Praedestinatum Em Busca Do Sonho. escrita por vanessa-vvf


Capítulo 4
"lorem ipsum” é “time”; pode virar família_Clarice


Notas iniciais do capítulo

Glossário:
Exercitus: Exército
Interfectorem: Assassino
Lorem Ipsum: Time
Pelos poderes do Mestre * - Uma expressão, como: Pelas barbas de Merlim.



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Glossário:

1. Pelos poderes do Mestre * - Uma expressão, como: Pelas barbas de Merlim.
2. aqua elementari: Elemento da água
3. Exercitus: Exército
4. Interfectorem: Assassino
5. Lorem Ipsum: Time

Capítulo 3: O significado de “lorem ipsum” é “time”; mas quando verdadeiro, torna-se uma família._ Clarice

[Pov Fernando]

Aquele “líder” com seu maldito jeitinho de se achar melhor que qualquer um me irritava muito.
Não conseguia parar de pensar que Lucas não me acordou por se achar melhor do que eu na vigia. Pelos poderes do Mestre [1]! Ele sempre está com aquele nariz empinado achando que tudo gira em torno dele.
Partimos do esconderijo seguro que eu havia localizado sozinho e descemos a colina. Como esperado Tom e Clarice demoraram de mais para chegar a terra firme. Tesc! Odeio esperar.
Apesar de Clarice se mostrar à única pessoa comunicativa daquele time ela só estava atrapalhando. Seu condicionamento físico comparado com uma pessoa comum poderia até ser superior, mas não comparado ao nosso. Lucas, apesar de se mostrar uma pessoa realmente “irritante” possuía um bom condicionamento físico, não melhor que o meu, é claro. Já o Tom, parece estar lá somente para cuidar da Clarice, sempre se preocupando muito mais com ela do que com sigo mesmo, parecendo que a única coisa que realmente importava para ele é ela. Aff! Fala sério! Amor é um sentimento simplesmente ridículo! Não que um homem e uma mulher não possam ficar juntos, porque precisam tirar a sua tensão sexual, mas é somente para isso. Eu nunca conheci alguém que realmente faria qualquer coisa pela pessoa “amada”, e se fizesse, com certeza tinha segundas intenções sobre ela, para se beneficiar, é claro.
Já Clarice, apesar de parecer ser uma garota delicada e – talvez - meiga, não parece se importar tanto assim com Tom como ele se importa com ela. Tesc! E ainda dizem que amor é recíproco! Idiotas.
Enfim, isso não é da minha conta e nem quero que seja. Eles só não podem prejudicar o meu objetivo de estar nesta prova.

- Alguém tem idéia de como podemos começar a caçar? – Perguntou Lucas.

Suspirei alto e encarei aqueles três, todos ficaram inquietos, ninguém tinha a menor idéia de como localizar o time 53. Claro, porque nenhum deles eram acostumados a caçar ou a serem caçados, são inexperientes de mais. Pelos poderes do Mestre! Por que eu fui parar nesse grupo?

- Clarice, me passa um pouco de água. – Parecia até que ela havia se assustado quando lhe chamei.

Ainda confusa ela soltou a alça do ombro e abriu a mochila, pegando assim, a garrafa de um litro de água e me passando.
Eu peguei a garrafa e abri bebendo um pouco da água.

- A área dessa reserva do exercitus é enorme. E mesmo com sete dias para realizá-la é impossível que nos procuremos por todo o perímetro. Nunca vamos achá-los dessa maneira... – Dizia Lucas, mas eu não prestava atenção, sentei-me no chão e reparei que a terra parecia bem fértil naquele lugar, olhei para o céu que estava claro mas cheio de nuvens, provavelmente no final da tarde choveria ou amanhã cedo. – Fernando! – Lucas me chamou parecendo um pouco irritado. É bom se sentir ignorado, não é? – Você está prestando atenção no que eu estou falando? Porque se não agirmos como um time nunca iremos conseguir completar essa prova! – Ele parecia muito irritado, mas não liguei e voltei a observar as nuvens e isso realmente o irritou ainda mais, fazendo com que ele se aproximasse de mim.
- Sempre me virei muito bem sozinho e parece que são vocês que estão perdidos. Você, Lucas, pode até se sentir o melhor, mas até agora não fez nada de bom nesse grupo, pois só fala coisas obvias ou querendo guiar alguém, mas ainda não percebeu que só fez isso para guiar você mesmo.

Imediatamente Lucas marchou até mim e pela primeira vez não vi seu nariz empinado, e sim, sua cara franzida, parecendo bravo, acho que ele não é acostumado a ouvir verdades.

- O que você disse? – Perguntou pausadamente parando na minha frente e me encarando.
- Hei meninos! Não vamos começar a discutir! – A voz meiga e levemente preocupada só poderia ser de Clarice, sabia que ela se aproximou um pouco, temendo uma briga entre nós dois.

Parecia que Clarice não era a única mimada do grupo, Lucas não gostava e nem era acostumado a ser afrontado.
Em reflexo, percebi que Tom segurou Clarice no braço, não permitindo que ela se aproximasse ainda mais de mim e de Lucas, temendo talvez uma luta e ela saísse machucada.

- Eu disse para repetir o que falou! – Exigiu irritado, como se eu temesse um mauricinho.
- Eu tinha dito que você está perdido de mais e não sabe o que fazer. Ah! Mas esqueci de dizer que Clarice está atrapalhando o grupo, sua condição física é precária... – E antes que eu pudesse continuar senti um soco no rosto e gosto de sangue na boca e o mais impressionante foi que aquele era um dos socos mais fortes que já havia recebido em minha vida! O impacto fez com que meu corpo fosse arrastado e fiquei estirado no chão.

