Capítulo 24.

“A VERDADE É FILHA DO TEMPO, NÃO DA AUTORIDADE.” – Francis Bacon

PDV Isabella Swan

“EMPRESÁRIO SE ‘APAIXONA’ POR PROSTITUTA E A PEDE EM CASAMENTO – SERÁ UMA VERSÃO ATUAL DO FILME ‘UMA LINDA MULHER’?”

Edward Cullen, empresário famoso e filho de Carlisle e Esme Cullen, pediu há poucos dias sua namorada em casamento. Ninguém seria contra tal pedido se não fosse o fato de que a namorada em questão é ninguém mais que uma prostituta.

Sim, uma prostituta.

Fontes nos informaram que eles estão juntos há pouco mais de um ano e que inclusive tem uma filha juntos. A paternidade da criança foi contestada pela família uma vez que descobriram no que a respectiva mãe da criança trabalhava, mas Edward Cullen alegou que a criança é sua filha.

Para decepção da família que esperava que ele se casasse com sua anterior namorada e noiva Tanya Denalli, ele agora está noivo da tal ex-prostituta. Um verdadeiro choque para a sociedade a qual ele pertence.

Resta-nos esperar para saber mais e torcer para que a versão de Edward Cullen do filme ‘Uma Linda Mulher’ tenha um final tão feliz quanto o de Júlia Roberts no filme. E que Deus o ajude a não ser enganado ou trocado por outro homem apaixonado que pague mais a mulher.

Ainda era difícil acreditar que eu realmente li isso no jornal. Claire me trouxe o jornal e pediu que eu não me chocasse com o que leria. Não entendi quando ela pediu isso, mas curiosa li o artigo de uma vez.

E à medida que eu ia lendo cada linha, minha tristeza se tornava maior. Eu já estava preparada para enfrentar o preconceito das pessoas, só não estava preparada para suportar que esse preconceito se transformasse em piadinha de mau gosto contra Edward, Nessie e eu.

- Bella? – Claire disse meu nome num fio de voz.

Graças a Deus, Nessie estava dormindo e eu podia assimilar esse maldito jornal sem me alterar na frente da minha filha. Os olhos de Claire estavam atentos às minhas reações, eu via preocupação estampada ali.

- O que você vai fazer? – ela pediu.

- Não sei. – dei de ombros – No fim das contas, praticamente tudo o que diz aqui é verdade. Só fico preocupada com a repercussão que isso vai ter sobre a família do Edward. Ainda bem que não mencionaram o nome de Nessie; mas quem sabe que eu estou com ele, vai ligar os fatos e vai perceber que a ex-prostituta sou eu.

- Eu sinto muito por isso. – ela me abraçou.

- Eu também.

- Edward vai ficar furioso.

- Vai. – peguei o jornal e o rasguei pra jogar no lixo – É melhor ele nem ver isso.

- E você acha que ele não vai saber mesmo assim? Ele pode já ter lido no trabalho ou vai saber por outra pessoa. E a família vai saber, vão querer uma explicação disso tudo. – ela disse racional.

- Ai, Claire. – choraminguei e caí sentada no sofá – Cada vez é uma coisa pra atrapalhar a vida da gente. Será que nunca vamos ter paz? Nessie não merece passar por isso. Edward não merece passar por isso!

- Nenhum deles merece. – se ajoelhou a minha frente – E você também não merece.

- Claire, eu sou o que sou. Posso mudar minha vida, mas meu passado me condena.

- Cala a boca, Bella. – ela se irritou – E daí que você foi prostituta? Você não é mais agora! Você é uma mulher educada, carinhosa, doce, que tem uma filha de um aninho linda demais, tem amigos que te amam com ou sem passado sujo e tem um homem que te ama e te pediu em casamento! Que se danem os outros!

Antes que eu dissesse algo em meio ao choro que saía sem freios, Edward entrou em casa. Encarou-me por cinco segundos e suspirou tristemente quando me viu chorando. Percebeu na hora que eu já sabia da notícia. E ele também sabia.

- Eu vou indo. – Claire sussurrou pra mim e foi até Edward – Se precisar que eu cuide da Nessie é só me ligar. Vou deixar vocês conversarem.

- Obrigado, Claire. – ele disse a ela – Boa noite.

