Mundo Sobrenatural escrita por Neko D Lully


Capítulo 3
Agora acredita?!


Notas iniciais do capítulo

Hoje vou postar dois caps porque ontem minha net me traiu e não deiu para postar esse terceiro. Mas se bem que deu para adiantar bem o cap quatro, mas ainda tenho muito o que escrever, mas logo ele ta por aqui, se esse bendito (e coloca bem dito aqui *-*) me deixar me concentrar. Transformers 3 porque tinha que ser tão maneiro?!
Aproveitem a fic!



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Mundo sobrenatural

Desci correndo as escadas, sem saber quantos degraus exatamente eu saltei, ou como não cai no chão enquanto corria igual a uma desesperada escorregando pelo chão de madeira da casa e indo até onde minha mãe estava. Nem mesmo sabia onde ficava a cozinha ou se quer a sala de jantar, só sabia que tinha que encontrá-la o mais rápido possível e minhas pernas garantiriam isso.

  Em instantes me encontrava na porta da sala de jantar, que era um enorme cômodo cheio de espaços vazios na parede onde um dia deveriam ter quadros, janelas de vidro e madeira que davam vista para a frente da casa, o chão coberto por um tapete vermelho vinho que se destacava bem com as paredes meio acinzentadas, a mesa no centro era enorme, cabendo pelo menos umas doze pessoas nela com um delicado pano que só lhe tampava o centro e deixava suas bordas descobertas mostrando a lisa madeira bem polida, as cadeiras também de madeira tinha o que parecia um confortável estofamente vermelho amarronzado e no centro da mesa tinha um vaso de flor que já tinha as flores trocadas para belas rosas bem vermelhadas (talvez para combinar com os outros vermelhos que tinha na casa). No teto tinha um enorme candelabro cheio de lâmpadas que iluminavam a todo o lugar e varias portas estavam espalhados pelas outras paredes que não tinham janelas. Como minha mãe saiu de uma delas com uma panela que devia conter o jantar supus que essa mesma porta levava para a cozinha.

 Nem preciso comentar o tombo que levei logo que cheguei. Cai de cara no chão, machucando levemente minha testa, mas nem isso me deteve. Como um raio eu me levantei e fui até minha mãe, em uma euforia que nem eu mesma sabia que voltaria a ter. Minha testa doía levemente e sabia que devia ter um enorme rosto na mesma mostrando um hematoma assustador. Mas conseguiria tampá-lo com meu cabelo se precisasse, no momento a urgência era outra.

 - Mãe, tem umas pessoas estranhas no meu quarto! Elas flutuam, aparecem do nada, são tão pálidas que parece que você vê através delas e usam roupas completamente rasgadas parecendo ser prisioneiras de algum lugar! Você tem que vim ver mãe! É assustador, é... é... – eu falava tão rápido que acho que nem eu mesma me entendia. Peguei o braço de minha mãe e comecei a puxá-la na direção da porta.

 - Maria se acalma! – exclamou minha mãe retirando o braço de minhas mãos e colocando cuidadosamente a panela na mesa enquanto eu me matava de euforia para poder levá-la até meu novo quarto e mostrar para ela aquelas pessoas estranhas. Não sei se ela tinha percebido, mas a questão era de vida ou morte! Eu acabei de falar que tinha pessoas estranhas no meu quarto e ela agia como se nada tivesse acontecido?! Isso era frustrante. – Agora fale devagar o que você viu no seu quarto e depois vamos lá ver se podemos resolver o problema.

 - Tem pessoas estranhas no meu quarto! Elas flutuam, usam roupas de prisioneiros e tem a pele quase como se fosse fantasmas! – exclamei movendo os braços com desespero para mostrar o que queria dizer. No mesmo instante Kley entrou no rindo levemente por ter ouvido o que tinha falado, o que não me agradou nem um pouco.

 - Agora esta vendo fantasmas? Depois pergunte para eles porque o porão não quer abrir. Estava querendo fazer uma sala de jogos lá. – comentou ele divertido enquanto ria e colocava os pratos na mesa. Cruzei os braços e franzi o cenho, ele estava zombando de mim, tinha certeza.

 - Olha minha filha, se não quer ficar aqui é só falar, não precisa inventar uma historia tão absurda. – fiquei magoada ao ouvir aquilo. Ela sabia muito bem que não inventava esse tipo de coisa só para ter alguma coisa desse tipo. Bati o pé com força em um sinal de reclamação.

