Coisas Que Odeio Em Você... escrita por Juuuh-Malfoy


Capítulo 1
A história de nós dois




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Belle

            Todos diziam que não daríamos certo juntos, que um dos dois sairia machucado, mas nunca disseram qual de nós.

            Hoje eu entendo de quem falavam. Era de mim. Tantos me falavam e eu simplesmente virava as costas para eles. Mas também, o que eu esperava, realmente? Nos conhecemos 2 meses antes do casamento, e ainda por cima ele estava bêbado, quase foi atropelado e eu também, por tentar salvar ele.

            Ainda lembro como se fosse ontem o dia do meu casamento, meus amigos ficavam falando o tempo todo que eu ainda podia desistir. Mas eu só ria e dizia: “relaxem, eu sei o que estou fazendo”.

            Mas a verdade é que eu não sabia, durante dois anos eu cuidei dele, quando se machucava no futebol, quando bebia demais (o que vem acontecendo com mais freqüência do que eu gostaria), quando precisava de ajuda com algum caso do trabalho (ele é advogado).

            É por isso que nesse momento estou terminando de fazer minhas malas, eu dei todas as chances que ele podia e não podia ter. Mas como todos sabem, uma hora ou outra tudo acaba, eu só não gostaria que meu casamento acabasse assim. E hoje chegou minha hora de dizer adeus e começar tudo de novo.

            Aproveitei a única chance que tinha, ele não esta em casa, esse provavelmente é o único lado bom dele estar no bar, bebendo com os “amigos”, por que acho que se ele estivesse aqui eu não conseguiria ir embora.

            Depois de tudo que eu passei com ele bebendo e depois ainda por cima participando de corridas clandestinas, o que se pensar bem é meio irônico levando-se em consideração sua profissão.

            Eu ainda o amo.

As vezes eu penso se teria sido mais fácil se eu não tivesse me casado com meu antigo namorado, pelo menos ele não iria passar o tempo todo bebendo e correndo. Ao invés disso passaria seu tempo comigo.

            -O que voce esta fazendo?

            Congelei ao ouvir a voz. Aquela voz. Que me atormenta a cada segundo, a cada dia mais, por não conseguir deixa-lo e jogar tudo para o alto.

            Não me virei como deveria fazer, continuei jogando as roupas dentro da mala. Não levou muito tempo, a maioria das roupas estavam no andar debaixo, e eu já estava na ultima mala.

            Terminei. Finalmente. Finalmente estarei livre. Pensei.

            Mas eu não conseguia ficar feliz por isso. Eu estava dividida por dentro, uma parte de mim, a mente, queria ir embora por aquela porta e nunca mais voltar. E a outra, a maior parte, o coração, não queria ir embora, queria ficar e reconforta-lo.

            -Não sei se não fui claro o bastante, mas eu perguntei: o que voce esta fazendo? –perguntou Daniel.

            -Indo embora.

Daniel

            “Indo embora.”

            Essas duas palavras ecoavam em minha mente, não podia deixa-la fazer isso. não depois de tudo o que ela passou para me ajudar.

            Espera, o que estou dizendo? Era isso que eu queria, não era? Que ela me deixasse. Era o certo a se fazer, mesmo não querendo. Como aquele ditado, “se voce ama alguma coisa deixe-a livre, se for sua ela voltara. Se não voltar nunca foi sua”.

            E essa é a mais pura verdade, Belle nunca foi minha. Acho que comecei a beber mais do que já bebia e a correr, para ela ir embora.

            Dês do momento em que ela se jogou contra mim para me salvar do atropelamento, eu sabia que era o cara errado para ela. Deveria ter acabado tudo entre nós no dia em que contei aos meus pais que iríamos nos casar.

           

            Flashback...

            Era um dia ensolarado quando fomos visitar meus pais, estávamos na frente da casa quando Belle parou e me puxou pela mão.

            -O que foi? –eu perguntei sorrindo para ela.

            -E se eles não gostarem de mim? –perguntou apreensiva.

            -Como eles poderiam não gostar de voce? –disse sorrindo.

            Ela sorriu meio forçado e não falou nada, estava nervosa. Apertei sua mão e abri a porta da casa dos meus pais. Eles estavam na sala de visitas quando entramos, estavam conversando. Sorriram para nós quando entramos.