Ouvi o barulho da porta sendo fechada. Claire saiu. Edward ainda estava parado no mesmo lugar, mas me encarava sério e com compaixão nos olhos verdes que eu tanto amo, os mesmos olhos da minha filha.

Minha dor e meu medo não me permitiram permanecer parada. Saí do sofá e corri até ele para me consolar no conforto dos seus braços. Ele me abraçou, me acolheu em seu peito e eu chorei. Chorei até perder as forças. Edward me pegou no colo e me levou para o nosso quarto, deitou-me na cama, tirou o próprio casaco e os sapatos e se deitou ao meu lado, puxando-me para que eu voltasse a ficar perto dele.

Carinhosamente secou as lágrimas que escorriam por meu rosto e beijou demoradamente meus lábios. Eu não tinha coragem de falar. Estava abalada demais para sequer pensar em dizer alguma coisa.

- Você leu o jornal, não leu? – ele perguntou.

Não falei, só assenti positivamente.

- Sinto muito por isso. – ele disse, eu choraminguei e escondi o rosto em seu peito – Eu tenho quase certeza de quem deu essas informações ao jornal e vou dar um jeito nisso. O estrago já foi feito, infelizmente vão incomodar por isso, mas quero que saiba que não tenho vergonha do seu passado e pouco me importa isso tudo. – beijou meus cabelos e acariciou meu braço – Agora dorme um pouco, vou ficar aqui com você. Te amo, Bella, só não esquece nunca disso.

Apertei-me mais nos braços dele e adormeci depois de me acalmar. Eu precisava seguir em frente. Por Edward, por Nessie e por mim mesma.

PDV Edward Cullen

Ler o jornal já tinha sido horrível. Mas ver Bella tão frágil, tão afetada, me fez sentir ainda pior. Custei um tempo até conseguir acalmá-la, mas por fim ela conseguiu dormir. Fui ao quarto ver como Nessie estava e ela dormia profundamente; melhor assim, ela era a única livre dessa porcaria toda. Voltei ao nosso quarto e ainda fiquei uma hora acordado antes de conseguir dormir também. Mas uma coisa eu já havia decidido: iria resolver essa confusão no dia seguinte!

E foi o que fiz. Na manhã seguinte, saí antes de Bella acordar. Liguei e pedi para Claire vir até em casa e cuidar da Nessie caso acordasse antes da Bella. Dirigi com a visão turva pela raiva até a casa de Alice. Jasper foi quem me atendeu, seu rosto revelava vergonha e decepção.

- Bom dia, Edward. – disse educado como sempre – Entre.

- Cadê ela? – foi a única coisa que consegui pronunciar.

- Na cozinha, estamos tomando o café da manhã. Você já tomou café?

- Não consegui comer nada, mas obrigado.

- Venha.

Ele fechou a porta atrás de mim e seguiu na direção da cozinha. A casa deles era perfeitamente decorada, tudo escolhido por Alice, parecia uma decoração de catálogos de lojas caríssimas. E era quase isso. Jasper e Alice gastaram uma pequena fortuna na casa, mas Jasper faria tudo para deixá-la feliz e Alice não era de se negar presentes de luxo.

Chegamos à cozinha e tudo estava silencioso. Alice lia o jornal do dia enquanto bebericava goles do seu café. Jasper pigarreou e os olhos dela se encontraram com os dele, depois com os meus.

Manteve-se calada. Olho no olho. Séria. Decidida. Nem um pouco arrependida do que fez.

Era hora de agir. Eu iria esclarecer tudo isso agora mesmo.

- Foi você, não foi? – comecei confirmando apenas por educação.

- Eu o quê? – arqueou a sobrancelha bem desenhada.

- O jornal de ontem. A manchete ridícula sobre meu casamento.

- Ah, quer dizer que seu casamento é ridículo? – debochou.

- Não foi isso o que falei. Eu disse que a manchete era ridícula. Volto a te perguntar, Alice: foi você?

- Sim.

Eu sabia! Foi ela. Alice fez aquilo. E não estava arrependida.

- Por quê? – pedi entristecido pela traição de minha irmã – Precisava se rebaixar a isso, Alice?

- Edward, - se colocou de pé, a veia de sangue no pescoço pulsou – coloque na sua cabeça que aquela vagabunda não é mulher pra você! Eu te fiz um favor por entrar em contato com o pessoal do jornal. Desse jeito talvez você crie vergonha na cara e dê a volta atrás enquanto ainda é tempo.

