Durante o resto da aula Louise se comportou como se absolutamente nada houvesse acontecido, e Beth apressou-se a seguir seu exemplo, vez ou outra arriscando uma olhadela pelo canto dos olhos.

Finalmente, depois de longa espera, o sinal tocou e a sala moveu-se para o pátio externo. Pouco a pouco a multidão ia entrando em carros ou saía andando, até que como sempre sobraram apenas as duas sentadas em um dos bancos de pedra na calçada.

Procurava assunto à esmo em sua mente, mas nada achava. Como sempre seus pensamentos se desviaram para o cadeado. Foi então que começou a contar, por impulso.

Falou de tudo, desde a morte de sua mãe por câncer até a parte em que abrira o diário. Louise ouvia tudo sem dar um pio, absorta em suas explicações, mas Beth falava para o chão, não conseguindo encarar os olhos verdes.

Enquanto falava, sentia como se aquele veneno que viera infestando seu corpo fosse expulso através dos seus poros. Era doloroso, e ao mesmo tempo libertador poder falar com alguém sobre aquilo.

Quando terminou tomou coragem de procurar os olhos de Louise para buscar alguma reação. O que será que ela acharia? Sua resposta, porém, foi muito diferente de qualquer coisa que Beth pudesse esperar.

— Então você perdeu sua mãe e sua irmã, e nunca conheceu seu pai. Beth, já pensou que talvez, me querendo, você esteja tentando substituir elas por mim?

Por um momento não soube o que responder. Do modo como ela falava fazia sentido. Talvez ela estivesse carente de uma figura feminina afetuosa, terna e próxima, talvez achasse que gostava de Louise por que ela era, agora que pensava, um pouco parecida com sua mãe e até com a irmã. Mas isso seria apenas um detalhe, uma das causas, uma pequena gota em um mar. Por que independentemente dos porquês, ela gostava de Louise, e não era isso que importa?

— E se for mesmo isso, a culpa é minha? Isso realmente importa?

— Não é meio doentio, você não acha que devia tentar cuidar disso?

— Você também gosta de mim, não é? – Beth só podia deduzir aquilo a partir do beijo que ela lhe dera – E não tem nada de “doentio” por trás disso, é apenas um gostar.

— E quem disse que eu gosto de você? – rebateu Louise com a voz dura.

Foi como uma bofetada no rosto de Beth. Então ela não gostava dela. Então por que retribuíra o beijo?

Beth levantou sem mais uma palavra e entrou no carro que sua mãe havia acabado de parar próximo à calçada, deixando para trás uma Beth completamente desamparada.