Ergui-me após um período e Tom estava diante de mim. Com um olhar tão ou mais irritado que Lucas antes tinha, ele havia me socado, antes até mesmo do loirinho.

- Tome cuidado com as suas palavras, moleque! Principalmente quando se dirigir à senhorita Clarice. – Ele se ajoelhou e me pegou pelo colarinho com uma expressão tão ameaçadora que finalmente percebi que Tom era bem mais forte que Lucas, talvez até de mim, era melhor eu tomar cuidado com aquele cara.
- Tom! Pare!!! – Clarice já estava ao nosso lado com a mão no ombro de seu namorado, preocupadíssima. – Largue-o!

E ele a obedeceu, me largando e ficando na frente dela, como se a protege-se de algo, talvez de mim.
Há quanto tempo que não conseguiam me acertado um soco? Aquele cara era muito rápido e provavelmente ele não nos guiava porque sempre acompanhava o ritmo de Clarice. Percebi meu coração batendo acelerado e que eu transpirava. O que ele fez para que eu ficasse assim? Faziam anos que ninguém me assustava.
Cuspi sangue no chão e passei a língua no grande corte feito em minha boca, talvez tenha perdido um dente. Droga! Aquilo ia ficar inchado uns três dias.

- Isso nunca vai dar certo. – Murmurei cuspindo sangue no chão novamente, que insistia a escorrer pela lateral da boca – Não enquanto Tom estiver aqui só para salvar a Clarice – Encarei Lucas, que parecia tão confuso e surpreso pelos movimentos de Tom quanto eu – Ou enquanto você não perceber que está perdido de mais para guiar alguém.
- Ou que você não sabe trabalhar em grupo. – Lucas completou.
- É, eu não sei, sempre trabalhei sozinho e me dei muito bem com isso! – Exclamei, embora sentisse a pulsação na região do maxilar, passei a mão próxima da boca e queixo e senti o sangue escorrendo. Aquele Tom tinha uma mão pesada!
- É, mas dessa vez não vai dar certo se nós quatro não cumprirmos as exigências da prova. Para passar, o time inteiro tem que estar junto e você vai ter que se dar bem com o time.
- Por isso... – Disse me levantando e sentindo meus pés trêmulos e minha respiração muito rápida. Realmente, Tom parecia bem mais forte do que um dia eu poderia ter imaginado.

Fui até a garrafa de água jogada no chão que antes eu segurava e devo ter largado em algum momento que recebi o soco.
Quando a peguei, todos estavam atentos no que eu ia fazer. Não imaginei que teria que utilizar aquilo logo no início da prova, mas precisávamos localizar o time 53 o quanto antes para que mais rápido aquela prova terminasse e que aquela farsa de time se desfizesse.
Sentei-me novamente no solo e abri a garrafa de água, despejando uma boa quantidade dela no chão.

- Mas que merda você está fazendo!? – Perguntou Lucas, já correndo em minha direção, ele deveria estar pensando que eu estava desperdiçado a pouca água que tínhamos, mas era um preço necessário a pagar e conseguir encontrar aqueles homens.

E mais uma vez agarraram o meu colarinho, desta vez era o Lucas.

- Fica quieto e me larga! Observe antes que toda essa água seja absorvida pelo solo! – Exclamei sério fechando os meus olhos, não poderia perder tempo.

Por algum motivo Lucas me soltou, talvez ele tenha sentindo a presença de... Como era que a Clarice tinha chamado? Fluxo natural elementar, eu acho. Enfim, toquei com as duas mãos no solo que tinha acabado de umedecer e visualizei a imagem das pessoas caçadas que observamos pelas fotos. Um homem de pelo menos 30 anos alto e magro, um rosto sem expressão e olhos fechados, cabelos curtos e claros. O outro também deveria ter por volta daquela idade, era tão negro quanto eu, mas seus olhos com um azul bem mais claro. O outro também era um negro, com um tom de pele um pouco mais claro e olhos mais voltados para a cor verde do que a azul, já o último integrante era um homem claro de cabelos escuros, lisos e longos, de olhos também verdes, mas este parecia mais velho, talvez com quase 40 anos, mas seu aspecto físico não mostrava que era frágil. Todos tinham mistura de sangue, uns mais do que os outros, mais obviamente ligados aos países dos líderes da terra e da água.
Sentia atentamente a umidade da terra e comecei a visualizar diversas cores com tonalidades diferentes, a maioria com diferenças minuciosa, mas eu procurava por apenas quatro, aquelas quatro cores que iriam definir as características físicas de cada indivíduo do time 53, que obviamente estariam próximas.

- Time 53. – Murmurei, visualizando novamente cada individuo do time. – Eu preciso localizar o time 53.

E imediatamente achei os tons de verdes e azuis que eu tanto procurava mesmo com outros tons tão parecidos quanto os deles, mas absolutamente todos possuem uma diferença, muitas vezes quase que imperceptível, mas que eu aprendi a perceber.
Abri meus olhos com um sorriso torto.
Lucas, Tom e Clarice observavam-me impressionados. O loiro continuava o mais próximo de mim e logo perguntou:

- Como... C-Como você conseguiu usar...?
- Que foi metidinho? Só porque ontem eu não sabia a teoria sobre os elementos naturais não queria dizer que eu não sabia usar. Julgou-me errado é?