            -Mãe, pai, quero apresentar Belle Stevens. Minha noiva. –disse com um sorriso que foi diminuindo aos poucos ate sumir ao ver a expressão do meu pai.

            -Stevens? Como pode Daniel, se envolver com uma mulher comprometida! Não esperava isso de voce meu filho. –disse meu pai com desgosto.

            -Comprometida? Como assim? Voce é casada? –perguntei com uma voz irritada.

            -Não! Voces entenderam errado! Não sou casada! –disse Belle angustiada.

            -Da ultima vez que ouvi falar dos Stevens foi quando anunciaram o noivado da filha. E pelo que sei voce é filha única. –disse meu pai com voz cortante.

            -Sim, eu sou, mas eu não aceitei ficar noiva. Quero dizer, aceitar ate aceitei, mas eu o deixei no altar, no dia do nosso casamento, foi quando descobri que ele estava me traindo com uma das madrinhas, que por acaso é minha prima e era uma das minhas melhores amiga. –Belle disse com lágrimas nos olhos.

            -Ah, bem, sinto muito. –disse meu pai. –Querida, por que voce não leva Belle para conhecer a casa?

            -Claro! Vamos Belle? –perguntou minha mãe sorrindo para ela e assentiu.

            Então, quando as duas já estavam longe o suficiente para não ouvirem, meu pai disse:

            -Daniel, voce não pode se casar com ela! Ela é uma Stevens!

            -O que voce tem contra os Stevens? –perguntei irado.

            -Voce sabe que eles não são aquela maravilha que todos falam! –ele respondeu com raiva.

            -ISSO NÃO TEM NADA A VER COMIGO! SE VOCE ACHA ISSO, PROBLEMA SEU! EU A AMO E VOU SIM ME CASAR COM A BELLE! E NEM VOCE, NEM MAMÃE E NEM NINGUEM VAI ME FAZER MUDAR DE OPINIÃO! –tenha fôlego pra gritar isso tudo, mas é a mais pura verdade.

            -Filho me entenda. Eu sei que ela não é parecida com os pais, a não ser na aparência. Mas eu só quero o bem pra voces dois. Voce mesmo já me contou como se conheceram, quantas vezes voce já disse pra mim e pra sua mãe que iria parar de beber? Varias! Mas voce parou? Não que eu não acredite em voce, mas voce quer isso pra ela? Voce sabe como fica quando bebe, começa a quebrar tudo, fica nervoso. Escute, por mais que eu o ame meu filho, enquanto voce não parar de beber acho que não será bom que fique com ela. Voce sabe bem que não é a pessoa certa pra ela. Sinto muito meu filho, mas não posso deixar que faça isso com ela. –e dizendo isso meu pai saiu e me deixou sozinho na sala.

            Fim do Flashback...

            Eu deveria ter ouvido meu pai há dois anos, deveria te-la deixado enquanto ainda havia tempo. Nem meu pai acreditou em mim, por que eu deveria ter acreditado em mim? E agora? O que será de mim sem Belle? Estou totalmente dependente dela, não posso deixá-la partir.

Não posso ignorar que ela estava linda no vestido de noiva, com os cabelos ondulados presos em um coque frouxo deixando alguns fios caídos ao redor do rosto. Ela sempre foi linda, mas aquele dia ela estava espetacular.

Não posso mais negar , depois de tudo o que aconteceu, eu ainda a amo, ainda mais que antes.

            O que voce ainda esta fazendo aqui?

            Meu Deus, tenho que parar de beber imediatamente, estou ate ouvindo vozes.

            Não sou uma voz seu idiota! Sou sua consciência!

            É mesmo? Então prove!

            Sério, voce quer mesmo que eu prove? Por que eu posso te falar cada coisa que voce aprontou na faculdade, acho que nem Deus acreditaria! Teve aquela vez numa festa com uma tal de Dominique e tamb...

            Ok, ok, voce é minha consciência.

            Que bom que acredita, mas posso fazer uma pergunta?

            Diga.

            Seu idiota, burro, energúmeno, paspalho, trouxa, imbecil, o que voce ainda esta fazendo aqui? Vai atrás da Belle, antes que voce faça a maior burrada da sua vida!

