Mundo Sobrenatural escrita por Neko D Lully


Capítulo 5
Uma amiga humana e grande aliada


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouco nesse cap porque ontem tive que sair do comp mais cedo então não pude terminar, mas hoje entrego a vocês o cap cinco. Aviso e dica: prestem atenção no final, é importante e dá inicio a parte sinistra da fic. No proximo tem um pouco mais de emoção.
Aproveitem!



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  Mundo sobrenatural

Assustei-me quando vi Shadow caído no chão, imobilizado por uma garota de cabelos castanhos avermelhados que chegavam até metade de suas costas, os olhos de um verde brilhante quase chegando a ser o verde limão, a pele um pouco morena, devia ser apenas uns poucos centímetros maior que eu, com o corpo atlético e bem formado, mas ao igual que o meu, com curvas discretas e não muito exageradas. Ela usava uma calça jeans um pouco justa, botas marrons parecendo aquelas de velho oeste, uma blusa vermelha de mangas cumpridas e uma jaqueta jeans sem mangas por cima.

 Ela mantinha Shadow caído de cara no chão, sentada encima de suas costas segurando seus dois braços atrás das costas. Ela tinha um enorme sorriso no rosto e parecia que estava se animando com aquilo. Então ela tirou uma das mãos dos pulsos de Shadow e levou ao bolso da calça jeans tirando um papel estranho de formato retangular com símbolos igualmente estranhos o colocando na cabeça do garoto de olhos vermelhos.

 - Agora você vai atravessar a passagem seu espírito travesso. – murmurou ela e logo colocou dois dedos na frente do rosto parecendo estar rezando em uma língua diferente que não conseguia entender. Então o pequeno papel começou a brilhar até uma maneira que fosse obrigada a fechar os olhos para não ficar sega. E logo que voltei a abri-los a garota mirava estranhada a Shadow que ainda permanecia debaixo dela, imobilizado e com um rosto furioso. – Que estranho. Era para ter dado certo.

 - Agora dá para sair de cima?! – esbravejou o garoto e logo os armários começaram a tremer como se uma força invisível os estivessem movendo e logo a garota fora arremessada para um deles permitindo assim a Shadow se libertar. Ele se sentou no chão e esfregou um pouco os pulsos enquanto a garota parecia um pouco atordoada.

 - Um fantasma selado a terra? Que interessante. – murmurou ela novamente com um sorriso divertido no rosto e logo se levantou e começou a correr novamente na direção de Shadow e foi só então que voltei a mim. Entrei na frente da garota e a segurei custando para manter a ambas em pé depois do choque.

 - Olha eu sei que ele é irritante e coisa e tal, mas não precisa atacá-lo dessa maneira. – comentei ainda a segurando. Ela então se afastou um pouco e me mirou confusa. Como se fosse um objeto em exposição ela começou a me rodear me mirando atentamente, me sentia agora como uma anomalia ou algo do tipo. – A-algum p-problema?

 - Você consegue vê-lo? – perguntou apontando para Shadow. Eu assenti um pouco hesitante e logo ela me segurou pelos ombros me virando de todas as maneiras possíveis enquanto me analisava. – Nossa, nunca tinha encontrado outra pessoa alem de mim e do meu irmão que pudesse ver fantasmas! Me diz, você nasceu com essa capacidade ou a adquiriu depois de um tempo? Quando foi a primeira vez que viu um espírito? Já exorcizou algum?

 - Vai um pouco mais devagar que acabei ficando na primeira pergunta. – falei levando uma mão a cabeça e me separando um pouco dela, chegando mais perto de Shaodw que tirava o papel retangular de sua cabeça e a jogando fora. A garota me mirou mais atentamente e logo mais uma interrogação apareceu em sua cara. Chorei internamente ao ver que mais chuvas de perguntas que não entenderia nada viriam para cima de mim.

 - Como conseguiu fazer uma ligação com fantasmas? – aquela sim foi uma pergunta que me pegou desprevenida. Eu e Shadow nos entreolhamos sem compreender o que aquela garota estava falando e logo voltamos a olhar para ela, com cara de que estávamos vendo uma doida. – Que? Não sabem o que é isso? Poxa, para um fantasmas e uma garota que vê fantasmas vocês estão bem desinformados.

