A Ordem das Coisas escrita por Kamus


Capítulo 1
OneShot


Notas iniciais do capítulo

A tristeza, quando acumulada, nos faz pensar muito, muito mesmo... e isso nem sempre é uma boa coisa...



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A Ordem das Coisas

 

     Quando tudo que você pressa te engana, o que sobra? A força do tempo pode não responder isso. Isto porque nem todos agüentam as chuvas, não querendo se molham depois de tanto se exporem a úmida tristeza que cobre-lhes o corpo e os lança para o abismo do inconsciente. No entanto a vida não muda se assim não o querem. Olivia achava isso. E por isso ela se isolou, porque o mundo conspirava contra ela, e dela deixou de cuidar, de amar, indiferentes, imutáveis.  Para ela não existia mais a vontade que se encontrava nos laços entre pessoas, de mantê-los... de amá-los.

    

- Você é estúpida mesmo, viu?

- Cala a boca!

- Você é uma garotinha estúpida Olivia. Eu sempre achei que era só a tristeza que fazia você agir desse jeito vulgar. Mas não, não era isso, era só você mesma...

- E já falei para você CALAR A BOCA!  

- Ohoho! O que foi? A verdade é cruel de mais para você? Dormir com outro homem enquanto esta comigo... O que você tem na cabeça garota? Como pode fazer uma coisa dessas? Sua...

- CALA A BOCA! VOCÊ É UM MISERÁVEL QUE NÃO ME ENTENDE! SEMPRE ESTEVE COMIGO PARA SE ACHAR COM AQUELES SEUS ESTÚPIDOS AMIGOS! EU QUE PERGUNTO, QUE TIPO DE GAROTO ESTÚPIDO VOCÊ É, EM? QUEM VOCÊ PENSA QUE É?

- Ah, não venha com essa. Nunca te trai quando estava com você. Sempre fui fiel, diferente de...

- Mentiroso, eu te vi com a Camila. Vai negar seu cretino?

- Vou. Eu não fiquei com ninguém...

- Vai se ferrar cara! Eu te dei meu coração e você me trai assim... Eu tinha te dito que não conseguia mais abrir meu coração para ninguém... Então eu confiei em você.... deixei-me sentir o amor novamente.... e é assim... é assim que você me agradece?! Cretino! CRETINO!

- Não me chame...

- Olha aqui cara, escuta bem, eu n-u-n-c-a mais quero olhar para a sua cara de porco e ouvir sua voz hipócrita novamente!

- Olivia! Espere. OLIVIA!

 

     Ela correu o tempo que agüentou, percorrendo o centro para chegar ao prédio onde morava. Chorando com compaixão a si mesma. Refletindo como haviam pessoas baixas neste mundo. Todos eles sempre são, foi o que pensou. Sempre julgou que se alguém não a queria, todo o tipo de pessoa que assim se parecia com aquela que lhe magoou também assim o faria.

      Quando parou ofegante numa praça, sua atenção foi tomada por sons que ali perto se iniciavam. Ao olhar para lá, viu que se encontravam algumas garotas e garotos do mesmo colégio que ela: conhecidos de vista. Estes a olhavam, notaram o quando desengonçada ela parecia correndo daquele jeito e riram dela. Eles sabem, pensou ela. E mesmo o olhar de desprezo que jogou para cara um deles, nada os fez parar. Pelo contrário, riam mais ainda.

 

- Vão se ferrar seus bandos de mauricinhos e patricinhas!!! – gritou e atirou uma pedra na direção deles. Esquivaram-se e riram mais ainda.

 

     Continuou, tropeçando e quase caindo. Correu desesperada para sua casa. Não notava se os semáforos estavam livres para os pedestres; apenas corria. Chegando por vim ao seu prédio, subiu as escadas em vez de pegar o elevador tentando acabar com a raiva através do cansaço. Procurou as chaves na mochila, mas estas ali não se encontravam. Ele não as devolvera. Socou a porta pedindo para que abrissem.