 - Eu não estou inventando! – exclamei indignada. Ouvi alguns barulhos vindos na parte de cima da casa e não fui a única. Minha mãe e Klay voltaram seus olhares para o teto. Essa era minha chance. – Ouviram?! São eles mexendo em minhas coisas! Você tem que ir lá ver mãe! Assim vai acreditar em mim!

- Tudo bem Maria, eu dou uma olhada lá depois do jantar. – respondeu minha mãe e eu sorri em resposta. De repente Silver chegou na sala mexendo em uma de suas estranhas invenções e deu uma ligeira olhada em todos ali e logo voltando a mexer no aparelho que tinha nas mãos, caminhando lentamente na direção da mesa.

 - Ei mãe. Tem um quarto que possa usar para montar um laboratório? – perguntou logo depois de se sentar em uma das cadeiras e deixar seu pequeno brinquedo de lado. Fui até a mesa também e sentei no lugar que estava na frente de meu irmão. – Já que essa casa é grande e tem muitos quartos pensei que poderia ter finalmente meu pequeno canto de pesquisa.

 - Acho que tem um quarto perto do hall Silver. – respondeu nossa mãe sorrindo para meu irmão e se sentando junto de nós na mesa enquanto Kley colocava a sopa que mamãe fizera em nossos pratos e logo se sentava.

 - Mas tem um quarto bem mais perto do meu que não tem ninguém nele! – exclamou Silver e foi então que percebi que mamãe ficou nervosa e segurava com força a mãe de Kley que pude jurar que estava hesitando. Olhei para Silver e ele retribuiu o olhar, nos questionávamos o que poderia estar acontecendo.

 - Aquele quarto já esta reservado para outra coisa. – comentou minha mãe não nos encarando, coisa que era raro já que ela normalmente gostava de mostrar que estava falando serio enquanto nos encarava, mas agora ela parecia tão nervosa que nem conseguia nos encarar. – Estamos esperando uma pessoa.

 Não sei como não cai da cadeira, mas fiquei muito atordoada. Silver se levantou da cadeira rapidamente e bateu as duas mãos na mesa com força, eu estava muito atordoada para fazer alguma coisa, ou pelo menos apoiá-lo. Teríamos um... Meio irmão? Pelo amor de deus, minha mãe estava grávida de um cara que não era meu pai legitimo?! Já não bastava ter aqueles garotos em meu quarto ou ter me mudado de cidade?!

 - Silver olha seus modos. – disse nossa mãe, mas do jeito que o rosto de Silver estava eu duvidava que ele fosse se desculpar por ter feito aquilo. As mãos dele se fecharam em punhos e seu rosto ficou completamente convertido em fúria. Ele ficava assim apenas algumas vezes e essa parecia uma das piores.

 - Que outra reação você acreditava que eu teria?! – gritou para minha mãe, seus olhos faiscavam de fúria e descontentamento. Acho que ele temia a mesma coisa que eu, se nossa mãe tivesse outro filho era provável que nos esquecesse, pensasse em sua nova vida e nem ligasse mais para seus antigos filhos que vieram do homem que a fez sofrer tanto. Nossa mãe poderia não notar, mas eu conseguia ver as lágrimas se acumulando nos olhos de meu irmão, com o medo da rejeição nelas. – Primeiro você se casa sem nem que eu e Maria achássemos isso uma boa idéia, nos ignora completamente por causa de um estranho! E agora vai montar outra família?! Sem nem mesmo perguntar se nós dois queremos isso?! Por acaso entende o choque que estamos passando agora?!

 - Pensamos que iam ficar alegres por terem... – tentou interferir Kley, mas Silver virou o olhar para ele. Nunca vi meu irmão com tanta raiva e fúria quanto via agora, e por mais que ele quisesse sentir ódio daquele homem por estar fazendo nossa mãe se afastar de nós sabia que ele não conseguia, Silver não era do tipo que sentia ódio por alguém.

 - E você fica calado! Não tem o direito de falar nada, principalmente pelo fato de ter encostado em nossa mãe! – gritou novamente e dessa vez nossa mãe se levantou com um olhar furioso, talvez tanto quanto o de meu irmão. E agora eu sabia o que ia acontecer e não tinha forças para levantar e falar alguma coisa para parar isso, minha boca estava aberta, mas nenhuma palavra saia dela.