 - Olha não sabemos qual é a sua, mas não temos tempos para isso. – disse Shadow segurando minha mão e começando a me puxar, mas antes que pudéssemos nos afastar muito a garota segurou minha outra mão fazendo nós dois pararmos e a mirar. Mas o que me preocupava era que nenhum dos dois parava de puxar, o que esticava muito meus membros. – O que quer? Já disse que não temos tempo.

 - Estão procurando os outros fantasmas que estão pela escola não é? – questionou a garota e Shadow a mirou atentamente. Não sei se estavam prestando atenção em mim, mas meus braços já estavam doendo! – Eu sei onde eles estão. Ou pelo menos posso ajudar a achar. Sou uma exorcista a muito tempo e sei como detectar um fantasma quando quero.

 - E como poderemos confiar em você? – questionou Shadow. E quem liga se ela é confiável ou não?! Esbravejei mentalmente. Meus membros doíam e se essa conversa não terminasse logo eu acho que começaria a gritar ali mesmo. – Você mesma disse que era uma exorcista, poderia mandar meus amigos para vai se saber onde!

 - Se eles forem iguais a você isso é improvável, e tem mais uma coisa, provavelmente também estão ligados com ela. – ela moveu a cabeça em minha direção e me perguntei se nem assim ela percebia que estava machucando meu braço. Mas claro que ela tinha que puxar com mais força e do jeito que Shadow parecia ser orgulhoso ele também aumentou sua força. Vou perder meus braços! – E se esse for o caso não posso encostar um dedo neles enquanto ela estiver viva ou mantendo a conexão.

 Shadow a mirou desconfiado por um tempo e logo suspirou soltando minha mão e a garota fazendo a mesma coisa. Agradeci mentalmente por isso e passei as mãos pelas juntas de meu braço tentando amenizar o ardor que ficou. A garota ruiva sorriu e quase no mesmo instante o sinal para voltar as aulas tocou e não tinha conseguido achar ninguém alem de Shadow! Minha nossa, imagina as confusões que aqueles garotos estavam aprontando.

 - Melhor irmos para a aula, uma hora ou outra esses fantasmas vão aparecer. – comentou a garota ruiva me sorrindo de leve e logo me puxando para a aula. Bom, não me surpreenderia se ela fosse da mesma série que eu, afinal ela parecia ser da minha idade e eu não tinha prestado muita atenção nos meus colegas. – Alias, meu nome é Kaira.

 - Maria, e esse mau humorado que esta nos acompanhando é Shadow. – respondi sorrindo para ela. Foi a primeira vez que sorri para uma pessoa que não fosse meu irmão com facilidade. Talvez aquela garota não fosse tão ruim e eu finalmente pudesse esquecer do que passei no passado. – Mas que papel foi aquele que você colocou na cabeça dele?

 - Ah! É um equipamento de exorcista que eu tenho para mandar fantasmas “fujões” para o outro lado. Esse é meu trabalho e tenho que fazer direito. – falou sorrindo para mim, mas logo parou e ficou olhando para frente com um olhar mais sério. – Aquele é um dos fantasmas que estão procurando?

 Olhei na mesma direção que ela e vi como Sonic pulava de armário em armário vendo tudo o que tinha neles e até mesmo derrubando algumas coisas quando o armário estava aberto. Ouvi como Shadow suspirava e parecia soltar algum palavrão que é melhor não ser mencionado aqui no momento. Fiz menção de ir até ele mas Kaira segurou meu braço e logo murmurou perto de mim.

 - Não vai ser legal para você provocar uma cena com todas essas pessoas no corredor. – isso era verdade, o corredor estava cheio com as pessoas indo para suas respectivas salas. – Tem uma coisa bem mais pratica que pode fazer e sem chamar muita atenção. Apenas tem que dizer uma palavra: Taiho. Mas tem que se concentrar. Ao parecer você é nova nisso por isso se concentre até sentir uma estranha força preencher seu peito e logo depois fale a palavra.

