Stanfoord escrita por DezzaRc


Capítulo 3
Um Prato Frio para Três




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— Não atenda esse celular! — ordenou Mitsky.

Alicia apenas olhou seu aparelho ao seu lado, vibrando insistentemente na espuma da cadeira. Ela e sua melhor amiga, Mitsky, estava matando aula para assistir a um dos últimos ensaios do coral de outono de sua escola. Suas amigas estavam na peça.

— Mit, se eu não atender ele não vai me deixar em paz!

— Desligue! O que esse cachorro quer com você? Não já te humilhou o suficiente?

— Ele não me…

— Não?! Alicia, acorda! Ele apenas ficou com você por uma aposta idiota, foi apenas um jogo para ele!

Alicia abaixou a cabeça, notando que mais uma vez o celular tocava.

— Sair correndo que nem uma garotinha assustada também não foi algo maduro de se fazer — zombou de si mesma.

— Alicia, faltava apenas isso — ela fez o sinal entre os dedos — para eu colocar o Christan na história. Agora não falta mais nada — avisou, levantando-se furiosamente de sua cadeira, caminhando para a saída do teatro.

Ela não pensou duas vezes antes de seguir a amiga. Jogou sua mochila desajeitadamente sobre seu ombro, e marchou em direção à saída, mas não antes de receber um olhar gélido do professor de teatro. Ela sorriu envergonhada e tratou de aumentar os passos. Para o seu azar, deu de cara com o monitor do corredor.

— Senhorita Futcher, novamente perambulando pelos corredores da Fitcher?

— Desculpa, desculpa, desculpa… — murmurou contornando o monitor, correndo em direção ao sanitário feminino.

Ela estava se perguntando em como a amiga conseguia se safar dessas broncas. Mitsky tinha a péssima mania de cabular aulas, e por vezes arrastava Alicia junto. Como esperado, o banheiro estava vazio àquela hora. Colocou sua mochila em cima da pia, e pensou em ligar para a amiga, porém Chad foi mais rápido.

— Pelo amor de Deus, me esquece, Chad! — lamentou-se cancelando a ligação do garoto e discando o número de Mitsky.

— Tarde demais, Alicia — Mitsky sorriu, encerrando a ligação.

— Sky, ainda não entendi, repete? — pediu Christan, soltando vagarosamente a fumaça de seu cigarro pela janela do carro. Um pouco adiante, avistou a placa “Proibido Fumar”, mas ignorou-a.

— Primeiro, pare de me chamar de Sky! Eu detesto esse apelido — começou impaciente. — Segundo, tomara que você morra com um cigarro entalado em sua goela — Christan riu, assoprando a fumaça no rosto da garota, que fechou mais ainda a cara. — E terceiro, por que estou pedindo ajuda a você? Não leva nada a sério! — esbravejou.

Eles estavam dentro do carro de Christan — um Suzuki Swift cinza —, no estacionamento da escola. Ele já fumava seu quarto cigarro, e ainda nem tinha dado à hora do almoço.

— Será porque você não esquece o nosso beijo na festa da Suzzie? — insinuou, aproximando-se sorrateiramente.

— Eu estava bêbada! — argumentou nervosa. — Não seja um tolo, Christan, acha mesmo que estou a fim de você?

— Acho? — ele deu uma última tragada no cigarro, jogando-o pela janela, e mais uma vez assoprando a fumaça no rosto da moça. — Tenho certeza.

— Ora, seu… — Antes de continuar, seu celular tocou novamente. — Alicia está ficando insistente como o Chad. Mas foi até bom — disse secamente.

Christan soltou uma risada maliciosa.

— Sabe o que ele fez para ela, não é?

— Claro, é a notícia da semana — respondeu, procurando mais uma carteira de cigarro no bolso de sua calça de marca.

— Ótimo, me poupa tempo — disse, suspirando. — Quero que dê um corretivo no Chad e em seus amigos. Ninguém magoa minha amiga e sai sorrindo — declarou vingativa.

— Deixa comigo, querida Sky.

Alicia definitivamente não queria Christan envolvido nisso. Com certeza acabaria em uma grande confusão, como em tudo que ele se metia. Chad havia feito algo ruim, mas ela estava disposta a esquecer e seguir em frente. Christan era jogador do time de futebol da escola, mas foi expulso por distribuir drogas aos jogadores; sua desculpa foi que isso ajudaria nas estratégias do time, pois ficariam mais animados.

Mitsky gostava dele, apesar de seus desentendimentos. Ela era orgulhosa demais para admitir isso a ele e a si mesma. Os dois se conheceram em uma festa no ano retrasado, e desde então, Mitsky vivia nos bastidores das encrencas de Christan.

