Vida De Monstro - Livro Um - O Começo escrita por Mateus Kamui


Capítulo 22
XXII - Will


Notas iniciais do capítulo

Então povo esta aqui o capitulo final fresquinho para vocês, não vou escrever muito aqui para poderem ler logo, nos vemos lá embaixo :)



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XXII – Will

Era impossível descrever com palavras a dor que eu estava sentindo naquele momento, noventa e cinco por cento do meu corpo estava queimado, queimaduras de terceiro grau eram a maioria, mas algumas poucas de segundo grau enchiam meu rosto e mãos. Aquele tinha sido de longe o ataque mais monstruoso que já tinha presenciado, todas as pedras ao meu redor estavam em chamas, tudo que se conhecia por livros haviam sido perdidos em meio aquele mar de fogo, não dava para enxergar ate onde as chamas foram, mas não duvido que tenham alcançado um dos extremos do andar.

Fiquei estirado no chão sem poder me mexer, qualquer movimento e meu corpo doía, minhas queimaduras estavam em um estado indescritível, nenhuma criatura que não fosse um demônio das chamas como eu jamais teria sobrevivido para contar a historia.

Meu corpo aos poucos começou a curar as queimaduras, mas parecia mais lento do que o normal, mas não podia culpar meu corpo, eu jamais tinha me machucado daquele jeito na minha vida, já tive membros arrancados, buracos enormes pelo corpo, já sofri varias queimaduras também, mas nada que de longe se comparasse aquilo, nunca vi um machucado que demorasse tanto para se curar, principalmente uma queimadura.

Eu ainda estava deitado no chão esperando minhas queimaduras se curarem quando escuto o barulho de algo enorme se mexendo, o dragão-rei, ele se movia sem preocupação em esconder sua presença ou tentar fazer o mínimo de barulho ao se movimentar, ele não precisava, não importava se eu sabia onde ele estava, nenhum ataque meu funcionava e ele acabou de me provar que poderia acabar comigo em um ataque.

O dragão se aproximou, seus enormes olhos me encaravam como se esperasse eu dar meu próximo passo, mas eu não faria nada, não tinha mais porque lutar, mesmo com meu máximo eu não conseguia sequer machucá-lo, ele era infinitamente mais poderoso do que eu, é impossível alguém de uma classe menor vencer alguém de uma classe superior, eu sempre soube disso, e já tinha confirmado com meus próprios poderes sobre isso, mas somente com a vitoria, eu jamais tinha perdido, por mais difícil que a luta fosse, por pior que fosse o meu estado no fim eu sempre vencia, as únicas vezes que eu era “derrotado” eram durante os treinos com meu pai e meus irmãos, mas não era derrotas reais, aquilo não passava de treino. Quando eu perdia simplesmente ia para casa e continuava meu dia-a-dia como se nada tivesse acontecido, mas aqui não era um treino, era um combate real, eu perdi e como preço vou pagar a minha vida:

-Já desistiu pequeno filhote? – o dragão falava, mas parecia mais um vulcão explodindo, sua voz fazia meus ouvidos tremerem, eu estava fraco demais – Não me diga que simplesmente vai aceitar a derrota?

-E o que quer que eu faça? Lute? Inútil, enfrentar você é algo que esta a cima dos meus poderes atuais

-Então vá alem filhote, eu sei que você ainda não esta indo com tudo, foi por isso que usei um sopro, para avisá-lo que se não lutar a serio vou matá-lo

-Não importa se eu usar meu poder ou não, eu vou perder, perder

-Você esta desistindo filhote? Desistindo mesmo sabendo que a sua fêmea corre perigo

-O que quer dizer com minha fêmea correr perigo? – meu corpo se moveu sozinho, minhas pernas se forçaram a levantar e me escorrei em uma pedra

-Sim garoto, alguém brincou demais na biblioteca e acabou quebrando alguns andares inteiros, os seguranças daqui não gostaram nem um pouco, o trabalho deles é cuidar desse lugar, vendo a destruição que foi feita eles entraram em um estado de frenesi, vão destruir todos que encontrarem no seu caminho, menos eu é claro, sou forte demais para eles, mas com exceção de mim e de Caim todos os outros serão eliminados, isso inclui sua fêmea

-Em primeiro lugar, Amy não e minha fêmea – forcei meu corpo a ficar em pé, minhas queimaduras já estavam quase se curando completamente, apenas vinte por cento do meu corpo ainda restava queimado – e em segundo lugar, onde ela esta!? – senti tudo ao meu redor tremer com meu grito, mas aquilo era irrelevante

-Ora agora o filhote esta irritado, espero que isso seja o suficiente para fazê-lo voltar a lutar

-Onde ela esta?!!!!

