Abri os olhos lentamente sentindo minha cabeça pesar, tudo a minha volta parecia fazer parte de um borrão. Fechei meus olhos novamente enquanto respirava fundo e ao abri-los tentei focar a pessoa sentada ao lado, meu irmão. Ele olhava entediado pela janela, soltando longos suspiros de irritação. Fiz o mesmo ao sentir o leve balanço do carro enquanto este andava pela estrada escura.

Virei a cabeça em direção a janela observando as pequenas gotas de chuva presas a ela enquanto encostava meu rosto no vidro frio, logo senti minha cabeça parar de latejar.

“Acordou, querida?” - minha mãe perguntou me olhando pelo retrovisor.

Suspirei em frustração. Não é como se eu não gostasse dela, mas nesse momento tudo o que ela fizesse iria me irritar, inclusive suas perguntas estúpidas. Era meio óbvio que eu estava acordada, assim como era óbvio que eu não estava nem um pouco bem. Então só a ignorei, continuando a olhar monotonamente para a estrada.

Sentia o tempo se arrastar a cada segundo que passava, não sabia mais a quanto tempo estava naquele carro, mas o meu maior desejo era que ele parasse logo, porque quanto mais ficasse ali tudo se tornaria real. E isso era tudo que eu não queria.

“Falta muito?” - escutei meu irmão perguntando, como se tivesse lido a minha mente. As vezes, eu tinha a impressão de que nós realmente podíamos fazer isso, ler nossas mentes, quero dizer. Desde que nascemos é assim, ele diz que é pelo fato de sermos gêmeos, eu ainda acho que isso se deve ao fato dele ser intrometido por natureza.

“Não, estamos chegando já. Não é empolgante?!” - minha mãe respondeu entusiasmada. Eu e meu irmão nos olhando e nós dois sabíamos a resposta para aquela pergunta.

Muito tempo depois, ou assim pareceu para mim, o carro parou em frente a uma grande casa de dois andares.

Desci do carro, sendo acompanhada pelo Peter, e parei para observar a casa. Ela não era, longe disso, feia, podia ver o grande jardim que ela possuía e mesmo no escuro ele parecia lindo. Tudo ali era lindo, tudo seria perfeito, para uma vida perfeita.

Mas ao olhar para a expressão do meu irmão, só pude ter uma certeza: tudo o que nós queríamos era a nossa velha vida de volta.