Por azar, ou não, ele era o tipo perfeito de sua amiga. Alto, forte, moreno, desleixado, rebelde… e criador de casos.

Seu celular vibrou mais uma vez ao seu lado. Ela enxugou o rosto com o papel toalha, retocou a maquiagem e apanhou o aparelho, apreensiva de ser Chad mais uma vez. E não era, e sim uma mensagem de sua mãe. Alicia ficou surpresa ao vê-la em sua tela, seus pais não costumavam fazer isso. Não hesitou em abrir o torpedo:

Seu pai e eu precisamos falar com você, não se atrase.

Seu celular vibrou mais uma vez, outra mensagem:

Aprecie o show na hora do almoço. –Mit

Chad ficou surpreso com o toque de seu celular. Em um pulo, sentou-se cama e atendeu o aparelho, desapontando-se ao escutar a voz de Sheilla Lits.

— Olá, gata — saudou malicioso, logo se recompondo.

Sheilla fazia parte do grupo dos populares da Fitcher. Sua beleza de tirar o fôlego, chamava a atenção onde quer que ela fosse. Sua pose espevitada não condizia com sua personalidade. Quando se tratava de ficadas, ela era seletiva, e seus seguidores eram escolhidos a dedo.

— Por que não foi à escola hoje? — questionou melosa, quando na verdade estava nauseada com a encenação.

— Não estava a fim de encarar aquele inferno hoje.

— Chad Benson, eu exijo que o senhor compareça aqui agora! — impôs ela. — Tenho uma surpresinha para você…

Antes que respondesse, ela desligou o telefone em sua cara. Ele não se importou de ter sido ignorado, era apenas mais um iludido com as palavras da loura. Em um salto, pulou de sua cama e vestiu a primeira roupa que estava em seu closet, já que trajava roupas íntimas. Em seguida pegou seu celular e a chave do carro, não tardando em rebocar-se o mais rápido possível para a Fitcher.

— Trabalho feito. Adoro humilhar cafajestes — Sheilla declarou, diabólica.

— É por isso que sou seu fã, garota!

— Nem venha com seus papinhos, Christan. Estou louca para me juntar a Mit e fazer algo contra você.

Mitsky sorriu cúmplice para a amiga, e então as duas saíram rebolando sem olhar para trás. Sabiam que havia um boboca de quase dois metros babando por elas.

— Cara, as louras irão dominar o mundo! — comentou um garoto ao lado de Christan.

Ele nem notou a presença do menino, apenas assentiu sem desviar os olhos das garotas.

— Demorou, hein, querida? Pensei que ia perder o showzinho! — zombou Mitsky ao ver Alicia entrando na cantina; ela e Sheilla deram um riso abafado.

— Isso não tem graça! — grunhiu. — O que irão aprontar?

— Venha. — Sheilla agarrou seu braço, levando-a até a mesa mais próxima do grande telão que havia na outra extremidade do refeitório. — Lugar VIP para você.

Mitsky as seguiu de perto. Alicia suspeitava de todos seus movimentos, perguntando-se do por que o telão estar sendo ligado, afinal, aquilo era raro. Ao chegar à mesa, percebeu que não estaria sozinha. Christan, Amanda e Katy estavam lá, as duas últimas do coral de outono. Todos sorriram ao notar sua presença. Ela se acomodou entre as garotas, assistindo sua melhor amiga e Sheilla afastarem-se da mesa.

Ela ainda tentou tirar alguma informação de seus amigos, mas Christan apenas sorriu, dando-lhe uma piscada. Alicia bufou por ser a única perdida no salão; olhou para as amigas, que agora estavam na frente do telão. Um garoto instalava o microfone nas caixas de som, passando-o em seguida para Sheilla. A loura o testou algumas vezes, antes de começar:

— Olá, alunos da Fitcher. — Rapidamente os murmúrios dos alunos cessaram-se. — Hoje teremos uma pequena diversão no almoço. — Todos começaram a soltar gritos de incentivo, inclusive às pessoas de sua mesa. Alicia apenas escutava, desconfiada. — Antes de começarmos, quero saber se nossos convidados especiais estão presentes! Chad Benson, Zack Dylon e Alex Mitchell, deem um passo a frente! — pediu Sheilla, sorridente até demais.

Alguns segundos passaram, até os três garotos surgirem por entre a multidão. Gritos e vaias estavam presentes no recinto, enquanto eles se dirigiam até as louras na frente. Eles se acomodaram ao lado das meninas. Chad viu Alicia sentada na mesa a sua frente; eles se entreolharam por um momento, até ela desviar o olhar para suas mãos.