-Se me vencer eu lhe conto, mas se pensa que consegue fugir de mim para procurá-la esta enganado, eu jamais deixaria, então ou me vence ou então ela será morta

-Seu maldito – senti meu corpo completamente curado, ótimo, eu precisaria dele inteiro para lutar, agora eu realmente não iria parar ate ter a cabeça daquele dragão em minhas mãos, mesmo que eu ache que ela seja grande demais para caber nas minhas mãos – você quer lutar? Então vou te dar uma luta

Aquilo não iria acabar bem, nem um pouco bem, eu não deveria liberar meu real cem por cento de poder na terra, mas era isso ou então Amy morreria, e a morte dela não é uma opção. Comecei o processo, fixei bem minhas pernas ao chão, dei uma longa inspiração e comecei a reunir minha energia. Lentamente meu corpo começou a se transformar, meus músculos começaram a aumentar de tamanho a ponto de rasgar parte da calça que era minha única vestimenta restante, minha pele mudou aos poucos sua coloração, do branco pálido para um cinza escuro semelhante ao expelido por um vulcão durante a erupção, o vermelho da íris dos meus olhos se intensificou ainda mais lembrando duas brasas queimando, minha pupila se tornou vermelha também, minhas esclera, a parte branca do meu olho, se tornou negra, meus cabelos aumentaram consideravelmente, minha arcada dentaria se transformou ao ponto de lembrar a de um tubarão, só que um tubarão com enormes caninos, minhas unhas cresceram e afiaram, minhas veias e artérias começaram a aumentar de tamanho ao ponto de aparecerem, mas elas não estavam no seu estado normal, meu sangue que ali deveria estar passando deu lugar a magma fazendo com que meus canais sanguíneos brilhassem em um tom avermelhado. Se pudesse me descrever naquele momento usaria somente uma palavra, demoníaco.

Aquela era minha verdadeira forma, uma criatura dantesca e completamente inumana, cada vez que respirava línguas flamejantes saiam das minhas narinas e boca, podia sentir o poder passando por cada ponto do meu corpo, mas havia um preço a pagar por usar aquele poder, eu não poderia usá-lo por muito tempo ou então meu avatar se autodestruiria por não suportar tamanha força então teria que regressar para o inferno ou então possuir algum humano, nenhum dos dois era uma opção, se voltasse para o inferno sem a permissão do meu pai ele me matava, e eu jamais possuiria humano nenhum, eles eram nojentos e impuros para suportar a minha presença. Teria que acabar com aquela luta e rápido.

Avancei sem nem pensar duas vezes, planos inteligentes não adiantavam nada contra algo daquela magnitude de poder então só me restava um ataque direto, algo que também poupava meu tempo de transformação. Tentei acertar um soco banhado nas minhas chamas rubras, mas o maldito defendeu com seu rabo, não perdi tempo e agarrei o rabo, tentei erguer o dragão, mas ele deveria pesar algumas dezenas de toneladas, pois não consegui ergue-lo um único centímetro do chão, larguei o rabo e voltei a ataca, mandei vários socos que eram interceptados pelo rabo, ele era mais rápido do que meus socos e minhas chamas não o afetavam por culpa das escamas do dragão, ou eu arrancava aquele rabo ou achava um ponto fraco naquela armadura impenetrável por qualquer tipo de fogo:

-Se esta pensando em achar um ponto cego na minha armadura você vai procurar a toa – falou o dragão lendo meus pensamentos – diferente de muitos dragões nós os reis não temos local algum da nossa anatomia que não seja revestido por escamas a não ser a parte interna que no meu caso é capaz de suportar muito bem o fogo, se não eu jamais o cuspiria não é mesmo?

O maldito tinha arruinado meu plano, então teria que recorrer ao outro método, mas acho que não será fácil arrancar o rabo dele então tentaria outra coisa, algo que já havia dado certo, ser mais rápido do que ela. Corri para o ataque, a cauda veio na minha direção antes que ela conseguisse chegar ate mim utilizei minhas chamas como propulsores igual da ultima vez, passei pela cauda e acertei um golpe no pescoço do dragão, ele não demonstrou uma falta de ar ou nada do gênero, mas teve algo melhor, o barulho de um osso quebrando.