 - Olha como fala mocinho! Pode até ser que não esteja de acordo, mas agora não tem volta atrás e vai ter que se acostumar com uma nova família! – rebateu minha mãe apontando para meu irmão que a encarava desafiante, sem se importar com o que ela poderia fazer. Ele havia puxado mais a nosso pai, tinha os mesmos cabelos, o mesmo rosto, quase era a imagem viva dele, portanto, era alguns centímetros maior que nossa mãe.

 - Não venha me dizer para aceitar uma nova família! Minha única família agora é Maria! Nosso pai se foi, morreu a partir do momento em que encostou em vocês duas e agora você também se foi, porque não mais se importa com a gente, nos dando as costas para ter outra vida sem os reflexos da anterior, sem mim e Maria! – gritou, colocando para fora tudo o que pensávamos e logo em seguida, tudo o que vi foi uma mão indo direto para seu rosto e logo depois um forte barulho. Silver então estava com o rosto virado para o lado e a cabeça baixa, com um enorme vermelho no lado esquerdo de seu rosto, enquanto nossa mãe ainda tinha a mão levantada e o olhar cheio de fúria.

 - Nem ouse em repetir isso! Agora vá para o seu quarto e fique lá pensando no que falou hoje, talvez entenda o que fez de errado para merecer isso. – sabia que Silver podia ter segurado a mão da mamãe, sabia que ele podia ter evitado aquilo, mas ele não fez, não fez porque sabia, ou pelo menos eu pensava que ele sabia, que não tinha falado nada de errado e que recuar seria apenas mostrar que se arrependia, e ele não fazia isso. Ele então se afastou da mesa e caminhou com passos rápidos para fora da sala indo na direção de seu quarto.

 Nossa mãe voltou a se sentar suspirando e levando as duas mãos a cabeça, mas eu não queria saber o motivo pelo qual estava assim, não queria saber se estava arrependida, contendo a raiva, ou o que quer que seja, tudo o que queria saber era como estava meu irmão, o único que me entendia e me ajudava. Levantei-me da cadeira e praticamente corri na direção da porta por onde ele tinha saído. Cheguei a passar por trás de minha mãe e Kley, mas nem os dediquei uma pequena mirada, em minha mente eles não mereciam. Parei na porta e dei uma ligeira olhada para o trás.

 - Ele não fez nada de errado, só falou a verdade. – respondi e voltei a correr sem esperar uma resposta de minha mãe ou de Kley. Passei rápido pelos corredores subindo as escadas do segundo andar (já que a sala de jantar ficava no primeiro piso) e fui para o final do corredor, onde do lado da escada que levava para meu quarto tinha o quarto de meu irmão. Bati de leve em na porta e como não ouvi nenhuma resposta girei a maçaneta e entrei com cuidado. Fechei a porta atrás de mim e fiquei um tempo parada perto da mesma.

  O quarto de meu irmão era grande, mas nem tanto. Haviam duas janelas na parede a minha frente, e entre elas estava a cama de meu irmão, feita de madeira com um colchão que visivelmente fora trocado por um que minha mãe tinha trago. O chão, como todos os outros era de madeira escura, bem polido e parecendo não ter sofrido o efeito do tempo, as paredes eram de um delicado branco coisa que combinava bem com meu irmão, tinha um armário de madeira a poucos metros de onde eu estava, um criado-mudo debaixo de uma das janelas e um escrivaninha na parede que tangenciava a das janelas e a da porta de entrada, no lado esquerdo, e a paralela a essa tinha uma outra porta que supus que levava ao banheiro. Meu irmão estava encolhido na cama, sentado na mesma com as costas apoiadas na cabeceira da mesma, os joelhos levados ao peito, os braços envolvendo o mesmo e o rosto entre eles. Parecia que tinha voltado aos tempos de criança...

 - Silver... – murmurei me aproximando dele, sentando ao seu lado na cama. Não demorou muito para ele tirar os braços da perna e os envolvê-los ao meu redor, em um abraço apertado cheio de desespero. Sentia meu ombro se molhar, e não precisava de mais nada para saber que ele estava chorando, silenciosamente, mas estava. Retribui o abraço e passei a mão por sua cabeça tentando acalmá-lo. As vezes ele não parecia que ele era o mais velho, que possuía dezoito anos.