 Assenti de leve e fechei meus olhos me concentrando como a garota tinha dito. Chegou um momento que senti uma ligeira pressão em meu peito que aumentava lentamente então falei a palavra Taiho e pude ver a imagem de uma corrente azulada e brilhante se formando em minha mente. Quando voltei a abrir os olhos Sonic estava perto de mim piscando os olhos de uma maneira confusa. Shadow também havia se aproximado mais e parecia estar tão confuso como Sonic.

 - M-mas q-que... – começou a dizer Sonic enquanto tocava em alguma coisa em seu peito e quando olhei melhor vi uma corrente azulada brilhante que se ligava dele até o meu pulso direito e havia outra que era ligada a Shadow que não compreendia como aquilo tinha parado nele.

 - Wow! Dois fantasmas ao preço de um! Garota você tem potencial! – exclamou Kaira a meu lado sorrindo e logo me puxando para a aula fazendo os dois fantasmas presos a mim serem puxados também. – Essa técnica não é simples e você conseguiu realizá-la em uma tacada só! Que incrível! Tem certeza que não é uma exorcista?

 - Até onde eu saiba, tenho. Mas que língua é essa que você faz os encantamentos, ou seja lá como se chama essas técnicas estranhas? – perguntei enquanto entravamos em nossa sala que devia ser a de química pelos equipamentos que tinham encima da mesa. Eu e Kaira nos sentamos em cadeiras próximas enquanto Shadow e Sonic eram arrastados para todos os lugares que ia.

 - Japonês. Minha família é quase toda de lá e temos gerações e gerações de exorcistas, e esses ensinamentos passam de pai para filho. – respondeu parecendo não dar muita importância. Seu sorriso debochado parecia não sair de seu rosto e começava a imaginar se realmente levava a sério o legado de sua família. – Meu avô veio para Alemanha na época da segunda guerra e desde então estamos aqui. Agora meu pai ensina a tradição para mim e para meu irmão.

 - Você não parece ser japonesa. – comentei olhando atentamente para ela. Ela tinha alguns rasgos orientais, mas nada de muito aparente que mostrasse que ela era exatamente daquele lugar. Se não observasse bem não notaria.

 - Somos apenas descendentes. Meu avô se casou com uma alemã e minha mãe também é alemã então as características meio que se perderam. – respondeu ela sorrindo para mim. Assenti compreendendo bem o que era apesar de minha família ser completamente alemã. Ela então me mirou atentamente. – Então? A quanto tempo consegue ver fantasmas?

 - Bom... até anteontem não acreditava, mas quando cheguei aqui e entrei no meu quarto na casa que passamos a morar aqui vi esses ai e então acho que foi a partir daí. – respondi pensando. Quando era pequena nunca tinha visto pessoas mortas, ou pelo menos nunca tinha reparado se estavam mortas ou não. Kaira ficou séria.

 - Desculpa se eu perguntar, mas para uma pessoa ganhar essa capacidade ela tem que ficar perto da morte e você ficou? – abaixei a cabeça com a pergunta, um nó se formou em minha garganta e pude sentir minhas mãos tremendo. Senti o olhar dos dois fantasmas e de Kaira sobre mim, esperando minha resposta, mas sabia que um deles já devia ter uma idéia.

 - Não são Cream e Cosmo lá fora? – perguntou Shadow apontando para a janela. Agradeci por ter feito, assim me livrava da pergunta por enquanto. Eu e Kaira olhamos pela janela e vimos como as duas brincavam na área livre da escola que tinha uma grama verde escura e um pouco alta. Kaira então me mirou e assentiu de leve com a cabeça. Fechei os olhos e logo falei aquela palavra em japonês que ela tinha me ensinado. Não demorou muito e Cosmo e Cream já estavam perto de mim e mais duas correntes tinha aparecido em meu pulso, mas quando percebi bem vi mais uma e logo Tails apareceu atordoado a meu lado.

