YUTAKA-CHAN

- Vem – Yutaka segurou o braço do pequeno Takanori e o puxou enquanto caminhava.

- Hey, mas o que é isso, Yuk? – protestou o menor.

- Vamos brincar.

- Mas eu não quero...

- Mas é a minha festa de aniversário e todos têm que brincar juntos! – Yutaka abriu um enorme sorriso, evidenciando as covinhas nas bochechas gorduchas.

Takanori revirou os olhinhos escuros.

- Você pode brincar com os outros sem mim... O Akira e o Kouyou estavam bem elétricos hoje.

- Sim – o mais velho sorriu de novo – Eles já estão esperando na sala. Eu reuni todos lá, e...

Assim que os dois chegaram na sala se depararam com a maior confusão: havia criança em toda parte. Havia os que se escondiam atrás do sofá, havia os que pulavam em cima do sofá, havia os que entravam por uma porta para sair em outra, em um trajeto circular interminável. Havia um ou outro que estava sentado em algum canto seguro, esperando pelo retorno de Yutaka ou pelo que quer que fosse. Havia alguém que jogara as almofadas para todos os cantos.

Yutaka suspirou pesadamente diante da cena, sacudindo a cabeça para os lados em um gesto repreensivo. Ele tomou fôlego e disse em uma voz alta e clara:

- Pessoal, vamos nos reunir e começar a brincar?

Todos pararam imediatamente ao ouvir a voz de Yutaka. O menino tinha aquele efeito nos colegas. Todos os olhares se voltaram para o aniversariante – alguns com vergonha, outros simplesmente surpresos.

- Eu sugiro brincarmos de... – começou o moreninho, mas Akira o interrompeu.

- Yuk, a gente já tá brincando aqui! – o loiro estava empolgado e tinha um sorriso enorme no rosto – Estamos  na guerra, o Kou e o Yuu são os soldados inimigos, eu sou o samurai japonês incrível que luta sozinho e derrota todos...! Mas você pode ser meu aliado, se quiser!

- O quê? Os samurais somos nós! – Kouyou respondeu com indignação.

- Não são não, sou eu! Vocês não têm caras de samurais.

- E tu por acaso tem, com esse cabelo esquisito? – Yuu disse em um tom arrastado e irônico – Ninguém aceitaria um samurai assim...

- Escuta aqui, ô rabugento...!

Akira estava prestes a partir para cima do mais velho, mas Yutaka se pronunciou.

- Parem com isso, não interessa quem era quem. Vamos brincar de outra coisa...

- Mas por quê? – Kouyou arregalou os olhos claros em surpresa.

- É, eu até queria ser um samurai... – Takanori fingiu empunhar uma katana.

- Porque tem meninas aqui, e elas não vão querer brincar disso – Yutaka apontou para algumas colegas de aula que apenas os observavam do outro lado do aposento.

Akira, Kouyou, Yuu e Takanori encararam as garotas por alguns instantes.

- E daí? Elas que brinquem de outra coisa! – Akira deu de ombros.

- É, elas podem continuar o que estavam fazendo, oras – acrescentou Yuu.

- Não, elas têm que brincar com a gente! – o aniversariante bateu o pé.

- Tudo bem, Yuk-kun, nós não nos importamos... – disse uma das meninas, mas Yutaka bateu o pé novamente, dessa vez parecendo irritado. Seu sorriso gentil não existia mais.

- Tem que brincar todo mundo junto porque é o meu aniversário e é assim que tem que ser! Aniversários são para todos se divertirem juntos!

Mais uma vez, todos os olhares se concentravam em Yutaka. Todos estavam surpresos e sem reação. O moreninho encarou cada um dos vários presentes, como se tentasse convencê-los de forma silenciosa.

- T... tá... – disse Akira por fim, em uma voz quase inaudível. O sorriso de covinhas voltou imediatamente ao rosto do pequeno Yutaka.

- Ótimo! Então vamos para a rua brincar de pega-pega? As meninas formam um time e os meninos formam outro. Não vale ninguém se bater; não vale sair dos limites da minha casa; não vale entrar dentro da minha casa.

Os olhares atônitos permaneciam nos rostos infantis.

- ... Quem for pego fica “preso” do lado do jardim, até todos serem capturados. Então a gente recomeça, e o time que antes pegava, vai ser pego. Certo? – Yutaka fez sinal de “V” com as duas mãos, esperando uma resposta igualmente efusiva.

Os meninos, bem em frente ao aniversariante, trocaram um olhar e deram de ombros, demonstrando que não tinham muito o que fazer além de concordar.

- Yokatta!!! Então vamos, todo mundo pra rua!

Yutaka conduziu cada um de seus amigos para fora com um sorriso encantador no rostinho redondo.

Takanori cruzou os braços como se estivesse subitamente emburrado.

- Por que o Yuk sempre consegue tudo o que quer? – ele perguntou a Akira. O mais velho bagunçou os cabelos do loirinho.

- Porque o Yuk é assim... Ele sempre toma conta da situação, seja ela qual for.

- E o pior de tudo – se intrometeu Yuu – é que não dá nem pra argumentar...

- Você não sente vergonha, Yuu? – provocou Kouyou – Não deveria ser você o nosso manda-chuva, já que é o mais velho?

- O quê? – Yuu arregalou os olhos e ficou sem jeito, sem saber o que dizer por um momento – Eu não quero que as pessoas me sigam ou me obedeçam... Eu só quero que me acompanhem...

- Está querendo dizer que eu me coloco acima de vocês?

Yutaka surgiu inesperadamente diante do grupinho que se formara. Todos os outros já aguardavam na rua.

- Hum, não exatamente... etto... – Yuu parecia não ter palavras para se defender. Mas o mais novo apenas riu.

- Eu só tento organizar as coisas para que todo mundo fique feliz! É meio sem querer, eu acho... – o moreninho coçou a nuca, parecendo um pouco tímido. Kouyou bagunçou seus cabelos.

- Então – disse Akira – Vamos logo para a rua brincar antes que o nosso “líder” fique brabinho de novo...

Yutaka gargalhou – Eu não vou ficar brabinho coisa nenhuma! Vamos lá...

E, assim como fizera com os outros, Yutaka conduziu seus quatro melhores amigos para fora da casa.

Antes de fechar a porta, o aniversariante sorriu e sacudiu a cabeça de um lado para o outro, murmurando para si: - “Líder”...?

Yutaka gargalhou mais uma vez.