O programa passava animadamente na TV, fazendo muitas vezes eu e Julia nos levantarmos e tentarmos imitar as danças coreografadas, muitas vezes sem muito sucesso. Por alguns momentos eu me esquecia do por que eu estava assistindo aqueles programas, enquanto outras vezes minha cabeça se turbinava de pensamentos.

Algo em mim me sentia insegura, tensa, nervosa. Assim como numa fração de segundos me sentia confiante, feliz, abobalhada. Como isso era possível? Será, então, que finalmente eu descobri o que é estar apaixonada?

Eu estava completamente perdida em pensamentos, meus olhos mostravam a imagem da televisão a minha frente, mas meu cérebro não conseguia prestar atenção. Meus ouvidos só conseguiam ouvir zunidos estranhos, enquanto sentia as vezes Julia pular ao meu lado, sentada, dizendo coisas aleatórias que meu cérebro não fazia questão de dar bola.

Não demorou muito, tudo que estava na minha cabeça foi para o espaço. Meus olhos finalmente ganharam foco. Meus ouvidos se concentraram em um único som:

-Okay... Let’s Fly... – Era eles! Dei um pulo, por puro impulso, do sofá.

-SÃO ELES! – Gritei, enquanto sentia Julia se erguer ao meu lado. Estranhamente meu corpo se mexia conforme a musica, como se eu estivesse ouvido e visto seus vídeos centenas de milhares de vezes... Espera, eu vi!

Não me dei ao trabalho nem de rir dos meus pensamentos. Meus lábios tentavam acompanhar a musica, enquanto meus pés e braços se mexiam o mais parecido possível.

-Quantas vezes você já assistiu ao vídeo deles? – Julia dizia intrigada, rindo, tentando, totalmente sem sucesso, me acompanhar.

Durante a apresentação inteira deles, não fui capaz de prestar atenção em mais nada.

-Ijyebuteo nikkeoya, I love you... Okay! – A musica acabou.

Suspirei com um sorriso completamente idiota no rosto, caindo de joelhos no chão, e respirando fundo. Inalei profundamente três vezes, enquanto esperava o piti costumeiro da minha melhor amiga, mas o silencio teria dominado a sala, se não fosse à televisão ligada.

Virei meu rosto lentamente, procurando pela minha amiga, que eu tinha certeza que há poucos segundos atrás estava parada ao meu lado. É... Ela estava aqui ainda, mas estava pálida. Seu rosto perdera a cor, os olhos fixos a teve e a boca meio aberta. As sobrancelhas se erguiam o máximo que podiam enquanto as mãos estavam perdidas no ar.

-Quem... Era... Aquele... Deus? – Ela se pronunciou calmamente. Parecia que eu estava brincando com um radio, de dar play e pausa, a cada palavra de uma musica, do jeito que ela falava. Mas sem que eu pudesse prever, senti como se uma flechada invadisse meu peito, mais exatamente contra meu coração. Será que... Meu Baro?

-O loiro? – Disse assustava, parando de pé o mais rápido que pude, encarando-a fixamente.

-Que loiro o que? – ela saiu do transe, com o mais clássico ar de deboche que ela poderia ter. – Tinha um loiro ali? – ela sorriu maliciosa, quando entendeu meu espanto.

Confesso que senti como se aquela flechada tivesse evaporado sem deixar vestígios. Meus ombros caíram, relaxados e meu pulmão expeliu com força o ar que prendia de tão nervoso. Mas meu coração parou por dois segundos, ao ouvir o grito, agudo e estrondoso de Julia me surpreendendo repentinamente:

-QUEM ERA AQUELE DEUS DE OCULOS NO PALCO???

-AI! – Foi o máximo que pude falar, depois de piscar varias vezes, e olhá-la fixamente. – QUEM? – soltei um grito agudo, então senti minha cabeça inclinar-se um pouco, confusa. –Nós realmente precisamos dar uma olhada nas nossas vozes! – argumentei, não contendo a risada, que fora acompanhada pela outra.

