Asas negras escrita por Veneficae


Capítulo 5
Inexperado - parte 2




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Já com minha bolsa de volta me preparei para o turno da noite, infelizmente. Estava escuro, escuro o bastante para que eu me arrepiasse a sentir estranhas presenças a minha volta. Mas isso foi até Kyle vim se despedir de mim na frente do restaurante. Eu não sabia bem porque, mas Kyle me trazia uma certa... tranquilidade - ou segurança, eu não entendia bem. Eu só sabia que Kyle tinha algo que afastava aquela sensação, mas ele não parecia ter consciência disso.
Estávamos na entrada do restaurante, mas pouca pessoa passava por nós. não estava muito movimentado.
- Verei-a amanhã? - perguntou. Kyle era tão alto! Parecia ter 1,90 ou algo perto disso. Era alto o bastante para conseguir fazer me sentir pequena, na verdade, mais do que pequena. 
- Se eu sobreviver a noite.
- Por que?
- Ah, coisa do meu trabalho. Nada mais.
Ele pareceu desconfiado, apesar de dar entender indiferença. Mas eu não podia não querer falar nisso? Falar do meu turno da noite no trabalho?
- Até mais, então. - como éramos amigos, pensei que pelo menos ele me daria um abraço, mas nem isso aconteceu. Kyle simplesmente virou as costas e entrou. Achei meio ríspido depois de termos conversado tanto. Era como se ele não fazia ideia do quanto conversamos, talvez não fossemos tão amigos assim. Quer saber? Nem me importo.
Talvez ele não fosse tão diferente como eu pensava.
Atravessei a avenida de novo - estava mais movimentada do que ultimamente -, não que fizesse muita diferença. Com a bolsa colada no corpo (parecendo mais do que uma fugitiva, porque será?) entrei no shopping. Era estranho ver tudo fechado. As lojas, restaurantes, joalherias... tudo. Estava tudo muito escuro e quase inabitável, momento perfeito para aquela sensação. Assustada, comecei a correr. Entrei num baque na área dos seguranças e quando vi que Vitor ainda estava ali, suspirei.
- Aure? Tudo bem? - ele veio me acudir.
- não consigo respirar... - eu tinha dificuldade de respirar quando ficava muito assustada, meus pulmões pareciam encolher. Tanto que eu tinha calmantes aos montes na bolsa - mais por conta propria mesmo do que do médico, não que isso fizesse diferença, eu ia mesmo precisar do médico -, minha salvação. Vitor estava preocupado, assustado, confuso, mas sabia o que fazer. Ele só tinha visto esse meu ataque uma vez e sempre ficava desastrado.
Apontei para a bolsa.
- Calmantes... - tossi. Ele correu até minha bolsa jogada na porta e procurou. Demorou até que ele achasse, pensei que ia morrer! Mas mesmo assim ele entregou a mim e aos poucos fui melhorando. 
Passou alguns minutos. Longos, mas só minutos.
- Obrigada. - respirei fundo.
- O que houve? Quer que eu troque de turno com você?
- não. Ckipton vai me matar se...
- você sabe que não. O dono do shopping, lembra?
- Mas eu quero fazer isso. Preciso.
- você se esforça demais, como sempre. Ckipton nem dá bola. - ele se levantou e carregou sua mochila. - Vai ficar bem mesmo? Venha comigo. Venha.
- Claro. Qualquer coisa existe celular e... - ergui o revolver do cinto ao lado da farda. - BUM... fiuuuuuuuu.
- Vem, deixa isso comigo depois.
- Eu sei me cuidar Vitor. 
Ele riu do meu Kyle de voz.
- Gostei. - e mesmo depois de sair - Tchau! - gritou. Eu não gritei de volta. não queria causar uma pane nos meus pulmões de novo, não agora.
Vesti minha farda, quer dizer, só o colete. Ckipton não estava lá para chamar minha atenção. O colete, o "cinto de mil utilidades" contendo só um revolver e um cassetete e um par de algemas. então sai. Com medo, mas sai.
Estava escuro. Até as lâmpadas tinham sido apagadas, eu ia só sobreviver com uma lanterna?!
Aquela sensação voltou. Eu não entendia o porquê. Porque aquela sensação de estar sendo observada maliciosamente, de vários ângulos, quase sendo tocada, quase sentindo os olhos no meu pescoço me encomodava tanto? Porque em mim? O que eu tinha feito de tão ruim? Ou existia mesmo alguém me observando? Fiquei mais assustada do que estava antes. Me controlei para não ter uma convulsão ali mesmo. Passei pelos manequins da loja mais frequentada do shopping misteriosamente olhando para frente, algumas até sem rosto. Mas mesmo assim, mesmo sabendo que era só plástico - era do que elas eram feito, acho - parecia que elas só esperavam você passar para virar a cabeça em sua direção e... engoli a seco.