Ah! Como era bom ver a cara de surpreso do metidinho.

- Você os localizou? – Perguntou Tom sério de mais, quebrando aquele clima entre mim e Lucas; eu me virei para ele e respondi, aprendi que não era seguro para a minha saúde brincar com Tom e principalmente com Clarice.
- Localizei, atravessaram o rio que fomos ontem e estão no sentido do pântano a pelo menos uns 30 kilomentros depois do rio e pela velocidade que eles estavam demoraremos pelo menos dois dias correndo para alcançá-los.
- Então é melhor que comecemos agora. – Instruiu Lucas, ele se aproximou de mim e estendeu o braço me ajudando a me levantar, como se ele soube-se o quadro que me encontraria por usar o que eles chamavam de “fluxo natural”.

Quando me ergui senti minhas pernas tremulas e minha respiração ofegante, o equivalente de uns cinco socos seguidos do Tom.

- Você é que vai nos guiar. – Não sabia se Lucas afirmava ou perguntava; mas mesmo me sentindo cansado de mais era o certo a se fazer.

Começamos a correr em direção de nossa caça em alta velocidade e desviando com facilidade da vegetação de árvores altas, mas cheia de cipós e plantas também de tamanho médio que insistiam estar no nosso caminho.

- Fernando! – Olhei para o meu lado direito e Clarice estava lá me chamando. Pelo menos para correr ela parecia ter um bom condicionamento físico, acho que ela só vai dar trabalho mesmo daqui algumas horas, sua resistência é baixa. – Obrigada. – Surpreso arqueei as sobrancelhas, ela agradecia pelo o que? - Por achá-los e nos guiar, se você não usasse seu fluxo natural, o aqua elementari [2], jamais iríamos encontrar nossa presa. – Fiquei um pouco confuso com suas palavras, eu era realmente péssimo sobre a teoria elementar e a língua antiga, mas acredito que logo descobrirei o que isso significava.
- Não há nada para me agradecer, eu não fiz isso por vocês, eu só quero passar desta fase.
- Mesmo assim, obrigada; e quem sabe, ainda nessa missão, não consiga te ensinar o que significa “lorem ipsum”. – A encarei confuso, realmente não conseguia entender o significado de suas palavras. Ela fez um doce sorriso, no qual percebi que somente ela era capaz de fazer. – O significado de “lorem ipsum” é “time”; mas quando se torna verdadeiro, torna-se uma família. – Eu fiquei espantado com suas palavras, talvez ela tivesse percebido, pois continuou com aquele sorriso gentil.

Encarei seus olhos verdes extremamente claros, onde parecia não existir maldade ou malicia. Ela dizia aquilo com as mais puras e verdadeiras palavras e seus olhos transmitiam isso, por um momento não consegui desviar o meu olhar do dela. Meu coração acelerou, minhas mãos suaram e engoli seco. “Família”, ela tinha idéia de como aquela palavra me abalava? Ou o que a falta dela transmitia a mim?
Sem responder, aumentei a velocidade da minha corrida para me afastar e para que não percebesse o meu nervosismo. Quando olhei de esguelha vi que ela continuava com aquele sorriso, como se tivesse realmente esperanças que suas palavras fossem acontecer, mas ela era inocente de mais para perceber que aquilo era utópico. Clarice realmente era mimadinha para acreditar nisso, porque eu, que conhecia a realidade, jamais acreditaria nisso.
Ainda era de manha e o dia estava bem claro. Era o melhor momento para atravessar o lago, afinal, como a própria Clarice disse ontem, não era seguro ficar muito tempo perto dele, pois era lá o lugar mais óbvio de se encontrar com alguma pessoa pela necessidade do uso da água e era ainda mais perigoso ter que atravessá-la. Mas sabíamos que o pior de tudo não era a ida, e sim à volta, pois era lá que estariam os times desesperados sabendo que o prazo estaria acabando.

- Fiquem atentos. – Murmurou Lucas quando estávamos na floresta nas margens do lago.

Lucas tomou à dianteira, eu fiquei logo atrás e como de costume Tom e Clarice ao fundo. Andávamos silenciosamente e cautelosamente.
Naquele momento eu até poderia esquecer que havia duas pessoas atrás de mim de tão silenciosos que Tom e Clarice eram, principalmente Clarice, ela tinha passos tão leves e gentis que por um momento me assustaram, ela parecia uma assassina nata, onde na penumbra da noite passaria despercebida por qualquer um, me virei para trás certificando que eles realmente estavam lá.
Imediatamente ela me analisou com aqueles olhos verdes tão claros, mas não mais que Tom, pois quando meu olhar se deparou com o misteriosos dele, tive a impressão que ele não apenas me analisava, ele parecia entrar em minha mente e ler tudo o que se passava nela, para se assegurar que eu não era uma ameaça a Clarice.
Isso me assustou tanto que até havia me esquecido que estávamos ainda atentos de mais com a travessia daquela área e distraidamente pisei em um galho, que se quebrou e fez um ruído alto. Recebi um olhar mortal de Tom por isso.

- Vocês ouviram isso? – Murmurou alguém com uma voz desconhecida, então percebemos que não estávamos sozinhos naquela área.

Imediatamente tentamos nos esconder em algum lugar, a nossa sorte é que existia uma enorme rocha na nossa frente na qual uma enorme árvore estava sobre ela, com um largo e alto tronco.