Escutei o barulho e o dragão estremeceu ao sentir o osso quebrando, minha força aumentava muito mais quando estava transformado, e agora havia comprovado um ponto importante para minha vitoria, contanto que permanecesse na minha verdadeira forma eu não precisaria das minhas chamas para ataque então poderia usá-las totalmente para velocidade:

-Bom golpe filhote, mas não é só minha força que é maior que a sua – a criatura se moveu de um jeito que estalou o pescoço, o osso tinha voltado ao normal no mesmo segundo

Não importava, contanto que eu quebrasse do jeito certo eu poderia vencer. Uma rápida aceleração para o lado, pude enxergar o tamanho exato do pescoço e partes do resto do corpo, ele realmente era grande. Depois de uma boa averiguada ataquei e na minha direção a cauda veio quase que coordenada com o meu ataque, dei um salto mortal para frente, mas enquanto estava no ar a cauda me acertou, ele não ia se deixar ser atacado tão fácil novamente.

Agarrei a cauda quando ela me atingiu e fui ao chão junto dela, caí por cima e coloquei todo meu peso e força sobre aquela coisa, mas ela era forte, não se deixava abater como se fosse um touro bravo, mas ela não era mais forte do que eu, concentrei minhas chamas nas pernas e forcei meu corpo para baixo me cravando no chão, o rabo tentava lutar, mas eu estava ganhando, aquela era minha chance.

Se eu tinha força suficiente para quebrar um osso do pescoço talvez que tivesse para quebrar a cauda, e caso eu consiga isso quebrá-la vai ser fácil, todas as forças vão ser usadas para regenerá-la então eu só tenho que puxar antes disso e adeus rabo, mas tinha um fator problema, a regeneração era quase instantânea.

Assim que me senti confiante apertei a cauda e senti algo quebrando, o dragão gritou em desgosto, ótimo eu tinha quebrado, não perdi nem mesmo um milésimo e já estava puxando, senti o osso começar a se separar, concentrei minhas chamas na direção que estava puxando e então comecei a ver a pele se esticar e pedaços dela começaram a aparecer por debaixo das escamas, estava conseguindo, mas era lento demais, o osso estava se regenerando e puxando da forma contraria a minha, era forte, mas minhas chamas eram mais, dei o meu máximo, estava partindo, dava para escutar os gritos cada vez maiores do dragão. Mas quando pensei que ia conseguir uma garra me acertou, decolei para longe, senti um rasgo se formando e tomando conta do meu corpo.

Toquei no chão e sai arrastando tudo no meu caminho, a força era grande demais e meu corpo não conseguia parar, tive que concentrar minhas chamas para fazer meu corpo parar, olhei para meu torso, todo rasgado, metade do me peito tinha sido arrancado com órgãos e ossos. Olhei para o teto, parte dele estava cortado por três rasgos enormes, olhei para o chão e encontrei os mesmo rasgos misturados ao meu caminho enquanto me arrastava por ele. A força do dragão foi tremenda que não acertou somente a mim, mas tudo ao redor.

Ouvi um barulho estranho, coisas se mexendo, mas meus olhos não viam nada, eles estavam aqui, os malditos monstros protetores da biblioteca estavam aqui, eu não podia perder tempo, se eles achassem Amy antes de mim ela podia morrer, ela não estava capaz de andar e nem de lutar, eles acabariam com ela em segundos, ou menos.

Aproveitei a possível distancia que me separava do dragão e comecei a correr, tinha que achar Amy com urgência, e não tinha muito tempo ate minha transformação chegar ao limite. Meu corpo já estava curado quando comecei a correr, mas então uma garra perfurou meu estomago, eu nem havia visto ou escutado ela chegar, simplesmente se materializou na minha frente gerando um buraco enorme onde antes ficavam meu estômago e fígado, ambos tinha sido arrancado junto de parte dos meus intestinos.

Usei minha força para empurrar a garra, mas uma força ainda maior fazia ela afundar ainda mais fundo no meu corpo, aos poucos a figura do dragão apareceu, seu rosto estava a metros da sua garra, eu tinha subestimado seu tamanho, ele nem precisava se mexer para me acertar de qualquer lugar dessa biblioteca, provavelmente era por isso que ele tinha escolhido esse andar para viver, não pelo isolamento, mas pelo tamanho, esse era o maior andar e possivelmente o único onde ele poderia andar livremente sem se preocupar.

