Sean colocou o pente com as balas na arma. Deixou tudo pronto. A competição de hoje seria apenas com tiros, apenas uma pequena demonstração de quem era melhor no tiro ao alvo.

Ele deixou suas seis armas na mesa, três de cada lado. Com uma linha divisória de pentes, alinhados em pé para futuras recargas. O garoto esperava a irmã, que estava atrasada como todo começo de competição. Como se ele não soubesse que ela arrumaria todos os tipos de desculpas para justificar o porquê de ter levantado tarde naquela manhã.

Sean não era bobo, ele já tinha pego as pistas, já tinha entendido as dicas e o jeito como os dois se comportavam perto um do outro. Sean sabia muito bem do caso de sua irmã e ele gostava do escolhido, então fingia que não sabia de nada e não se metia no meio. Era tudo o que Megan podia pedir e tudo o que Sean podia lhe dar.

Megan entrou na área como se um vendaval a tivesse atingido. Seus cabelos negros como os de Sean, estavam despenteados e embaraçados, mas a morena não perdeu seu tempo arrumando-o. Ela tratou logo de pegar suas armas e as prepará-las para a competição contra seu irmão.

A área onde eles estavam era como um quintal, grande de areia com alvos móveis e imóveis de ferro, que esperavam em suas posições pelos tiros dos dois. Eram tiros a distância de mais de 100 metros, coisa que os dois deveriam ser bons ou morrer tentando.

Sean olhou para sua irmã de cima a baixo, ela ainda vestia as mesmas roupas do dia anterior. O vestido vermelho e preto apertado e os sapatos altos. Ele levantou uma sobrancelha.

– O que é?! – Megan ralhou brava.

– Nada, só que você poderia ter gastado 5 minutos do seu tempo se trocando. – Sean sorriu. – Consigo sentir o perfume dele daqui.

– A culpa não foi minha se aquela novata me ligou, eu teria tido tempo se não fosse ela mudar de ideia. – Megan disse, colocando os pentes em seus devidos lugares.

A tarefa lhe parecia bem mais difícil essa tarde, já que a garota tremia pela falta de cafeína e sua cabeça ainda martelava pela ressaca da festa.

– Leah mudou de ideia? – Sean perguntou. Megan concordou sem dizer nada.

Ele torceu o nariz, em uma cara de desgosto.

Os dois não colocaram protetores nos ouvidos, e nem mesmo óculos nos olhos. Não era do feitio dos dois.

– Ei, Scott, cadê nossa música? – perguntou Megan.

Atrás dela um garoto de pele negra, alto e forte sorriu. Ele pegou um CD na mesa ao seu lado e colocou em uma pequena caixa de som. Scott era quem anotava os números dos irmãos, sendo imparcial na hora de decidir o ganhador.

– Prontos? – ele perguntou, sua voz era grossa e forte. Os dois irmãos concordaram, com as mãos em cima da mesa. – Comecem.

Scott acionou os alvos, que se moveram enlouquecedoramente. Em todas as direções possíveis, tentando confundir os irmãos. Sean e Megan pegaram suas duas primeiras armas ao mesmo tempo.

Eles usavam duas armas para cada variação de distância. Atirando com as duas mãos, os dois tinham que acertar seus alvos, vermelhos para Megan e azul para Sean, no menor tempo possível.

Sean recarregou sua arma, uma fração de segundo ante de Megan. Começando a segunda remessa de armas e abandonando suas duas pistolas antes de sua irmã. Ele pegou sua segunda dupla de armas, rasgando o ar com mais agilidade e rapidez.

Megan estava logo atrás dele, apertando os olhos para enxergar melhor, disparando às vezes até cegamente, somente para acertar um ou outro alvo que estava escondido.

De algum modo Megan recarregou antes de Sean, trocando suas armas ao mesmo tempo em que ele. Os dois estavam empatados. Sean não queria perder seu posto de vencedor por 5 semanas seguidas, e Megan não queria lhe dar o gostinho da vitoria essa semana.

Os dedos de Megan já começavam a doer, de tanto apertar as armas, com a pressão dos tiros. A garota não podia perder. Ela acelerou ainda mais, atirando a vontade nos últimos alvos que via ao longe.

Quando o ultimo tiro foi disparado os dois irmãos devolveram suas armas a mesa, a música que se misturava aos tiros cessou. Megan se apoiou sobre a madeira, estralando seus dedos para relaxá-los. Já Sean girou as mãos, para relaxar os pulsos.

– Megan ganhou. – Scott disse simplesmente. Saindo do lugar rapidamente, voltando para o prédio.

O rosto da morena se acendeu.

– Até que enfim. – ela disse radiante.

Sean revirou os olhos.

– Foi apenas uma semana maninha, eu pego você na próxima. – Sean disse.

– Ah, não tenho duvidas disso, mas é claro que você não me pegara antes de eu lhe dar seu serviço. – Megan disse.

Era tradição dos dois, passar um serviço de sua lista de tarefas para o outro. Podia ser algo que eles não gostavam ou algo que eles gostariam de fazer.

No caso das vitorias repetidas de Sean, o garoto pegara as melhores patrulhas e as melhores missões de sua irmã. Dando a ela suas piores missões em campo, as mais chatas e monótonas.

Mas essa semana Megan se vingaria, ela não queria mais ficar com as coisas ruins da organização. Como por exemplo, treinar a novata.

– Você vai treinar Leah. – Megan disse.

– O que?! – Sean perguntou a voz alta.

– Não tudo, mas você ensinara tiro para ela e eu vou fortalecê-la. E nós dois aplicaremos as torturas. Assim eu não ficarei sozinha nessa horrível tarefa de tirar a bondade dela. – Megan disse. Sean deu de ombros.

– Tanto faz.

Sean sabia que aquele não era o pior trabalho a ser dado por sua irmã. Todavia, naquele momento ele quis trocar. Ele não quis treinar Leah. Algo dizia a ele, que não seria uma boa coisa a ser feita. Uma voz infeliz em sua cabeça sussurrava para convencê-lo a mudar de ideia.

Normalmente o garoto ouvia sua voz interior. Mas dessa vez, só dessa vez, ele preferiu ignorar. Tentando dizer a si mesmo, que não poderia ser tão ruim como ele achava que seria. Ele já havia treinado tantas garotas para a organização, e todas elas sem problemas. Por que Leah seria diferente? Por que aquela garota qualquer estragaria sua vida?