 - Tails? Onde você estava? – perguntei em um sussurro enquanto ele mirava um lado a outro e logo tocava a corrente em seu peito sem compreender como aquilo foi parar ali, pelo menos eu pensava que fosse isso por sua reação. Ele então me mirou.

 - Estava na sala aqui ao lado quando de repente fui puxado. – comentou erguendo um pouco a corrente que tinhas em mãos. Eu lhe sorri mostrando que não tinha nada de mais e logo a professora entrou e todos nós tivemos que nos ajeitar. Nenhum dos fantasmas a meu lado seriam notados pelos alunos ou pela professora, só eu e Kaira podíamos vê-los no momento.

 - Quando quiser libertá-los é só falar a palavra: Doroppu. – sussurrou para mim e eu apenas assenti.A aula passou tranquilamente e não senti muita dificuldade na matéria, apesar de boa parte das vezes algum dos cinco fantasmas perto de mim tirar minha atenção, muitas vezes para me perguntar o que a professora falava. Para um primeiro dia tudo foi muito tranqüilo.

 Logo depois foi a aula de Matemática, depois de Biologia e finalmente o horário do almoço. Eu e Kaira sentamos juntas e pelo o que pude perceber ela também não tinha uma boa reputação entre os colegas. De acordo com ela era porque como tinha o trabalho de exorcista muitas vezes as pessoas achavam estranho ficar falando sozinha ou coisa do tipo. O que me preocupava é que não tínhamos visto mais nenhum do grupo de fantasmas que assombrava meu quarto.

 - Olha lá. Lideres de torcida do time da escola, tão patricinhas. – comentou Kaira apontado para um grupo de garotas vestidas exatamente iguais. Ela parecia ter um descaso com qualquer pessoa que não apresentasse um pingo de força física e dedicação. Ela tinha daquelas manias de honra oriental onde se exigia sempre o máximo da pessoa. – Epa! Quem são aquelas duas?

 Olhei mais atentamente e perto das cinco lideres de torcida vi mais duas garotas, vestidas com vestidos cinzas um pouco rasgados e mirando de braços cruzados as garotas que agora se serviam. Reconheci a ambas como Rouge e Amy que parecia não ter gostado nada das “patricinhas” como dizia Kaira. Quase me desesperei ao ver que logo algo de muito ruim ia acontecer, então me concentrei e falei aquela palavra que fazia os fantasmas ficarem presos a mim e logo as duas estavam a meu lado junto com os outros, com as correntes prendendo em meu pulso.

 - Ah! Queria ver aquelas garotas levando uma surra fantasmagoria! – exclamou Kaira parecendo não ter a mínima vergonha de falar esse tipo de coisa para todos ouvirem. Sorri para ela um pouco corada e logo ouvi um grito me chamando. Olhei para o lado e vi Silver se aproximando furiosamente enquanto logo atrás dele vinha um cansado Mephiles e uma divertida Blaze que não deixava de rir nem um instante. Ele parou a meu lado e me mirou furiosamente.

 - Por que os trouxe para cá? – perguntou tentando maneirar o tom de voz para um mais baixo para assim não chamar muita atenção, mas mesmo assim dava para se notar a fúria que sentia. – Essa maldita garota esta me irritando desde o primeiro horário. – apontou para Blaze que não deixava de rir, logo depois apontou para Mephiles.- E achei ele perambulando pela escola seguindo cada aluno que tinha por aqui.

 - Se perdeu mano? – perguntou Shadow a Mephiles que assentiu de leve para logo depois suspirar. Sorri e abri um espaço para meu irmão sentar. Acho que foi só então que ele percebeu a presença de Kaira na mesa e a mirou um pouco confuso, afinal, ele sabia muito bem que eu não tinha muita facilidade para me enturmar.

 - Silver, essa é Kaira. – falei apontando ela para meu irmão. Kaira moveu o braço em um cumprimento despreocupado e Silver ainda parecia um pouco confuso. – E Kaira, esse é meu irmão mais velho Silver, ele também é capaz de ver fantasmas. – com esse comentário Kaira o mirou atentamente e logo um sorriso apareceu em seu rosto. – E respondendo sua pergunta ele começou a ver depois de mim, mas vamos deixar para conversar isso mais tarde ok? Que tal ir lá em casa hoje e ai conversamos?