Eu não era capaz de confrontar tamanha força então tentei outra coisa, tentei partir a garra usando minhas chamas, mas para o meu azar os ossos daquela coisa também eram bem resistentes ao fogo. Senti a garra afundando ainda mais e o buraco na minha barriga chegando ao peito e as áreas genitais, se continuasse assim eu não chegaria a Amy a tempo então fiz a melhor opção possível, usei minhas chamas para o lado e me movi para o lado velozmente arrancando parte do meu lado direito, meu braço e vários órgãos foram arrancados.

Consegui escapar da garra com esse sacrifício, o dragão não esperava aquilo e ficou surpreso com minha evasiva desesperada. No começo ficou difícil de andar, parte dos meus ossos da bacia e do meu fêmur foram arrancados juntos, mas aos poucos eles foram se curando e consegui correr no meu máximo. Corria sem saber para onde, apenas seguindo o rastro de qualquer sangue que fosse parecido com o de Amy e assustadoramente esse cheiro estava se tornando mais abundante.

Eu pude escutar um barulho na escuridão, os monstros invisíveis, mas alguns deles não estavam espalhados pelos cantos, mas sim se dirigindo para um local especifico, um local que averigüei sendo da onde vinha o cheiro de sangue mais forte.

Acelerei, mas algo impediu meu caminho, uma enorme pata vermelha, não deu tempo para reagir e me choquei de frente, nariz e alguns dentes quebrados com o choque, mas se curaram rapidamente e junto com eles meu braço direito tinha voltado. Olhei para o lado, a cabeça do dragão se aproximou numa velocidade maior do que provavelmente todas as vezes anteriores juntas, então mesmo depois de tudo provavelmente o desgraçado não chegou nem a dez por cento da sua força e essa nem era a pior parte, para regenerar minha parte direita que arranquei forçadamente meu corpo se esforçou demais, ele estava chegando ao limite, ou eu desfazia a transformação em poucos segundo ou então meu avatar iria se desintegrar:

-Filhote – a voz do dragão saiu estridente, mas de alguma forma estava mais calma do que pensei – vejo em você um grande potencial, o maior potencial que já vi na vida

-Obrigado, mas se for só isso é melhor me deixar passar

-Se esta pensando em salvar a sua fêmea já é tarde demais, eles já a acharam a um bom tempo – senti algo me dominar, uma calor, ódio

-Você esta mentindo!!! – senti as chamas explodirem ao meu redor, não podia ser verdade, ele tinha que estar mentindo – você tem que estar mentindo!!!

-Sinto muito, não eu não estou mentindo

-Saia da minha frente dragão, saia agora

Tentei correr, mas a garra ficou no meu caminho, comecei a socar a garra o mais forte que podia, podia sentir o ar vibrando ao meu redor de tamanho força que estava usando, mas ele não se moveu um único centímetro:

-Calma filhote, ela já esta morta, não ainda mais correr  

Senti minhas pernas falharem, caí de joelhos, meu corpo estava estático, tentava me mexer, mas meu cérebro não respondia, nada respondia, aquelas palavras ficaram presas nos meus ouvidos, “ela já esta morta”, eu não podia acreditar, não podia ser verdade, ela não podia ter morrido, todos menos ela.

Tentei gritar, tentei correr, mas meu corpo não fez nada, apenas ficou olhando para o lugar onde ela estava, tão perto e tão longe. Aos poucos magma começou a escorrer dos meus olhos, muitas goras de magma e aos poucos elas foram dando lugar a lágrimas comuns, meu corpo começou a voltar ao normal, eu não queria, mas para meu corpo o que eu queria não importava mais, e assim em poucos segundos meu corpo estava de volta ao seu estado humano, mas continuava sem me mover, a única coisa que estava funcionando no meu corpo eram minhas glândulas lacrimais, e elas teimavam em funcionar perfeitamente bem, lágrimas escorriam pelo meu rosto, mais lagrimas do que jamais soltei minha vida inteira, para ser sincero eu nunca chorei, aquela era a primeira vez em trezentos anos que meus olhos soltavam lágrimas, eu cresci em um ambiente cheio de dor e desgraça então havia me acostumado a tal ponto aquilo tudo que para mim não havia mais para chorar, mas tinha, tristeza, uma tristeza tão grande que me fez fazer coisas que eu já tinha esquecido que meu corpo era capaz:

-Pare com isso filhote, é simplesmente deprimente vê-lo nesse estado – eu não respondi, não conseguia – olhe jovem a morte vem para todos, a garota não era uma exceção – continue em silencio, não havia mais porque falar, não havia mais porque fazer qualquer coisa – não consigo ver você, alguém com tanto poder e potencial, se deixar cair por uma fêmea, sei que ela deve ter tido um valor enorme para você, mas eu não seria capaz de ajudá-lo, mas existe alguém que poderia

Naquele momento meu corpo deu sua primeira resposta de vida, minhas lágrimas pararam de cair e corri na direção do rosto do dragão, fiquei a poucos centímetros dele, não sei o quão rápido fui, mas pela cara da criatura parecia que tinha sido rápido porque ele não parava de me encarar assustado, minha íris estava negra, mas eu sentia o poder ainda fluindo fortemente em mim:

-Fale quem, agora!

Todo o lugar começou a tremer, os pilares ao nosso redor começaram a rachar e livros caíram, senti minhas chamas me cobrindo e minha começando a se avermelhar:

-Você filhote, você é o único que pode salvá-la

-Como assim? Explique-se dragão

-Existe um item mágico que pode trazer sua fêmea de volta, um item capaz de controlar a vida e a morte

-A arma de Caim, a adaga negra

-Exato, ela é o que liga a morte a este mundo, ela pode tanto trazer a morte quanto afastá-la, você pode tanto matar alguém com ela facilmente, mas também pode ressuscitar alguém, um processo bem mais difícil por sinal

-Como faço isso?

-Primeiro vai precisar da arma, algo que acho que você conseguira facilmente já que a garota ainda deve estar com a arma, os monstros daqui jamais ousariam pegar algo que pertence ao criador delas sem permissão

-E depois?

-Você está bem apressado não esta?

-E depois?!!!

-Certo, depois você precisa de algo para trazer a alma de volta, você precisa fazer uma espécie de ponte espiritual para que a alma dela possa retornar dos mortos e é ai que as coisas começam a ficar difíceis

-Por quê?

-Porque é necessário muito poder para fazer a ponte espiritual, muito poder, lembrasse qual foi a pergunta que Caim lhe fez para poder entrar?

-O que era mais importante para mim, meus poderes a Amy

-Sim, foi isso mesmo, e você se lembra qual foi sua resposta

-Claro que sim, foi ela

-Claro que você escolheu, é claro, seu amor por ela é maior do que tudo e isso você já me provou agora, mais importante ate do que a luta da sua vida, mas é agora que vamos ver se isso é tudo serio ou não, para fazer a ponte espiritual você terá que abdicar de todo o seu poder

-O que?

-Isso que você escutou, todo, ate a ultima gota, você terá que ficar zerado garoto, você terá que ir da classe S ate o nada, do topo para a base da base, você vai da elite para a plebe, entendeu o que quis dizer? Você realmente vai ter que abandonar tudo por ela

Algo bateu fundo no meu peito, uma duvida cruel, tudo, eu jamais pensei na minha vida em abdicar de tudo, abdicar dos meus poderes era mais do que somente meus poderes, era de toda a minha historia, da minha vida, dos meus títulos e da minha nobreza, eu nunca havia ouvido falar de algo assim:

-Você esta falando serio? – perguntei ainda não acreditando naquilo

-Não jovem, não estou

-Entendo

-Então vai desistir?

-É claro que não – não esperei sequer a pergunta terminar para responder e acho que deixei o dragão rei ainda mais surpreso

Senti a duvida dentro de mim sumindo, nada daquilo era importante, nem meu titulo, nem meus poderes, eu sabia que se perdesse aquilo um dia eu jamais iria chorar, mas só foi pensar na probabilidade de perder Amy que fui acertado com a maior dor que jamais sonhei, aquilo havia tirado qualquer duvida restante de dentro de mim:

-Como faço a ponte? – encarei aquela criatura que a pouco tempo atrás quase me matou