Corri para outra parte.
Joalherias, salas de jogos e galerias. As jóias estavam no lugar, cheio de linhas vermelhas e totalmente trancadas. A sala de jogos estava estranhamente vazia. O vento uivava, sai correndo dali por isso.
E, em fim,  as galerias.
Uma ao lado da outra guardando quadros de vários artistas como Michelangelo ou Picasso ou Leonardo Da Vince e etc. Estavam cobertos por grandes toalhas e também estavam cheio de linhas vermelhas causada por luzes de segurança. Sensor de movimento e presença...
Menos uma.
Uma das galerias estava aberta, escancarada. Havia vários espelhos desviando as luzes vermelhas e os quadros não estavam na vitrine a minha frente. Fiquei desconfiada. Olhei sugestivamente para o final do corredor e vi uma sombra correndo. Corri atrás, claro! Era meu dever. Fui até o final e virei a esquerda, desci a escada rolante e lá estava o vulto correndo. Aquela sensação que eu estava sentido piorou. Agora eu quase podia sentí-las do meu lado, mas invisíveis. Mas tentei não pensar nisso. Já estávamos correndo na parte das vitrines de novo.
Andar subterrâneo.
Ele estava bem na minha frente. O corredor de guloseimas era longo e reto. Saquei minha arma e atirei, mas acertei a parede. Ficou um buraco. Na verdade, um zumbido também. Eu não estava acostumada a atirar, apesar de ser uma segurança, viver perto de ladrões - e outras amenidades que não precisa ser citado, não agora. não era coisa que eu estava acostumada a fazer. Foi então que, alem do panico que eu estava sentindo, comecei a ficar mais assustada do que jamais ficara. Meus pulmões explodiu numa ferocidade jogando todo o ar para fora e não deixando nenhum entrar. não pude correr mais.
Tropecei e cai no chão.
Pouco ar entrava, mas não o suficiente para eu dizer que estava Respirando. Meus pulmões faziam esforço, mais esforço, mais força ainda, mas quase nada entrava. Meu olhos começaram a lacrimejas e eu me contorcia deitada no chão. Estava totalmente escuro de novo. A lanterna tinha caído num baque tão forte que as pilhas saíram. Agora era só eu, Deus e aquela sensação a minha volta. Tirando Deus, todo o resto presente piorava meu estado. Eu estava nervosa, mais do que assustada, preocupada pelo ladrão ter fugido, chorando, e o pior de tudo - morrendo. De pouco a pouco eu ia perdendo a consciência. Só consegui respirar bem uma vez, respirar mesmo.
Foi então que senti.
Senti alguém ao meu lado. Meus olhos estavam mais do que quase se fechando. Consciência? Pouco, muito pouco. Até pensei que fosse por causa daquela sensação, mas entendi muito bem que era alguém de carne e osso quando senti as mãos dessa pessoa precionando meu peito. Me ajudando. Forçando e forçando, como se pudesse me ajudar, mas já estava longe de me fazer viver de novo. Nenhum ar mais entrava. Só um fiozinho.
Quase nenhum.
Sabe o que é não respirar? A sensação? Mais do que horrível. então a pessoa desistiu vendo que não havia mais salvação. não daquele jeito. não mais. Agora o necessário era uma bomba de oxigênio e algo que fizesse meu pulmão funcionar, pois por conta própria - como se agora fosse possível - não dava. Foi então que, pelo o que a pessoa fez, comecei a respirar e fiquei mais assustada ainda.
Esse alguém estava fazendo respiração boca a boca.
Ai meu pai!
Eu mal sabia que era, se tinha escovado os dentes ou etc, mas... de alguma forma... la no fundo... eu sabia quem era. MAs o estranho era que: ao mesmo tempo eu não sabia quem era. Era como se você tivesse acabado de sonhar com algo, visse não sua frente, estampado na sua cara, mas não conseguia identificar. As palavras simplesmente não saia de minha boca. De qualquer modo, eu não queria falar agora. Eu queria é respirar. O oxigênio foi entrando e saindo. Forçava meu pulmão trabalhar. Era tão gentil a cada ar que soprava dentro de minha boca, gentil até demais. não podia ser o ladrão. Simplesmente não podia! Ladrões são maus, não? Talvez Leonard. Eu tive esperança, mas fazia tempo desde que eu vira da ultima vez.
Fui ficando mais calma.
Respirando, mas perdendo a consciência aos poucos.
- Porque... porque me ajudou? - perguntei arfando. Mas a pessoa continuou soprando na minha boca, assim eu pensava, ao ver que eu estava perdendo a consciência. Mas não era disso que eu precisava, não mais. não tem como uma pessoa evitar um desmaio.
Tudo ficou preto, mas eu ainda sentia os lábios nos meus.


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