 - Nossa mãe vai ter um treco quando ver a gente levando alguém lá para casa. – comentou Silver baixinho e eu ri divertida do comentário. Kaira aceitou o convite e logo a conversa voltou a se animar na mesa, com a participação bem ativa. Era estranho estar em uma mesa animada, normalmente meu irmão e eu ficávamos sozinhos em um silencio agradável entre nós dois, mas ali...

 Pena que tudo se arruinou quando um calafrio percorreu meu corpo e meu rosto virou na direção de um grupo de garotos que conversavam a algumas mesas da nossa. E perto deles estava ele novamente... Aquele homem de cabelos brancos e sorriso sinistro, que agora parecia se esconder um pouco na escuridão enquanto permanecia parado em pé perto dos garotos. Meu corpo gelou e minha respiração ficou pesada, meu coração acelerou e pude jurar que teria um ataque cardíaco. A cada batida de meu coração sentia como uma dor aumentava em meu peito, mas não conseguia desviar o olhar daquele homem que me observava de uma maneira estranha.

 - Maria... – ouvi me chamarem, mas não conseguia largar aquela sensação estranha que me mantinha parada e absorta. Fechei as mãos com força enquanto minha dor apenas aumentava e começava a pensar que não suportaria mais. – Maria! – então pude desviar o olhar e encarar a meu irmão que me mirava preocupado ao igual que os outros que estavam na mesa. Não tinha notado que meu corpo estava tremendo até aquele instante. – Tudo bem? Por que começou a tremer tão de repente?

 - N-não foi nada... – murmurei quase sem voz e abaixando minha cabeça. Ainda podia sentir a mirada de todos sobre mim e uma a mais, uma que me amedrontava até o centro de minha alma. Respirei fundo e tentei me acalmar, mas uma pergunta na minha cabeça não queria sair. O que aquele homem queria? E o que significava?

  As duas ultimas aulas passaram mais rápido do que eu pensava e logo estava caminhando para casa junto de Silver, Kaira e os nove fantasmas e voavam para todos os lados a nossa volta. Com a exceção de Shadow que permanecia ao meu lado flutuando ao ritmo de nossas passadas. Ele parecia atento, como todas as vezes que o vi sair do sótão, mas porque toda essa preocupação? Aquele garoto me intrigava e tinha muitas perguntas que queria fazer a ele.

 Entramos em casa e Kaira pareceu hesitar um pouco, mas logo pulou para dentro e caminhou junto conosco até meu quarto, ou seja, o sótão da casa. Minha mãe não estava em casa, o que eu agradecia para evitar o escândalo que aprontaria. Eu abri a porta e caminhei para dentro, Silver foi logo atrás de mim junto com os fantasmas que logo se acomodaram, mas Kaira parou na porta e ficou mirando o chão com muita atenção.

 - Algum problema Kaira? – perguntei confusa enquanto a via parada perto da porta. Ela então apontou para o chão, parecendo indicar alguma coisa. Aproximei-me e olhei para onde ela apontava e de inicio não vi nada até que observei com mais atenção e vi um filete verde passando perto da porta, reluzindo de uma maneira quase insuportável. – O que é isso?

 - Proteção. Quando uma alma pede muito por proteção um pouco de sua energia se solta e então se forma essa barreira que a defende do que quer que esteja atrás dela. – comentou Kaira e logo passou pela barreira entrando em meu quarto. Todos miravam atentamente o lugar e logo a ruiva se sentou na cama, ainda me mirando. – Essa barreira não some, apenas quando o local que se encontra é destruído. Mas se uma energia espiritual ainda mais forte passar por ela essa proteção se transfere e aquele que possui a energia é que vai ser o “porto seguro” da pessoa que invocou isso. E ao parecer Maria, você foi a que pegou isso.  – não soube o que falar com aquilo. Me sentei em uma cadeira que tinha ali perto e prestei atenção no que dizia como todos os outros. – Enquanto você estiver viva e esses fantasmas perto de você nada de mau vai acontecer a eles, por isso vocês são ligados. Mas me pergunto o que é tão perigoso para precisar disso.