Agora eu entendia tudo, se ele quisesse me matar ele já teria feito, não teria nem sequer me deixado entrar naquele andar com vida, mas ele deixou, e não só isso, mas me deu algo incrível, medo, ele me ensinou a domar meu medo e enfrentá-lo de frente mesmo que isso custasse minha vida, mesmo que para isso eu tivesse que tomar decisões arriscadas ou ter que me machucar seriamente para isso, ele sabia que eu tinha sentindo medo de Caim e sabia que eu tinha medo do diretor, um medo gigantesco daquelas duas criaturas muito mais poderosas do que eu, mas eu não tinha mais, ele fez algo que ninguém jamais seria capaz de fazer porque ninguém era tão forte como ele e se importava aquele ponto comigo, meu pai nunca me treinou para lidar com o medo, ele me treinou para evitá-lo a qualquer custo e isso me tornou impotente contra aquela sensação, mas não me ensinou como contorná-la e foi exatamente isso que o dragão fez:

-Obrigado – falei sem querer – por me fazer lutar contra meu medo, sem isso eu provavelmente estaria indeciso e não teria a coragem necessária para salvar a vida de Amy

-Que seja jovem, só não gostaria de ver tamanho potencial desperdiçado por culpa de algo como medo, medo não é ruim, ele nos ensina onde somos fracos e assim nos podemos nos tornar mais fortes, mas não é isso que importa nesse momento

-Não, não é

-Você quer saber como fazer a ponte, certo? É bem simples, você só deve concentrar seu poderes pela adaga e imaginar uma ponte, ela vai sugar cada gota do seu poder formando essa ponte e quando ela drenar tudo você vai conseguir fazê-la e vai poder trazer uma alma de volta do mundo dos mortos, e sei que já escolheu qual, então vá logo criança antes que seja tarde demais ate para isso

O dragão abriu passagem e corri, o corpo estava relativamente perto, e acho que o curto intervalo de tempo não me preparou para a cena que eu viria a seguir.

Eu não pude acreditar no que meus olhos viram, o corpo de Amy estava estirado no chão, caído e pálido, me aproximou, não tinha duvidas sobre a morte dela, eles deixaram bem claro isso, tinham arrancado o coração dela, não tinha sido uma morte cruel, pelo que vi só fizeram aquilo e pronto, mas algo me dizia que tinham feito aquilo da maneira mais dolorosa e demorada que conseguiram, senti a raiva me dominando e minha íris ficou vermelha, peguei a adaga que estava nas mãos dela, a adaga estava molhada, molhada com uma espécie de liquido prateado, o sangue das criaturas, olhei a redor, o chão estava cheio dele, Amy não tinha morrido sem machucar, ou ate matar, um deles, ela era uma guerreira, minha guerreira:

-Quem fez isso?!!!!!!! – meu grito ecoou por todo local e em poucos segundos três monstros apareceram, pude escutar eles se aproximando, estavam a menos de um metro – então foram vocês, acho que já sei em quem me vingar

Eles podiam ser invisíveis e suas presenças serem imperceptíveis, mas eles faziam barulho ao se mexerem e podiam ser mortos, um deles atacou, escutei vindo da esquerda e ataquei, um golpe certeiro já que vi liquido prateado escorrer, mas não sabia se tinha acertado um ponto vital ou não, se é que eles tinham algo assim.

Outro deles veio pelas minhas costas, uma lembrança veio na minha cabeça, não precisava acertar um ponto vital, um corte não fechava em menos de sete dias e isso devia ser o suficiente para matar uma daquelas coisas. Assim que o inimigo tentou me acertou me virei e desferi três ataques, três jorros prateados para o alto, olhei para o lado, eles continuavam invisíveis, mas eu vi algo prateado voando, se a ferida não fechava eles iam sangrar e se estavam sangrando e era algo visível então podia vê-los.

Ataquei sem nem me preocupar, acertei a criatura varias vezes, o outro que ataquei não veio atacar, ele fugiu, e esse que ataquei agora fugiu após a onda de ataques, os dois estavam mortos e eles sabiam disso, agora só faltava um, mas ouvi o barulho de algo se afastando, ele também fugiu.

Fui ate o corpo de Amy, o coração não estava por perto, eu não sabia como aquilo de ponte espiritual funcionava, mas era bom que os ferimentos se curassem também ou então ela morreria assim que voltasse.

Peguei a adaga e coloquei entre as minhas mãos e as dela, as mãos dela estavam frias como gelo, mas não demoraria muito para que voltassem ao normal, comecei a me concentrar, passei bom tempo daquele jeito, mas nada estava acontecendo, será que o dragão tinha ousado me enganar? Não, ele tinha falado a verdade, eu sei disso, vi os olhos dele quando falou e sei que uma criatura como aquela não precisava de algo como mentiras, mas então por que não estava funcionando?