 - Ela esta nos esquecendo Maria. – murmurou entre leves soluços e seu medo passou para mim. Senti meus olhos se encherem de lágrimas enquanto as imagens de nossa mãe carregando um pequeno bebê com Kley a seu lado enquanto eu e meu irmão éramos deixados de lado passava por minha mente. O abracei com mais força escondendo meu rosto em seu pescoço tentando conter as lágrimas. – Logo mamãe vai ter uma nova família e nós seremos apenas uma má memória para ela... Eu pelo menos logo vou para a faculdade, logo montarei minha vida sozinho, mas e você Maria? Faltam ainda dois anos para você... Não posso deixar você aqui, esquecida... – deixei que ele falasse, que derramasse todas suas lágrimas em mim, mas me sentia feliz por pelo menos ele se preocupar comigo. – Talvez, quando tiver uma casa e um emprego eu possa fazer você vir morar comigo, assim continuaremos juntos, cuidando um do outro como sempre fizemos... Isso, será isso que faremos.

 Não pude mais evitar que as lágrimas saíssem de meus olhos, e agora era eu e ele chorando pelo esquecimento, por sermos fruto de algo que não deu certo e que agora estavam sendo substituídos por uma nova memória bem mais alegre. Não podíamos mudar o passado e tudo o que nos restava era esperar para que pudéssemos ser livres, viver em um lugar só nosso sem pessoas lhe exigindo coisas que não queria.

 Perdi a noção do tempo e quando Silver dormiu em meus braços já era de noite, talvez umas oito horas. O coloquei cuidadosamente na cama e o cobri, ainda vendo algumas lágrimas escorrendo por seu rosto agora sereno. O mirei por mais alguns instantes, pensando que ele era um verdadeiro irmão o qual eu sempre poderia contar, então sai do quarto, fechando cuidadosamente a posta atrás de mim, limpei alguns restos de lágrimas que ainda teimavam em escorrer por meu rosto e andei até a escada que tinha logo ao lado, só para ver como da pequena porta logo a cima saia minha mãe, trazendo em suas mãos um de meus pijamas.

 Ela desceu as escadas sem parecer ver o que eu vi logo ao topo, perto da porta onde ela saíra. Meu corpo ficou tenso e acho que acabei prendendo a respiração de puro medo. Ali, perto da porta de meu quarto estava um homem de mais ou menos trinta e poucos anos, alto, com a pele pálida como a dos outros garotos que tinha visto em meu quarto, os olhos de um verde tão escuro que mais pareciam pretos, o cabelo bem branco, mais branco que o de meu irmão, o corpo atlético, com as mãos enormes parecendo inchadas, mostrando que teria feito muito exercício com elas e um sorriso sinistro no rosto. A cada passo de minha mãe aquele homem observava enquanto uma aura um pouco negra o rodeava.

 - Não tinha nada em seu quarto, Maria. – comentou minha mãe logo que chegou onde eu estava, mas acho que eu ouvi e não ouvi ao mesmo tempo. Meus olhos estava ficados naquele homem que continuava a mirar minha mãe com muito interesse. Acho que meu corpo começou a tremer levemente enquanto um vento frio se chocava contra ele, e por algum motivo sabia que vinha daquele homem. – Agora deixe de inventar historias e vá dormir. Amanhã será um dia agitado de mudanças.

 Ela me entregou o meu pijama e logo caminhou para longe. Eu não conseguia sair do lugar, não conseguia me mover e sentia que cada vez mais meu corpo tremia. Em minha garganta tinha se formado um nó e quando aquele homem olhou para mim, encarando meus olhos diretamente, senti como a cor deixava meu rosto e meus olhos iam se arregalando lentamente de puro medo. Recuei um passo e o homem sorriu ainda mais. Recuei outro e ele desceu um degrau. Recuei mais um e então ele apareceu na minha frente, se erguendo acima de minha cabeça já que era bem mais alto que eu.

 Ele levou uma mão para o meu rosto e encostou de leve, fazendo um grande frio tomar conta dessa parte. Logo depois senti como se minha vida tivesse terminado, como se meu coração fosse oprimido e nada mais valesse a pena. Com desespero, corri até o quarto de Silver abrindo e fechando a porta rapidamente. Meu corpo tremia como nunca e meu coração quase saltava para fora de tanto medo. Troquei de roupa rápido e me deitei ao lado de Silver, me acomodando bem perto dele para assim me sentir completamente segura.