-De qualquer jeito... – Julia cessou as risadas, segurando meus ombros e começando a me chacoalhar bruscamente. – Como é que tu me conhece um guri lindo daqueles e não me apresenta??? Que tipo de amiga é você?? – ela insinuava um falso choro, me fazendo rir.

-Primeiro que eu só conheço o Baro! – Disse, fazendo-a parar de me balançar e sentando no sofá. Sentei, digo me atirei, logo em seguida. – Segundo que não sei se você lembra, mas eu descobri que ele tinha um grupo... PELA TELEVISÃO! E DESDE ENTÃO NUNCA MAIS FALEI COM ELE!

Espremi meus olhos, após falar isso. Senti em minha própria voz a tristeza que preenchia minhas lagrimas todas as noites antes de dormir. Julia não deixaria passar despercebido, rapidamente se ajoelhou sobre o sofá pedindo desculpas e tentando me fazer melhor.

-Não importa... Ok? – disse, interrompendo-a. Ela se calou, me olhando assustava. – Eu nunca mais vou poder falar com ele... Minha... – me senti acanhada em dizer tal coisa, mas não podia mais negar, era verdade... –... Minha alma gêmea foi embora. E eu nunca mais vou vê-lo pessoal... – fora interrompida por batidas na porta.

-Fica calma! – Julia disse se levantando. – Vou atender, e você trata de respirar...

Fiquei curiosa. Levantei-me do sofá e deixei que somente meus olhos aparecessem no vão da porta que dava para o corredor onde Julia se encontrava. Ela estava com um pacote nas mãos, enquanto concordavam com a cabeça e um sorriso gigante nos lábios.

Estranhei mais ainda. Primeiro por que Julia detestava ser agradável com pessoas estranhas. Segundo por que ela parecia realmente contente. Terceiro... Por que ela tava sorrindo para uma pessoa estranha...

O que eu posso dizer? A Julia é um tanto quando anti-social. Por que você acha que sua única amiga era, ate então, uma criatura que tinha um amigo imaginário, que futuramente seria sua alma gêmea? É... Só em últimos casos pra assumir uma amizade assim!

-AAHHH QUE COISA MAIS LINDA! – Ela gritou assim que fechou a porta, e correu para a sala. – Olha!!! – Ela me entregou o pacote que havia recebido.

“Por favor, não rejeite.” – Era um pequeno pedaço de papel, dobrado ao meio, escrito a mão, colado na pequena caixa de papelão. Retirei o papel da caixa, e comecei a ler em voz alta para que Julia pudesse saber sobre o que se tratava.

“Ainda bem que sei, ao menos, onde moras... Pois fui ingênuo o suficiente para esquecer de te pedir o seu numero de celular!

Passar com você, todo aquele tempo, foi indescritível. Me fez reviver, mesmo nos momentos mais cansados que estive.

Não sei se você já descobriu, mas eu estou me tornando um ídolo na Coréia. Faço parte de um grupo que debutou há poucos dias, chamado B1A4. Por favor, escute e goste muito das nossas musicas!

Espero que possamos nos encontrar de novo. Preciso falar contigo!

Me ligue: xxxx-xxxx

xo Baro.

Ps.: Saiba que um ídolo deve cantar com seu coração. Preste atenção na letra de “Remember”, e saiba que nunca parei de pensar em você.”

-EU DISSE QUE IA VIR COISA LINDA!!! – Julia gritou assim que terminei de ler.

Meu coração batia forte, eu poderia jurar que a qualquer segundo seria levada ao hospital por ter os ossos do peito fraturados pela intensidade das batidas do meu coração. Num suspiro baixo um sorriso totalmente abobalhado e apaixonado se formou nos meus lábios, senti meus olhos se enxerem de lagrimas e meu corpo ficar bambo.

Só então me lembrei da caixa de papelão, abrindo-a o mais rápido que pude. Era o primeiro CD do grupo. Prensei-o contra meu peito, sentindo minhas lagrimas molharem minhas bochechas, então comecei a pular. Gritar. Espernear. Surtar.