– Ouvi... – Murmurou desconfiado uma outra voz grave. – Mas não deve ser nada.
- Não, deve ser alguma coisa, vai lá conferir – Ordenou uma outra voz grave.

Então, ainda abaixados começamos a ouvir passos, uma ou duas pessoa deveriam estar se aproximando. Encarei meu time e todos continuavam quietos e encostados na pedra, Lucas me lançou um olhar sério e colocou o dedo indicador na boca, pedindo silêncio. Clarice se exprimiu ainda mais contra a pedra.
Eu lancei um olhar furtivo a Lucas, como se dissesse que se eles aproximassem mais eu não ia ficar parado, mas Lucas lançava um olhar ainda mais furioso a mim, dizendo que não era o momento certo a agir.
Eu sabia que naquele momento Tom pensava que nem Lucas. O time diante de nós poderia não estar nem um pouco vinculado ao nosso percurso da fase, mas isso não queira dizer que não poderíamos ser atacados.
Mas eu sabia que ficar escondidos era pior! Pareceria que nós éramos quem estava cassando aquele time, e não era! Lucas e Tom não percebiam isso!?
Os passos cuidadosos continuavam a avançar, a se aproximar. Nós três começamos a encararmos sérios uns aos outros em uma discussão do que fazer, enquanto Clarice se encolhia cada vez mais, temerosa e assustada.
Mas no final, ignorei nossos olhares e tentei me levantar, Lucas se atreveu a me segurava e me empurrar para o chão novamente. Senti minha bunda bater forte no solo, encarei Lucas furioso, quem ele pensa que é para me tratar assim?! Mas meus pensamentos foram completamente interrompidos com a exclamação da pessoa que se aproximava.

- Emílio! – Gritou um membro do time mais próximo de nós, talvez chamando o líder de seu time, depois pudemos ouvir o agudo som, que me lembrou uma lamina – Sabia que tinha alguma coisa aqui! Apareça quem quer que seja trás da pedra. – Naquele momento percebi que ele só achava que uma única pessoa estava escondida lá. – Agora! - Imediatamente ouvi sons de vários passos se aproximando da gente, provavelmente o time inteiro pronto para lutar.

Sem pestanejar Tom, Lucas e eu nos levantamos, Clarice não saiu do lugar, paralisada e tremula de mais, vi que Tom lhe lançou um olhar sério, mas diferentes dos outros, era um pouco gentil, como se pedisse para que ela não saísse de lá e que tudo terminaria bem. Eu não entendia aquele relacionamento deles.
Atrás da enorme pedra e árvore estava um homem careca, branco e alto; com um porte físico bem atlético, em cada mão segurava uma espadas; logo atrás surgiram mais três homens, todos também brancos, um ficou mais a frente, deveria ser o líder, ele era o mais alto e forte de todos, seus olhos de um azul bem claro, suas roucas eram largas e escuras.

- Então são vocês que estão nos cassando. – Conclui-o o líder nos encarando.
- Não! Estamos apenas de passagem na região. Que tal cada um seguir o seu caminho?
- Ora pivetes! Acha que somos loucos o suficiente de deixá-los saírem daqui ilesos!? – O homem de espadas exclamou irritado, como se tivéssemos o ofendido, talvez para ele tivéssemos – Quem não garante que não sejam mesmo os nossos caçadores? Apesar de que o exercitus [3] realmente deve estar em decadência por deixar pivetes como vocês se inscreverem nessa prova. Ela não é lugar para brincadeiras.

Como aquele cara se acha no direito de dizer isso? Convencido! Ele era o que? Um líder elementar?

- Vamos ensiná-los o motivo dessa prova não ser para crianças! – Exclamou o líder. Crianças! Ora! Tenho quinze anos e não ajo e nem me pareço com uma! Por que para eles só existem três fases de amadurecimento: Crianças, adultos e idosos? Existem quatro: Crianças, ADOLESCÊNTES, adultos e idosos. Pelos poderes do Mestre*! Porque alguns adultos precisam ser tão ignorantes!

Aquele carequinha com as duas espadas foi o primeiro a avançar, assim como eu nele.

– Fernando, não! – Lucas gritou para mim, mas mais uma vez não dei importância. Percebi que Lucas queria ao máximo evitar uma luta, mas aqueles caras não ouviriam suas últimas desculpas ou iriam aceitá-las. Eles queriam provar que nós quatro não éramos para estar lá, que “crianças” não eram fortes o suficiente para trabalhar no exercitus, até mais do que isso; fariam o possível para mostrar que jamais estaríamos apitos para realizar aquela prova, mesmo mais velhos.

O careca avançou sobre mim já querendo me atingir na área torácica com as espadas, eu desviei e dei uma cotovelada na nuca dele, me afastando imediatamente. Em um passo tremulo, ele se recuperou e me encarou raivoso. Nunca aceitaria não ter conseguido me cortar ou ter recebido um contra-ataque, principalmente de mim, uma “criança”. Irritou-se ainda mais quando me viu sorrir, mas o que posso fazer? É mais forte do que eu, amo irritar meus inimigos, deixa a luta mais divertida também

- Não pense que ganhou de mim, seu moleque, só porque me acertou um golpezinho! Vou te mostrar como minhas espadas são sagazes em cortar carne, principalmente humanas! – Ele ergueu uma das espadas e passou a língua na lamina, como se já sentisse o gosto do meu sangue nela, cara bizarro, ainda mais por me lançar aquele olhar assassino.