- Favor? Voltar atrás? – gritei irritado, Jasper apenas observava prestes a apartar uma briga física – E quem você acha que é para querer decidir o que é melhor pra mim, Alice?

- Eu sou sua irmã. E você me deve um pouco de consideração.

- Eu sei que é minha irmã. E até pouquíssimo tempo atrás, eu te amava muito. Mas agora já não sei mais o quanto te amo porque a minha raiva está se sobrepondo ao meu amor. – tremi os lábios quase desabando, prestes a chorar – Você tem noção do que foi chegar em casa ontem e ver Bella desolada, chorando muito e ainda se sentindo culpada disso tudo?! Alice, eu queria morrer pra não ter que ver aquilo nos olhos dela.

- Se ela se sente culpada é porque realmente é. – gritou de volta – Ela é uma vagabunda que não tem vergonha na cara! Ela deve ter destruído muitos casamentos por aí! Ela acabou com a sua vida, Edward! Ela está manchando o nome da nossa família! Ela acabou comigo!

Depois de suas últimas palavras, o silêncio reinou entre nós. Apenas a respiração furiosa de Alice e meu choro eram ouvidos. Jasper se mantinha calado, dessa vez tomando café e observando algo pela janela. Eu podia imaginar o quanto as palavras de Alice doíam nele, talvez tanto quanto doíam em mim, porém por motivos diferentes.

- Alice, - raciocinei – se Bella foi prostituta um dia, isso é problema dela e meu. Eu sei da vida dela, sei que ela era prostituta. Eu a conheci por meio disso, meu Deus! – passei a mão pelo cabelo e respirei fundo – Eu só acho que você devia pensar duas vezes antes de sair por aí falando sobre isso. Ao contar ao mundo que Bella era prostituta, você não atingiu só ela. – disse de forma gelada – Você atingiu a mim; atingiu minha filha que é uma menina linda e feliz, sem preconceitos; atingiu Emmett e Rose que amam Bella de verdade; atingiu nosso pai e nossa mãe que vão ficar chateados por ter isso exposto à sociedade... mas no fim, nós não seremos os mais atingidos porque nós já sabíamos disso que saiu no jornal e já estávamos lidando bem com isso tudo. – meus olhos encararam Jasper que ainda estava de costas, continuei a falar – Sua atitude imatura, infantil, mesquinha, odiosa e esnobe atingiu quem te ama mais do que tudo. – ela entendeu o recado, sabia que eu falava de Jasper – E, Alice, essa raiva toda que você tem atinge ainda mais você mesma.

Calei-me pra que ela digerisse tudo o que eu falei. E nada era mentira, um dia ela entenderia isso. Seu plano de humilhar Bella acabou voltando pra ela mesma. Ela estava se humilhando e perdendo pontos com pessoas que a amam muito. Em especial, estava ferindo Jasper que era um homem totalmente louco por ela.

- Você diz que fez o que fez porque é minha irmã e me ama. – acusei – Mas irmãos não fazem isso. Irmãos não machucam os outros. E você me machucou, Alice. – voltei a chorar – Espero que um dia se arrependa do que fez e espero que não seja tarde demais pra você. Até lá, não fale mais comigo. Eu tenho apenas um irmão a partir de agora, e ele se chama Emmett. – Jasper me olhou surpreso, eu sorri triste pra ele – Desculpe por tudo isso, Jasper. Você merecia coisa melhor. Até logo.

Saí dali chorando. Era duro ter que dizer aquelas verdades para Alice, mas ela precisava ouvir. Estava cega pelo ódio e estava acabando com a vida dela, iria perder Jasper se continuasse assim.

Do carro liguei para casa. Claire atendeu, ao fundo do telefone ouvi as conversas de Nessie.

- Oi, Claire. – eu disse.

- Oi, Edward. Tudo bem?

- Não, mas vai ficar. – respirei fundo – Bella já acordou?

- Não. Ainda está dormindo, coitadinha. Está com uma cara horrível, cheia de olheiras.

- Eu sei. Infelizmente não posso desfazer essa merda toda, mas já acertei as contas com Alice.

- Foi ela quem fez aquilo?

- Foi.