-PARA DE PULAR E ME DA ESSE CD! – Julia gritou, tirando a capa das minhas mãos, abrindo-a. Retirou o CD com cuidado, e me entregou a capa novamente, para que eu continuasse meu surto, enquanto ela se dirigia ate o aparelho de DVD sob a televisão.

Não demorou muito estávamos, ambas, sentadas no meio da sala, ouvindo as letras. E tentando cantar, desafinadamente e totalmente erradas.

-Olha! Agora é Remember! – Julia ressaltou, entregando a capa do CD em minhas mãos me fazendo prestar mais atenção ainda na letra.

X~hora de visitar o site~ uhsauhaihiusasaX

Meu coração amoleceu. Meus pulmões surtaram. Meu cérebro perdeu controle.

-Ele... Te... Ama! – Julia disse, rindo, olhando para minha cara. Obviamente eu deveria estar com a cara mais abobada do mundo. Como uma criança sorrindo para o Papai Noel, ou procurando pelo Coelhinho da Páscoa. Sem contar meus olhos marejados, enquanto minhas mãos se espalmavam contra meu peito.

Não hesitei mais, em me atirar sobre o sofá e pegar meu celular, antes perdido ali, enquanto ouvia Julia me ditar o número que estava no bilhete.

“Eu nunca te deixei. Mas não pense que uma musica ira mudar tudo. Preciso falar contigo.

xo Carol.”

Fui o mais breve que pude. Não queria que ele achasse que o perdoaria só por que ele me dedicou uma musica, mas ao mesmo tempo, meu corpo e alma o queriam perto de mim novamente. Larguei meu celular entre eu e Julia, enquanto esperava inutilmente por uma resposta.

Olhei para ela, com um sorriso fraco no rosto, quanto dava de ombros e voltava a dar play no DVD para ouvir o restante das musicas do CD.

-ELE RESPONDEU! – Julia berrou, sete segundos após eu ter pressionado o botão play, me fazendo apertar o botão de desliga, ao invés do “pause”, no controle. Joguei o objeto no colo dela, enquanto jogava minhas próprias mãos contra o aparelho barulhento que gritava entre nós.

Era ele mesmo.

“Eu nunca te deixarei. Encontre-me naquele parque que você me levou, daqui a 30 minutos. Não terei muito tempo, por favor, não se atrase.

Preciso te ver.

Baro.”

Não pude deixar de sorrir involuntariamente, levantando-me rapidamente e correndo destrambelhadamente ate meu quarto. Pois então, quando me refiro a destrambelhadamente, é REALMENTE destrambelhada. Eu fui capaz de dar com meu joelho esquerdo na quina da escada. Deixei praticamente metade da minha coxa direita na mesa do corredor. Sem contar que perdi meu dedinho do pé direito duas vezes, no pé da cama: Ao entrar no quarto, e ao sair do mesmo indo ate o banheiro.

Claro que como uma boa ser humana, no auge da sua idade de falar palavrões não pude deixar de conte-los entre meus lábios, berrando aos sete ventos nomes tão feios que fizeram ate eu mesma me assustar.

-Onde foi que tu aprendeu esse linguajar? E por que ta desesperada? Esqueceu que eu ainda não sei ler mentes? E esqueceu que eu to parecendo barata tonta indo de um lado pro outro de seguindo? – Julia me atordoava de perguntas enquanto eu, realmente, corria de um lado pro outro: banheiro, quarto, quarto, banheiro.

Eu precisava ser rápida, simplesmente toquei meu celular contra seu peito, fazendo-a gemer de dor, então ler a mensagem. Eu realmente preciso dizer que ela surtou tanto quanto eu? Pois é... Surtou.

X

De qualquer forma, não levou muito tempo, estava pronta, já na porta de casa, esperando por Julia que se aproveitava das minhas coisas, borrifando uma ultima vez um dos meus perfumes e correndo ate a portar. Revirei os olhos, assim que ela passou pela porta, então saindo de casa e fechando a porta. Segurei as alças da minha mochila, enquanto começava a caminhar ao lado de Julia em direção ao metro. Mal podia acreditar em mim mesma...

Eu mal podia acreditar que o veria de novo... O meu Baro.