Olhei de esgoela para meus parceiros, o líder do outro time parecia dizer alguma coisa para Lucas, mas aquela luta não demoraria em começar; já Tom estava com os outros membros do time que o atacava ferozmente e ele apenas desviava, voltei rapidamente a minha atenção para meu inimigo, ele não gostava de ser menosprezado.
Clarice deveria estar no mesmo lugar que antes, ainda escondida, assustada e atenta a tudo que acontecia com a gente. Falei que aquela garota não estava pronta, duvido que ela passe da metade da prova.
Meu adversário que correu em minha direção para me atacar.

– Vou te cortar em pedacinhos e deixar somente o seu rosto, que pendurarei em uma estaca. Será o meu mais novo troféu!

Ao avançar novamente sobre mim percebi um passo ou outro dele torto, sabia que meu golpe na nuca havia diminuía a oxidação do cérebro dele, em uma pessoa comum teria caído no chão, desmaiada; mas não foi o que aconteceu com ele. Droga! Esqueço que as pessoas que participam dessa prova sempre estão muito bem treinadas fisicamente ou pelo menos a maioria.
Ele desferiu um ataque mais rápido na minha área torácica que eu desviei dando um salto para o trás, mas vi sua lamina bem afiada cortando o fino tecido de minha camiseta verde. Ah! Só tenho essa blusa para fazer a prova.
Com a sua mão esquerda ele tentou cortar o meu braço, em reflexo tentei esquivá-lo, até senti sua espada atingir o meu ombro, fazendo um singelo corte onde um filete de sangue escorreu, e novamente fez um longo rasgo na pequena manga da blusa. Droga! Se as coisas continuarem assim eu vou ficar sem roupa!
Ele tentou me acertar novamente e esquivei mais uma vez, entretanto me desequilibrei e cai no chão, visualizei um galho cumprido e relativamente fino ao meu lado, peguei-o rapidamente.
O careca arqueou as sobrancelhas e soltou uma longa risada com a cena e pela primeira vez eu também concordaria com ele, se estivéssemos em posições trocadas eu também riria. Mas eu não tinha uma espada para parar seus ataques e ficar só desviando não iria ajudar. Ergui-me rapidamente e o encarei sério, enquanto ele me observava zombeteiro.

– Isso vai terminar antes que eu esperava. – Concluiu com um sorriso enorme e olhou para a sua espada que continha um pequeno filete de meu sangue e logo depois o lambeu novamente, saboreando-o. Eca! Esse cara é realmente estranho. Torci que a língua dele se cortasse na lamina afiada, mas infelizmente esse desejo não aconteceu.
– VOCÊ PEGOU O MEU BROXE! ONDE ESTÁ!? – Não pude não olhar para o lado, quem gritava era o líder do outro time, o homem claro de longos cabelos pretos. Ele parecia enfurecido e rapidamente atacou Lucas com diversas sequências de ataques técnicos de socos e chutes; que apesar da dificuldade, Lucas ainda conseguiu desviar.
– Mas do que você está falando? – Percebi a confusão de Lucas ao perguntar, que não entendia as palavras e a irritação do líder do outro time, mas que mesmo assim, não parava de desviar dos fortes ataques sobre si.

Ouvi o som de laminas se batendo e me movi por reflexo e por pouco o careca não me acertou um golpe fatal com suas espadas.

– Preste atenção na nossa luta! – Exigiu o meu adversário.

Ele voltou a me atacar e seus movimentos agora estavam mais sagazes.
Eu via em seus olhos claros um brilho, parecia alegria, ele estava adorando me ver recuar, me cortar e ter meu sangue em suas espadas. Naquele momento eu só conseguia me afastar, mesmo assim ele conseguia me fazer alguns cortes, cada vez mais profundos. Eu percebi que ele não era apenas aquele tipo de interfectorem que quer matar a sua presa, ele gosta de vê-la acuada e temerosa. Ele é aquele tipo de assassino que gosta de torturar seu alvo. Aquele tipo de assassino que não mata por dever e sim por gostar. Ele era simplesmente aquele tipo de a interfectorem que realmente ama o que faz, afinal, ama matar.
Eu tentava ignorar os sons do irritado líder adversário em afirmar que Lucas havia – talvez realmente tivesse – roubado seu broxe preto, assim como também os gemidos dos dois adversários de Tom que já perdiam para o mesmo.
Tentei desviar de mais um ataque e caí no chão, acabei rolando no terreno inclinado, o pedregulho do caminho me machucou um pouco, mas nada que no momento me preocupasse, pelo menos não mais do que o olhar de um homem fascinado por sangue. Eu possuía vários cortes na roupa e muitos arranhões, sem contar é claro, o rosto e corpo sujo por terra; mas o pior tinha sido o recente corte profundo na coxa, aquele pelo qual eu tive ainda que me jogar no chão para não ser acertado. Acredito que se não tivesse me jogado no chão teria minha perna completamente cortada.
Tentei me erguer, mas imediatamente veio àquela forte ardência pelo profundo corte na coxa, minha perna formigou, fraquejou e caí de joelhos no chão. Ouvi o alto som da gargalhada de meu inimigo que andou tranquilamente em minha direção, saltando alguns degraus feitos de raízes de árvores para se aproximar de mim naquele desnível de solo.
Senti meu coração palpitante, naquele dia eu tinha recebido o soco de Tom e perdia uma luta com um desconhecido; e agora sentia meu coração tão palpitante quanto antes, minha pele negra suada e minhas roupas rasgadas grudadas em meu corpo, à resistência que antes eu me gloriava em ter era menor do que daquele careca, minha respiração estava ofegante e o meu corpo trêmulo pelos consecutivos cortes, alem o sangue que eu perdia, permitindo que ficasse mais tonto.

