- Cléo? – ouvi alguém me chamar e grunhi. Não queria nem pensar em levantar agora. – Anda, levanta, já está atrasada para o café-da-manhã. – reconheci a voz de Jess e cobri a cabeça com a colcha que me cobria.

- Me deixa dormir... – ouvi sua risada abafada.

- Se abrir os olhos vai ver que não tem mais ninguém no chalé. – pensei por um segundo e abri um pouco um dos olhos, fazendo-a rir. Todos estavam ali!

- Jess! – bati a cabeça no travesseiro. – Qual é, volta pra cama, me deixa dormir! – negou. – O que você quer? – suspirei e me sentei na cama, ainda tombada para o lado do travesseiro. – Sabe, geralmente, as pessoas dormem às... – olhei para o céu pela janela, tentando avaliar o tempo para descobrir o horário. Não estava muito claro. – Seis da manhã, e não acordam suas meia-irmãs.

- Tudo bem. – a encarei como se dissesse “É sério que me acordou, mentiu pra mim e ainda fala um simples tudo bem e me deixa em paz no final?” e me deitei novamente. – Só queria te acordar mesmo, depois demoraria muito. – deu de ombros e voltou para sua beliche.

Me virei na cama e fechei os olhos, agradecendo por não ter tido sonhos à noite e esperei que o sono viesse. Eu ainda tinha um tempo para dormir.

Mas não conseguia.

Me virei várias vezes e nada. Pelo visto, o plano de me fazer levantar mais facilmente mais tarde da Jess estava funcionando, e muito bem.

Comecei a encarar todos os meus irmãos no chalé. A maioria ali tinha cabelos castanhos e pele bronzeada, consideravelmente bonitos. Eu era totalmente diferente com meus cabelos quase pretos e pele pálida. Fora que não seria considerada bonita tão fácil.

Não nos parecíamos fisicamente, e bem pouco no jeito de ser. Nunca fiz muitas pegadinhas – apesar de gostar, e sempre fui mais fechada. Meus irmãos pareciam livros abertos, contanto que não resolvêssemos falar sobre algum passado desastroso em suas vidas. É, eu não me parecia com eles. Talvez fosse normal alguma semideusa diferente aparecer no Acampamento.

***

- CLÉÉÉÉÉÉO! – pulei da cama com o grito de Leo e encarei meu corpo. Meus shorts de pijama com smiles não era nada agradável na situação, e a blusa branca manchada também não. Ah, merda, por que me preocupar com isso? É o Leo! O Leo... – Não acha que tá meio atrasada, não? – sorriu, fazendo-me sorrir de volta. Eu preciso, seriamente, de parar com isso.

- A... a Jess me chamou mais cedo. Disse que queria facilitar o trabalho de me acordar depois, mas não deve ter adiantado muito. – me enrolei na colcha. – Preciso parar de dormir até tão tarde. – sorri sem graça.

- Pois é. – riu de leve e se sentou ao meu lado. – Anda, se arruma, precisa tomar café. Hoje vou te levar pra treinar.

- Esse não era o papel da Jess? – arqueei uma sobrancelha.

- Obrigado. – fingiu choro, mas se recompôs. – Ela pediu, pode perguntar. Agora vai logo, eu estou com fome, sabia?

- Dá licença que eu me arrumo. – assentiu e saiu do chalé.

Saí da cama e vesti uma roupa simples, já que iria treinar. Eu já iria ser patética mesmo, não fazia muita diferença.

Prendi meu cabelo em um rabo-de-cavalo e saí do chalé, dando de cara com Leo, que sorria abertamente.

- Suas bochechas não doem? – estreitei os olhos.

- Ahn? – ri e dei de ombros, deixando o comentário de lado. Ele não precisava parar de sorrir, tinha um sorriso bonito e... Tá, tá, já parei!

Caminhamos em silêncio até o pavilhão e nos separamos; indo cada um para sua mesa.

A comida era a mesa: o que eu queria. Mas, de certa forma, isso não me atraída como me atraiu na primeira vez. Dizem que gostamos do que não podemos ter. Se temos tudo o que queremos... é, bem, perde a graça.

Terminei meu café-da-manhã e segui até a arena com Leo tagarelando ao meu lado. Se não era sobre como os sátiros andavam de forma estranha, era de como as filhas de Afrodite podiam ser persuasivas ou de como a Diet Coke do jantar estava diferente. Poxa, Diet Coke não é tudo a mesma coisa?

- Cléo? – me chamou.

- Hm? – balancei a cabeça e me concentrei no espaço em que me encontrava. Era amplo e cheio de vários tipos de armas e escudos. Semideuses lutavam entre si de forma estranha, que eu, por acaso, nunca conseguiria. Ou talvez sim, quem sabe.

- Eu não sou bom com isso, mas já devo te ajudar em alguma coisa, sei lá. Pode usar uma daquelas armaduras ali – apontou para as armaduras em um canto. – e alguma arma que queira.

Fui até o canto e me “vesti”. Era pesado, bem pesado. Provavelmente mais que eu, mas, pelo jeito, era melhor usar. Leo dizia não ser bom, e isso era só mais um motivo para não confiar nele com uma espada na mão.

- Pronto. – disse baixo me aproximando.

- Lembra que eu disse que não era muito bom? – assenti. – Eu sou horrível. Na verdade, uma ameaça. Por isso... eu chamei a Gwen pra te ajudar! – sorriu e puxou uma garota pelo braço.

Ela era bonita. Definitivamente o tipo de garota que passa e chama a atenção dos garotos. Cabelos castanhos, olhos da mesma cor, pele pálida e com algumas sardas, expressão confiante e postura ereta. O tipo de garota que chama a atenção. Mas a única coisa que me chamava a atenção, no momento, eram seus olhos. Pareciam querer me devorar, e eu não gostava disso.

- Ahn... oi. – disse, sem graça. Eu não costumava ser assim, mas algo nela me fazia ficar inquieta.

Assentiu e se voltou para Leo. Ah, qual é, eu sei que não me arrumei muito bem, mas precisa ignorar?

- Meia hora, no máximo. – Leo assentiu. – Eu deveria estar treinando com alguém que pudesse melhorar minhas habilidades. Ela... ah, por favor!

Como é que é?!

Suspirei e dei um passo à frente.

- Boa sorte, novata. – sussurrou e brandiu a espada.