 

- Calma Olivia, vai acabar derrubando a porta – disse seu pai.

- Esqueci minhas chaves – caminhou com os olhos no chão até seus quarto.

- Olivia? O que deu em você? Estava chorando?

- Não, não estava...

- Filha, eu sei que é duro para você que seu irmão esteja hospitalizado... Mas tenha calma, ele vai sair dessa. Os médicos dizem que ele vai sair do coma, têem esperança disso – Olivia sentiu um olhar quase que acusador, mas não estava surpresa. – Pense em mim e em sua mãe, então bem? Nós também estamos muito maus com isso. Mas acredite em Deus...

- Eu não quero acreditar em DROGA NENHUMA! ME DÁ RAÍVA TODA VEZ QUE VOCÊ FALA ASSIM! ME DEIXA EM PAZ!!!!

- OLIVIA!!! Olha como fala comigo!

- Pare de me encher!!! – e correu para o quanto, trancando-se. Jogou a mochila com tanta força na escrivaninha que todos os objetos que em cima dela estavam voaram para longe. Atirou-se na cama e mordeu o travesseiro para abafar o grito. Chorou com todo o desespero que pode.

    

     Dormiu depois de tanta tristeza. Não quis almoçar, tomar café da tarde ou atender a telefonemas. Não queria mais sentir nada deste mundo. Não queria ser boa ou ser má. Só queria ser deixada em paz, deixar de pensar, deixar de ouvir os próprios pensamentos e ofensas.

     Já era noite quando decidiu atender ao celular que já tocava inúmeras vezes naquele dia. Esqueceu que poderia ter o desligado. Não se preocupou em quem lhe estava ligando. Em um gesto mecânico apenas pegou-o e apertou o botão para atender-lo.

 

- ... que que você quer!

- ...

- Fala logo droga! Ah, não tenho tempo para perder....

- Olivia! Espere – e ao estudar aquela voz do outro lado da linha, seu coração se encheu de raiva e fúria.

- Sua.... COMO OUSA ME LIGAR DEPOIS DO QUE FEZ COMIGO? COMO OUSA?

- Olivia, não! Não é verdade aquela história! Você estendeu tudo errado! Eu nunca iria te trair...

- Como pôde...? Como pôde Camila...? Eu... eu pensei que você fosse a minha melhor amiga.... como pôde – e chorou lágrimas que acreditou já não existirem.

- Mas eu sou, Olivia. Por favor, me escute...

- Nunca mais Camila, nunca mais fale comigo... Eu quebro sua cara se vir dirigir a palavra a mim.

- Olivia...

 

      Mas o celular de Olivia agora se encontrava voando pela janela do quarto, caindo e caindo até colidir com o chão e partir em pedaços correspondentes a altura de sete andares.  Deixou a ação lhe preencher, assim como todas as misturas de sentimentos ruins que já a preenchiam, e atirou também todas as fotos coladas no espelho com Camila e Felipe. Como não tinha percebido que eles faziam coisas bem embaixo do seu nariz? Como poderia acreditar que isso seria possível?

      Atirou um álbum de recordações, das viagens que fizera com eles, atirou cd´s, dvd´s, roupas, tudo que lembrava aquelas duas pessoas. E por último, num movimento sem pensar, apoio-se na janela da sacada, colocando as penas no parapeito, levantando sobre ele equilibrando-se. Fitou o horizonte e olhou a vida que corria frente a seus olhos como se a houvesse os pegado de surpresa.

     Olhou para as nuvens escuras que lá no alto corriam o céu. Observou as suas formas, quais teriam camarotes para uma tragédia grega e como seria interessante assistir antes de atuar.

     As estrelas sempre foram bonitas assim? E por que ela estava admirando-as agora? Deveria?

     Tudo aconteceu tão rápido. Porque tudo tinha que ser assim?