 Não era novidade fazer isso, quando era mais nova sempre dormia perto dele quando tinha medo de alguma coisa e agora mais do que nunca estava morrendo de medo. Fechei os olhos com força tentando ignorar os barulhos que soaram por toda a noite e não sei em qual momento finalmente dormi, só sei que quando acordei no outro dia já tinha uma roupa em cima da cama e Silver já não estava no quarto.

 Troquei-me rapidamente colocando a roupa que fora deixada para mim. Nada mais nada menos que uma saia negra um pouco rodada que chegava até metade de minhas coxas, uma meia calça grossa um pouco escura, uma bota negra que ia até metade da minha canela, uma blusa negra de mangas compridas e uma jaqueta negra para colocar por cima indicando que devia estar frio do lado de fora. Sai do quarto de meu irmão e olhei para o lado onde estava a escada que levava a meu quarto, me perguntando se algum dia entenderia o que estava acontecendo e teria coragem de voltar lá.

 - Maria! – olhei para o outro lado me encontrando assim com meu irmão se aproximando de mim com a mão erguida e um pequeno sorriso no rosto. Ele usava uma calça branca de moletom que parecia bem quente, uma jaqueta branca com detalhes verdes limão que também parecia ser bem quente e confortável, uma blusa verde limão logo embaixo e tênis brancos. Ele ficou frente a frente comigo e logo me sorriu um pouco mais abertamente, parecia que a tristeza de ontem tinha passado, mas ainda podia ver que seu rosto estava um pouco mais inchado do lado esquerdo, mostrando que o tapa que nossa mãe dera fora realmente forte. – Vamos dar uma volta pela cidade. Só nós dois. Kley foi para a empresa ver como são as coisas por lá e mamãe foi com ele, só estamos nós dois aqui.

 - Tudo bem, acho. Vai ser bom sair um pouco dessa casa velha, sem falar que vamos ter que nos acostumar com isso mesmo. – respondi sorrindo levemente para ele e logo nós dois caminhamos pelos corredores para ir até a entrada da casa. Dei uma ligeira olhada para trás, vendo o final do corredor onde, uma hora, esteve alguma coisa que estava alem do compreensível e que havia me assustado mais do que alguma outra coisa já tinha feito antes.

 - Alguma coisa te preocupa Maria? – perguntou meu irmão logo que estávamos caminhando pelas ruas da cidade, um do lado do outro, acho que por meu silencio e meu jeito aparentemente distraído ele percebeu que algo estava errado e não sei se poderia mesmo contar a ele, se bem que ele era meu irmão e talvez entendesse.

 - Só estava pensando que naquela casa tem coisas que não são muito... normais, que digamos. – meu irmão me mirou como se não estivesse entendendo e eu respirei fundo. Falaremos de uma forma mais clara então. – E se naquela casa tivesse fantasmas?! - Foi então que ele começou a rir e eu franzi o cenho em sinal de desgosto. Não gostava que as pessoas rissem de mim, por mais que o assunto fosse idiota agora eu estava falando serio e não tinha outra explicação para aquelas pessoas serem tão estranhas. Kley podia ter caçoado de mim aquela hora, mas a opção de fantasmas era lógica. Eles flutuava, quase dava para ver através deles de tão pálidos que eram e apareciam do nada! Tinham que ser isso! – Pode parar de rir?!

 - Desculpa Maria, mas fantasmas são coisas que não existem! É invenção e até chegarmos aqui você também pensava isso. – comentou ele me olhando ainda divertido. Ele tinha razão, antes eu não acreditava, mas depois que se vê algo daquele tipo era difícil não acreditar. – Tudo isso para não ficar aqui? Eu teria bolado algo mais original, como por exemplo falar que a casa fora construída sobre um deposito de lixo nuclear ou algo do tipo.

 - Mas Silver, eu os vi! No meu quarto, brincando com minhas coisas como se nunca tivessem visto aquele tipo de coisa! – exclamei e então me lembrei que minhas coisas ainda continuavam com aqueles fantasmas. Meu pobre violão devia estar todo estragado agora! – Eu sei que não acreditava nisso antes, mas foi antes de realmente ver com meus próprios olhos! Eles estão lá eu te juro!