            Nem tive tempo de responder, e já sai correndo para o andar debaixo, pulei a escada, mas não consegui parar em pé. Caí de cara no chão com um baque ensurdecedor, Belle estava quase na porta quando me ouviu caindo, ela se virou pra mim e me analisou, passou do nariz ensangüentado, para minha sobrancelha cortada e ensangüentada. Depois suspirou, veio ate mim e me ajudou, limpou meu rosto ensangüentado, fez um curativo no meu rosto onde estava esfolado, enfaixou meu pulso, que eu torci quando cai da escada.

            -Isto não significa que vou ficar. –e dizendo isso ela saiu em direção a garagem.

            Assim que a porta da frente bateu, me levantei num segundo e fui ate a garagem, ela já estava dentro do carro, quando me viu parado na porta, abriu o vidro e falou:

            -Não me siga, se fizer isso ira se arrepender.

            Fechou o vidro, olhou para minha moto ao lado do carro, fez uma careta e se foi.

            E tudo que eu conseguia fazer era pensar no quanto aquela maldita moto só piorava a situação.

            Entrei em casa com o coração partido sem saber o que fazer pra ter Belle de volta na minha vida, fui para nosso quarto, mas assim que passei da porta me lembrei de que ela não estava ali, e meu coração apertou.

            Me joguei na cama esperando alguma notícia de Belle, coisa que eu sabia, pelo comportamento dela, não iria chegar tão cedo.

Belle

            Não sei como ainda pude cuidar dele. Não sei como fui capaz de dizer aquilo pra ele, eu queria que ele me impedisse, pedisse para mim ficar, dissesse que me ama, prometesse que não iria mais beber e nem correr.

            Mas depois daquilo que eu disse, tenho certeza de que ele não vira atrás de mim, a parte de que iria se arrepender, a ultima vez em que eu disse isso, ele veio atrás de mim e eu quase bati com uma vassoura nele.

            Foi por isso que quase sai correndo porta a fora, eu sabia que se ficasse mais um segundo sequer, não me controlaria e acabaria correndo para seus braços, o beijaria, pegaria minhas coisas e diria o que esta guardado desde o tempo que ele começou a correr.

            Diria que apesar de tudo, apesar de todas as coisas que eu odeio nele, eu ainda o amo.

            Neste instante estou a quase 100km, minha vontade de fugir da realidade é tanta que para isso estou quebrando varias leis de transito, e tenho que admitir que nunca me senti tão feliz de quebrar regras, apesar de tudo, enquanto estou quebrando as regras, não me lembro do por que e nem quero lembrar. Mas as vezes é impossível.

            Não sei mais o que fazer, as lágrimas escorrem sem dó nem piedade por meu rosto retorcido de dor ao ver a imagem de Daniel em minha mente.

            De tão distraída, nem percebi quando um caminhão da direção contraria e me atingiu de frente.

            Eu só conseguia pensar em Daniel, em como ele ficaria se eu morresse.

            Eu te amo Daniel.

            E de repente tudo ficou escuro e silencioso, e eu sabia que era meu fim.

Daniel

            Eu estava deitado em nossa cama pensando em Belle, se ela estaria bem, a essa altura o efeito da bebida já havia passado e finalmente a ficha tinha caído, ela tinha me deixado definitivamente. Foi quando o ouvi o telefone tocar, por um momento pensei que fosse a Belle, e atendi no segundo toque.

            -Belle?

            -Sr. Luck? –disse uma mulher.

            -Sou eu.

            -Somos do hospital Sant Claire, a Sra. Isabelle Luck sofreu um acidente e esta internada, o Sr. Poderia vir ate aqui?

            -Sim.

            E desliguei pensando no pior possível, já estava praticamente vestido, só coloquei uma jaqueta de couro e disparei para a garagem já com a chave da moto nas mãos.

            Já na estrada corri como um louco, como nunca corri na minha vida, costurando o transito infernal e dando graças a Deus por não haver policiais por ali. Em menos de 10 minutos já estava no hospital, nem estacionei direito e fui tirando o capacete enquanto corria para a recepção, e vi uma mulher me olhando com uma cara de dar medo.

            -Estou procurando Isabelle Luck. Sou marido dela. –falei quase tropeçando nas palavras, o rosto da mulher se suavizou e uma lagrima escorreu por seu rosto.