- Que pena. Sinto muito por ela ser assim.

- Eu também. Nessie já está acordada?

- Sim. – sua voz se alterou, devia estar sorrindo agora – Acordou faz poucos minutos, estou colocando um vestido nela e depois vou dar uma papinha para ela.

- Obrigado, Claire. Não sei o que faríamos sem você.

- De nada, Edward. Bella é minha amiga e gosto muito de você, jamais me negaria a cuidar dessa filha linda que vocês têm.

- Obrigado de novo. Bom, vou ir direto para o trabalho. Quando Bella acordar diga para ela me ligar.

- Ok.

Nos despedimos e eu dirigi até o trabalho. Precisava ficar longe de Bella por algumas horas. Eu queria dar-lhe apoio, mas nas circunstâncias em que estava, era capaz de deprimi-la ainda mais. Trabalharia, me afundaria em trabalho até que ela me ligasse. Só então voltaria a pensar nisso tudo.

PDV Isabella Swan

Dor de cabeça era o que eu sentia, por isso acordei embora quisesse dormir por mais umas horas. Levantei meio desorientada pelo sono e fui até o banheiro. Assustei-me ao me encarar no espelho. Eu estava horrível. Meu cabelo parecia um ninho de pássaros; meus olhos estavam inchados, com bolsas e olheiras embaixo; minha pele estava marcada por lágrimas que secaram sozinhas. Era uma visão terrível.

Decidi tomar um banho para ajeitar tudo. Relaxei sob o jato de água morna e lavei-me como que para tirar todo o peso do corpo, querendo me livrar de tudo o que aconteceu ontem.

Vinte minutos depois entrei na cozinha vestindo um roupão atoalhado e com os cabelos úmidos e soltos sobre meus ombros. Claire e Nessie estavam ali.

- Oi. – murmurei.

- Bom dia, mamãe. – Claire disse e olhou para Nessie – Diga bom dia pra sua mãe, Nessie.

Lógico que ela não disse, mas balbuciou alguma coisa, sorriu pra mim e esticou os braços. Isso talvez significasse seu ‘bom dia’.

- Oi, meu anjo.

Peguei-a no colo, beijei seus cabelinhos da cor dos meus e a abracei, esmagando-a em meus braços. Ela achou engraçado e gargalhou.

- Se sentindo melhor? – Claire pediu.

- Não muito.

- Esqueça tudo.

- É meio difícil.

- Tente. – pediu carinhosamente.

- E Edward? – mudei de assunto.

- Saiu cedo para trabalhar. Pediu que ligasse pra ele.

- Ok. Vou tomar um café e depois eu ligo.

- Já está tarde, não coma muito senão não vai almoçar depois.

- Ok, mamãe. – debochei dela.

Nós rimos e Nessie nos encarou e riu também. Demorei meia hora para ligar para Edward até criar coragem, mas liguei.

- Bella, como você está? – pediu sem nem dizer ‘alô’.

- Um pouco melhor. E você?

- Estou bem. E Nessie?

- Está aqui comigo. Claire foi ao mercado pra mim, vou ficar em casa hoje, não quero sair daqui.

- Você não pode se esconder pra sempre.

- Não posso?

- Não, Bella. – respirou fundo – Não tenha vergonha de nada. Somos adultos e somos conscientes de nossos atos, os outros não têm nada a ver com isso.

- De onde você saiu, hein? – indaguei mais pra mim do que pra ele – Às vezes você parece um sonho.

- Um sonho bom ou ruim? – sua voz soava um pouco mais alegre ao perguntar.

- Bom. – murmurei – Um sonho muito bom.

- Ótimo. Ok, eu vou estar em casa na hora do almoço. Quer que eu compre alguma coisa no caminho?

- Não, Claire já vai trazer tudo o que está faltando.

- Ok. Vejo você depois. Te amo, Bella.

- Também te amo.

Desliguei e me concentrei em ajeitar um pouco a casa, não queria dar tanto trabalho para Claire. Nessie ia comigo e eu a deixava brincando sob um tapete ou uma cama enquanto ia colocando tudo no lugar.

Claire voltou e rapidamente começamos a preparar o almoço e arrumar a mesa até que Edward chegou e almoçamos como uma verdadeira família.

O assunto ‘manchete do jornal’ foi esquecido. Pelo menos por enquanto.