 - Maria, olha... – antes que ele pudesse continuar vi um vulto negro vindo em minha direção, mas Silver logo colocou o braço na frente e segurou o que parecia ser uma bola de futebol, grande da cor branca com detalhes vermelhos. Mais a frente apareceram dois garotos, um era pequeno, de olhos verdes bem claros, os cabelos castanhos claros quase chegando ao loiro, magricelo e pálido, usando uma blusa branca suja em algumas partes, um short vermelho que ficava bem largo em suas pernas finas e por fim chuteiras vermelhas com branco, completamente sujas e molhadas. O outro era maior, com braços e pernas fortes, o cabelo loiro como trigo, os olhos azuis chegando a parecer um pouco branco dependendo do ângulo que se olhava, a pele um pouco morena, mas bem levemente, ele usava uma blusa negra um pouco manchada de marrom, shorts vermelhos e por fim chuteiras negras. – Tomem mais cuidado, quase acertam minha irmã.

 - Sinto muito. – falou o maior dos dois garotos enquanto meu irmão tacava a bola e ele a pegava facilmente. Ele então nos mirou mais atentamente e logo voltou a falar. – Vocês não são daqui não é?

 - Acabamos de nos mudar. Moramos naquela casa lá encima. – respondeu Silver apontando para a velha casa que agora deveríamos chamar de lar. Vi os dois garotos se entreolharem com medo e logo voltar o olhar para nós dois, e por alguma razão vi uma leve hesitação e os dois começaram a falar mais baixo.

 - Não deviam ficar lá. – murmurou o menor dos dois se encolhendo dentro de suas roupas que pareciam ser grandes de mais para ele, o que dava a impressão que ele era menor ainda. – Dizem que aquela casa é amaldiçoada. Sabem? Cheia de fantasmas!

 - Eu te falei Silver! – exclamei mirando meu irmão que apenas revirou os olhos em sinal de desgosto de desinteresse. Não perderia essa oportunidade de fazer ele acreditar então insisti. – Não foi apenas eu que vi, outros também! Estou te falando, tem algo muito errado com aquela casa! Afinal ninguém nunca provou que fantasmas não existem.

 - Mas também não provaram que existam. – rebateu meu irmão aproximando seu rosto do meu, tirando vantagem de sua altura para me fazer recuar, mas eu permaneci no lugar e o encarei com os braços cruzados, apesar de saber muito bem que ele tinha apontado um argumento lógico.

 - Então você teve muita sorte garota. – falou o mais alto dos garotos chamando minha atenção e a de Silver. O miramos sem entender e o garoto olhou para todos os lados, como se procurasse algo que pudesse sair e atacá-lo se caso contasse o que tinha para contar. Então ele continuou com a voz bem baixa. – Todos aqueles que entram na casa e vêem fantasmas ou morrem ou ficam loucos. Todos, não teve uma exceção conhecida até hoje.

 - Ah! Por favor! Isso é apenas lenda urbana, não tem como vocês acreditarem em uma besteira dessas! – falou meu irmão rindo levemente, mas eu estava concentrada no que o garoto falava e o mesmo franziu o cenho com a ignorância de meu irmão e logo continuou.

 - Diga isso para meu tio. – rebateu ele, fazendo Silver parar um pouco com sua zombaria e o mirar atentamente, de uma maneira um pouco mais séria. – Ele era igual a você, não acreditava nos boatos de nenhum jeito, até que um dia entrou na casa para provar. Mas quando saiu estava completamente maluco! Ficava dizendo coisas como: “Ele vai me matar! Ele vai pegar minha alma!” ou então gritava e apontava para um canto do quarto, como se tivesse alguém lá querendo fazer mal a ele, mas nunca tinha alguém, era um canto vazio. Ele morreu pouco tempo depois, minha avó ainda diz que a alma dele foi levada, pelo fantasma que assombra aquela casa.

 Eu e meu irmão nos entreolhamos. Agradecemos aos garotos pelo aviso e voltamos para casa, se é que aquilo poderia ser chamado de casa. Meus nervos estavam a flor da pele quando caminhei junto de meu irmão até o segundo andar. Nossa mãe ainda não tinha chegado com seu novo marido então estávamos sozinhos naquele lugar tão grande, que estava a quase dois quilômetros de distancia da casa mais próxima. Segurei com força o braço de meu irmão enquanto o mesmo parava no pé da escada que levava ao sótão, ou seja, meu quarto.