— E aí, ansiosos? — indagou Mitsky.

Atrás deles, três cadeiras de plásticos foram devidamente posicionadas.

— Um pouco — respondeu Chad, divertindo-se com a situação.

Isso, seu cachorro, sorria enquanto pode. Daqui a alguns minutos seu queixo despencará mais que os peitos da sua mãe!, pensava Mitsky, maliciosa.

Os garotos sentaram na cadeira e Chad cruzou os braços, seu olhar fixo nas meninas. Os murmurinhos recomeçaram; Sheilla sussurrou algo para Mitsky, a mesma sorrindo em seguida. A amizade das duas era forte, mas não como Mitsky e Alicia. Sheilla fazia uma dupla imbatível com ela, mas com Alicia, por outro lado, não combinava em nada. Isso não interferia na amizade entre as três; Alicia costumava ser a caçula protegida.

As luzes do refeitório ficaram mais fracas, ao tempo em que cenas no telão eram iniciadas. Alicia petiscava, impaciente, o potinho de amendoim torrado sobre a mesa. Uma contagem regressiva surgiu na tela, e a cada segundo, o estômago da garota embrulhava-se mais por conta do nervosismo.

A contagem foi interrompida no número um; o silêncio que se estendeu pela cantina chegava a ser cômico, todos queriam saber o desfecho do vídeo. Logo, uma frase surgiu na tela:

As imagens a seguir podem causar traumas e ataques de risos, caso não aguente nenhum dos dois, à hora de se retirar é agora.

Cenas de uma senhora de idade invadiu o telão; trajava um vestido de renda vermelho, seus cabelos presos em um coque displicente. Ela sorria e acenava animadamente para a câmera. Ninguém no refeitório entendia o que estava acontecendo, apenas Mitsky, Sheilla e Christan, que riam ruidosamente.

A senhora começou a despir-se, ficando apenas com suas peças íntimas pretas. As escadas em sua barriga estavam à mostra, em meio à pele enrugada. As pessoas começaram a fazer sons de nojo, enquanto Chad e seus amigos olhavam atônitos para as imagens, como se soubessem o que estava por vir.

O vídeo prosseguiu com a senhora remexendo seu quadril — em uma tentativa frustrada de ser sexy. A câmera moveu-se rápido, e quando se focou novamente, Chad apareceu usando apenas um chapéu branco cobrindo-lhe a cabeça, suas partes íntimas tarjadas. Os alunos gritaram dessa vez, alguns tapando os olhos com as mãos. Chad aproximou-se da idosa, beijando-a em seguida. Algumas pessoas vomitaram nessa hora, inclusive Alicia.

Mitsky instantaneamente parou de rir ao ver a amiga passando mal. Ela correu ao seu encontro, porém Christan foi mais rápido. Ele segurava seu cabelo, à medida que ela colocava todo amendoim ingerido para fora.

— Leve-na para enfermaria! — ordenou Mitsky.

Christan assentiu, ajudando Alicia a se levantar, passando seus enormes braços na cintura fina da garota.

As cenas ainda transcorriam no telão. Todos riam da cara de Chad, que agora estava na companhia de seus dois amigos, Alex e Zack, igualmente nus e tarjados.

Em passos duros, o diretor caminhava pelos corredores vazios da Fitcher após ter sido comunicado de haver atividades indevidas no refeitório da escola. Ele já adivinhava quem poderia estar por trás da confusão. Sempre eles, pensava furioso. Ao entrar no local da baderna,  deparou-se com uma espécie de cinema em pleno horário de almoço.Quem havia dado ordens de ligar o telão? Estagnou ao ver o conteúdo do vídeo.

— Quem é o responsável por essa pornografia? — inquiriu raivoso, procurando seus alvos com os olhos.

Ninguém ousou falar nada. Com o silêncio instalado no ambiente, os sons das cenas tornaram-se gradativamente mais altos; gemidos ecoaram das caixas de som, e o diretor levantou o olhar atônito para o telão, provocando riso nos alunos.

— Desliguem já isso! — ordenou.

Sheilla e Mitsky estavam paralisadas. O monitor do corredor cochichou algo para o diretor, e seus olhos logo pousaram nas duas garotas a frente da multidão. Sheilla engoliu em seco e Mitsky acenou, nervosa.

— Senhorita Linn e Lits, acompanhem-me, por favor. As três estátuas sentadas na cadeira também. O restante para sala, agora!

