A Árvore Dos Pássaros Mortos escrita por Kacire


Capítulo 7
Capítulo 7




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– Cara, eu só tenho Coca Cola na geladeira... Você nem curte né? – Ygor abriu a porta do quarto segurando dois pães com queijo e um copo cheio de Coca.


– Meu estômago não gosta muito.


Claus estava sentado na cama de Ygor e folheava meticulosamente os exemplares da coleção de HQ’s do Batman que encontrara na gigante prateleira de livros do quarto de Ygor. Não lia nenhuma frase... Tinha o coração batendo na boca.


– Infantil, não é? Mas eu gosto muito. No fim o Batman mesmo é um personagem de merda, mas o Coringa é genial. – Disse Ygor, sentando ao lado de Claus na cama e passando um dos lanches em sua mão.


– Obrigado – Disse Claus, pegando o lanche.


– Você tá meio esquisitão, Claus. Aconteceu alguma coisa? – Ygor perguntou por educação, mordendo um pedaço do lanche e puxando o queijo derretido até conseguir estourá-lo.


– Eu queria te dizer uma coisa. – Falou Claus, enfim.


– Mais um segredo? Pode dizer.


– Eu... Eu acho que estou gostando de você, Ygor.


O silêncio que se fez no quarto não durou, de fato, mais do que cinco segundos, mas para Claus pareceu uma eternidade. Sem coragem de olhar para a cara do amigo, tentou buscar alguma imagem com o rabo dos olhos e viu que Ygor estava olhando diretamente para seu rosto, mas não conseguiu ver qual a expressão que se formava ali.


– Cara...


– Desculpa – Falou, cortando Ygor. – Vou entender se você quiser se afastar de mim.


– Ei?! Posso falar? – Disse Ygor com a voz tranquila.


– Po... Pode. – Claus finalmente olhou para o rosto do amigo e encontrou um sorriso estampado.


– Não sei porque você acha que isso poderia ser um grande problema pra mim. Claus, tem muita coisa sobre mim que você não sabe.


– O que você quer dizer com...


– Aposto que você vai ficar surpreso em saber que eu já beijei um garoto antes.


Claus não sabia o que dizer, mas não pôde conter a felicidade borbulhante que lhe começava a doer o estômago. Tudo estava indo certo... A possibilidade de ser correspondido estava próxima de suas mãos. Próxima até de seu rosto, quase falando de lábio para lábio.


– Eu não sei dizer pra você se eu realmente me atraio por garotos... Sexualmente, eu quero dizer... Mas... Claus, você é um cara legal. Mesmo que eu nunca tivesse tido nada com outros garotos, tenho certeza que não te repudiaria pelo fato de gostar de mim.

Claus não tinha palavras.


– Fala alguma coisa, cara.


– Não sei o que dizer... Tinha me preparado pra outro tipo de resposta, cara.


– Então fica quieto.


Não era algo que Amor pudesse evitar. Morte dizia todos os dias que sentia inveja de como Amor se alimentava e não entendia quando ela dizia que, na verdade, não era tão legal assim não poder controlar as coisas como Morte podia. Acontece que Amor se alimentava do acaso. Seu único trabalho era caminhar alegremente pelas ruas da cidade espalhando seu perfume, que se transmutava em diferentes aromas ao olfato de cada apaixonado. Torta de amora, comida de mãe, café recém-passado, lavanda... Era só alguém estar disponível a prestar atenção aos aromas de Amor. Mas se soubesse que naquele exato momento Claus estava tão próximo do corpo de Ygor, tão vulnerável a Ygor, teria escolhido outro momento pra passar naquela rua. Interromperia o beijo se pudesse. Mas Amor nem sequer viu o casal que se formava sobre a cama. Amor não soube quais amantes lhe entregavam a ceia do dia, contentando-se em sorrir agradavelmente ao sentir-se saciada. Não estava prestando muita atenção no barulho das roupas caindo no chão, do suor escorrendo pela pele, dos arfares que escorriam pela janela do segundo andar da casa de Ygor.


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