Wintertime escrita por ImaginaryInside


Capítulo 9
Capítulo 9: Nothing’s wrong with dreaming.




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Acordei ouvindo berros vindos da sala. Eram berros femininos para ser exata, que se misturavam com vozes masculinas, como a de meu pai e Pedro Lucas. Forcei os olhos e vi que estava nevando, coloquei minhas pantufas e desci para ver o que estava acontecendo.

Na hora que cheguei ao final da escadaria desejei não ter saído da minha cama. Pedro Lucas estava sentando no sofá com as mãos no rosto, meu pai estava na cozinha e havia uma mulher com ele. Ela era alta e tinha cabelos curtos ondulados pretos, tinha os olhos de Pedro Lucas mais seu olhar era frio, e sem vida. Ela usava roupas de marca e jóias aparentemente caríssimas. Fui até Pedro Lucas e ele me olhou quando me sentei ao seu lado, seus olhos estavam vermelhos.

- Ela é minha mãe – ele disse olhando para a TV desligada – ela veio acertar umas coisas com meu pai, mais como sempre ela não consegue só conversar, me desculpe por isso.

- Tudo bem – sorri fraco – acertar o que?

- Uns problemas que aconteceram – ele disse querendo não entrar no assunto.

- Algo me diz que tem meu nome no meio – disse com receio.

- E tem – ele disse me olhando – mais não vou...

- Ah vai sim – disse o interrompendo.

- Ela foi embora, depois que meu pai disse que você viria morar conosco – ele murmurou com receio.

Sabe quando você se sente totalmente deslocada? Como se o mundo fosse amarelo e você fosse a única pessoa verde no meio? Assim eu me sentia. O pior não era isso, era saber que eles eram uma família aparentemente feliz, e eu estraguei isso.

- Então eu realmente estraguei a felicidade da sua família?

- Não, nada a ver, ela e meu pai já não se entendiam á um tempo, e quando meu pai disse que viria morar aqui, ela disse que não queria e ele disse que você viria do mesmo jeito, e então ela foi embora.

- Mais mesmo assim, talvez se eu não tivesse vindo, eles poderiam ter se entendido – disse olhando para o nada.

- Mannu, pára você não teve nada a ver, ela já estava falando sobre ir embora porque meu pai dava mais atenção ao trabalho do que á ela – ele disse me olhando.

Eu sabia que ele estava sendo sincero, mais eu estava me sentindo culpada. Apesar de tudo que aconteceu comigo, eu não desejaria á ninguém a dor de não ter uma família. Balancei a cabeça para os lados e murmurei um “vou dar uma volta” e subi correndo, troquei de roupa e sai correndo de casa.

Já não estava mais nevando, mais estava frio. Só se via algumas crianças fazendo bonecos de neve e guerra de bola de neve, mais eram poucas. Comprei um café e fui andando sem ver para onde ia, minha cabeça era um turbilhão de perguntas e xingamentos á mim mesma de ter concordado com essa idéia de vir para Londres. Ok, se não tivesse vindo não conheceria Isa, nem Pedro e meu coração não estaria esse lixo. Eu não teria vivido momentos que nunca imaginei viver, amizades que nunca imaginei fazer. Sorri ao ver um pequeno flashback passar em minha mente mais logo meu sorriso sumiu ao esbarrar em alguém e meu café cair todo na neve.

- Desculpa, eu não vi você e... Mannu?

Dou uma bala para quem adivinhar quem era.

- Tudo bem Pedro, eu estava distraída – disse me levantando.

Se lembras de todas as perguntas que eu tinha? Pois bem, todas sumiram e uma se destacou como letras em neon “como eu estava ali, na frente da casa dele?”. Talvez meu cérebro estava muito ocupado procurando respostas e meu sub-consciente agiu, me levando até ali, era a resposta mais coerente que eu tinha.

- Distraída? Com o que? – ele perguntou me olhando.

- Aconteceram umas coisas lá em casa, que bem – disse pigarreando – não foram muito, boas.

- O que aconteceu?

- A mãe do Pedro Lucas apareceu lá, e ele me disse que ela foi embora por minha causa.

- Mentira! Eu estava lá no dia, ela foi por causa do seu pai, que ele traiu ela ou coisa do tipo.

 Eu o olhei confusa, “mais uma teoria?” pensei.

- Mannu nem estressa, eles sempre brigavam – ele falou naturalmente – você precisa pensar em outras coisas, aposto que até pensou em sair de casa.

- Pensei mesmo, e talvez eu faça.

- Hã? Enlouqueceu? – ele disse me olhando assustado.

- Como você se sentiria se soubesse que arruinou a felicidade de uma família? Eu não desejo isso á ninguém exatamente por saber como é – disse meio que embolando as palavras.

- Ai que está: A família dos Munhoz já estava arruinada havia tempo. E nem me venha com “mas” porque eu os conheço a muito tempo – ele disse voltando á caminhar.

Ficamos um tempo em silêncio, apesar de Pedro me dizer tudo aquilo ainda sentia uma porção grande de culpa, e quando as idéias e perguntas iam voltar a minha mente, Pedro voltou á falar.

- Eu ia te ligar hoje – ele sorriu olhando em frente.