– Sinceramente você me desapontou, achei que seria mais divertido brincar com você. Mas como eu tinha dito, ainda é uma criança, uma simples e incapaz criança.

Ele parou diante de mim erguendo apenas a espada do braço direito pronto para um ataque fatal e com a minha perna machucada eu jamais iria conseguir escapar – mais uma vez – de seu ataque.
Pude analisar melhor seu rosto e olhos claros acompanhados de grossas sobrancelhas negras, seu nariz cumprido e torto e sua boca alargada pelo sorriso. Era um divertimento ver sua presa ser morta.
Meu corpo era coberto pela penumbra da copa da alta árvore que estava em cima da pedra, a mesma pedra, que antes estávamos escondidos.
Tentei me erguer novamente, mas falhei, ele me atacou e no desespero em querer viver rolei para o lado e sua espada atingiu o solo. Tentei me erguer novamente, eu precisava fugir! Precisava sobreviver! Precisava cumprir o meu objetivo! Não poderia morrer lá, daquela forma tão humilhante! Eu não era considerado um lutador a altura ao meu inimigo! Odiava ser menosprezado! Mas odiava ainda mais me sentir inferior! Precisava sobreviver! Mais uma vez!
Tentei me erguer, falhei novamente. Meus joelhos cederam ao chão, não conseguia suportar o peso do meu corpo. O encarei e o vi erguendo o braço esquerdo, não perderia mais tempo e me daria seu golpe mortal.

– Age como um rato! Mas já chega, essa luta está me irritando.

E sem fraquejar ele me atacou, tudo que pude fazer, vergonhosamente, era observar seus olhos determinados a me assassinar.

– FERNANDO! – Ouvi alguém me chamar, identifiquei aquela voz sendo do Lucas, era estranho saber que pela primeira vez minha vida seria importante de algum modo para alguém, afinal, apenas com o time completo poderíamos mudar de fase.

Mas tudo ficou mais confuso até ouvir um alto som, os olhos de meu inimigo esbugalharem e simultaneamente seu ataque parar no ar antes de me atingir. Seus olhos se fecharam e ele caiu no chão, perdendo os sentidos.
Eu e meu inimigo não ouvimos o som dos silenciosos passos de Clarice, que ficou atrás dele. Seu corpo corpulento escondeu de mim o frágil e pequeno corpo de Clarice. Que agora, com uma enorme estaca de madeira, havia batido com força na cabeça de meu inimigo que caiu ao chão desacordado.
Seus braços ainda estavam erguidos do ataque, ela os abaixou lentamente tremula e ofegante. Nossos olhares arregalados se cruzaram e pude ver em seus olhos extremamente verdes marejados, talvez estivesse tão assustada quanto eu, só não sabia por qual motivo: se foi por ele realmente poder me matar ou era pelo que ela tinha acabado de fazer.
Em silêncio trocamos olhares e por um momento sabia que não era apenas os olhos dela que estavam marejados. Senti minha garganta travada e nada consegui dizer.

– Clarice! Eu disse para você ficar escondida! – A exclamação de Tom a direita chamou a nossa atenção, dando seu último soco em seu inimigo que caiu no chão também desacordado e com o rosto coberto de sangue do nariz quebrado.

Ele correu em direção da prima e a abraçou, sem se importar que seu punho também estivesse machucado da luta que tinha feito ganhando de seus adversários pela força bruta, Tom analisou primeiramente se Clarice não tinha nenhum machucado, percebendo que não, ele suspirou aliviado, apesar de continuar a abraçá-la sabendo que a mesma continuava assustada.
Ele me encarou sério e me diria alguma coisa, mas sua voz foi abafada por outra:

– Você está bem? – Olhei para o lado e Lucas já estava lá.

Eu estava, apesar do profundo corte na coxa, enquanto ele marcas arroxeadas e avermelhadas de ataques feitos manualmente, não estávamos em situações tão diferentes.

– Estou... – Minha voz saiu falha, rouca e baixa, mas não me importei, percebi o olhar sério de Lucas sobre minha perna direita machucada, ela já estava forrada de meu sangue.
– Precisamos sair daqui, antes que eles recordem a consciência. – Disse rapidamente Tom e ninguém discordou disso. Aquela havia sido uma luta desnecessária, cujo nossos ferimentos poderiam nos prejudicar em lutas futuras.

Íamos partir imediatamente, tentei me levantar, mas ao fazer isso senti novamente a minha coxa arder e formigar, a dor foi intensa e meus olhos voltaram a marejar. Minhas pernas cederam a dor e caí novamente de joelhos ao solo. Consegui suprimir um grito, mas não um gemido, que obviamente não passou despercebido pelo time.

– Este corte parece estar bem feio – Murmurou Clarice se soltando de Tom e se aproximando de mim, ela rasgou um pedaço de sua camiseta e sem pedir permissão prendeu com força em minha perna. – É para tentar estagnar o sangue, a ferida não pode ficar aberta, é muito fácil pegar uma infecção.