 - Não é da sua conta! – exclamou Shadow em um canto do quarto de costas para todos. Não precisou dizer mais nada para saber que ele sabia a razão e talvez que ele tivesse colocado aquilo. Kaira o mirou com um pequeno sorriso.

 - Ah! Então já sabemos quem colocou isso! – exclamou Kaira enquanto Shadow grunhiu ligeiramente. Algumas coisas no quarto começaram a se mover e tinha a impressão que logo seriam lançadas na direção de Kaira, mas ela parecia não se assustar. – Agora nos conte mal humorado, de quem você tem medo? Da mesma pessoa que matou vocês?

 - Já disse que não é da sua conta, então se não quiser perder a cabeça é melhor ficar calada! – gritou ele dando a volta e a mirando com um olhar assassino. Muitos ali encolheram de medo, entre eles estava eu e Silver que não estávamos acostumados com essas ações fantasmagóricas. Kaira deu de ombros e logo se ajeitou na cama.

 - Então deixamos isso de lado por enquanto e vamos para outra questão. – comentou deixando o garoto de olhos vermelhos de lado. Mephiles foi até o irmão e pude jurar que só com a aproximação Shadow já ficou um pouco mais calmo. – O que aconteceu com vocês dois para que pudessem ver fantasmas? Qual foi a experiência de quase morte de vocês?

 Eu e Silver nos entreolhamos e eu assenti levemente indicando que era para ele contar. Não suportaria repetir aquela historia, só de pensar nela já começava a me sentir mal, falar então seria impossível. Todos nos olhavam enquanto eu tinha a cabeça baixa e Silver também mexendo com as mãos um pouco incomodo.

 - Eu tinha dez anos na época e Maria oito. Nossa família era como qualquer outra na Alemanha e parecia que ia continuar sendo assim, mas um dia nosso pai pirou. Ele começou a ficar agressivo, estressado e completamente louco. Ele abusava de nossa mãe e batia em Maria por qualquer coisinha. Eu tentava intervir, mas acabava levando o dobro do que elas levavam. – começou a contar meu irmão enquanto as imagens voltavam a minha mente. Fechei os olhos, mas isso apenas piorou as coisas. – Chegou um dia que ele pegou um pedaço de madeira e bateu em Maria. Eu ainda me lembro de entrar em pânico ao ver as costas dela sangrando por causa da força que ele tinha usado para bater. Ela perdia muito sangue e parecia que meu pai não faria nada para ajudar. Peguei o telefone e liguei para a ambulância, mas meu pai viu e me bateu na cabeça. Pensei que ia morrer naquela época, mas então acordei no hospital, dois dias depois. Maria tinha levado mais um golpe na cabeça e por isso levou quatro para despertar.

 O quarto ficou em silencio por alguns momentos e pareceu que assim permaneceria. Meu coração doía e parecia que aquela dor nas costas tinha voltado. Quando isso aconteceu já tinha se passado um ano e nem mesmo fora o pior de tudo. Ainda me lembro de mais coisas, apesar de ser pequena eram fatos que marcaram em minha memória e talvez nunca mais esquecesse. Respirei fundo tentando me acalmar e esquecer tudo aquilo.

 - Por isso você disse que não tinha muitos amigos Maria? – perguntou Rouge se aproximando de mim. Lembro que tinha falado para ela que não fazia amigos com facilidade e eu assenti com um sorriso forçado e triste.

 - Ainda não consigo me aproximar das pessoas sem temer o que elas possam fazer. Principalmente de garotos. Sem querer ofender nenhum que esteja aqui. – falei e todos os garotos assentiram compreendendo. Suspirei sentindo um enorme pesar no peito ainda, mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa braços fortes me envolveram e me questionei quando Amy tinha se aproximado tanto de mim.