Senti minhas esperanças se esvaindo, não tinha funcionando, mas porque eu não sabia, e como se tivesse esperado por isso uma voz entrou na minha cabeça:

-Acha mesmo que deixaremos você fazer isso demônio?

-Quem esta falando? - perguntei olhando ao meu redor, mas aquilo não vinha de algo próximo de mim, vinha de longe, sentia que estava nessa biblioteca também, mas não perto daqui

-Você acha mesmo que deixaremos você desperdiçar a adaga com algo tão útil quanto a vida dessa mulher?

-Quem esta falando droga?!!! – eu perguntava, mas aquela voz me era familiar, era a voz de um dos meus sonhos, uma vez tinha sonhado com uma floresta e Amy me matando e alguma tinha falado naquele sonho, com uma voz idêntica a essa – o que você quer?

-Você não pode nos impedir de completar, mas nos podemos impedir o seu, enquanto estiver aqui dentro jamais conseguira salvá-la e mesmo que queira sair não pode, os três primeiros andares desabaram e você não conseguira sair a tempo

A voz não parecia mentir, mas se ela não estava mentindo então estávamos com problemas, muitos problemas:

-Deixem-me terminar o feitiço

-Jamais, você jamais ira salvá-la e também não sairá daqui, não vamos deixar

Uma sombra se materializou na minha frente, uma sombra idêntica a do meu sonho, ela tentou me atacar, pulei para trás com o corpo de Amy e a deitei no chão, depois corri com a adaga em mãos e tentei golpear a sombra, ela se esquivou perfeitamente dos meus ataques, tentei de novo aumentando minha velocidade, inútil, ela se esquivava como se não fosse nada demais:

-Você não pode nos impedir, nem você nem ninguém demônio

A sombra veio na minha direção, ela veio caminhando calmamente, ao tinha medo, tentei atacar quando ela chegou perto, mas continuou a avançar se esquivando perfeitamente e então me pegou pela garganta, senti algo muito estranho tomar conta do meu corpo, uma sensação como se a própria tivesse me tocado, mas então uma garra acertou a sombra fazendo-a ir para longe:

-Filhote! – o dragão gritou se aproximando – ele não o feriu não é mesmo?

-Não – perguntei assustado, meu corpo tinha parecido morrer quando aquela coisa me tocou – o que era aquilo?

-Deuses – o dragão disse encarando a sombra que andava na nossa direção

-Com assim deuses? Aquilo é um deus?

-Deuses jovem, deuses, aquilo é uma projeção feita pelo poder de mais de um deus, eles devem ter se unido para criar aquele avatar

-Por quê?

-Porque eles querem você e adaga

-E o que fazemos?

-Você foge, eu irei enfrentá-los sozinho

-O que? Por quê? Eu também posso lutar

-Não contra os deuses, você ainda não tem poder suficiente, eu averigüei isso não nossa luta e alem disso você não sabe ainda o que precisa saber para enfrentá-lo

-Como assim que não sei ainda o que preciso saber? – o dragão atacou a sombra fazendo-a recuar novamente

-Você é forte, isso é incontestável, mas você precisa mais do que força para vencer essas coisas, você e os outros escolhidos ainda não sabem as técnicas que precisavam saber para enfrentá-los

-Que técnicas? E como assim outros escolhidos?

-Você não precisa se preocupar com isso, você vai renunciar dos seus poderes não vai?

-Claro que vou

-Ótimo, é só isso que vai precisar, você foi bem treinado William Maquiavel, muito bem treinado, mas você não te ensinaram o que você vai realmente precisar para completar seu destino, mas quando desistir de tudo pela sua fêmea pode ser que você acabe sendo treinado do jeito certo, mas agora isso é tudo que posso lhe dizer, vá filhote agora

-Não posso, eles disseram que alguns andares desabaram

-O ultimo andar é o maior de todos garoto, você só precisava achar um ponto nele que fica fora da área que o terceiro andar abrange e por acaso estamos sobre um deles, agora você só precisa sair

-Como? – a sombra estava se aproximando e com muito ódio, ele emanava do corpo da criatura

-Pegue a fêmea – eu andei ate Amy e a peguei nos braços – ótimo, agora adeus filhote

Depois disso o dragão bateu suas asas, deu para escutar o barulho delas mesmo não sendo capaz de vê-las, depois disso a ventania foi tão forte que gerou um ciclone e quando percebi meu corpo e o de Amy tinham sido engolidos pelo ciclone e então estávamos subindo, subindo e subindo cada vez mais.