Lucas também se abaixou ficando ao lado de Clarice, logo depois ordenou:

– Suba em minhas costas, você não irá conseguir andar por um bom tempo e ainda precisa nos guiar usando o seu fluxo natural, sei que estava cansado em sua luta por estar usando o seu fluxo natural, isto te prejudicou – Fiquei surpreso por sua rápida dedução e encarei suas costas. Como ele sabia disso? É como se soubesse das conseqüências da utilização do elemento natural, seria ele também capaz de usar?
– Não podemos gastar mais tempo. Suba logo Fernando! – Exclamou sem paciência Tom, que recebeu um olhar de recriminação de Clarice.

Droga! Eu sabia que o Tom estava certo, mas ele não entendia. Eu precisando da ajuda de alguém!? Isso era inadmissível para mim! Ah se era!
Primeiramente Clarice salvou a minha vida e agora Lucas queria me carregar por eu estar ferido! Eu que havia causado toda aquela confusão, eles deveriam estar me recriminando. Queriam ficar quietos, na deles, sem causar confusão com aquele time, mas tinha sido eu que fiz com que isso não acontecesse! Eu sempre vivi sozinho e nunca ninguém havia estendido sequer uma mão para me ajudar e agora... Pelos poderes do Mestre*! Fui ajudado duas vezes, é por isso que o mundo está uma catástrofe.
Relutante eu aceitei a ajuda de Lucas, sabia que não poderíamos perder mais tempo naquele lugar, primeiramente os nossos novos inimigos poderiam recordar a consciência e segundo que quanto mais tempo perdíamos lá mais distante ficava o time 53. Droga! E isso que eu ainda reclamava da Clarice! Agora sou eu o estorvo!
Preso em suas costas – E negaria isso até o fim da minha vida – Lucas se ergueu e finalmente partimos correndo, segundo as minhas coordenadas.
Atravessamos a área do rio e uma longa planície, não tardou para o anoitecer se aproximar.

– Precisamos parar para descansar – Observou Tom olhando para o céu e sabendo que não demoraria muito tempo para anoitecer.
– Se pararmos nossa diferença com o time 53 vai se tornar ainda maior – Comentei sério, Lucas não era o único que estava muito cansado, eu estava já há horas usando o fluxo natural.
– Mas não podemos nos encontrar assim com o time adversário, com certeza perderíamos. Alguma sugestão, Fernando? – Comentou Lucas ainda me carregando.

Suspirei cansado, sabia que eles estavam certos, mas a minha consciência não me deixava em paz, teríamos ainda dias de perseguição daquele time, não tínhamos que nos preocupar somente com a ida, havia também à volta. Maldito enorme território, não poderia ser menor não?

– Vi que mais à leste existe uma parede de pedra...
– Outra escalada? – Perguntou desanimada Clarice.
– Não – Respondi encarando-a e imediatamente ela ficou mais feliz. – Talvez uma gruta, no chão mesmo, sem escalar nada. – Ela fez um enorme sorriso ao ouvir a noticia, realmente, a escalada de ontem a traumatizou.
– Então vamos para lá! – Exclamou Lucas se dirigindo a leste, Clarice e Tom nos seguiram.

Nossa sorte foi não demorar muito para achar uma gruta, ela era bem menor que a de ontem e menos segura também.
Quando paramos para descansar me dei conta o quanto meu corpo inteiro estava dolorido e suplicava por um descanso, entretanto eu não parecia ser o único.
Lucas me deixou no chão e logo depois se sentou ao meu lado muito ofegante, reparei que em seu rosto o lábio tinha um profundo corte e estava inchado, ferimento que deve ter recebido da sua luta. O machucado era do mesmo lado do meu, aquele que havia recebido do Tom, mas meu corpo estava tão dolorido, principalmente minha coxa, que nem sentia mais dor do meu lábio, mas o meu deveria estar tão inchado quanto o de Lucas.
Clarice se sentou também no chão e começou a tirar tudo de sua mochila, aproveitando que ainda não estava tão escuro. A vi tirar alguns poucos alimentos que ainda tínhamos para dividir.
Tom, como sempre, sentou-se ao lado dela e pude ver melhor que seu punho estava em carne viva, machucada de mais pelos socos do dia, mas comparado a mim e Lucas, ele era o menos machucado, mesmo lutando contra dois ao mesmo tempo. Pelos poderes do Mestre*! Não é que este cara é forte mesmo.

– Não temos muita comida e preciso ainda guardar um pouco, não sabemos o que está por vir; a água só dará para hoje – Informou séria, entregando algumas poucas frutas e vegetais para Tom, depois se ergueu e levou para mim e Lucas. Todos receberam repartições iguais.

Ela me entregou primeiro a garrafa de água, sabia que estava com sede, mas nem tanto. Quando senti aquele líquido tocar meus lábios secos e rachados e inundar minha boca entendi o quanto meu corpo estava necessitado de água e no desespero de tentar tomá-la, cheguei até a me engasgar; com relutância, mas com consciência, a afastei de meus lábios sabendo que ainda tinha que dividi-la com Lucas.
Encostei a minha cabeça na parede da gruta, fechei os olhos e suspirei, estava ainda com tanta sede, minha garganta e boca permaneciam secas, com se não tivesse ingerido nenhum liquido em instantes atrás.
Senti uma mão fria tocar minha testa, relutante abri os olhos, Clarice ainda estava diante de mim, com uma expressão séria e até mesmo preocupada.