 - Não precisa mais se preocupar Maria. Seremos seus amigos e não te trairemos. – falou ela e logo se afastou um pouco de mim me mirando diretamente nos olhos. Ela sorriu para mim e logo se virou para os outros. – E falo isso por todos que estão aqui. E vale para você também Silver. Seremos amigos de vocês dois!

 Olhei para todos e cada um tinha um sorriso no rosto. Até mesmo Shadow sorrira um pouco, bem pequeno e quase imperceptível sorriso, mas mesmo assim um sorriso. Meus olhos se encheram de lágrimas e meu coração se apertou, enquanto um nó se formava em minha garganta. A felicidade era tanta que não pude conter mais e as lágrimas escorregaram por meu rosto enquanto um sorriso se formava em meus lábios. Não sei quantos obrigados murmurei entre soluços, mas finalmente tinha encontrado algo bom de ter vindo para essa cidade.

 Passamos um bom tempo conversando, Kaira nos ensinava mais coisas sobre exorcismo enquanto os fantasmas pulavam de um lado para o outro fazendo perguntas sobre as coisas que hoje existiam e eles não tinham aproveitado quando vivos. Minha mãe chegou em um momento e ao ver que tínhamos visita quase teve um teco trazendo quase que imediatamente lanches como bolo e biscoitos. Ela parecia tão animada que não deixava de sorrir nem um instante sequer.

 Quando ficou mais a noite Kaira se despediu de nós e foi embora para casa, afirmando que não precisava de carona nem nada do estilo. Eu tomei um banho e coloquei meu pijama para logo desejar boa noite para meu irmão e me acomodar na cama. Todos os fantasmas já tinham se dispersado para vai se saber onde iam quando desapareciam, ou pelo menos eu pensava que todos tinham feito isso.

 - Então foi isso que quis dizer quando gritou comigo. – comentou uma voz grossa atrás de mim que me fez sobressaltar um pouco e olhar para trás, só para me encontrar com dois olhos vermelhos reluzentes. Suspirei um pouco aliviada e logo sorri para Shadow batendo de leve do meu lado na cama logo depois de me sentar na mesma. – Desculpa por ter falado daquele jeito com você, não sabia que tinha passado por isso.

 - Deve ser difícil para você pedir desculpas. – falei divertida rindo um pouco do jeito meio forçado que ele tinha falado. Notava-se que ele não tinha muito costume de pedir desculpas. Parecia orgulhoso e uma das coisas que sabia sobre isso era que toda pessoa orgulhosa odiava perceber que estava errada. Silver era assim de vez em quando.

 - Então melhor aproveitar, porque essa foi a primeira e ultima vez que te falo. – rebateu ele me fazendo rir mais uma vez. Nunca pensei que seria tão fácil voltar a rir, mas depois do que tinha passado acho que um enorme peso tinha sido tirado de minhas costas e agora podia voltar a ser o que era antes.

 - Sim, claro. – respondi e logo suspirei um pouco. A luz da lua passava pela janela atrás de nós e parecia que ela dava um ar mais espectral ao fantasma ao meu lado, ao mesmo tempo que o deixava mais vivo e próximo. Não sei o que me passava, mas sorri para ele e deitei em seu ombro. Ele me mirou confuso. – Há muito tempo não rio dessa maneira. Tenho muito o que agradecer a vocês.

 - E nós a você. – respondeu ele. Vi como seu rosto ficava um pouco mais sério e ele mirava a porta do quarto que permanecia aberta. – Se não fosse você, nunca poderíamos sair desse sótão e agora parece que todos estão mais felizes. Nunca vi sorrirem tanto assim.

 - O que aconteceu para estarem presos aqui? Foi realmente você que colocou aquela barreira? Por isso não queria que ninguém saísse? – perguntei e levantando um pouco e o mirando atentamente. Ele desviou o olhar parecendo se sentir culpado e ao mesmo tempo hesitante. – Shadow...

 - É, por causa daquela barreira não deixava nenhum deles saírem... Mas prefiro não falar sobre isso. – comentou e por seu rosto um pouco dolorido decidi não falar mais nada. Sabia que não era bom pressionar uma pessoa para falar algo que não queria, sabia isso porque me sentia exatamente assim quando alguém me perguntava sobre o que tinha acontecido com meu pai.  Mesmo assim me virei para ele e lhe sorri um pouco.