            E aquele momento foi definitivo, eu realmente pensei que Belle estivesse morta.

            -Ela esta falando no Sr. desde que acordou, ela esta no quarto numero 13, pode subir. –e dizendo isso ela me entregou um crachá de visitante e eu disparei para as escadas, nem o elevador poderia ir tão rápido quanto eu.

            Assim que vi o quarto numero 13, abri a porta num rompante e vi que Belle estava acordada sorrindo, seu sorriso aumentou quando me viu. Ela estava coberta de curativos, mas ainda assim sorriu, típico dela, sorria por qualquer coisa e em qualquer momento. O médico se virou para mim, ele também sorria.     

            -O que houve com ela? Ela vai ficar bem? Ela vai sobreviver? –perguntei angustiado.

            -Ela sofreu um acidente de carro, mas o motorista do caminhão a socorreu e a trouxe para cá. Ela vai ficar ótima se ficar pelo menos dois dias em observação, e quanto a ultima pergunta, sim, os dois vão sobreviver sem nenhum trauma ou seqüela.

            -Os dois? Como assim?

            -Estou grávida Daniel. –disse Belle sorrindo para mim.

            -De três meses pra ser exato, vou deixar voces conversarem, mas nada de emoções muito fortes. –disse o doutor, e em seguida saiu do quarto.

            Me virei para Belle com um sorriso no rosto, fui ate ela e a abracei.

            -Tudo o que eu fiz foi por voce, pra te proteger mesmo que não pareça, nunca duvide de mim quando eu disser que te amo, não vou mudar por ninguém, a não ser por voce. Apesar de tudo, prometo que vou melhor cada vez mais e ficar com voces pro que precisarem, serei seu pra vida inteira. Quero dizer, se voce ainda me quiser. Posso ser o pai dessa criança? –perguntei, ainda abraçado a ela.

            -Voce não pode, voce deve ser o pai. –e ela me beijou.

            -Eu te amo Belle. –eu disse quando nos separamos.

            -Não mais do que eu Daniel. –e me beijou de novo.

Fim...

Belle

            -E o que aconteceu depois? –perguntou Julie, nossa filha.

            -Depois de dois dias eu sai do hospital, e seis meses depois voce nasceu. Agora, já pra cama mocinha. –eu disse sorrindo.

            -Mas já? Ta tão cedo! –ela tentou retrucar.

            -Querida, voce esqueceu que amanhã voce vai sair com o Steve? Quer acordar cheia de olheiras? –perguntei, e sorri internamente quando vi que ela, toda preocupada ficou passando as mãos embaixo dos olhos.

E sorri mais ainda quando vi a cara que Daniel fez ao mencionar o namorado de Julie. Ele não quer acreditar que sua menininha esta crescendo.

-Posso ler o livro de novo? Eu adoro a história de voces. –perguntou ela já recuperada do surto, e sorrindo torto, do mesmo jeito que o pai.

-Pode, agora pegue logo esse livro antes que eu mude de ideia. –disse Daniel tentando dar uma de pai durão.

-Ok, boa noite mãe, boa noite pai. –Julie disse antes de sair correndo com o livro na mão.

-Acho que fizemos bem escrevendo nossa história, não é? –perguntou Daniel sorrindo.

-Acho, mas tem certeza de que é bom que ela leia tanto o livro? –perguntei sorrindo.

-Deixe ela Belle, agora, tenho uma coisa mais interessante para fazer. –disse ele se aproximando.

-E o que seria? –perguntei já sabendo o que iria acontecer.

-Te beijar. –e dizendo isso ele me beijou.

Mas nos separamos abruptamente quando ouvimos alguém caindo.

-Eu to legal! –gritou Julie de algum lugar da casa. –Só não posso dizer o mesmo do vaso de flores!

Nós sorrimos, minha filha definitivamente puxou meu senso de equilíbrio.

Hoje, 15 anos depois, sei que apesar de todos os outros dizerem que não combinávamos e que não daríamos certo, eu sei que fomos feitos um para o outro.

Sei que apesar de todas as coisas que eu odeio em Daniel, nascemos um para o outro.

Sei que nossos destinos estavam selados no momento em que nossos pais deram seu primeiro beijo.

E também sei que se pudesse fazer de novo, faria exatamente o mesmo.

Sei que apesar de tudo, eu o amo.


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