– Está com febre, isto não é bom.
– É só o que faltava... – Murmurei voltando a fechar os olhos, meu corpo parecia mais pesado do que o normal. Senti uma dor repentina na coxa direita e vi que Clarice estava tirando a faixa ensangüentada que ela mesma tinha posto há horas atrás – O que pensa que está fazendo?!
– Você está com febre, talvez seja inicio de uma infecção, precisamos lavar a ferida e trocar essa faixa. Infelizmente é tudo que podemos fazer.
– Certo... – Murmurei ainda não muito convencido, não queria que mexessem em minha perna, porque realmente doía. Apesar de todo o procedimento mais cuidadoso possível das mãos delicadas de Clarice era involuntário o gemido de dor que escapava de minha boca.
– Espera um pouco – Ela foi buscar algo enquanto eu observava o ferimento descoberto, minha coxa inteira estava tingida de vermelho e um percurso de sangue já seco percorria minha perna chegando até meus pés.

Ela retornou com o restante de água da garrafa que Tom havia bebido e daquela água lavou suas próprias mãos sujas do meu sangue e depois inclinou a garrafa na minha perna e antes de derramá-la eu exclamei:

– Essa é a sua água para beber, se usá-la no meu ferimento não terá mais para você – Ela nem olhou para o meu rosto e fingiu que não me ouviu, simplesmente derramou a água sobre a minha perna, passando o mais delicadamente possível seus dedos sobre o meu ferimento, ajudando a limpá-lo.
– Por que está fazendo isso?
– Eu já te disse uma vez, não é? Somos lorem ipsum. – E logo depois fez aquele sorriso meigo e que somente ela sabia fazer.

Daquela vez eu não me surpreendi tanto por ouvir tais palavras e tive vontade de sorrir junto dela. Talvez eu estivesse começando a realmente entender o real motivo do significado de lorem ipsum.
Sua mão clara e pálida continuava a limpar a ferida de minha pele e se destacava da cor negra da minha coxa.
Ela novamente rasgou mais um pedaço de suas roupas que eram as mais limpas da equipe e depois enfaixou minha coxa.
Como era possível alguém tão gentil e delicado querer trabalhar para o exercitus? Se Clarice era realmente aquela pessoa tão mimada quanto eu imaginava, ela deveria ter milhões de escolhas a fazer, muitas com certeza melhores do que se tornar uma interfectorem, então por que escolher tal destino?

– Por que você quer se tornar uma interfectorem?

Ela terminou de prender a faixa no meu ferimento e respondeu:

– Se você me responder primeiro o seu motivo eu respondo o meu.

Sorri involuntariamente, mas assim como ela provavelmente tinha pensando, eu não responderia a sua pergunta. Ah se ela soubesse da verdade...!
Com o meu silêncio ela retribuiu o sorriso e logo depois se afastou, sentando-se ao lado de Tom que ficava do outro lado da gruta e finalmente começou a comer.

– Pare de encará-la tanto, se não, vai receber outro soco do Tom – Informou descontraidamente Lucas e sabia que ele estava certo, então assim como ela, finalmente comecei a comer. – Clarice, comece com a vigia, depois Tom e finalmente eu. Agora boa noite que eu realmente preciso dormir. – Disse rapidamente se deitando no chão frio e fechando os olhos.
– Espera aí! E eu!?

Aquele loirinho de uma figa realmente sabia me irritar! Já não bastava ontem não ter me acordado para a vigia, hoje estava oficialmente me deixando de lado! Sempre se achando superior! Ah!
Antes que eu começasse a discordar seriamente ele rapidamente respondeu ainda com os olhos fechados:

– Seu estado de saúde entre todos está o pior e precisamos que continue usando o seu fluxo natural para o rastreamento do time 53, então é o que mais precisa de descanso. Então, por favor, feche essa matraca e deixa-me dormir. Deveria agradecer, eu daria de tudo por... – E bocejou –... Conseguir dormir uma noite inteira.

Mas eles realmente deveriam estar combinando em conseguir me deixar sem palavras! Não é possível! Em poucos minutos DUAS pessoas haviam conseguido ME deixar SEM PALAVRAS!
E quando finalmente pensei em algo para retrucar, Tom disse mais rápido do que eu:

– Fique quieto e não descorde, Fernando. Ele é o líder e suas ordens estão fora de questionamento.

Oras! Aqueles dois ainda iam ver, teria o meu dia de vingança. Ah se iria!
Irritado de mais, tentei me ajeitar da forma mais confortável que tinha. Estava com fome, sede, dor e frio! Sem contar é claro, contrariado e irritado! Mas ainda ia me vingar de Tom e Lucas! Afinal, amanha seria o terceiro dia e com o corpo mais descansado poderia pensar em algo.
Apesar que minha vingança – por um lado – já estaria realizada. Eu teria uma NOITE INTEIRA DE SONO! Enquanto vocês não! Há!
Bocejei alto e fechei meus olhos, estava cansado e meu corpo inteiro pedia por descanso.
Faltam cinco dias, longos cinco dias para o termino da missão.

Continua...


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Notas finais do capítulo

imagem: Fernando - seus olhos são arroxeados na historia original. [ esta na capa]
oiiii
bem diz de tudo para postar antes do Natal, mas não deu, mas pelo menos foiantes que o final do ano
DESEJO A TODOS UM OTIMO NATAL [MESMO ATRASADO] E FELIZ ANO NOVO! ATÉ O PROXIMO CAPITULO!!!
esperando por comentarios e se possivel recomendações.
Este foi o maior capitulo que até agora escrevi na fic, espero que curtem
bjs nessa