Pouco a pouco os alunos iam esvaziando o local; os cinco seguiram o diretor sem protestar. A diretoria lotou — como o Sr. Harts gostava. Para ele, a punição severa era a única maneira que poderia ensinar uma bela lição a um desordeiro. Tirando as exceções, como Mitsky e Christan que viviam ali.

— Comecem a explicar — exigiu o diretor, acomodando-se em sua cadeira.

Todos se manifestaram ao mesmo tempo, e o diretor, furioso, gritou um “basta”, silenciando-os no mesmo instante.

— Um de cada vez, se não for incomodo — pediu sarcástico.

Os cinco se entreolharam e Mitsky tomou dianteira:

— Caro Harts — O diretor a fuzilou, mas ela nem ligou. —, nosso querido colega, Chad, fez algo horrível a minha amiga Alicia.

Chad esbugalhou seus olhos azuis pela acusação, atordoado, lançando olhares nervosos para o diretor.

— Sr. Harts, não foi bem assim que aconteceu…

—Então foi como, Chad? — interrompeu Mitsky, revoltada.

— Srta. Linn, peço que permaneça em silêncio até segunda ordem. — Mitsky cruzou os braços, indignada. — Sr. Benson, conte essa história, por favor — pediu, cruzando os dedos sobre a mesa de madeira, olhando diretamente para Chad, que engoliu em seco.

— Não tínhamos a intenção de magoar ninguém, foi só uma brincadeira — disse, referindo-se aos três. Mitsky murmurou “de mau gosto”, mas a ignorou. — Só que saiu de controle e virou uma grande confusão — finalizou, trocando olhares com as meninas.

O diretor suspirou frustrado e ordenou:

— Explique essa brincadeira, Srta. Linn.

Mitsky descruzou os braços, olhando mortalmente para Chad, que se encolheu na cadeira.

— Tudo começou há quase um mês, quando Chad começou a falar mais comigo e minhas amigas. Ninguém desconfiava de nada, afinal, todos querem ser nossos amigos — gabou-se presunçosa. — Até que Chad aproximou-se mais de Alicia, dizendo que a amava e queria uma chance. Ela aceitou, mas Sheilla e eu achamos sua conversa estranha, pois Chad não costumava ficar com garotas da escola. — Ela o olhou mais uma vez e lhe mandou um sorriso maldoso. — Há quase uma semana, Chad tentou levar minha amiga para cama. Alicia recusou, mas ele continuou insistindo.

Sr. Harts escutava tudo em silêncio, digerindo palavra por palavra, pensando em várias maneiras de punir seus alunos desordeiros. Mitsky tomou fôlego e continuou:

— Sheilla e eu estávamos andando pelos corredores, quando escutamos uma conversa estranha entre Chad, Alex e Zack. Ele disse que precisava de mais tempo para finalizar o plano, mas que não perderia a aposta, que era tirar a virgindade de nossa amiga.

O diretor abriu a boca, espantado, e Chad tratou logo de desmentir os fatos:

— A aposta era apenas uma diversão, não iríamos fazer uma crueldade dessas com Alicia! — Mitsky levantou brutalmente da cadeira e gritou, apontando o dedo em sua face:

— Não se faça de sonso, garoto! Você faria isso e coisa pior! E depois disso — continuou, dessa vez olhando para o diretor —, contamos toda a história a Alicia, que quando foi tirá-la a limpo, esse canalha ainda tentou desconversar!

— Quando viu que o plano não daria certo, terminou com ela e no outro dia todos souberam que ele a usou apenas por uma aposta, fazendo-a virar a chacota da semana — finalizou Sheilla, tranquila.

Os garotos nada diziam. Todos os três tremiam mais que vara verde, encolhendo-se cada vez que as meninas o olhavam, diabólicas.

— E o que aquele vídeo pornográfico tem a ver?

— Foi uma vingança contra os garotos — Sheilla sorriu.

Sr. Harts ficou alguns segundos parado, tentando associar todas aquelas barbaridades que escutava nos últimos minutos. Como adolescentes como aqueles estudavam em sua instituição? Sua vontade era expulsar todos, principalmente Mitsky, mas sabia que não podia fazê-lo. Os baderneiros infelizmente tinham famílias fluentes.

— Suspensão a todos — anunciou um tempo depois, escrevendo os nomes das cinco figuras em um papel. — Uma semana comigo na detenção depois da aula.

Ele levantou de sua cadeira, passando pelos garotos e dirigindo-se a porta. Ajeitou seu paletó cinza e entregou o papel a uma das funcionárias do corredor, sob a ordem de entregá-lo a secretária para preencher as cartas de suspensão. Quando olhou para trás, notou todos imóveis.

— Dispensados, direto para aula!


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam curtindo, e por favor, comentem =[
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