 - Então me mostre seus tão assustadores fantasmas Maria. – falou ele com um leve tom de divertimento e eu o mirei, desconcertada. Soltei seu braço e comecei a subir as escadas, com passos cuidadosos e tentando ser o mais silenciosa possível. Via a porta se aproximando e parecia cada vez mais que meu coração ir até a boca e depois voltar. Podia ouvir os passos de Silver logo atrás de mim, mas mesmo sabendo que ele estava do meu lado não conseguia ficar mais calma, era como se estivesse indo na direção de minha própria morte.

 Levei uma mão a maçaneta logo que cheguei no topo e lentamente a girei e empurrei a porta ouvindo o ranger da mesma enquanto se abria revelando pouco a pouco o quarto. Fechei os olhos com força e terminei de abrir a porta entrando no lugar junto com Silver.

 - E então? Onde estão seus fantasmas Maria? – me perguntou. Abri os olhos surpresa e olhei para todos os lados. O quarto parecia vazio, não tinha nenhuma das pessoas que tinha visto antes. Fui até o centro do quarto e olhei para todos os lados sem compreender porque estava assim. Juraria ter visto aqueles nove garotos... – Feliz maninha?

 - M-mas... E-eu não entendo! Juro que os vi aqui! Tenho certeza disso! – exclamei indignada olhando para todos os lados. Meu irmão riu e deu um ligeiro tapa em meu ombro, como se estivesse tentando me consolar. Não conseguia compreender, meu quarto estava vazio, eu não podia ter visto coisas aquele dia! Não, não tinha como isso acontecer!

 Foi então que ouvimos um ligeiro “bang” atrás de nós, fazendo com que ambos se sobressaltasse e se virassem rapidamente para ver o que era. Qual não foi minha surpresa e a do meu irmão ao ver um garoto de olhos vermelhos, pele pálida como a neve, ou talvez até mais, cabelos negros e usando roupas rasgadas perto da porta nos mirando atentamente, com a expressão séria e uma mão na porta, mostrando que a tinha empurrado. Logo ouvimos o som das cordas do meu violão tocando e nos viramos para ver o mesmo, só para encontrar novamente com o garoto de cabelos azuis, olhos esmeraldas, pele igualmente branca ao garoto perto da porta, mexendo em meu violão ainda fascinado.

 - Sonic para de mexer nessa coisa, que esse barulho já esta me irritando! – exclamou a garota de cabelos rosados saindo da parede enquanto flutuava. Isso mesmo, seus pés não encostavam no chão, estava alguns centímetros suspenso no ar. Abracei com força o braço de meu irmão e o mirei, tentando garantir que ele também estava vendo, e pelo rosto que tinha agora era garantido que sim.

 Risadas foram ouvidas e olhamos para cima, vendo como uma garota de cabelos castanhos presos em duas marias-chiquinhas rodopiava pelo ar, como se não existisse gravidade. Logo nosso olhar foi parar em minha cama, percebendo que um garoto muito parecido com o que estava na porta estava deitado na mesma, parecendo descansar. Em meu armário saiu a garota de cabelos brancos ainda observando todas as minhas roupas e montando assim vários conjuntos que era provável que nunca usaria.

 - Por favor, Silver, me diz que você esta vendo o mesmo que eu. – pedi e logo vi como ele assentia levemente, com a boca aberta e os olhos completamente arregalados. De repente uma garota de cabelos lilases saiu do chão bem a nossa frente com um enorme sorriso no rosto e nos mirou por uma questão de segundos.

 - Buh! – disse ela e eu e meu irmão nos afastamos desesperadamente, sendo que de minha boca escapou um ligeiro grito. Nós dois caímos no chão bem perto de uma das paredes do quarto. A garota riu e foi brincar com os outros que estavam por ali enquanto eu ainda estava agarrada ao meu irmão, ambos completamente assustados.

 - Agora credita?! – exclamei desconcertada, mas um pouco feliz por ver que não estava louca, ou talvez nós dois estivéssemos.


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Notas finais do capítulo

Ok, e então o que acharam? Ele ficou maior que o outro e tentei caprichar nele. Como eu disso filme tira minha concentração, to nem conseguindo nem escrever aqui. Bem...
Bjsss!