Quando dei por mim não estava mais na biblioteca, abri meus olhos, ainda era noite, a lua estava um pouco diferente da vez que entramos na biblioteca, parecia um pouco maior, não me importei com isso, procurei por Amy e pela adaga.

A adaga negra estava a poucos metros de mim pela direita e Amy estava a poucos metros de nos ao sul, corri ate ela, seu corpo parecia pior do que antes, entrei em desespero, algo me dizia que não iria conseguir trazê-la de volta, mas eu não podia desistir, não agora. Peguei as mãos de Amy e juntei as minhas e então juntei as duas a adaga, comecei a me concentrar e a imaginar a imagem de uma ponte, ate ali tudo bem, então tentei criá-la com minha aura, mas não estava acontecendo nada, de novo não estava funcionando, tentei me lembrar dos meus sonhos, principalmente no que apareceu os deuses, naquele sonho Amy tinha me golpeado com a adaga no estomago, aquela era uma idéia maluca, mas vamos dizer que depois de tudo eu não estava mais na minha normalidade mental.

Peguei as mãos de Amy e cravei a adaga no meu estomago, senti meu sangue escorrendo, mas não era só isso, minha aura saia junto, e ela estava formando algo, uma ponte rubra, ótimo era isso. Senti o sangue sair ainda mais rápido e muita da minha aura estava indo junto, muito mesmo, senti meu corpo ficando fraco por perder tanta energia, mas estava dando certo, eu não podia parar logo agora.

A ponte rubra estava se formando, uma ponta dela ia em direção do coração de Amy e a outra subia aos céus, a cada segundo a ponte aumentava e já estava sumindo de vista, mas a minha vista também estava sumindo, eu estava quase apagando, meu poder estava saindo descontroladamente e de uma maneira assustadora que só aumentava, senti meus movimentos ficarem mais lentos, senti minha força indo embora, minha vitalidade me deixando, era a pior sensação do mundo, era como se eu estivesse morrendo varias vezes seguidas, mas eu não podia parar, não agora.

Senti o calor do corpo de Amy voltando, os ferimentos não existiam, o corpo parecia ter voltado ao normal, o buraco no lugar do coração estava se fechando, comecei a sorrir, estava tudo indo perfeitamente, a dor só aumentava, mas ver Amy voltando me fazia ignorar aquilo.

Depois de alguns segundos o corpo dela estava completamente curado, ouvi o coração dela batendo fracamente e a respiração voltando, mas diferente dela meu corpo parecia estar morrendo, eu estava cada vez pior e cheguei a cair no chão, a dor estava se tornando insuportável, eu estava morrendo de verdade.

Olhei para Amy, não importava se eu ia morrer ou não se ela fosse voltar, e ela estava voltando, vi o corpo dela se mexendo e então ela abriu fracamente os olhos, tinha dado perfeitamente certo. Fui me arrastando ate ela, e ela me encarou com um sorriso bobo no rosto:

-Will?

-Sim sou eu

-O que aconteceu? Por um instante estava tudo escuro e então

-Shhiiiiiii – calei a boca dela colocando meus dedos na frente dos lábios dela, senti meu corpo caindo de novo, minha hora estava chegando – você fala demais Amy

Eu podia morrer naquele momento, não importava mais porque finalmente tinha feito aquilo que eu estava esperando dias para fazer, desde do momento que a vi pela primeira vez, eu calei a boca dela de novo, mas dessa vez não foram com meu dedos, foi com um maldito e tão esperado....................................................................................beijo.

             Vida de Monstro – Livro Um – O Começo

                                            FIM


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Notas finais do capítulo

Então povo finalmente terminei o livro mais amado pelos leitores (ou não), quero agradecer a todos que lerão e quem sabe um dia vão ler, foi um prazer escrever essa fic e não precisam se matar porque acabou, daqui a no máximo dois meses estaria com o primeiro capitulo do livro dois pronto e lançado aqui no site, se quiserem acompanhar melhor o lançamento do capitulo é só ficarem olhando o meu perfil, assim que lançar o perfil foi escrever nele avisando a todos, e claro sem me esquecer, deixem suas reviews, digam o que acharam do final, bom, excelente, magnifico, mediano, ruim, terrivel, nao fez jus a fic, escrevendo falando :)
Reviews?????