- Ah é, não me disse como conseguiu meu número – disse o olhando e ele gargalhou.

- Minha irmã esquece o celular até dentro da pia se deixar, foi fácil – ele sorriu.

- Ah – disse rindo – ia ligar por...?

- Lembra do que eu te disse algumas semanas atrás no telefone? Que precisávamos conversar muito?

Senti meu estômago se remexer ao lembrar daquele dia, logo depois dele eu não voltei á aparecer na casa dos Lanza.

- Arrã – disse olhando para as crianças fazendo anjos de neve do outro lado da rua.

- Então, vou te explicar: Há uns dois anos atrás, eu tive uma namorada, Sophie. - ele me olhou e riu ao ver minha cara – relaxa, não é como as outras histórias dos filmes. Continuando, eu era completamente apaixonado por ela, uma coisa bem gay – ele gargalhou – e um dia nós fomos á uma festa, e teve uma hora, que ela chegou em mim e simplesmente disse: Pedro to terminando contigo e saiu – eu o olhei chocada e ele riu – é eu sei. O pior não foi isso, ainda naquela noite, eu a vi com uns cinco garotos diferentes, e uma semana depois ela me ligou querendo voltar comigo, e eu neguei. Dois dias depois fui a uma festa e ela estava lá, um amigo meu, Thomas, disse que tinha umas garotas querendo ficar comigo, e eu fiquei com elas, só para provocar a Sophie e realmente funcionou, ela saiu chorando da tal festa, e uns dois minutos depois ouvimos uma freada e as pessoas começaram á sair de dentro do tal lugar. Enfim, ela tinha sido atropelada.

- E você me conta na maior naturalidade?

- Eu aprendi á superar – ele olhou para o chão, sério – ela ficou um tempo no hospital e eu ia lá todos os dias, até que ela acordou e pediu para falar comigo. Eu fui lá e ela me disse que não queria voltar comigo, é que o garoto que ela estava ficando largou ela e ela estava carente, que ela nunca tinha me amado, e que ela só ficou comigo aquele tempo porque eu era o “gostosinho” da escola, em suas palavras. E depois disso eu nunca mais namorei sério, e eu pegava quantas garotas eu queria nas festas, não por vingança á ela, porque eu decidi nunca mais passar por aquilo.

- Nossa – eu disse – mais você continua sendo um galinha ridículo que merece apanhar – ele gargalhou.

- Eu sei – disse ainda rindo – e você, o que aconteceu?

- Quer mesmo saber? – pedi o olhando e ele assentiu – ok, eu gostava de um menino mais ele nunca deu bola. Ok, estava chegando o baile e ele me convidou, nem queira imaginar a minha felicidade – ele riu – e no dia, ele subiu no palco e disse que tinha coisas importantes á dizer – disse com certa dor ao lembrar daquela noite – resumindo, era uma aposta. Eu era parte de uma aposta dele com os amigos para ganhar 50 dólares, se não me engano.

- Nossa, que foda – ele falou me olhando com pena.

- Ah nem me olhe assim, eu detesto – disse e ele gargalhou.

- Ah, eu não es... Olha lá! – disse ele apontando para a entrada da minha casa – é a Isabella, vem pra cá senão ela vai ver – disse me puxando para um local aonde ela não poderia nos ver.

- O que será que ela está fazendo lá? E aliás, como nós chegamos aqui – pedi o olhando e ele gargalhou.

- Ou ela veio falar com você, ou veio falar com o Pedro Lucas – ele falou com um tom de malícia.

- Pensei que não gostasse deles juntos – pedi saindo do tal lugar já que Isabella tinha entrado.

- Nós conversamos e eu, entendi, eu acho – ele riu.

- Hum... Ok vou pra casa Pedro – disse andando rumo a minha casa.

- Ou, e se eles estiverem, tipo, ah, você sabe – ele disse e gargalhei.

- E? Vou ficar fora de casa por isso? – disse abrindo a porta e vendo que não havia ninguém no primeiro andar, nem meu pai, nem Pedro e Isa, muito menos a mãe de Pedro.

- Mannu – Pedro disse e o olhei – nossa conversa não acabou ainda ok?

- Ok então – disse e ele sorriu.

Me virei para entrar e ele segurou minha mão, me puxando pela cintura e me dando um selinho. Ok, não foi um selinho rápido, foi como se ele quisesse fazer algo mais, mas não podia, então se contentou com um selinho de 5 segundos, depois sorriu e foi embora.

Fechei a porta e me encostei nela. Incrível como aquele garoto conseguia mexer tanto comigo em tão pouco tempo, talvez nossas almas já tenham se conhecido em outra vida ou coisa do tipo, ou até alguma coisa mais racional que não me passa pela mente no momento, mais eu não sabia como explicar. Senti o vento entrar por debaixo da porta e fui até a cozinha pegar um café. Me sentei em frente a janela com minha xícara, vendo cada floco de neve cair lentamente, os galhos se mexerem e as crianças correrem até suas devidas casas.


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Notas finais do capítulo

Girls, capítulo 9 ai pra vocês! Estou tentando ao máximo conseguir um tempinho para escrever, mais logo logo vai acabar, esse domingo já é o vestibular e pronto! DHSAIUHSDAIUSA Enjoy! :)