 - Mas um dia você vai me contar não é? – perguntei e ele me mirou um pouco hesitante, mas logo assentiu se levantando da cama e caminhando para perto da área onde estava cheia de caixas e estantes velhas. Ajeitei-me na cama virando meu corpo para o lado que ele andava e sussurrei. – Boa noite.

 Fechei os olhos e pude jurar que tinha ouvido ele me responder um, “boa noite”, em sussurro, mas não prestei muita atenção já que em poucos instantes já estava dormindo profundamente. E talvez meu maior erro em todo aquele dia foi ter fechado os olhos naquele exato momento. Estava deitada na cama, dormindo tranquilamente até que senti uma mão passando em meu rosto, tocando em meus cabelos soltos e indo até os lábios, descendo até o pescoço. Abri os olhos lentamente e então o vi, parado ao lado da minha cama iluminado pelos raios da lua que passavam pela janela aberta.

 Não deu tempo de dizer nada, ele segurou meu pescoço com força apertando de tal maneira que o ar não mais entrava em meus pulmões. Ele sorria de uma maneira sinistra enquanto eu me contorcia enquanto me matava, o que me fez entrar em um desespero maior ainda. Contorci-me na cama chutando e batendo os braços, mas nada parecia funcionar. Queria gritar, mas nada saia de minha boca, tentei arranhá-lo para tirar sua mão de meu pescoço, mas ele não me soltava por mais fundo que eram os cortes, tentei de tudo, mas nada funcionava e estava começando a pensar que morreria ali e agora.

 Ouvi então como ele me sussurrava enquanto sorria de meu sofrimento: “Todas as almas serão minhas”. Lágrimas começaram a escorrer por meu rosto e então uma voz mais ao fundo soou em meus ouvidos. Alguém me chamava, alguém gritava por mim e quando pensei que tudo estava perdido acordei. Primeiro vi o rosto preocupado de Silver a minha frente, me mirando completamente desesperado enquanto me segurava pelos ombros. Logo depois vi os outros fantasmas ao meu redor, todos eles preocupados. Minha respiração estava agitada, o suor escorria por meu corpo, meus olhos ainda estavam arregalados e passando por todo o quarto com desespero enquanto lágrimas escorriam por eles.

 Silver me ergueu com pressa e me abraçou fortemente passando a mão por meu cabelo, tentando me acalmar. Foi só então que percebi minha mãe e Kley no quarto, preocupados e perguntando o tempo todo o que tinha acontecido. Mas então meus olhos foram parar na porta do quarto que permanecia aberta e lá o vi novamente sorrindo extensamente, mostrando todos os dentes da boca de uma maneira tão assustadora e maníaca que me apertei contra Silver e comecei a pedir para que ele fosse embora, pedindo que desaparecesse e me deixasse em paz.

 Não sei quando levantei o olhar para ver novamente a porta, só sei que quando o fiz Shadow estava lá perto fechando desesperadamente a mesma e logo depois a janela. Minha mãe e Kley se assustaram com aquilo, mas eu me senti mais segura. O estranho era que apenas Shadow parecia ter notado aquele homem, Silver não o vira, não sei porque estava de costas ou se porque não o tinha visto mesmo, e estranhamente os outros fantasmas também não. Me abracei mais a Silver e fechei os olhos com força querendo que nunca tivesse tido aquele sonho.

 “Colecionador de Almas” foi o que veio em minha mente em seguida. O medo invadiu meu corpo e sabia que o meu sonho poderia um dia se realizar.           


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Notas finais do capítulo

E então o que acharam? Espero que tenha matado um pouco da curiosidade e criado mais perguntas na cabeça de vocês, por que tem muita coisa a ser resolvida mais para frente. Um pouco de Shadaria para agradar ao povo e logo vem os outros casais. Me pergunto como fazer isso sendo que o texto ta em primeira pessoa e faz um tempão que não escrevo assim -.-'
Bjsss