz por tocarmos em um assunto tão neutro. “E você? Como está sua vida?”, me empolguei e sorri. “Me conte de sua família. Não os vejo faz um tempo.”

“Eles estão bem”, ele disse destacando cada palavra com cuidado.

Parecia presunçoso em falar comigo. Ou melhor, sua guarda estava em pé e eu sabia o porque. Na última vez que ele tinha me visto, ainda trazia tristeza ao meu coração e não era as melhores lembranças. Me levantei, um pouco incomodada com seu olhar.

“Minha irmã está namorando.”, ele disse de repente. As palavras saíam arrastadas de sua boca, como se ele tivesse medo de pronunciá-las. Encarei-o com os olhos arregalados. Ele soltou um riso forçado. “Aprendi que, quando se ama alguma coisa, tem que deixá-la livre, se não ela te abandona.”, me deu um olhar significativo.

“Então, está trabalhando com o quê?”, desconversei.

“Sou arquiteto”, ele murmurou batendo o dedo na mesa. “E você?”

“Atriz”

“Serve para você.”, seu olhar foi de cauteloso para raivoso em uma palavra minha. “Esqueci que você tem o dom de brincar com as emoções. Sejam suas ou de outra pessoa.”

Virei de costas e comecei a passar a mão pelo vaso de flores. Nele, habitavam rosas já mortas, mas que eu nunca tive coragem de jogar fora. Ele arfou ao vê-las e fungou.

“Não sabia que você ainda as guardava.”, ele disse surpreso.

“Eu guardo muita coisa que você não sabe.”, mexi no porta retrato antigo. Escutei-o levantar e tirou a foto da minha mão. Na foto, estava eu e ele, no começo no namoro. Aquilo deveria ter uns 5 anos, pelo menos. Nós sorríamos, felizes.

“Foi a primeira vez que eu disse que te amava.”, ele lembrou. “E você não disse nada em resposta.”, hesitou. Senti seu olhar queimando na minha noca. “Você me amava?”

“Sabe está ficando frio e tarde.”, disse tomando a foto de sua mão e passando o dedo por ela. “Então, me diga logo o que você quer”

“Eu vou me casar”

Assim. Sem mais, nem menos. Ainda de costas, fechei meus olhos e fiquei tensa. Com força exagerada, bati com o porta retrato no lugar. A pontada em meu peito, só fez aumentar, se tornando um tipo de buraco. Tentei engolir o bile, mas parecia que algo estava fechando minha garganta.

“Resolvi te convidar de última hora.”, ele continuou vendo que eu não falaria nada. “Já que nossas mães são amigas...”

“Com quem?”, o cortei com um sussurro.

Algo deslizou pela mesa até mim. Outra foto, só que de uma mulher. Fiquei um tempo a olhando, vendo seu sorriso de vitória, então me virei para entregar a foto. Ele estava tão perto de mim que nem precisei esticar o braço para entregar a foto. Continuou olhando para o meu rosto, com uma careta. Talvez, toda vez que me olhasse, lembrasse daquela horrível noite em que lhe disse Adeus.

E me arrependia amargamente todo dia. Percebi que o amava naquele mesmo outono. Depois, vieram os dias escuros e o medo tomava conta da minha mente. Me encolhia toda vez que lembrava que ele tinha me dado seu amor e eu o dei um adeus. Uma decepção. E eu volto a dezembro daquele ano, toda hora.

“Você tem dormido esses dias?”, ele sussurrou tocando abaixo dos meus olhos com a ponta dos dedos.

“Não”, desviei meu rosto de sua mão e caminhei até a porta. “Não consigo dormir a essa época do ano.”, o aniversário de término. “Se você já falou tudo o que queria...”, abri a porta mostrando onde minhas palavras chegariam.

Ele caminhou até a porta sem dizer uma palavra, mas quando tentei fechar a porta, seu pé ficou no vão, me impedindo. Um flash do dia em que terminamos voltou a minha mente. Balancei a cabeça, afastando-a. Essa era uma das muitas coisas que me arrependia. De tentar esquecê-lo quando já estava tão tatuado dentro de mim. Nem no seu aniversário eu tinha ligado.

O que mais eu poderia fazer agora? Ficar de joelhos, engolir o orgulho na frente dele e dizer que sentia muito por aquela noite? Que a liberdade não era nada se sentia sua falta e que deveria ter percebido aquilo quando ele ainda era meu?

Que as lembranças de dezembro voltavam toda hora.

Mas ali, o vendo depois de tanto tempo, vi que falaria bem mais. Que sentia falta da sua pele bronzeada, do seu sorriso doce. Tão bons para mim, tão certos. Lembrava da noite de Setembro que me acolheu em seus braços, a primeira vez em que me viu chorar. Talvez isso seja pensamento positivo. Provavelmente um sonho bobo, mas se eu pudesse amá-lo de novo, amaria direito. Era o que eu queria dizer. Só que o que saiu foi:

“Perdeu algo aqui?”

“A mulher que eu amo”, ele respondeu prontamente. Minhas mãos, antes firmes segurando a porta, amoleceram, e ele empurrou a porta sem trabalho. “Eu volto a dezembro, dou meia volta e fica tudo bem. Ás vezes mudo de ideia. Mas, eu volto a dezembro toda hora.”, dei um passo para trás, assustada com seus (e meus) sentimentos reacendidos. “Diga que me ama”, ele parou e balançou a cabeça. “Diga que me amou,”, estava mais convicto. “E eu desisto dessa loucura agora”

Abri a boca para dizer tudo o que estava engasgado a 3 anos na minha garganta. Então, algo caiu do seu bolso quando foi se ajoelhar ao lado do meu corpo encolhido. Olhei para o cão e vi, novamente, a foto de sua noiva. Percebi que agora, as palavras que sairiam da minha boca, definiriam não só o meu futuro e o dele, mas de outra pessoa. Eu tinha perdido a minha chance e não poderia fazer nada para mudar, além de me desculpar.

“Se eu pudesse voltaria no tempo, mudaria tudo, mas não posso”, eu disse pegando em sua mão. “Se sua porta estiver fechada, eu entendo.”, desviei meus olhos dos seus e deixei meu rosto branco. “Podemos ser amigos”

“O que você está dizendo?”, ele ficou estático.

“Estou dizendo”, minhas palavras eram rudes. “que te vejo no casamento.”, me levantei e gesticulei para a porta.

Ele ficou me olhando como se eu fosse maluca por um tempo, até que se levantou e caminhou calmamente até a porta, mesmo vendo seu corpo tenso. Antes de sair, ele se inclinou na minha direção e deu um beijo em minha testa. Fechei os olhos, aproveitado o possível último contato de seus lábios com minha pele. Ele se afastou e foi embora. Dolorosamente, fechei a porta e escorreguei até o chão.

O buraco em meu peito cresceu e se esticou até meu coração, causando torpor ao meu corpo. As palavras, antes presas em minha garganta saíam em forma de lamentação e engasgo. As lágrimas desciam por meu rosto e simples palavras fluíam de minha boca. Palavras que poderiam ter mudado minha vida.

“Eu ainda te amo.”


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