     Desde que o irmão se acidentara em uma madruga que fora buscá-la em uma Rave, o seus problemas começaram. Os pais acusavam-na indiretamente da fatalidade. Amavam-no mais do que a ela. Sabia. E por isso a acusavam. Semanas depois, sentiu que precisava mudar para se sentir melhor, cortou os longos cabelos loiros deixando-os curtos e avermelhados. Colocou quatro brincos em cada orelha e vesti-se na moda gótica. Muitas pessoas a notavam agora, inclusive um bando de riquinhos do colégio que gostavam de humilhar os outros, e assim começavam a fazê-lo com ela. Não importava, Camila estava ao seu lado, e mesmo dois meses depois, quando sua querida avó faleceu, lá estava Camila ao seu lado, segurando sua mão, emprestando seu ombro e seu calor para que pudesse agüentar aquela situação, e segurando na outra, Felipe. Agora parecia que ela ficaria bem.

 

- Aqueles traidores... – e sua mente se encheu de recordações que possibilitavam o relacionamento entre seu amigo e namorado, com sua grande amiga.

 

     Na semana que descobrirá a traição, caiu em profunda depressão. Não foi às aulas e pouco falava com os pais. Estes acreditavam que ela estava com remorso por ter pedido ao irmão por ir buscá-la naquela festa a altas horas da noite, e não fizeram questão de esconder esse pensamento, mas continuavam a dizê-lo de forma vaga e indireta.

     Um dia ela não agüentou os pais e saiu para o centro, pintou os olhos e os lábios de preto, maquiou-se com pó-de-arroz branco, colocou botas de sola grossa e cano alto, saia com babados e laços presos as mãos e nos cabelos, misturando a cor preta com a branca. Foi paquerada por muitos garotos, homens e até algumas garotas. Sentou-se num banco e logo chamou a atenção para si. Era como um grito para o mundo lhe prestar a atenção. Um amigo, que era mais como um conhecido para ela, se aproximou e a tirou dos olhares horrorizados e outros admirados. Com muita conversa conseguiu saber o que se passava. Ela estava fraca para resistir a qualquer pedido, então foi a casa dele. Lá descobriu o interesse antigo do garoto por ela. Não acreditou. Devia ser mentida. No entanto não se importou e deixando todos os pudores de lado. Deitou-se com ele.   

     Chegou tarde em casa e perdera as chaves. Elas estavam na verdade na casa daquele garoto, mas ela não queria retornar lá. Sentia-se suja e vulgar. Depois, naquela mesma semana, finalmente decidiu ir para o colégio, encarar os traidores. Lá encontrou Felipe que lhe mostrou as chaves que um garoto conhecido dela estava em pose, mas não as queria o entregar. No entanto, as conseguiu devido a chutes e socos. Começou a discussão e ela não agüentou e contou que sabia da traição dele com Camila, e a falta de uma reação à altura da situação por parte dele provou como ele realmente era: um verme.

 

    Agora ela se encontrava pensando e pensando sobre tudo aquilo, e olhava para baixo e para as estrelas.  Qualquer coisa que acontecesse agora, boa ou ruim, decidiria o seu destino. Fosse ver um cometa, fosse ver um atropelamento, ela esperava que acontecesse alguma coisa antes de decidir...   Talvez até mesmo falar com aquele garoto daquela noite poderia ela consideram algo como ‘bom’. E assim talvez... ir em frente. Pensaria no mínimo.

    

  Escutou alguém batendo na porta do seu quarto.

 

 - Olivia! Seu pai me contou que você está furiosa de novo. Deixa de ser infantil e venha jantar. Tenho que falar com você sobre aquela viagem que você estava querendo fazer. Temos que cortar gastos, você sabe. Olivia. Não vai dar. Está me ouvindo? Olivia? Ah, e tem um telefonema de um garoto chamado Diogo.  Ele disse que você o conhece e precisa falar com você. Fale com ele e depois venha jantar, está certo?

 

 

    O silêncio foi intenso do outro lado.

 


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Notas finais do capítulo

Mais um para quer ter curiosidade de ler.



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